Coleção pessoal de Lu_Correia

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⁠Meu filho aos trinta sabe tudo, eu aos cinquenta e um descobri que nada sei.
51 é uma boa ideia para viver e deixar viver, embora tenhamos a certeza que a conta sempre chega e aqueles que tudo sabem sempre voltam para o colo dos que nada sabem além de amar.

⁠Diplomacia é uma maneira agradável de fazer e falar coisas desagradáveis.

Flecha tardia

Escrevo porque existe uma área no olho, que não sei nomear, onde a lágrima se deposita antes de rolar para as faces, uma espécie de pequeno leito, uma borda.

Escrevo porque meu corpo tem um ritmo: o coração, o ventre, o estômago, o sistema nervoso, as mãos, o útero.

Escrevo porque não sou eu quem escrevo, mas as palavras a se escreverem, urgentes.

Escrevo porque sou muitas.

Escrevo porque hoje é o amanhã do ontem.

Escrevo porque não é o tempo que passa, mas nós a passarmos e é em nós que existe a duração, esse desvio subjetivo do tempo, em que as coisas perduram, o passado se transforma em presente e o futuro deixa de ser um mistério para se tornar uma vontade.

Escrevo porque morro e ressuscito.

Escrevo porque as palavras são criaturas cheias de dimensões e as coisas podem ser outras.

Escrevo porque os fatos não existem como uma coisa imponderável e fixa.

Escrevo porque acredito. Intransitivamente.

Escrevo porque a morte se insinua em cada desistência.

Escrevo porque Paul Celan, um dia, falou de uma "flecha tardia". Ele a lançou e ela, no futuro em que estou, me atingiu. Quero lançá-la mais adiante.

Escrevo porque Manuel Bandeira disse que Teresa era uma lagarta listrada.

Escrevo porque sou pedra e planta.

Escrevo porque meus pais fugiram do velho mundo, porque existem ainda pessoas fugindo de um país a outro, porque sou também fugitiva, porque a fuga é a condição primária da perda e do encontro.

Escrevo porque não entendo quase nada, porque não sei o pensamento, porque não conheço ninguém.

Escrevo porque amo David Grossman, que escreve tão melhor do que eu.

Escrevo porque escrever é errar e precisamos fugir do acerto.

Escrevo porque habito na iminência e ela habita em mim e porque, na borda do precipício, ou pulo ou contemplo a vertigem.

Escrevo porque entre as palavras existe o silêncio que elas inventam.

Escrevo porque resistir é aumentar o grau de impenetrabilidade.

Escrevo porque é difícil.

Escrevo porque tenho filhos, uma transitoriedade, uma lembrança, um salto.

Escrevo porque existe a nuance, essa nuvem que sopra sobre as coisas fixas.

Escrevo porque sou dinamite.

Escrevo porque aprendi a raiva, nariz comprimido, olhos apertados, peito contraído, potência dirigida.

Escrevo porque o amor é redondo, geodésico, porque ele planta bananeira e porque ele é a casca, o sumo e o caroço.

Escrevo porque sou pó.

Escrevo porque as etimologias me convocam para novas histórias, porque elas querem ser reveladas e porque revelar é também, de certa forma, velar de novo.

Escrevo porque li que, na índia, existe um deus cujo manto é feito de sílabas e porque essas sílabas sustentam o mundo.

Escrevo para entender o que são os metros dáctilo e trocaico.

Escrevo porque Sócrates, antes de morrer, aprendeu a tocar uma fuga na flauta e porque, ao ser perguntado sobre isso disse: quero aprender mais alguma coisa antes de morrer.

Nem sei por que escrevo. Escrevo porque nem sei.

Fugir evita muitas dores mas só nos permite viver meia vida

⁠As pessoas não me magoam, me despertam.

⁠O bom da vida não é dar o troco, é fechar a conta e ir embora sem olhar para trás.

⁠Não tenho interesse em ter todas as pessoas aos meus pés, me interessa andar lado a lado com os que estão a minha altura.

⁠As vezes, a pessoa é tão bonita, que tem cheiro de flor, que rima com amor, então a gente simplesmente a ama sem esperar, sem nem imaginar, só ama e pronto, sem esperar nada em troca.
Eu acho que você tem cheiro de flor.

