Coleção pessoal de dudazafonatto

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Ela se perdia mais ainda a cada passo, novas caras, novas pessoas, novos ideais ou os mesmos de certo tempo atrás. A semana acabaria e ela continuaria a se perder, dentro de si, dentro de deles, dentro de ti. O elo que ainda os unia já se desmanchara quando ela passou a olhar pra si e não pro lado ou para trás. Uma coisa ainda era certa e Valentina tinha certeza disso: o dia de amanha.

Exatamente 5 horas de uma fria tarde de outono. Desceu de seu Landau vermelho 1977 cheirado a roupa limpa, o cabelos esvoaçando e se perdendo no vento. Com toda sua sutileza e com a cara mais oposta para a situação impossível caminhava com um ar de quem esperava algo a mais da vida, ou simplesmente daquele momento. Ela estava sentada com as mãos nos joelhos suando frio e quase tendo um colapso nervoso, ou um derrame emocional. Com toda sua tranqüilidade sentou ao lado dela e a beijou na testa. Tenho mera certeza que aquele beijo a levou a 30 lugares diferentes sem se mover. Perfeito era o momento e não a noticia que ele vira trazer. Estava partindo, aquela pequena cidade do lado norte do país era pequena demais para ele, para os sonhos dele, para o sentido que ele queria dar ao seu próprio viver. Ela não sabia se era só a cidade, ou se ela era pequena de mais também para faze-lo ficar ao seu lado até os fins dos seus dias. Lágrimas envolveram seu rosto, e quando iria se pronunciar o dedo indicador dela tocou seus lábios em um gesto que pedia silêncio, e então ela se pronunciou:
- Como, como me manter longe de ti se minha boca procura a tua, meu corpo pede casa ao enrosco desordenado dos teus braços, minha mão sem pensar sempre avança a tua nuca! Como?
Exatamente o que ela descreverá em sua unica fala estava acontecendo, lá estavam eles mais uma vez se perdendo de si e se encontrando um no outro. Mas como as folhas do outono estavam tocando o chão, o amor avesso também estava indo ao chão. O passar do trem e o barulho que as ferragens antigas fazia nos trilhos despertou eles do topor aonde se encontravam. Ele se levantou em um pulo desajeitado e se lembrou que aquilo era só mais uma das várias coisas que ele haveria de esquecer se quisesse ser mesmo livre. Ela ficou no chão, sem entender. Com a fome de um lobo faminto, enterrou sua cabeça entre as folhas e quis por um momento que a terra a engolisse.

Lá estava em perfeito deslumbre, com sua armadura e seu escudo apostos, mas sua principal arma ainda era o silêncio. Competente, tanto no ataque quanto na defesa. Tanta fortaleza, tão de ferro e se entregar pelo olhar ou por pequenos detalhes não é justo. Até o mais nobre e honrado cavaleiro comete falhas, então, quem somos nós para dizer que não erramos. Não condiz contar derrotas ou vitórias, condiz contar dias de luta, dias de caminhada, dias de recomeço. Siga em frente como o cavaleiro de ferro, e quando encontrar a paz que procura, desça de seu cavalo branco e grite pro mundo e pra si mesmo: Eu não desisti, eu consegui!

Até quando vamos aceitar ficar com a ‘’bunda’’ quadrada de tanto permanecer sentados na cadeira da vida, deixando as coisas acontecerem e andarem por si próprias. Até quando vamos engolir calados que as coisas acontecem porque tem que acontecer e se conter de levantar a mão e gritar pra todos que essa história não passa de desculpa de gente preguiçosa e de quem não faz nada para ver mudanças. Até quando vamos ver nossa felicidade embarcar em um trem para longe e nos ver deixar ela ir sem mover uma palha por ter medo de se permitir. Até quando vamos abaixar a cabeça por qualquer não que nos enfiarem na cara, quantas vezes vamos ver nossos joelhos ralados de tanto cair no chão, por ter feito de novo o que era certo, mas sabendo que não era bom para nosso interior. Até quando vamos desistir de nossas tão sonhadas idealizações só porque achamos, ou porque alguém disse que era impossível. Quando vamos perceber que não é regra tudo aquilo que nos impõem. Quando vamos pisar com toda a nossa capacidade no medo que temos, erguendo a cabeça e enfrentando aqueles obstáculos que nos parecem inquebráveis, mas quando olhamos de outro ângulo vemos o tamanho da nossa capacidade.

Podemos sim mudar o que já foi feito, basta começar por nós mesmos. Vale querer mudar o mundo, a cidade, o vizinho ou até o nosso próprio jeito de ver as coisas, mas é de baixo que se levanta, é das pequenas que se constroem as grandes. É por nós e por aqueles que estão vindo que devemos optar por fazer diferente, por ser diferente.

Trocando o nome ‘’sonho’’ por ‘’concreto’’.


“Antes de querer mudar o mundo, mude-se’’.

Ironia se eu dissesse que precisava de um dia para pensar. Corri contra o vento pisando firme sobre a calçada, o desejo era urgente. Moreno, alto e com olhos impacientes. Esperava- me escorado com um sorriso torto. Adormeci, minhas pernas em um enrosco desordenado, sua boca enroscando em minha nunca como as cordas de um violão qualquer. Mas foi seus olhos profundos, sua boca maliciosa, seus dedos ferozes em minha pele que me deixaram assim. Corri atrás de minha futura vida, da minha nova vida.

