Coleção pessoal de IvanildoPorto

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⁠A BAGAGEM

Irei me despir e despedir.
Despir do lodo e das agruras,
Para me despedir mais leve.
Seguirei de pés descalços.
“Nu cheguei” e assim retornarei.
Nada mais levarei.
Nem vestes porei.
Nem andrajos, nem balangandãs.
Apenas a bagagem do que vivenciei.
Espero uma estrada suave
ao transpor a cortina noutra dimensão.
No lado de cá, pouco evoluí, mas,
busquei vencer as maldades.
Lá, abrirei a bagagem com parcos bons atos.
Nela, coloquei tudo que aqui amealhei.
Para quem? como me servirão?
Não sei...
Sem véu, nem céu, esta alma seguirá.
Sem pieguices religiosas, mas sei que,
após o torpor do desembarque,
terei embates naquele além-túmulo.
Quem me receberá?
Cristianizados e não, me esperam,
porque fui ácido em tantas conjecturas.
Na bagagem, catarei as lições de então.
Verei minha mãe que,
“saudosa da escravidão” ainda chora?
e meu pai, talvez ainda debalde,
buscando se reencontrar...?
Então lá, sonharei ao vivo e vivo,
viverei um novo sonho.

⁠CHAMADO AO FIM

Hoje não me furtarei aos teus quereres.
Toma-me a atravessar esse abismo,
e me tornas rei sem cetro, em sonho.

Na imensidão desse mar ilusório, sigo.
Os riscos são meus, na margem de cá,
os prazeres são teus, na imersa parte de lá.

Chapisca acintosamente tua ingenuidade,
me cobres de predicados que só tu vês
e como deleite, açoita minha dopada resistência.

Mas tua audácia me enleva e me dá ânimo,
num suspiro profundo em querer te vencer
neste fatídico e irresistível capítulo do teu prazer.

SETENTA CAVALOS
Divisor de águas, de lágrimas, de mágoas.
Quem dera, fosse o meio de uma peregrinação,
para retomar o fôlego e caminhar a outra metade.
Quem dera!
Mas, setentão, me ponho no cume a olhar meus galhos e seus brotos,
donde derramo meus feixes de contemplação e orgulho.
O cavalgar já cadente, outrora serelepe,
onde "pulei cancelas, pulei quintais,
deixei donzelas e tudo mais..."
como os versos de Maranhão Fuzetti,
hoje atravesso o portal de número setenta.
Mas, "o que me importa é não estar vencido".
Rio de mim pelo que se foi e rirei pelo que virá.

⁠Teus olhos
Eles disfarçam uma proposital ingenuidade,
Mas penetram lancinantes os meus.
Irradiam um brilho ímpar e refletem teu desejo.
Como palavras não articuladas, magnetizam meu ser, sem defesas.
Me controlo.
Não me atiro ao chamamento do prazer proibido.