Coleção pessoal de Kaliandro

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Acordei com uma vontade de escrever, expelir tudo pra fora, quebrar e romper as palavras, dedilhar novas frases.
Ler, sonhar, acordar e viver novamente.
Pular introdução, andamento, acelar ...

Outra vez, as coisas ficam fora do lugar, e é tão notavél que o que foi já não é mais vantagem e nem faz importância. Mas, fale para mim com sensatez...
Fale pra mim retroceder, fale pra mim desistir, fale pra mim parar de lutar, esquecer, fale pra mim deixar de lado. Não me olhe com cara de interrogação, me olhe e fale pra mim jogar tudo fora. Não tem mistério, não tem segredo, não tem nada fora do comum, apenas me olhe.

Nosso plano tinha ficado pra ontem, então sentamos frente a frente e deixamos nosso silêncio conversar por horas, sentia sua respiração e me sentia um bobo, por achar que aquele pulsar frenético era por estar ao me lado.
E eu que sempre sonhei com uma história abrangente, só queria sobreviver, só queria sair dali inteiro, intacto, pronto pra outra. Pediria licença do meu ego e do meu orgulho, por mais que enxergasse outras cores, por mais que planejasse novos planos, novos sonhos, novas dores, novos desenganos, eu saíria inteiro, mesmo que metade de mim ficasse ali contigo.

O eco da batida eletrônica emergia lembranças, o álcool feria meu orgulho, o meu corpo se rendia e ao mesmo tempo pedia pausa e eu não obedecia.
Uma dose, duas doses, três doses e o pouco tornava-se tudo e o tudo tornava-se pouco.

Meu retorno, minha recompensa, meu destino, meu atalho, meu dia, minha meta, minha metade, meu atraso, minha certeza, meu vício, meu desfecho, meu plano, meu engano, minha forma, minha nota, minha rima, meu desconcerto, meu verbo, meu adjetivo, meu som, meu silêncio, minha idéia curta, meu pensamento longo, minha fixação, minha realidade, minha forma errada, meu projeto final, minha canção, minha melodia, meus rascunhos, meus textos, minha manha, meu amanhã ...

Os dois falam, um ouve. Os dois discutem, um perdoa. Os dois fazem planos, um realiza. Os dois olham, um fixa. Os dois desabam em pranto, um retorna a seu estado de espírito em segundos. Os dois se encontram, um some. Os dois sorriem, porém só um fica alegre. Os dois se entendem, mas só analisa.
Os dois em um termo nenhum.

Um diz: Que seja eterno enquanto dure, o outro diz que dure enquanto seja eterno. Um ama chuva, o outro ama sol. Um adora ver filmes a noite, o outro adora ouvir um dance. Um adora Beatles, o outro ama The Calling. Um detesta ironias, o outro é irônico por vida. Um diz: Adoro quando você canta pra mim, o outro diz: amo sua voz roca sem ritmo. Um adora verde, o outro detesta amarelo. Um é impaciente, o outro espera se possível a vida inteira. Um odeia suspense, o outro ama comédia. Um espera o momento chegar, o outro traz o momento.
Um completa o outro.

Um dia qualquer de novembro, um ritmo dançante, amigos em comum, vibrações positivas, um sorriso bobo, um coração pulsante, um pouco de álcool, uma conversa sem coerência, um afeto instantâneo, um beijo roubado, outro correspondido. Uma noite de silêncio, após, um dia de perguntas. Uma semana de diálogos e uma vida inteira de textos.

Era cedo e ao mesmo tempo tarde. Aquele olhar te filtrava, aquele momento repugnante te consumia. Você se mantém com os pés no chão, porém um pouco relaxo. Conta nos dedos os minutos que passavam e você joga fora, sem nenhuma importância. A historia final você sabia de trás pra frente e vice versa. Era tudo uma questão de coragem...
Coragem pra sentir, coragem pra viver, coragem pra tentar, coragem pra ir, coragem pra olhar, coragem pra entender, coragem pra decifrar, coragem pra falar, coragem pra obstruir.
Coragem!
E como tudo que depende disso, precisa de uma atitude...
Atitude faltou naquela hora.

Cansado de ouvir as mesmas histórias, os mesmos conselhos, as mesmas indagações, os mesmo sermões ...
Pra mim viver é arriscar e arriscar combina bastante com se arrepender. Então, não é se privando que vive, que ganha e conquista.
Vontade de jogar tudo pro ar, e o que cair e quebrar que se foda.

Uma tarde inteira de sorrisos, uma noite inteira de conversa.
Aquele vazio que sentia esporadicamente, hoje compreendo e chamo de espaço. Aquele sentimento inacessível que outrora era incompreendido hoje chamo de liberdade.
Uma vida inteira, uma brasa nas mãos, um ditado verbalizado, um único acesso, um único meio, um único obstáculo.

Guarda o amor pra outro dia, guarda o amor pra outra ocasião. Guarda o amor pra quando for sentimento. Guarda o amor pra quando você pisar na terra. Guarda o amor pra quando você abrir o olhos. Guarda o amor pra quando for verdade. Guarda o amor pra quando você realmente sentir. Guarda o amor pra depois viver. Guarda o amor pra depois amar. Guarda o amor pra depois ver no que dá.
Guarda ...






Ou então joga fora tudo isso que você pensa que é sentimento.