Desci as velhas escadas, sentindo a corrente de ar frio balançando meus cabelos, uma sensação de tontura e bem estar. Logo vi seus olhos me fitando. Sorri internamente. Pegou uma de minhas mãos largando um papel, me olhava atento quando saiu. “Beleza ousada, olhos com incógnitas, atrevimento lhe pedir uma chance?” Saí, meus olhos lacrados, gritos ecoavam em minha mente e a limpeza de minha alma tinha ido embora. Ainda me visava de longe, se moveu em um sinal que me fez entender: Eu tinha um dia.

Combater com meus próprios sentimentos? Distraída por devaneios que assombravam minha mente, sem resultados, me perdia em perguntas sem respostas e memórias fotográficas. Talvez a história ficasse mais fácil! Não estava dando prioridade á mim e ainda forçava um sorriso torto.

- Alô? No silêncio, um suspiro aveludado. Não sabia se desmoronava ou me edificava, mas insisti: - A alguém ai? Nada suave, uma voz rude e nada siguinificativa pra mim:

- Valentina dessa! Alguém há espera.

Estava assustada nos últimos dias, uma moral despedaçada e minha identidade tão suja quanto meu corpo. Bizarro, meu futuro se perdia entre mesas de um bordel. Interligada entre couro x seda por um querer perigoso, frio na espinha, arrepio no corpo todo e aquilo que me arrancava um sorriso me dava junto à certeza que não ficaria para o final. Enganei-me! Não podia fazer mais nada, minha boca ardia, meu corpo tremia a cada golpe. Naquela noite não me vendi. Dei-me por inteira.

Uma vez na vida, uma única vez na vida, pode ser em qualquer idade, desde que já saiba o significado da palavra verdade, pode ser aos 14, pode ser aos 35 e até aos 60, mas tem que acontecer.

Mulher, uma vez na vida, tem que ser mulher! Mas de verdade! Deixar de lado o sutiã com bolha, a maquiagem, os acessórios, a cinta modeladora que esconde a barriga e a calça apertada que levanta o bumbum. Assumir as curvas, os sobras, as dobras, as rodas e até os pneus, encarar as dores, os antigos e os próximos amores, o passado que a gente liga, mas ele nem atende, o futuro que a gente entope de expectativas, a chata da dona celulite que a gente insiste em dizer que não passa de gostosa em braile, mas não largamos a coca-cola de jeito nenhum. As espinhas, aquelas que a gente tenta esconder com o famoso “1 kg de base”, mas de um jeito ou de outro ela escapa da nossa fantástica cobertura, o problema é que a gente custa a entender que isso é simples, a pele está respirando, pondo pra fora o que ta ruim lá dentro, igualzinha a nós quando surtamos e a gente esquece que elas também matam por chocolate.

Depois de despir a armadura que carregamos no dia-a-dia só por termos nascido mulher, você pode se olhar no espelho e dizer que é uma mulher de verdade. Porque mulher de verdade é melhor do que qualquer maquiagem da MAC, que transforma o patinho feio em cinderela, mas que o encanto termina a meia noite. Mulher de verdade vai além do Chanel nº5, é essência, é pele, é suor, é calor e até aquele arrepio na nuca. Verdade, em mulher, é além das tempestades, é furacão, é força e é garra. Mulher de verdade é aquela que olha no espelho e se aceita, assim como é, mesmo com aqueles quilinhos a mais, mesmo com aquela tensão que acontece todo mês, mesmo com todos os nossos mesmos infinitos que existem na nossa cabeça.

Claro, concordo plenamente que precisamos para sobreviver tudo isso que mandei despir e mais, muito mais que isso, afinal, somos mulheres. Mas antes de ver aquele mulherão toda montada, com cheiro de modernidade, aceitamos nossas sobras, dobras e delírios, para conseguir nos aceitar acessoriamente poderosas!

Feliz de quem sabe e quem é de verdade, mulher!

Agarro teu ponto fraco, te encontro meio dominado, mas sempre acabo a me entregar. Faço charme, durona, decidida. Me fita com um riso torto, então eu me auto-abandono e tu me levas contigo. Pisa, iguinora, segura, mas sempre olha. Pega-me pelos cabelos e me entope de sensações, em um enrosco desordenado como veio o mesmo riso torto de vai, te sigo partindo com olhos desvariados.

Medo de não saber o que dizer quando olhar de novo no vasto infinito que é teu olhar, de não conseguir conter minha perna inquieta, mesmo manter no lugar a total insanidade. Não sei se gosto quando você passa, sei que bem não me faz. O mesmo medo que uma flor tem de uma mão humana, a mesma insegurança; senti saudade, mas tive medo de voltar.

"Mas como perder-se também é caminho, eu desejo sinceramente que tu se perca, bem longe daqui, aonde tento continuar."

As coisas vão perdendo o sentido e simplismente se esvaecem no ar. Deixamos muito pra trás, as vezes quase tudo em busca de uma felicidade incerta.

"Vida desgastante, em menos de segundos tira tudo da gente menos o recomeço.”