Sou do tamanho do universo, eu sou o universo inteiro.
Sou rio, sou mata, sou índio , sou arco, sou flecha certeira com ponta de ferro.
Sou cavaleiro e sou cavalgadura.
Sou ouro, sou pedra preciosa, sou todas as riquezas do mundo.
Sou azul, sou verde, vermelho, branco, e sou preto porque sou todas as cores, pois sou infinita.
Eu sou leve e fluo levemente por aí, cada dia sou de uma cor e vibro num tom porque sou todos em um, eu compreendo o todo e o todo vive em mim.

⁠Como disse Cazuza, as vezes a gente ama errado, aliás, na maioria das vezes, isso faz com que o amor mais pareça uma tragédia grega, onde nem o respeito permanece.
A parte boa é que acaba. Fim.

⁠O amor não é para sempre
O amor é uma conquista diária, e quem acha que ganhou para sempre perde.

⁠Não me uno a pessoas e sim a ideais, portanto, até agora, o lugar que mais me identifico e do lado esquerdo da mesa

Dois caminhos
Duas escolhas
Transcender, ir ao céu ou permanecer na terra feito folha seca jogada ao vento?

⁠Quem sou eu
Eu sou poesia
Sou todos os livros que li
Os filmes que mais gostei
Os lugares por onde andei
Sou as boas e más impressões que deixei em todos que convivi
Sou todas as mudanças que causei
Sou tudo o que semeei por onde passei
Quem sou eu? Eu não sei… sigo semeando, deixando sempre um pedacinho de mim e me reconstruindo de pedaços que pego por aí… eu só sei que, hoje já não sou mais quem fui ontem e amanhã já não serei quem sou hoje. Sigo caminhando.

Certo dia me perguntaram como alguém tão feliz, simpática, determinada e forte pode ter depressão
Na hora eu só pude dizer que depressão é uma patologia como outra qualquer. Depois de certo tempo, quando mergulhei na pergunta pude compreender que durante anos eu fui me desfazendo, fui deixando pedaços de mim e quando me dei conta eu já não existia mais. A gente morre um pouco quando se cala diante da ignorância alheia. A gente morre um pouco quando engole o choro ou o grito e também quando estamos cercados de gente ruim, egoísta, egocêntrica, covarde. e mentirosa. Pessoas adoecem pessoas
É importante fazermos uma autoanálise e observarmos se estamos somando na vida alheia, e o mais importante, o que estamos deixando pelos caminhos por onde passamos?

Minha vingança será deixar pra lá.
Tire suas conclusões sobre mim, eu não ligo.
Ache o que quiser, eu não ligo.
Fale o que quiser, eu não ligo.
E não ligo mesmo, estou muito ocupada aqui sendo feliz.

⁠Era uma vez uma formiguinha, ela se apaixonou perdidamente por um pavão, mas, o pavão não lhe dava bola, ele abria suas lindas penas para todas as espécies do gênero oposto ao seu. De início ele se mostrava interessado, jogava nelas um encanto,as cativava e quando elas estavam perdidamente apaixonadas ele as pisoteava com seus horríveis pés de unhas longas e sujas, e as abandonavam a própria sorte para que morressem, e assim ele fez com a pobre formiguinha. Ao ser abandonada a formiguinha caiu em uma profunda tristeza, parou de comer, de trabalhar e só pensava em morrer, mas um belo dia a formiga rainha apareceu! Retirou o feitiço que o malvado pavão havia jogado na pobre formiguinha e a curou. Como castigo ela decretou que daquele dia em diante o malvado pavão viveria só e que a sua imagem jamais seria refletida no espelho e que a única visão que ele teria de si mesmo seriam os seus horríveis pés. É assim, o pavão viveu solitário e triste pelo resto da vida, sempre abrindo as suas lindas penas para todas que passavam a sua volta mas sem encantar mais ninguém. Livre do encantamento do
Malvado pavão, a formiguinha voltou a trabalhar, cantar e ser feliz novamente. A sua felicidade era tão grande que por onde ela passava, ela deixava um rastro luminoso que encantava o coração de todos, ela decidiu então compartilhar esse brilho com todas as espécies, que assim como ela haviam adoecido de tristeza por causa do feitiço do malvado pavão. Fim

⁠Falar não, calar.
Calar trás consigo todas as respostas que ficam subentendidas através do olhar.
Aprende-se muito mais com o silêncio do que com um milhão de palavras.

⁠O egocentrismo dá ao egocêntrico a sensação de ser único, raro, Insubstituível, maioral, ímpar e especial, só não lhe dá a visão para que perceba que é especialmente idiota. E isso é péssimo.

A minha fala contém todas as chances do mundo, o problema real é quando eu calo.
Quando não tenho argumentos ou palavras, significa que o meu peito secou e todas as chances se foram