Coleção pessoal de grasypiton

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"A Canção da Guerrilheira"

Prendi meus cabelos com um lenço vermelho;
Alcei ao ombro o meu fuzil
E me pus a caminho, naquela tarde de sol
Em que disseram que êles viriam nos fazer escravos.

Minhas mãos que, antes, teciam, na fábrica, o linho mais puro,
E que tinham carícias de arminho se afagavam a face do homem amado
Quando voltava do campo,
Não tremeram de mêdo ao amarrarem na minha cabeça loira o meu
[lenço vermelho.
Estavam nervosas apenas de ansiedade.

Eu não fiquei em casa como um traste inútil,
Enquanto, ao sol, êle semeava o trigo
Para que o pão não faltasse aos inválidos, às viúvas e aos órfãos dos
[proletários.

Não! Eu não quis ficar á espera do guerrilheiro,
Como uma escrava inferior, enquanto êle se bate
Para que, no mundo, não haja escravo nem senhor.

Por isso é que eu aprendi meus cabelos loiros com um lenço vermelho,
Alcei ao ombro o meu fazil
E me pus a caminho, naquela tarde.

Que diria de mim a geração que virá
Que não conhecerá escravos nem senhores,
Se eu ficasse à espera dêle, de mãos cruzadas, como uma escrava,
Enquanto o sangue redimia a terra?

Memória e Futuro

I
A dor da queda
O peso, a derrota
nos calaram por muito tempo

Em nosso tempo (curto ainda)
nos vendaram, amordaçaram...
e a venda
e a mordaça
tem sabor de gente morta
- não qualquer gente
a nossa gente -

Tombaram nossa lutadora
Helenira Resende
à frente
não temeu nem a mira
nem a morte.

Nosso comandante
nos dissera:
“é preciso não ter medo
é preciso ter a coragem de dizer”
o mesmo Carlos
em vários Marighellas

II
Veio então a carapuça
para que a história
fosse esquecida
para que o mundo
fosse esquecido
e assim cai o muro
sem por nós ser percebido

E sobe a poeira
que forma uma grande
e espessa camada
imobilizadora

Torna-se a vida, cinzenta,
como cinzenta é esta cidade
cheia de maldade e gritos
que os ouvidos ignoram

III
É que estamos
no fundo do abismo
a queda livre cessou
e por aqui estar é que podemos
com firmeza
mirar para o alto, e
ver qual caminho,
qual horizonte,
que perseguir.

Certo é que
nem todas as feridas cicatrizaram,
e seguirão machucando.
Outras, no caminho mesmo
vão abrir-se.

Mas,
sendo a dor conhecida,
o abismo e a escuridão,
a ferida e a cicatriz
não mais temeremos,
nem mesmo a morte.

E seguiremos o caminho do clarão
que se apresenta somente
quando erguemos a cabeça

IV
“Este é nosso tempo
esta é nossa gente”

Nosso tempo
de desenterrar os fuzis,
as fardas,
os lutadores e lutadoras

Nossa gente
explorada
brasileira
revolucionária

Conclamemos nosso exercito
pois atento está o inimigo,
ampliemos nosso arco
pois forte é o inimigo,
afinemos o projeto e a marcha
pois quererá nos dividir, o inimigo
acertemos os ponteiros do relógio
que é chegada a hora da revolução.

Bonito mesmo é ver os galhos secos da caatinga ganharem contraste em meio ao céu negro iluminado pela veracidade de um raio.Bonito mesmo é sentir o cheiro de terra molhada, ver a casa cheia de sujeira que cai das telhas de cerâmica, ouvir meu avô tocar violão depois de tanto tempo, isso indica a alegria dele, bem sabe que diminui a preocupação dele.Isso me anima, isso anima qualquer nordestino. É o sinal que a chuva deve estar no local que a muito não visitava... E que a seca vá para o mesmo local que é mandada a escuridão na presença de luz

O homem que me amar...

O homem que me amar
deverá saber abrir as cortinas da pele,
encontrar a profundidade de meus olhos
e conhecer o que se aninha em mim,
a andorinha transparente da ternura.

O homem que me amar
não desejará possuir-me como uma mercadoria,
nem me exibir como troféu de caça,
saberá estar a meu lado
com o mesmo amor
com o qual estarei ao lado seu.

