Coleção pessoal de EduardoBispo

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Depois Daquela Viagem

Num bilhete de ida sem volta marcado,
Parti em busca de um futuro dourado.
Era a promessa de um novo começo,
Para a família, um sacrifício, confesso.

Cruzei oceanos, deixei meu lar,
Na esperança de nossa sorte mudar.
Mas enquanto trilhava caminhos distantes,
Em casa desfaziam-se os laços antes constantes.

Doze anos de amor, em silêncio, desgastados,
Nas entrelinhas de sonhos, outrora almejados.
E assim, o que era união, tornou-se desavença,
A distância revelou a nossa frágil crença.

O telefone tocava, voz tremula ao falar,
Notícias de um adeus, difícil de aceitar.
Nosso amor, um castelo de cartas, desabou,
A viagem que prometia, em lágrimas, afogou.

E agora, sob estrangeiras estrelas, me ponho a questionar,
Será que esse voo jamais deveria ter tomado lugar?
Ou foi o destino, em sua cruel revelação,
A mostrar que alguns caminhos levam à separação?

Meu coração carrega o peso da dúvida e da dor,
Entre o amor que restou e o que se perdeu no vigor.
Depois daquela viagem, o que resta é refletir,
Sobre tudo o que tivemos, antes de partir.

A prosperidade que busquei, para nós, um ledo engano,
Pois ao final, o que restou foram apenas desenganos.
Será que o destino, em sua infinita sabedoria,
Nos mostrou que o fim, por vezes, é a única valentia?

Então, sob o céu de um país estranho,
Encontro-me sozinho, com o coração em desalinho.
Depois daquela viagem, o que aprendi de fato,
É que o amor, mesmo verdadeiro, às vezes, acaba em desacato.

Agora, olho para o futuro, tentando reencontrar,
A esperança que partiu, no momento de embarcar.
E nessa jornada de autodescoberta e reconstrução,
Aprendo que, após a tempestade, vem a serena reflexão.

Depois daquela viagem, o que permanece, afinal,
É a lembrança de um amor, doce e, ao mesmo tempo, fatal.
Mas na busca por respostas, uma verdade se faz clara:
Nem toda viagem leva ao destino que se espera.

⁠Quando Eu Partir

Quando eu partir, não deixem lágrimas caírem,
Nem corações tristes, nem semblantes sombrios,
Ao invés, meus amigos, deixem risos brotarem,
Comemorem a vida que tivemos, com espíritos alvissareiros.

Eu estarei lá em cima, com meus óculos escuros,
O mesmo Eu, a vibrar no céu estrelado.
Do alto aplaudirei com mãos invisíveis,
A alegria dos meus filhos, a força da minha amada,
A coragem dos meus amigos, a união da minha amada família.

Não estarei sozinho, vejam, estarei cercado,
Por familiares e amigos, que partiram antes do chamado.
Cumpriremos juntos, novas missões áa,
Conforto e alívio, contra o pesar e as lágrimas terrenais.

Perdoem meus erros, eu que tentei acertar,
Com cada passo que dei, com cada palavra a pronunciar.
Meu coração sempre se encheu de esperança, de vontade genuína,
De fazer o melhor, de amar, de fazer da vida uma linda sinfonia.

Amo a todos vocês, sempre amei, sempre amarei,
Minha existência foi uma melodia, que de vocês, eu sempre toquei.
Sem arrependimentos, mágoas ou rancores eu parti,
Com alegria, recordações e amor, foi assim que sempre vivi.

E quando as portas do céu se abrirem, serei recebido,
Pelo Pai Todo Poderoso, ao qual sempre estive unido.
Em seu amoroso abraço, encontrarei descanso e paz,
Mas olharei por vocês, no riso, na festa, no abraço fraterno que sempre me satisfaz.

Então, queridos, quando eu partir, lembrem-se da melodia,
Da nossa história, da nossa alegria, da nossa harmonia.
Celebrem a vida, a nossa jornada, os tempos que passamos juntos,
E saibam que, onde eu estiver, estarei feliz, sempre a contemplar seus triunfos.

Um Dia, Parti

Numa manhã que prometia mais do mesmo, tomei a decisão que mudaria o curso da minha existência. Um dia, sem mais nem menos, parti. Não deixei notas, nem explicações. Apenas fechei a porta atrás de mim, na tentativa de me encontrar nas ruas desconhecidas da vida. Mas, à medida que os quilômetros se desdobravam sob meus pés, percebi que estava, na verdade, fugindo das incertezas que habitavam meu próprio ser.

Vivi intensamente, acreditei que nos prazeres encontraria as respostas que tanto buscava. Noites sem fim, risos e olhares compartilhados com estranhos, cada experiência mais efêmera que a anterior. Mas ao invés de saciar, cada nova aventura apenas ampliava o vazio dentro de mim. Nada mais me aprazia; os prazeres tornaram-se fugazes e insípidos.

Amores? Busquei-os em cada rosto, em cada gesto de carinho. Amores perdidos, amores imaginados, amores que nunca chegaram a ser. Cada tentativa, um novo pedaço de mim que se perdia, deixando atrás apenas o eco de sentimentos não correspondidos. E, com cada partida, uma parte de mim também se ia, deixando-me cada vez mais fragmentado, uma coleção de pedaços que já não sabia como juntar.

Minha voz, outrora firme e cheia de convicção, foi se tornando cada vez mais um sussurro. Silenciada pelas expectativas dos outros, pelas conveniências sociais, pelo medo de desagradar. Aprendi a falar o que esperavam ouvir, a agir conforme o esperado, até que não soube mais distinguir onde acabava o personagem e começava o eu verdadeiro. Minha essência foi se diluindo, até restar apenas o eco de quem eu costumava ser.

Entre chegadas e partidas, parti-me. Dividido entre o desejo de pertencer e a necessidade de ser autêntico, perdi-me. A jornada para me encontrar revelou-se uma odisséia sem fim, um labirinto de espelhos onde a saída parecia sempre estar a um passo, mas sempre fora de alcance.

E assim sigo, um viajante perdido nas próprias incertezas, buscando em vão a peça que complemente o quebra-cabeça de minha alma. Um dia, parti em busca de mim mesmo, mas no caminho, perdi-me. Resta a esperança, tênue e persistente, de que talvez, em algum cruzamento inesperado da vida, eu me encontre novamente.