Coleção pessoal de lucian1989

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⁠(in)confesso

se reparo,
falo melhor
quando te guardo.

⁠A saudade de Olinda

A saudade de Olinda
tem nome: Camila
dos olhos pequenos
do furo no riso
da fala francesa
na boca macia.
A saudade de Olinda
ladeira, sombrinha
na mão que a galega
viaja com o corpo
vestido vermelho
à Paris colorida.
A saudade de Olinda
capixaba sentia
no avião que partiu
escrevendo poema,
melancolia de cinzas:
folia em poesia.
A saudade de Olinda
oceano e fantasia
entre França, Brasil
Camila e o frevo
carnaval: tous les jours
carnaval: todo dia.

⁠do contra

inicio retórico
me acabo
(no) meio contraditório.

⁠Da incapacidade para o desenho

Nunca consegui desenhar natureza,
as borboletas sempre foram mais atrativas
voando livres-disformes em minha cabeça.

⁠Lição adulta

Andava sem inspiração pra escrever.
Meu afilhado Davi
chegou em minha casa:
foi policial;
foi motorista de caminhão;
foi cachorro junto a minha;
foi pássaro de primeira viagem –
e voou incansáveis vezes pros meus braços
que hoje, desacostumados, doem.
É preciso sentir no corpo
pra brincar de ser poeta.

⁠inconfesso

calo-me feio
na ponta da língua
encontra-se um seio.

⁠ir

entre Ego
e Superego,
Id ao éter.

⁠sou ambidestro:
com a mão esquerda seguro as coisas
com a direita escrevo liberto

Trégua

Sorrisos (falsos) à esmo
pra fugir desta mania
de perseguição
comigo mesmo.

⁠História Política do Amor

Amar você:
delegar poder.
Dividir que amo:
ser republicano.
Não ser amado:
golpe de estado.

⁠Crise

Não pensem que os poetas
são esses fantasiosos e lunáticos,
que andam com o corpo amortecido,
distantes da realidade, estáticos;
vivendo de escrever, com o copo sempre cheio,
declamando nas mesas dos bares, exigindo pouco de si
e do mundo pra viver.
(embora necessitem por só assim encontrarem-se)
Os poetas procuram imóveis
vão ao banco, apoiam partidos,
pegam ônibus, xingam no trânsito,
fazem monografia, estudam o trabalhismo;
leem jornais, vão ao supermercado,
querem ir a Porto Seguro, contam as moedas,
trabalham com os pais.
(embora só por necessidade encontrem-se assim)
Porque o poeta
é essa crise permanente
entre ganhar a vida
e perder-se nela.

⁠PROCURADO

amor encontrou
se perdeu
quem achou.

⁠androginia

tenho aprendido
com uma mulher
como ser homem.

Fome

O poeta alimenta
o amor dos outros,
mas prova, por vezes,
um amargo gosto:

quando o poeta receita
o poema a uma mulher,
que gostando do prato
o serve a’um qualquer,

o que deve o poeta
com o poema fazer:
alimentar o mundo
ou primeiro comer?

Voo livre

Se quiseres ser livre
não basta ser pássaro, seja o vento
pois cortam-se as asas, cerram-se as grades
mas jamais aprisionam
[o voar de um sentimento.

Voo livre

Se quiseres ser livre
não basta ser pássaro, seja o vento
pois cortam-se as asas, cerram-se as grades
mas jamais aprisionam
[o voar de um sentimento.

Amarelo

Amarelo.
Amar é um elo
eloquente.
De dentro da alma,
do afago da gente.

Amarelo.
Amar é um elo
quente.
De dentro do afago,
da alma da gente.

Amarelo.
Amar é um elo
dentro da gente.
Do afago da alma,
de elo quente.

Amarelo.
Amar é um elo
da gente.
De alma a dentro,
afago quente.

Jaz um poeta

Dirão está vivo
Se de todo meu escrito
Lembrarem um fonema:

Na falta da vida boêmia,
Ficou em poema.

Poema do Imperialismo

Meus companheiros da esquerda
me questionariam se eu
escrevesse que o meu amigo
Ricky vai a América – e não aos EUA.

Com o perdão da palavra, o meu amigo
Ricky vai a América.

Pois me despeço do meu amigo, que vai a América
da mesma forma que despediram-se
as mulheres dos soldados americanos que foram ao Vietnã;
me despeço do meu amigo, que vai a América
da mesma forma que despediram-se
Fidel e Che na Cuba socialista.

Ricky vai a América
e não há ideologia que cure
o imperialismo da dor de sua falta.

Entrega

Quem tem medo da entrega,
tem no fundo
medo de viver a separação.

Quem separa sem entrega,
verá que no medo
viveu em si, no fundo não.

Mas, quem viver sem medo,
no fundo há de ver
que todo fim é uma entrega
a uma nova criação.