Coleção pessoal de HERBERTSOUTO

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Se tornar íntegro é uma tarefa difícil simplesmente porque enquanto agrupamos o quebra-cabeças do nosso eu de acordo com as formas de encaixe, as formas se deformam/transformam e temos que recomeçar.

Ao contrário do que eu imaginava a sabedoria só pode ser constatada naqueles que entendem que certezas e convicções são absolutamente nada; são tão solidas quanto areia.

“Não importa a distância
ou quais sejam os planos
do Cronos...

Sempre terei fresco
em minha memória
Teu meigo e doce sorriso.

...
Reafirmo aqui, meu
Egoísmo com relação a você!
- Não importa para onde vá,
ficarei com um pedaço seu.

A fim de não ser leviano,
tenho que retificar...

Há sim uma consequência
da distância;
quando encurtada,
a memória toma a lembrança
pela mão e juntas bailam
pelo reino do tempo”

“O silêncio é quebrado por suspiro, quando a tenho em meus braços...
Suspiros meus e teus, que se entranham e enlaçam assim como nossos corpos e dedos.

Mãos que percorrem teu corpo, como se amanhã não houvesse... e na verdade, não há.”

“Minha boca chama pela tua, minhas mãos por teu corpo, meu peito por teu rosto reclinado a disposição de terno carinho.

Os momentos que passo contigo, quero te servir por abrigo; descansa menina meiga e cheirosa.”

Não-coisa

O que o poeta quer dizer
no discurso não cabe
e se o diz é pra saber
o que ainda não sabe.

Uma fruta uma flor
um odor que relume...
Como dizer o sabor,
seu clarão seu perfume?

Como enfim traduzir
na lógica do ouvido
o que na coisa é coisa
e que não tem sentido?

A linguagem dispõe
de conceitos, de nomes
mas o gosto da fruta
só o sabes se a comes

só o sabes no corpo
o sabor que assimilas
e que na boca é festa
de saliva e papilas

invadindo-te inteiro
tal do mar o marulho
e que a fala submerge
e reduz a um barulho,

um tumulto de vozes
de gozos, de espasmos,
vertiginoso e pleno
como são os orgasmos

No entanto, o poeta
desafia o impossível
e tenta no poema
dizer o indizível:

subverte a sintaxe
implode a fala, ousa
incutir na linguagem
densidade de coisa

sem permitir, porém,
que perca a transparência
já que a coisa é fechada
à humana consciência.

O que o poeta faz
mais do que mencioná-la
é torná-la aparência
pura — e iluminá-la.

Toda coisa tem peso:
uma noite em seu centro.
O poema é uma coisa
que não tem nada dentro,

a não ser o ressoar
de uma imprecisa voz
que não quer se apagar
— essa voz somos nós.

PRIVILÉGIO

Sobre o privilégio,
posso dizer que, é relativo,
É relativo a quem vê, a quem o tem, e como ele é visto.

Há, quem tenha privilégio pela posição em que esta,
Há o privilégio conquistado meritoriamente,
Há o privilégio de usufruir do que outros conquistaram antes de nós,
Esse geralmente se refere a bens ou posses,
Mas há também o privilégio de conhecermos pessoas que nos fazem perceber o mundo por uma perspectiva diferente.

Perspectiva essa que muitos outros se quer cogitaram!

Me refiro a todos os aspectos da vida,
Mas, nesse momento faço menção a grandes mestres que tivemos no decorrer da vida, esses;
- Ensinará, sentirá e viverá sua arte de modo que nos inspirou.

Sejamos metalinguísticos agora; tive uma professora de língua portuguesa
Que aspirava o romantismo à poesia, graças a esse privilégio,
Tenho hoje uma perspectiva diferente sobre a poesia e os poetas.

Graças ao privilégio de a ter como mentora
não me envergonho nem um pouco de transcrever
o que sinto, de modo tal, que as vezes até parece poesia.

“Parece haver alguém que me causa perca,
Para obter riso.
- Ele tem dado gargalhadas.”

