Coleção pessoal de francisco_netto
Primeiro, não queremos perder
É lógico não querer perder.
Não deveríamos ter de perder nada:
Nem saúde, nem afetos, nem pessoas amadas.
Mas a realidade é outra:
Experimentamos uma constante alternância de ganhos e perdas.
Segundo:
Perder dói mesmo.
Não há como não sofrer.
É tolice dizer não sofra, não chore.
A dor é importante.
O luto também.
Terceiro:
Precisamos de recursos internos para enfrentar a tragédia e a dor.
A força decisiva terá que vir de nós, de onde foi depositada a nossa bagagem.
Lidar com a perda vai depender do que encontrarmos ali.
A tragédia faz emergir forças inimagináveis em algumas pessoas.
Por mais devorador que seja, o mesmo sofrimento que derruba faz voltar a crescer.
Quando é hora de sofrer não temos de pedir licença para sentir, e esgotar, a dor.
O luto é necessário, ou a dor ficará soterrada, seu fogo queimando nossas últimas reservas de vitalidade e fechando todas as saídas.
Aprendi que a melhor homenagem que posso fazer a quem se foi é viver como ele gostaria que eu vivesse:
bem, integralmente, saudavelmente, com alegrias possíveis e projetos até impossíveis.
Primeiro, não queremos perder.
É que, além de aflitos e desorientados pelo excesso de informação inútil, somos muito superficiais. Falta-nos o hábito de observar e refletir. Assustados com responsabilidade, escolha e decisão, despreparados como adolescentes, nos desviamos do espelho que faz olhar para dentro de nós. Cada vez mais amadurecemos tarde ou mal. Somos crianças tendo crianças.
Lembro-me do passado, não com melancolia ou saudade, mas com a sabedoria da maturidade que me faz projetar no presente aquilo que, sendo belo, não se perdeu.
Perder dói! Não adianta dizer não sofra, não chore; só não podemos ficar parados no tempo chorando nossa dor diante das nossas perdas.
Não queremos perder, nem deveríamos perder: saúde, pessoas, posição, dignidade ou confiança. Mas perder e ganhar faz parte do nosso processo de humanização.
Eu não devia observar tanto, pensar tanto. Se vivesse mais no ar, era mais feliz. Quando a gente quer olhar tudo, acaba descobrindo o que há de feio no mundo.
Você já parou pra pensar no que machuca mais: fazer algo e desejar que não tivesse feito, ou não fazer e desejar que tivesse? Você já teve medo de começar um relacionamento? Medo de não ser a hora ou a pessoa certa? Seu coração não escolhe quem amar, e faz por conta própria, quando você menos espera, ou mesmo quando você não quer. Quantas vezes você deixou passar momentos importantes que não voltam mais? Quantas vezes você quis esquecer uma história ou alguém, que permaneceu na sua cabeça por um tempo longo? Você já se sentiu sozinho mesmo cercado de um monte de pessoas? Ou já beijou alguém que fez a multidão sumir? Você já passou um dia sentindo muitas saudades do que viveu?Você já viveu uma situação tão boa e feliz que até deu medo de tudo ser muito passageiro?
Quando encontramos pessoas de valor, devemos pensar em como podemos ser iguais a elas. Quando, ao contrário, encontramos pessoas sem caráter, devemos nos voltar para o nosso interior e examinar o que se passa lá dentro.
Às vezes paro pra pensar tanta coisa, e quando vejo o meu pensamento está sempre no mesmo lugar ou melhor com a mesma pessoa.
A maior parte das coisas que dizemos e fazemos não é necessária; quem as eliminar da própria vida será mais tranquilo e sereno.
Não sei se fico triste ou se agradeço, mas com a vulgaridade hoje em dia, nunca foi tão facil ser considerada moça de familia.