Coleção pessoal de lecorpivost

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AGONIA METALITERÁRIA

Consola-me, Euterpe
Deste nefasto fado
Da epifania súbita que fulmina
Minha razão - de meu ser, o estado

Sussurra, como se musa fosses realmente
E a certeza do poeta, ilumina
E mesmo contrafeito, mau grado,
Assentará sua disforme mente

Com a pena, se jus lhe fizer, ou à palavra
Como quem páginas com olhos lavra
Aguardando aquela, que tudo inspira,

Conceder-lhe o dom breve e sagrado
Canta, ó musa, pois o verso quase finda
E não há, em flauta nem lira,

Quem são concebê-lo possa
E o poeta, agora exausto
Tornou a pensar em prosa

Epitáfio epifânico


Num belo dia acordei e descobri que nunca houvera antes acordado. A sensação de estar imerso numa realidade, e o efeito por ela causado em meu corpo, e mente, era algo assustadoramente novo. Descobrir que eu realmente possuía 5 sentidos, e que a verdade era algo absoluto (embora sujeita à perspectiva) foi algo tão quântico quanto artístico.

Não demorou muito até que eu me desse conta que, nessa realidade, eu existia em primeira pessoa. Eu não era apenas um diretor que controlava um ser correlato, a meu bel-prazer. Estava eu nessa realidade, onde só se pode cair uma vez de um prédio. Onde não se pode estar em dois lugares ao mesmo tempo. Onde não sou onisciente. Onde todos necessariamente têm um rosto. Nesse mundo onde a informação não depende de você. Nesse mundo - nesse mundo, e não num simulacro de mundo.

Me dei conta também que, nesse mundo, eu havia acabado de acordar e, por isso, não seria possível acordar de novo. Esse quase belo dia foi hoje. Por isso possivelmente não estou mais aqui.

Luzes vermelhas se afastam
E luzes amarelas se aproximam
São brancas ou amarelas?
Nem sei ao certo mais
Graças a esse frenesi
De conter a si mesmo, incapaz

E pestanejo, de súbito
Em sono profundo imergindo
Perdido em um deserto (quão lindo!)
Onde a areia é cinza e compacta
Um deserto de luzes e muita fumaça

Tudo é quadrado, tudo é medido
E ainda assim não há harmonia
Tudo é nocivo aos meus sentidos
Um mundo retorna, outrora ia

Aonde ia, se agora volta?
E amanhã novamente irão
Em busca do quê, pelo bem de quem?
Como gado, assim, anda essa multidão

Os cérebros de cada são agora um para todos
Rememos, pr'onde o voga ditar a chegada
Se é que chegada há
Se não enlouquecermos durante a empreitada

Me recuso, entretanto, a mover passivamente
Um remo longo, pesado e egoísta
Que vale mais que a própria gente

Pobres zumbis, sem alma e intelecto
Platão, tire-os da caverna
Creio eu que para a vida eterna
Eu possa ainda espera-los aqui em cima