ONDE ESTÁS?

Amor,

Onde quer que estejas,
Dê-me um sinal.

Para que não haja erro
Na comunicação, não me
Refiro a, um amor, a alguém
Em quem eu me perca
e onde me encontro, não!

Me refiro ao sentimento.

Amor, venha ao meu encontro,
Ou me dê pista da sua trajetória,
Uma trilha talvez.

Já estou enfadado de letras
Que se unem para formar versos tristes.

Amor, não me deixes à sina de exalar
tristeza, solidão e frieza, Amor, onde estás?

“A poesia nasceu no momento
Em que um homem escrevia
A fim de aliviar sua agonia.

Não funcionou,
Ela aumentou!

Cada vez que relia,
A dor do registro,
Mais aumentava sua agonia,
Agora, somada de dor.

E quanto mais agonia e dor sentia,
Ele mais se embrenhava em fantasia,
Nascendo assim a tão amada poesia.”

“Preciso escrever,
Confesso que,
Não sei ao certo por quê,
Mas, preciso escrever

A carência é tamanha,
Que a igualo a necessidade
Que o pulmão tem do ar.

Do contrário, sucumbem,
Ele e eu.”

“O alimento dos meus fantasmas (memórias),
São meus medos.
- Eles estão empanturrados.”

“Vida, já que me tomastes tanto,
e eu já estar despojado,
Zomba da tua inimiga,
Deixa-me a ela.”

“Paredes invisíveis do horizonte,
Porque não te tornastes um domo
Intransponível?

Se assim houvera sido,
Os fantasmas d’além do horizonte
Não me atormentariam.”

ENGANO

Fui enganado, desde cedo,
Acredite que fantasmas existiam,
Me convenceram do contrário, aceitei.

Hoje, tenho certeza que eles existem,
No entanto, fui enganado novamente,
Pois, eles não são como eu imaginava.

Eles são memórias,
Isso os tornam mais assustadores,
Não há como fugir.

Onde quer que formos,
Eles nos acompanham.

São eximíeis em suspense,
Parece que se foram...
E logo nos surpreendem,
ou melhor, nos assombram.

MARCAS

Marcas,
Elas nos acompanham em
Toda nossa trajetória.

Muitas delas, suplicamos por
Esquecê-las, outras, lembramos
Saudosa e amavelmente.

Não sei se o tamanho
De uma marca se dá
Por suplantar outra.

Ou se a suplantada é que
Era realmente grande ao
ponto de esvair-se para
uma marca que ela julga
ser ainda maior tomar
o seu lugar.

JULGAMENTO

Após avaliação superficial,
No entanto, constante,
Tornei ré, julgada e culpada a vida,
Por me ter feito o que fizera.

Hoje, reanalisando o caso, encontrei
Falhas no processo, nas acusações
Mais precisamente.

O que me levou a reabrir esse inquérito,
Foi a experiência.

Juiz a cinco lustros, aprendi
Durante a carreira a dar mais
Relevância a cada caso e rever alguns
Que já foram encerrados.

Após reavaliar a sentença da vida,
Declaro-a inocente com as mais altas
E sinceras desculpas por este injusto
Julgamento, vida, você está livre.

“As paredes invisíveis do horizonte,
São a proteção das almas ingênuas.

Elas confiam ao mundo a felicidade,
Tem certeza de que o mundo é um carrossel.

Sua certeza é reafirmada pelo azul
Do céu, a mesma cor do teto do carrossel”

“Realidade, deixa-me viver
Com o sonho, pois já não mais a suporto.”

R E A L I D A D E

Não há ser mais mesquinho que a realidade.

Tudo que é palpável é dela,
E ainda assim, ela tira o que temos!

Tira nossas posses, ainda que poucas,
São nossos!
Ela se faz indiferente, simplesmente;
Arranca!

Cruel, terrível e tirana.

Ela vai além,
Ela capta o que nos alenta,
E nos tira também.

Cruel, terrível e tirana.