Coleção pessoal de ElenilsonNascimento

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Tenho andado bem assim-assim, ultimamente:
qualquer que seja a cena, dou de ombros,
viro a cara, fecho os olhos e nem choro na festa.
Não consigo nem mais transformar um limão em limonada,
nem pegar o metrô para a próxima parada,
nem atravessar na estrada de contramão.
A vida banaliza-se diante dos olhos.
A morte parece-me uma chuva de verão.
O ódio um filtro solar de desilusão.
Tenho andado tão frio, ultimamente:
antes urrava contra a falta de educação,
hoje sonho com uma gota de alegria.”

Escritores são mais chorões que certas torcidas bicolores, verdade, mas a descompostura tem razão de ser. Bastaria o fato de não termos na imprensa brasileira um suplemento literário digno de engraxar as botas madrilenhas de certos editores para indicar que não nos faltam motivos para fecharmos nossos focos na cena nacional.”

Com essa tal falta de literatura, como há hoje, que pode um homem de gênio fazer senão converter-se, ele só, em uma literatura particular? Com essa falta de gente coexistível, como há hoje, que pode um homem de sensibilidade fazer senão inventar amigos, ou, quando menos, os seus companheiros de espírito? Encontro, sim, quem esteja de acordo com atividades literárias, que são apenas dos arredores da minha sensibilidade. E, assim, fazer arte parece-me cada vez mais importante atividade, porém, a mais terrível missão. Mesmo assim, fazer arte, ainda que bem, parece-me tão pouco.”

Perturba o meu sono
todo esse silêncio das ruas
todo esse momento vazio
toda essa burrice acadêmica
que chega e me assalta
alta madrugada...”

Um escritor é um escritor de verdade até o momento de sua morte. Não faço literatura para ser aplaudido em bienais e feirinhas de livros, nem para ser célebre tomando chá das cinco na ABL, nem para ganhar montes de dinheiro. Mesmo porque só quem ganha um monte de dinheiro é Paulo Coelho. Faço literatura porque é uma arte essencial para mim, faz parte do meu ser inconveniente, e a amo com intensa paixão. Quase desesperado. Minha única ambição na vida é conseguir escrever mais coisas até quando conseguir, mesmo numa cadeira de rodas ou crucificado numa cruz."

Vivemos feito bandos de ratos de esgoto aflitos, recorrendo à drogas, à bebidas, à caça de Pokémons, aos selfis para ostentar vidas falsas, ao delírio, à alienação e a total indiferença para aguentar uma realidade cada dia mais confusa: de um lado, os sensatos puritanos recomendando prudência e cautela; de outro, os irresponsáveis anárquicos garantindo que não há nada de mais com a gigantesca crise moral atual. A ganância, a mentira, a roubalheira, a omissão e a falta de vergonha abafadas pela nossa indignação ausente prestam homenagens ao nosso desinteresse e ainda fazemos uma continência para nossa resignação. Meus pêsames, senhoras e senhores. Espero sinceramente que na hora de fechar a porta das suas casas haja algum homem honrado, para que se apague a luz de verdade, não como grandes palavras e reles mentiras.”

Por que será que tudo aquilo que faz a felicidade do homem moderno acaba sendo, igualmente, a fonte de suas próprias desgraças? Dói. E dói muito. E esta angústia é o resultado da falta de sentido nas relações. No amor, você sabe o que não quer, mas também não sabe o que quer. Mas amar é isso: se arriscar entre os riscos. E, entre os riscos, poder ainda sair ferido. Oh, Deus! Quem sou eu para continuar procurando um cavaleiro andante de armadura, a esta altura da minha vida?"

Toda essa cultura e essa vivência de correr desesperadamente atrás do moinho de vento, como um Dom Quixote lunático usando um cigarrinho proibido, fabricam solidão, tristeza e frustração. E olha que ainda nem estou dizendo que precisamos urgente, de vez em quando, de uma dose de otimismo à conta gotas, mas sem esse tipo disfarçado e disseminado de afetação e sem amor próprio que estão nas nossas músicas, livros e filmes – viram Batman vs Superman? –; que estão também nas redes sociais e na moda, basta prestar atenção; que estão no estilo de vida de consumo de celulares para jogar Pokémon Go e fazer selfies, e que, mais do que nunca, tem corroído por dentro a fé da humanidade na própria humanidade. Tenho medo do futuro que nos espera!”

