Coleção pessoal de eduardobpenteado

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SAMANTHA
Eduardo B. Penteado
(Rio, 18/04/1989)


Where could you be now, my poet friend?
When will we ever be together again?
I remember you, oh, I do
You were the beautiful sad child
Running alone in a crowd of a million no-ones
So your ink were your tears
In your desperate poems
Your beautiful poems...
Your desperate dreams I loved to read
Your beautiful cries that meant so much to me
Your beautiful, desperate lines
Where I found much of my own reality
So I wish you could tell me,
Samantha Gummer
Just where could you be...?

A BLIND MAN´S DREAMS (Rio, 11/02/1982)
Eduardo B. Penteado


There was once a boy
Who had nothing else to see
You see
The boy is me


Whoever loved me
Had much to cry for
Whenever I loved someone
I usually quoth, "nevermore"

I have had many dreams
Most of which never came true
But you see, clueless girl
My best dream is still you...

PERDÃO
Eduardo B. Penteado


Não posso ver-te, sob pena de uma velha dor
A dor que tua redoma em mim provoca
Inatingível!
Caminhei muito e para longe
Somente para encontrar-te na direção oposta
Ah, como eu jurei...
Jurei nunca mais dedicar a ti minha poesia
Jurei que nunca te amei
Jurei...
Oi.
Sei que andas linda
E quiseras não ter-me feito sofrer
Segurei tua mão ontem, e lembrei que és...
Algo escapou da mais profunda masmorra
E foge rumo à superfície
Os portões explodem, e o Algo avança
Por que insistes em ficar tão perto de mim?
Inatingível, é o que és...
Dona de uma crueldade indômita e bela
Melhor nem mencionar teus olhos, pois...
Pedi-te para não me encarares e desobedeceste
Por quê?
Pediste perdão.
Aqui tens Algo parecido.
Ou não...

PÓLENS
Eduardo B. Penteado



Nada a fazer, senão
Escutar o mais belo tango do mundo
Num fim de tarde perdido num verão
Na mais bela cidade do mundo... que importa?
Velando o cadáver de um telefone mudo.
Espero a chance de ouvir a voz
Da mais bela mulher do mundo
Cujo rosto não me recordo mais
Ainda não aprendi a matar de fome
Os meus devaneios... travesseiros... não.
Só queria ter o poder
De fazê-la pensar em mim por um só momento
Apenas por um momento.
Que asneira, é óbvio que não!
Um momento apenas não faria meu telefone tocar
E hoje o meu telefone morreu
Somente hoje
Calou-se, emudeceu
Saí, bebi, chapei
Ri com os outros ébrios, aprisionando lágrimas
E amaldiçoando as mudas rosas que mandei...

À IMOBILIDADE DO VENTO
Eduardo B. Penteado


Adeus, folha solta ao vento
Arranquei-te de meu corpo
Podei-te de minha alma
Como um cego executa uma cirurgia
Queria esvair-me em hemorragia
Pois tua seiva eu não mais queria
Tu eras a última folha de outono que não caía
Era a tua presença única e exclusiva
Que me protegia
Mas sempre busquei aventura na secura
De minhas artérias vazias
Mas por que não fazer-te testemunha
De minha própria morte?
Tua resposta repousa em tua própria sorte
A folha gira solta e livre no horizonte
E aos prantos, transforma-se em ave
Criou asas, não mais depende do vento
Paira no ar
E com um último olhar
Fulminante
Cantarola e voa em disparada rumo à vida
Ao sol
E ao esquecimento
Adeus, folha solta ao vento.