O amor do homem que me amar
será forte como as árvores de ceibo,
protetor e seguro como elas,
puro como uma manhã de dezembro.

O homem que me amar
não duvidará de meu sorriso
nem temerá o volume de meu cabelo,
respeitará a tristeza, o silêncio
e com carícias tocará meu ventre como violão
para que brotem música e alegria
do fundo de meu corpo.

O homem que me amar
poderá encontrar em mim
a rede onde descansar
do pesado fardo de suas preocupações,
a amiga com quem compartilhar seus íntimos segredos,
o lago onde flutuar
sem medo de que a âncora do compromisso
o impeça de voar quando queira ser pássaro.
de vir a ser pássaro.

O homem que me amar
fará poesia com sua vida,
construindo cada dia
com o olhar posto no futuro.

Acima de todas as coisas,
o homem que me amar
deverá amar o povo
não como uma palavra abstrata
tirada da manga,
mas como algo real, concreto,
a quem render homenagem com ações
e dar a vida, se necessário.

O homem que me amar
reconhecerá meu rosto na trincheira
joelhos no chão me amará
enquanto os dois disparam juntos
contra o inimigo.

O amor de meu homem
não conhecerá o temor da entrega,
nem terá medo de se descobrir ante a magia da paixão
em uma praça cheia de multidões.
Poderá gritar - te amo -
ou colocar placas no alto dos edifícios
proclamando seu direito de sentir
o mais lindo e humano dos sentimentos.

O amor de meu homem
não fugirá das cozinhas,
nem das fraldas do filho,
será como um vento fresco
levando consigo, entre nuvens de sonho e de passado,
as fraquezas que, durante séculos, nos mantiveram separados
como seres de distintas estaturas.

O amor de meu homem
não desejará rotular ou etiquetar,
me dará ar, espaço,
alimento para crescer e ser melhor,
como uma Revolução
que faz de cada dia
o começo de uma nova vitória.

Sua vida pode ser uma comédia, uma aventura ou uma história de superação, sucesso e amor. Mas pode ser também um drama, uma tragédia ou a monotonia da não mudança.
Porque todos nós temos tudo isso em nossas vidas. O que muda é como editamos, em quais experiências mantemos o foco e sobre o que falamos.
Fale do drama, e sua vida será um drama. Fale da aventura e a mesma vida será deliciosa.

Esta manhã, antes do alvorecer, subi numa colina para admirar o céu povoado e disse à minha alma:
- Quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos?
E minha alma disse:
- Não, uma vez alcançados esses mundos, prosseguiremos no caminho.

"Explorar é o mesmo que empobrecer, fazer isto no ambiente que se vive é plantar sementes de pobreza e indiferença, fazendo-se necessário lutar para sobreviver, movido pelo medo competir, denegrindo-se assim o maior presente que o ser humano recebe, a vida."

O que leva a luta popular caminhar na direção de um grande sonho é a certeza absoluta nesse sonho, certeza em uma realidade que ainda não se enxerga.

Que diremos aos nossos filhos?
Quando acabar a comida,
Quando acabar o trabalho,
E a esperança de vida?
Que os governantes são bons?
Que os policiais são amigos do povo?
Que caixões de companheiros assassinados
São a vontade do Criador?

Se assim fizermos
Um dia faltará
Comida.
Já não terá esperança.
Nem nossos filhos com vida.
que diremos então?
Que tudo é dos senhores?
Que somos todos irmãos?
E só morrem sonhadores?
Não!

Já não podemos calar.
Chega o tempo de vencer,
Chega o dia de lutar,
Sem morrer.
A única forma de vencer a morte
É enfrentá-la.
único jeito de vencer é lutar,
único modo de fazer justiça,
É continuar lutando.
Assim viveremos eternamente

Uma dose maior (jardim-social)

A água não escolhe as flores que vai regar.
Compartilham a terra, a luz solar, enfim, todos os componentes necessários para a fotossíntese, em um jardim, diferentes tipos de flores. Ocupando espaços significativos elas compõem o jardim, cada qual cumprindo, mesmo sem se dar conta, uma função social, biológica.

Às vezes os tempos são de seca e estiagem; de morte prematura e interrupções de relações. Poucas flores resistem facilmente, outras o fazem com debilidade, bastando leve brisa e uma primeira gota de chuva para se adaptar e voltar ao ciclo.

