Coleção pessoal de lucijordan

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Hoje sinto no coração
um vago tremor de estrelas,
mas minha senda se perde
na alma de névoa.

A luz me quebra as asas
e a dor de minha tristeza
vai molhando as recordações
na fonte da ideia.

Todas as rosas são brancas,
tão brancas como minha pena,
e não são as rosas brancas
porque nevou sobre elas.

Antes tiveram o íris.
Também sobre a alma neva.

A neve da alma tem
copos de beijos e cenas
que se fundiram na sombra
ou na luz de quem as pensa.

A neve cai das rosas,
mas a da alma fica,
e a garra dos anos
faz um sudário com elas.

Desfazer-se-á a neve
quando a morte nos levar?
Ou depois haverá outra neve
e outras rosas mais perfeitas?

Haverá paz entre nós

como Cristo nos ensina?
Ou nunca será possível
a solução do problema?
E se o amor nos engana?
Quem a vida nos alenta
se o crepúsculo nos funde
na verdadeira ciência
do Bem que quiçá não exista,
e do mal que palpita perto?

Se a esperança se apaga
e a Babel começa,
que tocha iluminará
os caminhos da Terra?

Se o azul é um sonho,
que será da inocência?
Que será do coração
se o Amor não tem flechas ?

Se a morte é a morte,
que será dos poetas
e das coisas adormecidas
que já ninguém delas se recorda?

Oh! sol das esperanças!
Água clara! Lua nova!
Coração dos meninos!
Almas rudes das pedras!

Hoje sinto no coração
um vago tremor de estrelas
e todas as coisas são
tão brancas como minha pena.

SONHO

Descubro
tua leve gargalhada
nas asas inquietas
de algum pardal sem medo.

Escuto
o ruído de teus passos
nas folhas que caem,
desprendidas, ao solo.

Anseio
teu travesso sorriso
em cândidos jasmins
com aroma de cidade.

O céu se há posto azul,
empapado de vento:
sonho
que hás retornado.

JÁ NÃO

Já não será
já não
Não viveremos juntos
Não criarei ao tua filho
Não coserei tua roupa
Não te terei a noite
Não te beijarei ao ir-me
nunca saberás quem fui
por que me amaram outros.

Não chegarei a saber
por que nem como nunca
nem se era de verdade
O que disseste que era
nem quem foste
nem que fui para ti
nem como seria
viver juntos
querermos
esperar-nos
estar.

Já não sou mais que eu
para sempre e tu
já não serás para mim
mais que tu.
Já não estás
em um dia futuro
Não saberei donde vives
com quem
nem se te recordas.
Não me abraçarás nunca
como essa noite
nunca.

Não voltarei a te tocar.
Não te verei morrer.

O QUE SINTO POR TI

O que sinto por ti é tão difícil.
Não é de rosas se abrindo no ar,
é de rosas se abrindo na água.

O que sinto por ti. Isto que roda
ou se quebra com tantos gestos teus
ou que com tuas palavras despedaças
e que logo incorporas em um gesto
e me invade nas horas amarelas
e me deixa uma doce sede dobrada.

O que sinto por ti, tão doloroso
como pobre luz das estrelas
que chega dolorida e fatigada.

O que sinto por ti, e que sem embargo
anda tanto que às vezes não chega a ti.

ESTAÇÃO

O inverno termina algum dia incerto.
Nem antes nem depois
que finalize o frio.
Não importa como lhe chames,
nem a data que dite o almanaque.
O inverno é inverno.
As moças poderão ignorá-lo
e vestir primavera em setembro,
enamoradas das quimeras.
Mas uma mulher já tem sua experiência.
Tudo chega a seu devido tempo.

OUTRA VEZ

Sempre a primavera
e estas ganas de fugir das paredes.
Gira a roda
ser outra vez virgem
para deixar outra vez de sê-lo
gira a roda
molhar-me em a tormenta
com uma sombrinha de riso
como una menina má
gira e gira
a verde sangue seiva
germina em minhas cadeiras.
...

DEPOIS

Alguma tarde azul
em que não pese a memória
e possa caminhar
livre para equivocar-me.
...

Desejo

Que a vida não vá mais além de teus braços.
Que eu possa caber com meus versos em teus braços,
que teus braços me cinjam inteira e trêmula
sem que afora se quedem nem meu sol nem minha sombra...

Que me sejam teus braços horizonte e caminho,
caminho breve e único horizonte de carne:
que a vida no vá mais além... !Que a morte
se pareça a esta morte ardente de teus braços!

Se tanto me dói que as coisas passem
É porque cada instante em mim foi vivo
Na busca de um bem definitivo
Em que as coisas de Amor se eternizassem.

Liberdade

Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade.

Flor de acaso ou ave deslumbrante,
Palavra tremendo nas redes da poesia,
O teu nome, como o destino, chega,
O teu nome, meu amor, o teu nome nascendo
De todas as cores do dia!

No mesmo templo do deleite / A velada Melancolia tem o seu santuário.

SOU ESSA FLOR

Tua vida é um grande rio, vai caudalosamente,
a sua beira, invisível, eu broto docemente.
Sou essa flor perdida entre juncos e achiras
que piedoso alimentas, mas acaso nem olhas.

Quando cresces me levas e morro em teu seio,
quando secas morro pouco a pouco no lodo;
Mas de novo volto a brotar docemente
quando nos dias belos vais caudalosamente.

Sou essa flor perdida que brota nas tuas margens
humilde e silenciosa todas as primaveras.

O luar enche a terra de miragens
E as coisas têm hoje uma alma virgem,
O vento acordou entre as folhagens
Uma vida secreta e fugitiva,
Feita de sombra e luz, terror e calma,
Que é o perfeito acorde da minha alma.

A vida é muito bonita,
basta um beijo
e a delicada engrenagem movimenta-se,
uma necessidade cósmica nos protege.

Tu verdadeira natureza só se mostrará ante situações desconhecidas

Às vezes Deus faz o trabalho por nós; isso é o que chamamos de sorte.

Tratando de valer te esqueces de ser.

A alma fala quando emudece a palavra e se pronuncia o silêncio.

Não dês voltas ao passado, pois não o podes mudar, que não te agonie o futuro, pois não sabes se chegará, desfruta do presente, não o deixes escapar, porque quando se for, jamais voltará.