ALGURES É LONGE DAQUI
Eduardo B. Penteado


Inocência, olha eu aqui
Não vais te lembrar de mim
Não vai ser tão fácil assim
Hoje te vi nos olhos dela
Mas ela piscou e te escondeu
Inocência, olha eu...
Cético, cínico e trintão...
Totalmente entregue à paixão!
Inocência, por que não?
Eu sabia que seria assim
Uma ânsia sutil e sem fim
Um brado em meio aos escombros...
Inocência, não me dê de ombros
Não finja que eu não estou aqui!
Ela não está aqui.
Algures, à esquerda de nenhures
Dobra a esquina,
Sem ponto de referência
Ah, se não fosse a inocência!!!
Se não fosse a inocência, achar-me-ia ridículo
Por mesoclisar este poema feio
Mas eu não chamei
E ela não veio
E olha que tudo que eu quero
Não é um beijo, é um abraço
Depois, verei o que faço
Enquanto encosto de leve os lábios
Em sua nuca preciosa
E ouso ler a primeira página
Da linda fábula misteriosa...

PINCELADAS
Eduardo B. Penteado



Queria pintar seus olhos
Numa parede cinza, bem cinza
Cinza como o desejo
Num beco sem saída
Queria saber a hora certa
De lhe entregar o proibido
Poema cego
Poema surdo
Ah, libido...

Não me olhe demais
Não me tente jamais
Jamais preste atenção no que digo
Tolas frases jogadas
São perigosas pinceladas
De um desejo perigoso e proibido
Jamais
Jamais preste atenção no que digo.

BLUES
Eduardo B. Penteado



Que pena! Não canto blues...
Não posso dar-te a dor que tanto buscas
Pois não era a dor que eu guardava para ti
Não era a dor nem a tristeza que escrevi

Não adianta pintar paisagens em nanquim

De certa forma aquilo bastou para mim
Estou sozinho nas areias de outra praia
Uma praia bizarra e distante
Sem dunas, sem o barulho das ondas
Sem gaivotas mirabolantes

Pena que eu não cante blues, pois
Aqui, sozinho, em silêncio
Contemplando toda essa ausência
Dá até vontade de não chorar.

HIERONYMUS
Eduardo B. Penteado


Corria como uma criança barroca em êxtase
Fugindo do asilo pós-moderno onde guardavam as pessoas sãs
Onde as inscrições em sânscrito
Brilhavam qual luz negra nos neons de vielas sujas
E onde ultramodernas mulheres gordas sacolejavam
Sobre pedestais de cera
Vendendo seus corpos à pederastia de origem nobre
Um quadro roto de Hieronymus Bosch
Decorava a fachada do bordel
Alguns executivos recolhiam seringas usadas na praça do chafariz
Sob o açoite de Pan...
...pan, pan, pan, fazia a chibata nas idéias do rei morto
Do rei posto em liberdade pela morte às avessas
“Libertas”, bradava o pequeno coral de querubins
Lindo asilo, lindo asilo!
De alicerces corroídos por roedores de olhos azuis
Cuidado com as sentinelas!
As sentinelas estão mortas e apodrecem nas guaritas
“Libertas”, bradava o pequeno coral de querubins
Da torre da catedral em chamas
Os sinos tocavam um tango de Astor Piazolla
A rainha estéril abortou
E fez amor com o arlequim de vidro
No canto do pátio
A língua do bardo é devorada por saúvas
No canto de uma ave cega
Um nó na garganta me lembra a forca e o cadafalso
O sol se põe atrás dos muros, mas torna a subir
A imagem do bardo moribundo
Entreabre as portas que pensei ter trancado
E por entre seus lábios pretos e rachados pela morte
Sopra uma praga mais implacável que a peste
E, das catacumbas, os querubins ecoam...
“Libertas, libertas,
Libertas!”

PERFORMANCE
Eduardo B. Penteado



Bebia o velho poeta num canto de bar
Sozinho, esperando um metafórico apagar de luzes
Melancólico
Equilibrista
De lados opostos de seu bastão de cristal
Um cigarro seca o copo
Um gole apaga a chama
"Estou livre do verso, estou livre da trama!"
Jovens sóbrios caçoam do velho
O garçom ébrio reclama
Então, à meia-noite,
Voa longe a tampa do tempo
No canto escuro do barzinho sisudo
Nasce um personagem absurdo
"Sou o bêbado, sou o vagabundo,
sou o maior equilibrista do mundo!"
"Silêncio," bradou uma voz lá do fundo
E o poeta, moleque, fez-se de surdo,
"Sou seu beatnik, sou seu punk, sou o que há de mais imundo!"
Calou-se a platéia de incrédulos debutantes


