Coleção pessoal de manolokottwitz

Encontrados 8 pensamentos na coleção de manolokottwitz

A essência
Somos
Loucos
Bandidos
Somos
Estranhos
Sentinelas
Poetas

Caminhamos
Contra
O sopro
Dos ventos
Em ventos
De contratempo

Emergimos
Das entranhas
Do ser
Para ser
E simplesmente

E nessa
Odisséia
Poética
Pecamos.

Silêncio
– Eu sou o silêncio!

A bruma insólita
que embriaga os passantes
e devora a cidade calmamente,
durante a noite tão mendiga.

Penso baixo para não
despertar os olhos
tão cansados de nada.

E mastigo devagar os sonhos
E mastigo devagar os sonhos
E mastigo devagar os sonhos

Silenciosamente faz-se o silêncio, silenciosamente silencio.

Esquerdo

Peguei-me na tentativa abstrata
De meros caminhos flácidos,
Como todos.
Meu sangue corre poroso,
Roendo as paredes do céu.

Senti vibrações cósmicas
No entardecer caótico, e aceitei.
Mas o caos!
Eu aceito o caos?
– não!
Recuso-me aceitá-lo.

Meu prazer está na criação discreta
Da punhalada.

Sobrevivo entre os escombros
De uma nação encardida, cariada.
Que seus dentes amarelos ferem
Fundo os meus olhos e ouvidos.

E limito-me a canonizar a
Vergonha nacional, com meu verso
De sete pontas. Porque sei que
Este fere mais.

Incoerência
Eu queria ser tanto,
E tanto me foi insuficiente.
Cavei o fundo do corpo,
Buscando mais alma,
Mais alma me foi impossível.

Hoje eu quis me encontrar
Na poesia perfeita
No mundo avoado
No colo sereno...

Acabou que encontrei tantos de mim
Que nem sei,
Se sigo só,

Ou assim.

Estigma
Daqui, parto só, para as sobras que me aguardam algures.
Aceita minha despedida pobre Mãe,
Não mais verás a face algoz de teu intruso uterino,
Não mais penarás nos degraus da Santa Morada, onde,
De estômago fraco, concebeste-me a embriaguez,
Que por muitas e muitas eras, fizeste-me crer a ilusão.
E me fui inteiro fiel às tuas pragmáticas salabórdias.
Grande besta é o que fui, ainda que menos malogrado, porque cego.
Mas eu te peço, aceita meu insólito adeus,
Garanto-te, minha Mãe, será o último, e o último há de ser.
Cansei-me das indulgências, e das lágrimas derramadas
Por Madalenas inexistentes.
Hoje dou a face às pedradas, pagarei pelos cuspes não dados,
E cantarei os ensinamentos de Blake na terra da posteridade.
Benditos sejam os sacrossantos Provérbios do Inferno,
E amaldiçoados os que não os creem, pois estes são tão lineares
Quanto a própria existência imunda.

Solilóquio do silêncio

Tente ouvir o silêncio! (respire)
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Tente sentir o silêncio! (respire)
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Tente tocar o silêncio! (respire)
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Tente ser o silêncio! (durma)
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Mãezinha
Pelos momentos calados em nossos corpos,
Agora emerge na realidade, o que antes se disse sonho
Fazendo-nos respirar, às frestas, seus ensejos.

Veio como uma nuvem, chegando aos poucos,
e em pouco, cobriu os restos do que antes era céu,
cantarolando seus pingos de chuva, fascinando.

Calou o Sol, e dormiu tal como brisa,
Devagarzinho, indo-se de leve,
Bocejando seus aromas exatos, inspirando ares breves.

De repente, no clivo mais agudo,
Escorregou seus olhos firmes na
Massa dispersa de desejos irrealizados,
Veio-me mansa, calmamente deslizando
Seus longos dedos pela minha face irrecuperável.
Disse-me que era santa...

- Santa Mãe dos Condenados!

Ode à eterna efemeridade do tempo

I

Quando do tempo tornei à realidade, meus olhos já haviam perdido o brilho.
Perdi o brilho porque tu, desgraçada vida,
Tu, desgraçadamente, me ausentaras o sangue,
e as inglórias imagens da morte vêm me visitando à noite
e me tomando o sono, desde então.

Minha cama de doces lírios pálidos agora espeta-me o dorso,
e nada se há de fazer para conter as vastas mãos da tragédia.

Quando do tempo tornei à realidade, meu corpo já não me pertencia mais,
e pus-me a percorrer a vasta esfera para encontrar-me.
Só que a imensidão me é vil neste instante em que vago devasso por aí,
e esta terra abrasadora queima-me os pés calejados.

Tenho-me apenas na lembrança de um dia calmo,
Mas a lembrança me é insuficiente para sorrir.

[...]