Há também os tempos frios, gerando um fato curioso a tal da "gebilidade": ação social baseada no não tratamento de flor para flor. Deixando um cenário confuso e frio no jardim, que é onde tudo acontece. Existem aquelas flores que em meio a frieza, como que agasalhadas pelo simples modo de ser ajudam na conservação do calor. Fato que possibilita o reflorescimento.Elas, genuínas, não possuem pretensões heroicas e gloriosas;querem apenas ser elas mesmas, sentindo o que a vida oferece nesse jardim.

A água não escolhe as flores que vai molhar, mas cai em cada uma com intensidade diferente. Há flores que precisam de um pouco mais de água nesse jardim-sociedade

Quando Matam Um Sem Terra

Quem contar tráz à memória,
sabendo que dor existe,
quando a morte ainda insiste
em calar quem faz a História.
Pois quem morre não tem glória,
nem tampouco desespera.
È um valente na guerra,
tomba em nome da vida.
Da intenção ninguém duvida,
quando matam um Sem Terra.

Foi assim nesta jornada,
quando mataram mais um,
o companheiro Elton Brum,
não teve tempo prá nada.
Numa arma disparada,
o Estado é quem enterra
e uma vida se encerra
em nome da covardia.
Toda a nossa rebeldia,
quando matam um Sem Terra.

È o desatino fardado,
armado até os dentes,
até esquecem que são gente,
quando estão do outro lado.
E vestidos de soldado,
todo o sonho dilacera,
violência prolifera,
tiro certeiro, fatal.
Beiram o irracional,
quando matam um Sem Terra.

Quem és tu torturador,
que tanta dor desatas,
desanimas e maltratas
o humilde plantador?
Negas a classe, traidor,
do povo tudo se gera,
te esqueces deveras,
debaixo de um capacete.
Dá a ordem o Gabinete,
quando matam um Sem Terra.

Em algum lugar da pampa,
Elton deve de estar,
tranquilo no caminhar,
jeito humilde na estampa.
E algum céu se descampa,
coragem se retempera,
outras batalhas se espera,
dois projetos em disputa.
Não se desiste da luta,
quando matam um Sem Terra.

(Para Elton Brum MST/RS, assassinado covardemente pelas costas, em 24.08.09)

de orelhão em orelhão
compartilhe suas vontades
vivências sustos e convicções
desculpe meu choro
é que sou moça que sente
absorve trans ( pira )
se atire na luta
por mim por ti pelo povo
contemplo teu voo
orgulho-me da tua batalha
focada organizada
nada egoísta, das sociais
transparecem tudo o que é:
lutador trovador meu amor
m e u a m ô

Sorriso de Cheshire

Pois que o grito se torna um rito, ou mito traduzido em sorrisos e olhos distantes
Brilhantes que se calam momentaneamente para admirar
Tal sensação veemente que contagia, mesmo sem que sirva de guia pra uma aproximação
Mas instiga a imaginação
Que deseja o sorriso se estendendo na imensidão
Não é preciso de foto ou vê-lo pessoalmente
Pois que minha mente vê-se dormente quando se trata da
Lembrança e sensação que esse deslumbramento tras num contágio
Que em mim é um Rio
que transborda várias risadas e calafrios
Que remetem e representam apenas o vazio
Da falta do ao vivo do vivo sorriso teu
Que faz vir a saudade que em verdade
Transborda em mim numa intensidade
Apenas o desejo de que essa larga espontaneidade de alegria
Siga continua para que aqueles que veem contagia
E prossiga no rimo das fantasias.

Hipnotizada e congelada pela presença
E o perto de poder falar-lhe o que se pensa
E ao mesmo tempo pelo longe, que transita
O suspirar de um sorriso.

Almas perfumadas

Tem gente que tem cheiro de passarinho quando canta. De sol quando acorda. De flor quando ri. Ao lado delas, a gente se sente no balanço de uma rede que dança gostoso numa tarde grande, sem relógio e sem agenda. Ao lado delas, a gente se sente comendo pipoca na praça. Lambuzando o queixo de sorvete. Melando os dedos com algodão doce da cor mais doce que tem pra escolher. O tempo é outro. E a vida fica com a cara que ela tem de verdade, mas que a gente desaprende de ver.

