Coleção pessoal de jenn_perroni

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Preciso desesperadamente firmar um compromisso com a verdade ou sinto que corro o risco de ser tragada por uma sociedade corrupta e hipócrita.

Por isso, sinto muito, mas apenas vou onde e permaneço onde me sinto bem. A todos em minha vida concedo o mesmo direito. As portas estarão sempre abertas.

Preciso deixar de comprar veneno em forma de comida e de clamar a Deus quando meu corpo se recusa a ser sadio em decorrência de maus hábitos e de minhas tendências autodestrutivas.

Não posso mais dizer o que não sinto e cuspir verdades como se fossem mentiras.

E também a deixar de fazer promessas que sei que não posso cumprir. Promessas que exigem que eu sacrifique bens valiosos: amor próprio, respeito, felicidade.

Preciso ser honesta com meus sentimentos, minhas sombras e com as fraquezas em meu coração.

Preciso deixar de ser doce quando meu coração está triste e firmar um compromisso de ser inteira ou não ser nada. Não ofereço mais metade de mim a ninguém.

E esse compromisso precisa abranger todas as áreas da minha vida: relacionamentos, trabalho, amizade, família.

Preciso não sonegar o imposto de renda, a não me dar bem em cima do prejuízo de outro e a arcar com os custos dos meus erros, aceitar as consequência de minhas próprias escolhas.

E preciso fazer isso ainda que mais ninguém faça. Ainda que seja difícil e que eu precise me esforçar todos os dias para ser honesta comigo, para reconhecer minha própria voz.

Entendo a vida como uma grande escola, um grande laboratório onde posso aprender a ser humano no sentido mais elevado da palavra.

Não posso mais aceitar esse modelo de humanidade distorcida que aponta o dedo para as falhas alheias, mas é incapaz de olhar a sujeita nos próprios pés.

Provavelmente não é por acaso que estou sozinha. Seria muito difícil para um homem viver comigo, a menos que ele fosse terrivelmente forte. E se ele for mais forte que eu, sou eu que não consigo viver com ele. Não sou nem inteligente nem estúpida, mas não acho que sou uma pessoa banal. Eu estive no negócio sem ser uma mulher de negócios, eu amei sem ser uma mulher feita apenas para o amor. Os dois homens que amei, eu acho, vão se lembrar de mim, na terra ou no céu, porque os homens sempre lembram de uma mulher que lhes causou preocupação e inquietação.

O dinheiro nunca significou muito para mim, mas a independência (conseguida com ele), muito.

Quando cheguei do trabalho o corpo clamava pelo sossego da casa vazia.

Os ombros espremidos feitos limões depois de um dia inteiro vivenciado no antes e depois. Nunca agora.

O agora pertence ao reino das pessoas bem resolvidas, do presente selvagem, da ausência de dores e dúvidas. Por isso tal lugar me é tão fantasioso e desconhecido. Estou sempre presa entre dois tempos. Meus limões e eu.

E a silenciosa ordem da casa vazia era a única coisa de que precisava para que o dia terminasse afinal. Não haveria ninguém me esperando, não precisaria contar como foi o dia, o que fiz. Tudo estaria no exato lugar que a mão desatenta deixou pela manhã.

Estaria… do Pretérito mais que perfeito condicional.

Condição em que eu teria encontrado a casa se tivesse deixado a bendita janela fechada.

Mas a mão (aquela mesma descuidada que nunca repara o que está fazendo) abriu a janela antes de sair e foi embora despreocupada como só as mãos sabem ser. Nem pensou em olhar a tempestade que se anunciava desde cedo no horizonte.

Suspeito, na verdade, que exista uma relação profunda entre mão e vento. É o que percebo toda vez que minha mão esgueira para janela aberta do carro quando ninguém está olhando. Estende-se para o vento que corre livremente do lado de fora, finge que voa enquanto o ar se espreme entre suas partes sempre tão guardadas por anéis.

Em todo caso, a mão não estava lá quando o vento entrou enfurecido procurando por ela. Raivoso brandiu com força papéis para todos os cantos, derrubou aquele vaso feio que ficava sobre a mesa, o único que aceitou receber a estranha planta que eu nunca sabia se estava viva ou morta. Agora entre os cacos de vidro no chão não restava dúvida: morta.

Os papéis que permaneceram sobre a mesa molhados pela água do vaso, o restante espalhado no chão.

As cortinas caídas sobre o sofá como se cansadas de lutar contra o vento e tivessem simplesmente desistido. Ficaram observando enquanto o caos reinava na casa.

Nada naquele lugar lembrava a paz que eu buscava quando entrei.

A mão primeiramente cobriu os olhos com mais força do que o necessário, foi se agarrando a cada osso do rosto até se prostrar entre os dente a espera de ser castigada. Respirei fundo e a coloquei em seu devido lugar ao lado do corpo.

Caminhei entre vidros, cortinas, papéis e flores que já estavam mortas muito antes do vento chegar.

No meio da sala olhei para as mãos descuidadas e famintas por vento. E por um instante me senti bem em meio ao caos. Não sabia por onde começar a arrumação e, sinceramente, não havia qualquer pressa para isso.

Soltei o peso dos ombros que pela primeira vez eram nada além de ossos, músculo e pele. Fiz um azedo suco com o saco de limões que carregava e bebi inteiro, sem açúcar.

E ali, cercada pelo silencio caótico que se estende após a tempestade não havia nenhum outro lugar em que eu pudesse estar. Só o famigerado momento presente e eu em meio a sala. Sós.

Como culpar o vento pela desordem feita, se fui eu que deixei a janela aberta?

Se até os sólidos se desfazem no ar o que dizer dos amores líquidos?