Coleção pessoal de Malbersu0412

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⁠Subalternos da segurança, ainda envolvidos na substância viscosa que converte a coragem em avisos de arrependimento, quem decifrará mais este lote de desdém fetichista? Quem está seguro para mudar o mundo terceirizado sem prévio aviso? Quem, ainda em farrapos, inaugura repetidamente o que é mais supérfluo nos piores empregos? Quem decifrará a incendiária vaidade nas numerosas intenções de paz? Numerosa é a fome e a miséria que a gente ignora nos pequenos zeros do soldo mensal. O que tenho a ver com todas estas máscaras inúteis? O que faço com estas esperanças provisórias depois de mais uma derrota? Ninguém escuta a vida como ela é. Triste é alegria de quem não consegue escutar a vida como ela é. Ouve-se em toda parte uma enorme variedade de discursos artesanais sobre o desespero de quem não escuta a vida como ela é.

⁠Um anarquista talvez seja também hipocondríaco
Fica impressionado com a cor da própria pele
Observa atentamente as placas ressequidas da perna
A sensação de familiaridade com a falta de memoria e perseverança
Não enfrenta o olhar fixo do antagonista
Nao gosta da ideia de correr risco
Tem pudor da sua neutralidade ideológica
Persegue obsessivamente as facilidades e imagina privilégios
Jamais consegue controlar o medo e teme ser controlado
Ele faz café pensando na fidelidade, na sorte e outras divagações
Ele está por aí o tempo inteiro flertando o esquecimento

Será hoje o dia de cantar uma canção que fale de segredos e vigília, dos amores distantes, do ódio organizado, onde o nada é tudo e o tudo é uma ilha minúscula no espírito? Eu nao sei cantar e nada inspira contar alguma coisa sobre um hábito, agora interditado, de abraçar, beijar a face e sentir o ombro a ombro dos muitos e bons encontros. Ainda assim sei que é melhor criar um jeito de dizer sem o corpo que o hábito de amar começa nos olhos e perde-se no coração, ocupando todo espaço onde antes habitavam a tristeza e a solidão.

Não sei onde marco meus defeitos. É uma certa fartura de não saber como dizer, não sei como revelar este curto-circuito que monocordicamente assusta. É o corpo sem o corpo, a boca sem palavras, é o erro sem credencial, um tipo fora do tom, uma letra pra não ser sucesso, uma fardo de idéias que não rende nem peso, nem volume.

Não são suas aquelas canções que tentavam falar o tempo todo das coisas perdidas, da vida que passada fazendo contas de perdas e ganhos, dos cabelos que caem por trás da tintura, dos caminhos percorridos atrás de algum desejo indefinido, do rascunho feminino, dos orgulhos desfeitos nos contornos das pernas hospitaleiras, das aspirinas e cigarros da mais triste versão de uma história muito particular, das moscas voando sobre as louças, sobre a necessidade de esquecimento, sobre as tolas ostentaçoes inventadas? Não são suas aquelas canções que inventavam silabas introspectivas e retropictivas mágicas de alguns dos mais persistentes renascimentos, das palavras mastigadas e soltadas aos trancos, cheias de incoerências e violências pomposas?

Dia difícil. Dia dequeles que fazem a gente pensar no dia que o sonho existia. Um dia que começa com este alerta lúdico, esta ambição pueril de possibilidades claras, de concretizar ambições magenetizantes, organizar desejos. Organizar desejos? Fazer um meio viável de tocar o que está fora de nós, encontrar o espelho mágico que reflete os entes cativos por trás das aparências. O espelho que diz ser o outro que você olha com distanciamento parte indissociável de você, parte do que em você é aceitável e também do que não é. O que incomoda e o que atrai no outro é parte do desejo de decifrar a si mesmo. Hoje é um dia de procurar contentamentos, formas breves de resistências, para reprodizir mais e mais contentamentos no amanhã, cuja face desafia qualquer previsão ou interpretação.

Salve teus cacos, teu rastro furtivo, tua fragil verossimilhança, teu duvidoso caminho, salve este sinal melancólico, seus erros, estas explicações desesperadas, salve o extremo ainda em seu incipiente princípio e faça dele uma escultura.