Um garçom sóbrio, inexplicável
No qual ninguém havia reparado
Trouxe um candelabro de ossos
Uma a uma, as lâmpadas se apagaram
E se pôs a funcionar o gramofone quebrado


O futuro passou com escândalo
Silenciosamente, fez-se presente
E fugiu pelo espelho da contradição,
Deixando o poeta no meio do salão:


"Sim, vivi a vida, talvez
Como poucos coçaram a ferida
Como poucos comeram-na viva
Não sei, é claro
O que virá em seguida
Um sol hepático
Uma lua enfisemática
Uma aurora boreal sifilítica


Mais um dia
Homem, sorria!

Nunca olhei horizontes
Pois cada curva me dispersa
Eu olhava o que eu seria
E via o que eu não queria
O tempo passa, e a vida, devassa,
Escancara aos abutres a minha carcaça


A fonte da vida!
A chama da vida!
A fonte apaga a chama
Que a água vaporiza...


Venham, abutres!"
E todos nós fomos.

TRILHOS
Eduardo B. Penteado


Olhos, olhos e tudo o mais
Vi teus olhos hoje na praça
Correndo soltos nos olhos do velho
Fitando os olhos do menino franzino
Iluminando as luminárias das Neves

E foi somente nesta praça
Flutuando num outro tempo
Fustigada por outros ventos
Que a chuva alagou os trilhos do ontem
E como nos filmes antigos
Tudo ficou mudo e foi-se a cor
Tudo pode, nas histórias de amor...

A chuva encheu o ar com o cheiro de teu suor
Num rompante, sem conter tal ardor
Peguei minha saudade pela mão
E dancei na praça uma valsa
Um rock, um baião
Refrescando na chuva torrencial
Os sintomas da minha paixão

E dançando uma coreografia de raios
Canalizei o que havia fantasiado
Para um ponto inerte do meu passado
Até achar-me num nicho imaginário
Um segundo além do presente
Sempre um segundo distante
Mas vi-te passar tantas vezes de carro!
Com tantas pessoas conversaste!

Um segundo após o raio
Tudo era de novo uma grande ausência
Como a chuva caindo nos trilhos do bonde
Que hoje não quis se molhar.

RELENTO
Eduardo B. Penteado


Voltei à tal da praça molhada
Onde antes eu vinha chorar
Mais uma vez, só mais esta vez...
A praça está úmida e o hoje é seco
O beijo é soco, o amor é relento
E todo o resto vai ficando assim
Em Santa Teresa, em meu pensamento
Em minha caneta e em torno de mim

Não adianta entender o que houve
Pois tudo o que foi foram nadas
Um livro impresso em tinta branca
Um almanaque de fotos veladas
Um almanaque e meio
Lábios... longe... seio.
A lágrima que teima em não cair
O bonde com medo de se molhar
A palavra difícil de sair
O silêncio, o ruído, o olhar.

Um vento noturno diz a que veio.
O velho lustre balança, será?
Um velho ilustre a se embriagar
O ilustre balança e vai desabar
Assim como o céu, a chuva e o mar
E eu me pergunto, pensando, a sorrir
“De onde vir? Para onde partir?”
“Não sei,” disse minha alma pequena
“Nem sei o que trouxe você aqui.”
Digo adeus ao velho, ao lustre e ao bar
Fecho os olhos
E deixo o vento me dispersar.

UMA FOTO, UM BILHETE, UMA FLOR
Eduardo B. Penteado



E depois de tudo
Só deixaste uma foto
Um bilhete uma flor
Me vejo menino na foto sem cor
Te vejo sonhando ao lado da flor
Amor?


Fugiste do adeus dos olhos ateus
Que fantasiavam os teus olhos
Como sendo os meus
Me vejo sozinho, menino incolor
Te vejo me olhando, de dentro da flor
O menino chora na fronteira do mundo
E o cinza se torna vermelho profundo
Planta a flor na areia, então
Terei a ti sempre ao alcance da mão
Sempre, sempre ilusão.