Tem gente que tem cheiro de colo de Deus. De banho de mar quando a água é quente e o céu é azul. Ao lado delas, a gente sabe que os anjos existem e que alguns são invisíveis. Ao lado delas, a gente se sente chegando em casa e trocando o salto pelo chinelo. Sonhando a maior tolice do mundo com o gozo de quem não liga pra isso. Ao lado delas, pode ser abril, mas parece manhã de Natal do tempo em que a gente acordava e encontrava o presente do Papai Noel.

Tem gente que tem cheiro das estrelas que Deus acendeu no céu e daquelas que conseguimos acender na Terra. Ao lado delas, a gente não acha que o amor é possível, a gente tem certeza. Ao lado delas, a gente se sente visitando um lugar feito de alegria. Recebendo um buquê de carinhos. Abraçando um filhote de urso panda. Tocando com os olhos os olhos da paz. Ao lado delas, saboreamos a delícia do toque suave que sua presença sopra no nosso coração.

Tem gente que tem cheiro de cafuné sem pressa. Do brinquedo que a gente não largava. Do acalanto que o silêncio canta. De passeio no jardim. Ao lado delas, a gente percebe que a sensualidade é um perfume que vem de dentro e que a atração que realmente nos move não passa só pelo corpo. Corre em outras veias. Pulsa em outro lugar. Ao lado delas, a gente lembra que no instante em que rimos Deus está dançando conosco de rostinho colado. E a gente ri grande que nem menino arteiro.

Costumo dizer que algumas almas são perfumadas, porque acredito que os sentimentos também têm cheiro e tocam todas as coisas com os seus dedos de energia. Minha avó era alguém assim. Ela perfumou muitas vidas com sua luz e suas cores. A minha, foi uma delas. E o perfume era tão gostoso, tão branco, tão delicado, que ela mudou de frasco, mas ele continua vivo no coração de tudo o que ela amou. E tudo o que eu amar vai encontrar, de alguma forma, os vestígios desse perfume de Deus, que, numa temporada, se vestiu de Edith, para me falar de amor.

Minha história é um texto sem resumo
Ora ao lado de alguém, ora sozinho...
Que perder-se também é um caminho
Onde só os mais fortes buscam rumo.
Se você quer ir mesmo? Eu me acostumo!
E prometo sorrir na despedida
Se voltares depois, direi: -''Querida,
Não voltei pra você nem pra ninguém,
Que na vida tirando o 'V' que tem
As três letras restantes são de 'IDA'.

"Eu, que não digo
Mas ardo de desejo
Te olho
Te guardo
Te sigo
Te vejo dormir."

Saudade tem cor de giz
Riscado num quadro escuro
São riscos brancos de luz
Iluminando o futuro
Que o apagador nunca apaga
A dor de um fim prematuro.

Percebeu também que, no fundo, todos somos abraçados por alguns tentáculos da solidão. Alguns falam muito, mas se calam sobre aspectos íntimos de suas vidas. Concluiu que uma dose de solidão estimula a reflexão, mas a solidão radical estimula a depressão.
Compreendeu ainda que, quando o mundo nos abandona, a solidão é tolerável; mas, quando nós mesmos nos abandonamos, ela é insuportável. Falcão rompeu sua solidão, tornou-se companheiro de si mesmo e encontrou um grande amigo, o Poeta.

(O Futuro da Humanidade)

Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já.

Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida.

Saudade é sentir que existe o que não existe mais.

Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam.

Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.

E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.

O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.

A maior solidão é a do ser que não ama. A maior solidão é a dor do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana.

A maior solidão é a do homem encerrado em si mesmo, no absoluto de si mesmo,
o que não dá a quem pede o que ele pode dar de amor, de amizade, de socorro.

O maior solitário é o que tem medo de amar, o que tem medo de ferir e ferir-se,
o ser casto da mulher, do amigo, do povo, do mundo. Esse queima como uma lâmpada triste, cujo reflexo entristece também tudo em torno. Ele é a angústia do mundo que o reflete. Ele é o que se recusa às verdadeiras fontes de emoção, as que são o patrimônio de todos, e, encerrado em seu duro privilégio, semeia pedras do alto de sua fria e desolada torre.