O que fazer com esta bem intencionada algaravia vazia? O que fazer desta manifestação profética sobre a crista mui bela que enfeitiça os resumos ferozes? O que fazer com estas modestas tradução da voz de Deus? Deus imagem, impressões e sentimentos. Cris está na tímida designação destas impressões. Ungida pelo sangue da última aurora, escapa do opróbrio e da glória. Cris está nesta simples crônica sobre o devir. Cris está louvando o infinito rumor do destino. É pura contemplação dos meus assombros.

Na clausura densa e magética esteja alerta e lembre-se do acaso, da lucidez, do silêncio comovido, das miragens condensadas, das canções fortuitas, de certos instantes, das figurações patéticas, das palavras severas, dos abandonados, dos submergidos, dos espinhos, da face flutuante, do desencanto, da criança torturada, do medo, do choro, do sonho resgatado, do sofrer, de esquecer, da boca tagarela do mundo, dos encontros, da forma sensivel que segue descompassada até repousar na paisagem outonal abandonando o eco do talvez.

À beira deste vasto labirinto onde esconde a razão e a loucura, eu vejo sonhos enovelando-se na letargia, na fadiga e no ceticismo das mentes honradas. Vejo este desprezo pegajoso orbitando a calma. Entre a intenção e a causa uma pedra ou uma enorme muralha. É a morte da indignação brotando entre tantos protestos mudos.

Eu passei sem passar, porque se alguém resolvesse notar, só os defeitos iriam ficar. Eu tangenciei cada palavra, suas regras, seus descaminhos, só pra não te contar, que o mundo nunca deu pistas sobre um jeito qualquer de viver, sobre o segredo de se fazer amar, sobre como fazer pra não errar na hora de dançar

A última Luz Azul de Uma Alameda Chamada Esperança. O poema.

Ja quase no final de uma alameda chamada Esperança, um grande poeta jazia morto ao lado de uma figueira que já não dava mais frutos. Um místico passou por ali e afirmou que aquele era um sinal dos tempos que estavam por vir, um crítico comentou a falta de intervalos na narrativa, um pesquisador descobriu a ignorância do poeta, um político recomendou a execração pública do poeta, um jornalista se prontificou a ridicularizar o poeta, alguém disse que nunca tinha lido poesia, muitos poetas ignoravam o poeta e nunca tinham passado naquela alameda, uma mulher afirmou ter sido amante do poeta, uma outra disse que o poeta sentia enorme paixão por ela, algumas outras desdenharam todas estas narrativas, os historiadores sentenciaram: este poeta nunca existiu. Uma bela mulher que olhou o corpo com perturbadora intensidade durante um longo tempo sussurrou pra si mesma: Eu já suspeitava que tudo isto não passava de puro charlatanismo de poeta menor. Todos os curiosos que estavam em torno corpo concordaram silenciosamente.
Um bêbado que oscilava bem próximo do corpo declarou: Hoje cedo, quando a luz do dia ainda não havia chegado, tinha um intensa luz neste lugar, então eu vim ver o que era. Era só um farolete que ele segurava apontado pro céu. Tinha uma intensa luz azul, e mesmo já no final da noite, parecia um refletor. Repetiu quase num murmúriu: Parecia um refletor. Depois fui andar por aí, voltei agora pra pegar o farolete. Constatei, pra minha decepção, que alguém já tinha levado o farolete... A mulher bela interrompeu o bêbado rispidamente. Durante dia ninguém precisa de um farolete. Todos concordaram silenciosamente.
Um anão, com os olhos furados, que estava entre os curiosos em torno do corpo, com uma voz muito grave disse em alto e bom tom.
La lumière invisible de la nuit
Todos, inclusive a bela mulher que mantinha o senho franzido e um olhar furioso, balançaram as cabeças afirmativamente.