Creio firmemente na reencarnação. Não graças a certos líderes espírituais popularescos com seus programas narcisistas de rádio. Acho que estamos aqui por um propósito. Mas quando Deus teima em sacanear comigo por minhas supostas falhas, rebeldias ou ignorâncias nesta ou em outras encarnações, eu simplesmente não consigo entender. Estarei de fato evoluindo com tudo isto? Dúvido muito! Sei que não sou mais o mesmo cara de dez anos atrás. Nunca mais poderei ser. As pessoas que eu gostava, não gosto mais. As coisas que eu acreditava, não acredito mais. Muitos valores mudaram em minha vida. Mas será mesmo que para eu crescer seria necessário sofrer tanto? Dizem também que Ele faz sofrer os seus prediletos. Mas isto também eu não compreendo. Depois que Ele deixou o próprio filho ser crucificado, não sei se gostaria de ser o seu predileto na fila celestial do SUS dos carentes profissionais. E será mesmo que Deus tem prediletos? Abri a Bíblia, livrinho rancoroso, preconceituoso e defasado, e encontrei isso: “Onde dois ou mais se reunirem em meu nome Eu estarei presente...” Pois bem... acho que Ele anda filando muitas destas reuniões. Ontem foi um dia especialmente difícil pra mim. Hoje não consegui escrever uma única linha no meu livro. Já são quase três horas da tarde e estou chateado. Sombras começam a se amontoar pelos cantos... Preciso de uma linha direta com Ele... com urgência, não estou afim de usar mais os ansiolíticos e antidepressivos do meu armário! Mas como não resisto a citar o que li em Ernesto Sábato: “O homem é um Deus quando sonha e não passa de um mendigo quando pensa”. É bem por aí...”

É mais um caso a se pensar... Nos dias que se seguem, tempos modernos de redes sociais, de templos religiosos adestrando porcos, de uma política medíocre que só beneficia quem se enraizou no poder, nunca houve tantos infelizes e miseráveis desfilando em seus carros importados, postado fotos montadas de suas vidas maquiadas para mostrarem uma felicidade que não existe, trabalhando 14 horas por dia em grandes escritórios para pagarem contas domésticas, viajando de avião com a passagem dividida em 24 vezes no cartão, saindo em capas revistas ou aparecendo em programas de tevês. Mas, talvez, um espírito punk de um autor clandestino, de um músico de rock, de um poeta romântico, de um ator de teatro, de um vigarista apaixonado e equilibrado poderá guiar com mais êxito as multidões de batedores de ponto por meio de exortações mais sensatas e pela persuasão, pois como disse Augusto Cury, o mundo precisa de pessoas que leiam, desenvolvam a arte de pensar e sonhem com uma humanidade melhor, principalmente quando o campo não está aberto à contradição, mesmo sem senso, mas que parece sedutora ao povo que tudo compreende superficialmente."

Existem coisas que você aceita quanto tem 20 ou 30 anos mas que não tolera quando chega aos 40. E isso se estende às pessoas. Ando intolerante com gente burra!"

SINAL DE FUMAÇA PARA UM ESTUDANTE DE LETRAS PERDIDO:

