Coleção pessoal de Gillliteratura

Encontrados 17 pensamentos na coleção de Gillliteratura

Penso que o (a) poeta (isa) expressa-se dentro de sua infiel realidade. Eis sua grande fortuna.

Não ouço os sinos das igrejas
Não vejo os pássaros nas praças
Amaldiçoei-me
Sou pura desgraça.

Habitualmente a poesia me serve de passadio. Dela tiro o alento para manter-me em equilíbrio no dia-a-dia. Por vezes, numa sucessão de movimentos, escoro-me na parede fria do lado de fora da pequena cabana e atino sustentar-me em pé. Desequilibro-me. Por pouco não caio. É embaraçoso. Ouvi falar que o passado foi esquecido. Disseram-me que o futuro não é vivido. Também escutei que o presente, se existente, há de se pedir licença para habitá-lo.

Peço agora
Desejo sair daqui
Dimanar-me
Ir para casa
Ir embora
Adeus.

Mente inquieta
Mente alucinada
Mente alerta
Mente alertada.

Mãe não penses em mim como alguém capaz
Saibas que me encubro nos lençóis que tu lavas
Enquanto apresento-me, vergonhosamente, de forma eficaz.

A caminhada é longa
A chegada é incerta
E o destino nos é ofertado
Para fazermos de nossas vidas
Uma grande e relevante cagada.

O presente só serve para lidarmos com as maldições do passado.
O chamado futuro será o presente repetindo o clico infame do que já se foi.

Chegou a hora
De subir no palco
E esperar pelas palmas
Dessa doce ilusão.

No radar da tua companhia esqueci da minha.

Não me restam mais dúvidas:
Sou uma louca tentando ordinariamente enquadrar-me na mediocridade humana.

Bela e inconstante
Busco na minha beleza
Um abraço para
Minha apanhada tristeza.

Saudade é quando o momento tenta fugir da lembrança para acontecer de novo e não consegue.

Seu coração disse pra sua cabeça, vá, e sua cabeça disse pra sua coragem, vou, e sua coragem respondeu, vou nada, mas sua boca não ouviu e beijou.

Ilusão de Vida

Vivemos da ilusão de sermos capazes de lidar com as 'coisas da vida', por mais simples ou rotineiras que sejam, doando-lhes 100% do nosso tempo.
Então, separamos 'algumas coisas' e para 'essas coisas' vivemos enquanto negligenciamos outras, imperceptivelmente ou com receio de vivê-las?!
Não seria o caso de vivermos um pouco de cada 'coisa' para não passarmos de forma despercebida por aspectos maravilhosos que a vida nos oferece?
A medida para esse 'pouco'?
Caberia a cada um de nós saber, desejar, reconhecer, dentro de nossas proporções, para não chegar um dia e constatarmos: Foi-se.

Tenho uma espécie de dever de sonhar sempre, pois, não sendo mais, nem querendo ser mais, que um espectador de mim mesmo, tenho que ter o melhor espetáculo que posso. Assim me construo a ouro e sedas, em salas supostas, palco falso, cenário antigo, sonho criado entre jogos de luzes brandas e músicas invisíveis.

Com a ponta da língua pude sentir a semente apontando sob a polpa.
Varei-a. O sumo ácido inundou-me a boca.
Cuspi a semente: assim queria escrever, indo ao âmago do âmago até atingir a semente resguardada lá no fundo como um feto.

"Entendo que a poesia é negócio de grande responsabilidade, e não considero rotular-se de poeta quem apenas verseje por dor-de-cotovelo, falta dinheiro ou momentânea tomada de contato com as forças líricas do mundo, sem SE entregar aos trabalhos cotidianos e secretos da técnica, da leitura, da contemplação e mesmo da ação. Até os poetas se armam, e um poeta desarmado é, mesmo um ser a mercê de inspirações fáceis, dóceis às modas e compromissos'".

Carlos Drumond de Andrade