Você pode me iludir com suas lágrimas, você pode me iludir com suas palavras, mas não me ilude com seus atos.
Vigiei teus passos, controlei teus pensamentos, tomei conta dos teus planos, explorei teus ideais, vivi tuas músicas, idealizei teus objetivos.
Tenho algumas neuras, mas procuro jogar todo ódio ralo abaixo diariamente.
E Nada, nada me cega mais que teu nome.

Quando amo, amo por inteiro. Quando sinto saudades, sinto de maneira demasiada. Quando quero vou atrás. Quando erro peço perdão. Quando perdoou esqueço. Quando mantenho distância controlo. Quando me arrependo aprendo. Quando desisto não luto. Quando luto não perco. Quando perco me contento. Quando me contento me sinto sagaz. Quando crio expectativas me bate ansiedade. Quando não vale a pena nem levanto. Quando levanto vou até o fim. Quando vou até o fim me entrego. Quando me entrego me perco. Quando odeio me sinto fraco. Quando não tenho força me equilibro. Quando não posso não ponho os pés pelas mãos. Quando me controlo não me reconheço. Quando enxergo acredito. Quando sinto demonstro. Quando escolho exigo.
Quando vivo, vivo sem medo

Tive vontade de dizer muitas coisas naquele momento, tive vontade de lhe explicar como era realmente a vida.
Tive vontade de poder ensinar tudo o que eu já havia passado, aprendido, ou imaginava ter presenciado.
Porém nenhuma dessas coisas saíram da minha boca. Tudo o que eu tinha havido feito foi enclinar-me para o lado e estendido os joelhos sobre o chão.
Teria sido mais fácil ter vomitado todas as palavras que outrora circulavam em minha mente, talvez não houvesse nenhuma reação inversa á tal devastação. Talvez tudo tornasse relaxo, talvez mudasse esporadicamente ou não.
A marcha da história é irreversível!
Ocasionalmente havia humor, afeto, singularidade . Enquanto tudo se traçava á determinado ponto, tudo ia se diluindo ao mesmo tempo - a vontade de mudar, a maneira insana de imaginar as coisas.
Vez por outra havia verdade nas palavras. Embora que ás vezes fosse quase nunca.

Você não tem nada pra fazer em casa, e inventa de sair, o bar das redondezas foi seu primeiro refúgio. Pediu dose dupla da bebida com maior teor de falta de memória do dia anterior, bebeu num só gole seco, acaba bebendo todas e mais algumas. O álcool parecia circular pelas veias deixando um estranho rastro, uma sensação quase indefinível que sondava por todo o corpo fraco. Esquece o senso real das coisas e comete tudo quanto você imaginar enquanto o efeito da vodca ainda age no seu corpo, nas suas veias, na sua cabeça.
Você delira, delira mais um pouco e enche seu pulmão de nicotina. Fica tonto, sai andando. Tentando andar, e depois senta. Procura o celular, vai à agenda e encontra aquele número que nem precisava procurar, porque você tem gravado na cabeça de trás pra frente, você liga, desliga, e depois liga novamente. Ninguém atende você fica inerte, sozinho e infeliz.
Horas e horas de vodca depois, você não agüenta e para, diz o quanto ama a vida, e o quanto a vida não te ama. Você consegue pensar ainda, então você tenta. E a única coisa que chega até sua cabeça é a lembrança dela. É.
As horas passam e o dia chega você sai fora e vê a claridade da luz nos seus olhos, Já era suficientemente adulto para considerar todo tipo de problema passageiro, hesitou nas conclusões sobre vida e mundo, você percebe que além de um momento, a vida é uma história escrita como tatuagem, que não se apaga totalmente, que permanece em você, com vestígios, com feridas, com qualquer coisa. Permanece!
Chega em casa com uma dor de cabeça tão forte, a madrugada invade o quarto pouco iluminado deita, dorme...
Dez horas se passam, você acorda e vê que tudo passou, é, passou!
A dor de cabeça, o gosto da vodca e a lembrança insistente na sua cabeça.

Suor frio, pensamento quente. Eram 05h00min da manhã, minha cabeça pesava, meu corpo tremia de frio, meus olhos queimavam. Desconheci-me por horas, o que eu achava que era forte, tornou-se fraco, parecia que nada era o bastante, nada era o suficiente.
Rendi-me a imensa dor, que martelava ate alma, com os pés descalços ao tocar o chão, recebi um choque térmico, por segundos fiquei inerte.
Voltei à cama, a cabeça queria explodir excessivamente, tentei respirar, algo prendia, algo sugava o resto de força que em mim restava.
Encontrei-me neste estado por horas, ate suar mais frio e começar a delirar. Era controlador, operante, insaciável.
Vomitei, vomitei e vomitei...
Sim foram três vezes, mas na verdade eu tive vontade de colocar mais do que vomito pra fora, tive vontade de expulsar cada gota de amor, cada pedaço do passado. Aquele passado que ao lembrar me quebrava mais do que qualquer dor física.
Ali estava implorando a Deus por piedade, mesmo não merecendo, implorava.
Tudo ficava cinza, era minha visão apagando, pedindo descanso. Mais não obedeci. Não lembrava mais nada ate chegar ao hospital.
Agulhas, algodão, remédios, sangue, curativos, soro, analgésicos...
Estava sedado, tudo era uma ponte naquele momento, uma ponte para que eu pudesse estar acordado ainda. E ver a vida lá fora...

Eu abri meus olhos, mas não havia luz no fim do túnel.
Se ao menos houvesse.

Uma reação residual, inodoro.
Era uma contusão, tudo aquilo.

Procuras inúteis, atenção repulsiva, sede afetiva...
Presente, passado, infinitivo num só.