Antes de mais nada queria lhe informar que sou a pessoa mais improvável para motivar, divulgar frases de pára choque de caminhão de otimismo e que também não acredito em um só fiapo de eficiência da Educação do Brasil. Infelizmente, como você, universitário perdido e desmotivado, também fui aluno da Universidade Católica do Salvador e, mais do que ninguém, posso afirmar aqui que o curso de Letras não me serviu para absolutamente nada. Um curso medíocre, com seus professores medíocres e um corpo discente igualmente medíocre. Com suas aulas já ultrapassadas há 15, 20 anos atrás, imagina o que você anda ouvindo agora, caro colega! Mas a culpa por esta situação é coletiva: de um reitor omisso, do corpo de professores que vive fora da realidade e de um alunado deslumbrado por viver num Mundinho Encantado da Universidade com suas festas de camisas coloridas, seminários de lugar algum, desfiles nos corredores, biblioteca pobre e para no fim receber um diploma que não serve nem para tentar uma vaga de atendente de telemarketing. Grandes professores já se retiraram da vida acadêmica, ou por morte natural ou por preferirem ganhar dinheiro em outras áreas mais respeitadas, e, no vácuo deixado por eles, emergiram centenas de professores horistas e/ou os divulgadores de regras linguísticas, decoradores de frases feitas de filósofos estrangeiros e tiradores de xerox. As poucas cabeças pensantes das universidades escolheram encastelar-se em suas poltronas de onde resmungam contra o PT, sobre a falência do intelecto, a farsa das cotas raciais e da recusa maciça de estudantes em virar professores. Professores de verdade se encaminham para a extinção pois são tratados pelos donos de faculdades e colégios particulares como próteses incômodas - os burros de carga que estão em salas de aula somente para adestrar os porcos que pagam as mensalidades - por isso recebem salários baixo e muito pouco incentivo para progredir em métodos pedagógicos. Professor bom é aquele que puxa muito o saco da coordenação, bajula alunos, coreografa aulas-show, mesmo cometendo impropriedades, idiotismos, solecismos, barbarismos e, principalmente, barbaridades. As universidades se tornaram currais ideológicos para adestrar alienados, vendilhões de pratos feitos. Nos cursos de pós e mestrados a situação é igual. Eu não acredito neste negócio de escrever tese sobre o parasita que dá no saco do búfalo texano e depois vir para o Brasil sem saber nada, porque num país miserável como o nosso ninguém valoriza o saber, o livro, a ideia, muito menos dentro de universidades. Você me pediu um conselho, por tanto, termine o seu curso de Letras que não vai te levar para lugar nenhum e depois vá fazer Direito, não para advogar (*pois igual ao seu curso e todos os outros, este curso elitista não forma ninguém, aliás, forma advogados deslumbrados, petulantes, ignorantes, preconceituosos e burros) mas para prestar concursos que pelo menos paguem mais do que um salário mínimo. Por tanto, meu amigo, a Educação faliu, mas não somos obrigados a compartilhar isso!"

Não conheço ninguém que tenha lido "Guerra e Paz", de Tolstoi; "Os Miseráveis", de Victor Hugo, ou "Dom Quixote", de Cervantes, no computador. Ou que tenha trocado todos estes autores por Dan Brown ou Paulo Coelho."

O amor pode até não morar na vã filosofia, ou entre rimas pobres de letras de músicas do sertanejo universitário e/ou Pablo que oscilam entre prazer, dor, chifre, vergonha e rancor, mas que, ainda assim, alimentam reflexões que resistem à passagem do tempo e que fazem bem a qualquer namorico. Mas o amor nada me deu em troca. Queria muito ser salvo, mas nem uma só vez no decorrer destes meus monstruosos anos de peste emocional e punhetas solitárias foste capaz de gerar uma única fagulha fecunda. O teu falhanço, que o foi, e que só os espíritos verdadeiramente grandes, tristes e isolados podem entender sem cólera, sem desprezo, sem vícios decadentes, foi causa do desespero em todas as partes do mundo de todos aqueles dispostos a sacrificar-se por uma gota de verdade. E se Romeu e Julieta tivessem casado, provavelmente estariam obesos, sofrendo, endividados, cheios de filhos ou brigando pela separação nos tribunais. Prefiro continuar sozinho do que entrar numa relação doente de cobranças, prazos e horários!"

EU, FABRICANTE DE SOLIDÃO

Raspados de um futuro incerto e distante,
de inteligência artificial e royalties,
para onde foram os meus dias que já passaram?
E o último minuto dos ponteiros do rélogio?
Suponho que ainda continuam existindo
dentro da minha caixa de pensar,
dentro da ampulheta fechada na escrivaninha
onde os amores líquidos se liquidificam.
Mas este é o destino dos clandestinos,
dos párias, cachorros e cafajestes,
dos decadentes, descontentes,
paranóicos, tristes e doentes:
conhecer o que todos ignoram
e manter profundo silêncio
neste meio caminho de deserto de gente.
Já imaginou a beleza azul
de um pensamento andando?
Seria como um mundo no mobile,
como as canoas no Porto da Barra
se agitando, desesperadas,
com os seus canoeiros defeituosos
que resolveram não mais voltar.
Um dia, nesta triste neblina,
com este coração de escritor liberto
e safenado de realidade,
vou querer me aquietar
deste mundinho sem cor
de gente sedenta por
leituras de entretenimento
de escritos para virar filmes de ficção,
pois, mesmo enganado,
prefiro ser um ledor desesperado
de escritos gritados por poetas mortos.