Cada dia a felicidade tem uma nova cara. Ela é uma imagem caprichosamente editada, figura judiciosa e indulgente, compreensiva, às vezes. A felicidade está entalhada na lâmina do dia, na projeção do ideal lançado à nossa frente, no crédito imaginário, em alguma ordem muito provisória e precisa em si mesma. Sempre há um mistério oculto na felicidade, folclore na névoa narrativa, na fantasia etérea, nas tentativas líricas e também nas maniqueístas de circundar a realidade. É nestes tons oníricos que a felicidade emite sua melodia sedutora, e nos leva de novo para o interior da caverna.

Sejamos avaros no êxtase do ninho em chamas
nas travessuras do céu no topo da fé muito particular
nas delícias do perfume preso no mapa da pele
as tardes
as noites
as manhãs
olhos em fogo
coração satisfeito
um futuro repleto de mistérios do passado zombeteiro
deformidades e veneno estão alí
em gotas de desconfiança
insensatez consentida
fraqueza desejada
teus feitiços
meus delírios

Oeumesmo Malbersu

Reminiscências 1
novembro 17, 2017


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Estive lá. Perto do refúgio almejado, minha constante miragem. Quase tudo era autêntico e nada era excepcional. Era um simples devaneio, um caldeirão de fadigas, fenômeno corriqueiro de conflitos e confusos arrependimentos.
Ladeira acima ladeira abaixo, as esquinas tinham as sombras e os imprevistos. Os dias inventavam repetições pérfidas, os sonhos cantavam suas tristes baladas, a melodia resistia, a harmonia avançava cautelosa na dianteira das luzes fugidias. Eu ainda lembro de seus risos escancarados para o mundo, mesmo sabendo que todas as promessas contidas nestes risos eram só artifícios ardilosos para enganar a escuridão voraz que só você conhecia.

Teu país é o amor
exagero da alma
armada de artimanhas
volúpias
vontades pequenas
severas exigências
nódoa do amor
no branco quase gelo das inocências cristalinas
matéria da metade do metal
que a vida vende
você compra
e revende
patriota de pátria estranha
de pátria mercantil
da mãe de aluguel
do mártir emprestado
ele mesmo ele mesmo
da boina
da estrela
da morte prematura
da vontade quase pura
teu país é o engano
fixado nos panfletos
marcado nas bandeiras
crivado na historia
memoria da farsa
que a fábula criou

Tome cuidado, você que pretende caminhar como um bom aventureiro.
Tome cuidado com a máscara que esconde as deformidades desta pretensão
Não vá correr na direção da víbora que o espera nas vagas semelhanças de paz. A paz largou tudo pelo caminho e correu na direção dos negócios como uma boa aventureira. Vários negócios. E quem pode garantir todos estes negócios? A pretensão é o peso-pesado ao lado da paz nos negócios do ódio.
O ódio sacudiu a cabeça e sorrio maliciosamente. Ninguém tem tanta pressa quanto o ódio. Sim, tudo isto é estranho. Sim, é ilógico. Muito bem, vamos falar sério. Só gostaria de saber, sem pressa, o que pode ser tão simples como um suspeito de nada ser?

Exageros triviais da imaginação, de certas especulações, de fantasias concentradas, do âmbito das aventuras, do apelo do silêncio e da solidão, da reabilitação da coragem, da escapada de mais um personagem do drama para a comédia, da entrega a lassidão, do vazio redundante ao desejo inacessível, só exageros.

Eis que faço minha referência ao amor. Não ao amor que não sentimos, não ao amor que proclamamos, não ao amor que juramos, não ao amor que desejamos, ao amor que toma posse, domina e rege as pulsações consciente e inconsciente, identificado ou não é força propulsora, é razão de existir, é riso e choro, é alegria e dor, coragem e medo, é tantas coisas indefiníveis e indescritíveis que só resta sentir, falar é nada dizer.

O túnel do tempo é um enorme vazio
Tuas queixas o som da queda
Mas você olha pro alto e vê uma plataforma qualquer que dizem ser um lugar aprazível
Dizem ser ali o reino do amor
Esta logo ali um pouco acima do seu mergulho
Esta logo ali na cápsula mais vistosa dos seus ideais
A vida segue em outro lugar
Sempre em outro lugar