A revolução será silenciosa, digital e determinada por pessoas anônimas, como ler um livro de um autor clandestino à luz de velas em plena madrugada quente da Baía de Todos os Santos e tomando vinho. Enquanto ela não chega quero ir para Praga, a Cidade das Cem Torres, capital da República Tcheca e a cidade de Kafka."

Papai do Céu, este ano está sendo muito complicado para mim. O Senhor já levou embora o meu cantor favorito, David Bowie; o meu percussionista favorito, Nana Vasconcelos; o meu escritor favorito, Umberto Eco; meu maestro e compositor favorito, Gilberto Mendes; minha atriz favorita, Marília Pêra; o Severo Snape, de Harry Potter; minha cantora favorita, Selma Reis. Então, só queria que o Senhor soubesse que a minha presidente favorita é a Dilma e que todos os meus políticos favoritos estão no Congresso Nacional, nas prefeituras e passeando com dinheiro público. Por tanto, não fazendo pressão, só faltam alguns meses para o fim do ano. Não estou querendo pressionar, viu! Amém."

AMAR (AINDA) SOU EU

Meu modus operandi é um caos
que mora lá dentro de mim,
mas ô casinha bagunçada.
Meu sol é meu silêncio
de cabelos desgrenhados,
pés afundados e descalços.
Meu grito é meu corpo de bigorna
que trasforma tudo de peito aberto.
Meu amor é polido em bate papos virtuais,
transparente, indecente, complacente,
que fere a carne com seu corte de estampido
em meio ao congestionamento do trânsito,
promessas e mentiras que se tornaram reais.
Meu desejo é de molhar a cueca por apenas um sussurro,
mesmo que a vida se abra doente e impossível
como Narciso ávido e no cio.
E na passagem pela Estação do Inferno,
Pirajá ou Lapa, entre frestas, pouco importa,
pés descalços que lambem o vazio,
meu amor nunca se deixa abalar por alguém
cujo sobrenome pode ser lido de trás para a frente...
Amar é um relâmpago que se desfaz, um zero que gira.
Amar é um demônio louco que grita em meio à escuridão.
Amar é esta estranha sensação de músculos dilatados.
Amar é compartilhar o tempo, contornar o olhar,
mentir descaradamente para agradar...
Amar é sentir as entranhas desta condição
de verme torto com sede e fome de asas.
Amar perdidamente (e loucamente)
onde amaldiçou as pedras dos monumentos
feitos sobre nossos cadáveres que ninguém vê.
Amar amaldiçoando esta sociedade de afetação
que puni quem pensa com a própria cabeça,
mas que continua tendo aquele que ama
atravessado em sua garganta.
E mesmo quando eu já for um frio cadáver,
vou continuar amando loucamente...
pois a tevê propaga sempre o catarro
no nariz quebrado do morto apaixonado
e todos os rótulos dizem sempre que
os remédios genéricos são seguros,
que na capa da revista sou eu
e que o livro do último queridinho
vende aquilo que não é meu...
Cuidado, seus olhos podem estar escondendo
o que o seu coração precisa ver.

Se a Claudia Leitte diz que é uma negra loura e a Daniela Mercury que é a negra mais branca da Bahia, gostaria de entender o que isto significa. Porque pode ser apenas discursos rasos de quem não tem o que dizer."

As antas brancas burras
de manifestações de ruas
pedindo a volta da ditadura
batem suas panelas cruas
para espantar as baratas tortas
que vivem sorridentes nas pontas
dos seus sapatos vermelhos.
As antas brancas burras
não sabem cantar Chico, Caetano e Gil
mas brincam nas universidades
para terem vocabulário obrigatório.
As antas brancas burras
não representam o lamento deste Brasil,
país infeliz rumo à ribanceira.
Eu, de modo algum, não subestimo
nem lamento, nem mesmo neste
triste momento..."