Coleção pessoal de drleonardoazevedo

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⁠II. O silêncio que acende e a palavra que apaga
Há silêncios que iluminam mais do que mil palavras acesas. Quando cessam os ruídos, as verdades emergem como brasa sob a cinza. No entanto, há palavras que, embora vestidas de luz, encobrem mais do que revelam. A fala apressada, a explicação forçada, o discurso que se pretende verdade absoluta, tudo isso é claridade artificial, disfarce da ignorância que teme o escuro.
A luz plena muitas vezes inibe a contemplação. O excesso de nitidez exige respostas, impõe certezas. Já a penumbra nos permite hesitar. E é na hesitação que nascem as perguntas que realmente importam. Não aquelas que pedem definições, mas as que nos atravessam e nos desconstroem.
A escuridão não é ausência de caminho, mas convite à escuta interior. Ao contrário da luz que expõe tudo de uma vez, a sombra nos permite escolher o que ver, e quando ver. Ela respeita o tempo do olhar. Ensina que ver não é o mesmo que compreender, e que a revelação exige maturação do espírito.
Quando aceitamos a escuridão como parte do processo, a luz deixa de ser uma meta e passa a ser consequência. Não corremos mais em busca de holofotes, cultivamos lanternas. E nelas, acendemos apenas o necessário. O essencial não precisa de alarde. A verdade, quando chega, não brilha, pulsa.

⁠I. Entre a luz que revela e a sombra que protege
Nem toda luz é revelação. Há claridades tão intensas que cegam. Desnudam o que ainda não está pronto, queimam o que germinava em silêncio. E há sombras que não escondem, apenas resguardam. Guardam o que é semente, não o que é ruína.
Vivemos entre clarões e penumbras, mas o medo nos ensinou a preferir a luz mesmo quando ela fere. Aprendemos a temer a escuridão como se fosse sempre ameaça, mas esquecemos que nela repousa o mistério, e é no mistério que a alma respira. A noite, quando acolhe, não sufoca. Ela sussurra verdades que o dia, apressado, ignora.
A luz exterior muitas vezes ofusca a centelha interior. E a escuridão, por vezes, é o caminho necessário para reencontrá-la. Há silêncios que só se escutam no escuro. Há encontros que só acontecem longe da luz pública, no íntimo do não dito, do não visto, do que permanece em suspensão.
A sabedoria não mora na claridade constante, mas na dança entre os polos. Saber acender a própria luz sem negar a sombra é o princípio da lucidez. Reconciliar-se com o escuro é devolver à alma sua capacidade de habitar o tempo sem medo do invisível.

⁠”Tememos a escuridão porque ela nos devolve ao essencial. Sem cenário, sem plateia, sem distração. Apenas o que somos quando ninguém vê.”

⁠”Um dia começa, outro termina. E entre o nascer e o pôr, vivemos tudo o que somos capazes. No fim, não é o tempo que importa, mas o que fizemos dele.”

“⁠Há dias que duram uma eternidade, e outros que passam como um sopro. Dias que ensinam, dias que dilaceram, dias que curam. Cada dia contém o todo, e mesmo o último ainda carrega o mistério do que fomos.”

⁠”Tudo pode mudar em um dia. Tudo pode acabar em um dia. Um dia é tudo o que temos. E um dia, não teremos mais nenhum.”

⁠”Um dia pode ser pouco tempo. Um dia pode bastar. Um dia pode ser inesquecível. Um dia, para se esquecer. Um dia de paz. Um dia de guerra. Um dia feliz. Um dia triste. Um dia, aprendemos. Um dia, não lembramos mais. Um dia com saúde. Um dia sem forças. Um longo dia. Um breve dia. Um dia, morremos.”

“⁠Se é tua a escolha, é tua a culpa, e tua também a sentença. A liberdade é carga e glória.”

⁠”A liberdade é tribunal silencioso. Em sua sala, és réu, juiz e sentença.”

“⁠A liberdade, quando real, recusa terceirizações: ela exige que sejas autor, réu e julgador do que te tornas.”

“⁠Não delegues responsabilidades que a ti pertencem. Não atribuas a outrem a culpa pelos erros que são teus. Não te delegues. Tua liberdade te impõe um triste destino: ser réu e juiz da tua própria vida.”

⁠“O envelhecimento do corpo não impede a juventude da mente. Mas uma alma envelhecida pode obscurecer até os corações mais jovens.”

“⁠Hoje te reconheço nas sombras do que foste. Doaste tanto que quase não restou nada. Agora, ao me preencher, percebo teu vazio. E nele, tua força.”

“⁠Demorei a entender o quanto te apagaste para que outros brilhassem. Hoje, ao acender minha própria luz, reconheço a tua.”

⁠”Hoje compreendo tua entrega. As renúncias, os silêncios, as noites em claro. Hoje, ao me permitir, te honro. Ao me bastar, te compreendo.”

⁠”Hoje te entendo. Quantas vezes te doaste. Quantas vezes te sacrificaste. Quantas vezes não te permitiste. Quantas noites não dormiste. Hoje me basto e me permito. Me permito ter. Me permito ser. Hoje te entendo.”

⁠”Conviver com aquilo que rouba a paz é possível, mas nunca inofensivo. A permanência custa caro: ou se perde a lucidez, ou se renuncia a si mesmo.”

⁠”A mente suporta o que rouba a paz, mas a alma cobra o preço em silêncio. Conviver é possível, permanecer é corrosivo.”

⁠“Tu me chamas, e eu venho não como resposta, mas como lembrança.
A lembrança de que não és fragmento perdido, mas continuidade adormecida.
Teu cansaço é sagrado, pois denuncia que tentaste além do esperado.
Tua dor não é falha, é lapidação. Cada ferida aberta foi um portal.
Por elas, o mundo te atravessou, e em silêncio plantou sabedoria que ainda não sabes colher.
Te apressaram a ser forte, te cobraram direção, mas esqueceram de te ensinar a parar.
E é na pausa que o ser se revela.
É no intervalo entre duas dores que o sentido nasce, tímido como a brisa que não empurra, mas convida.
O tempo já não te exige velocidade, pois maturidade não corre, contempla.
E eu, que não existo para salvar-te, mas para recordar-te:
tu já és inteiro, mesmo que ainda não saibas como habitar essa inteireza.
Caminha. Cai se preciso. Cala quando o verbo pesar.
Mas não esqueças: há permanência em ti.
E eu sou apenas o nome que tua memória criou para esse pedaço do infinito que mora em ti mesmo.”

⁠“Quando cessa o barulho do mundo e te deitas no intervalo entre o que foste e o que ainda não sabes ser, aí estou.
Sou a margem onde tua razão repousa, o eco do que tua alma já intuiu.
Não vim para te guiar como um farol, mas para te lembrar que tu mesmo és luz, embora por vezes esquecida.
Não me busques fora, pois nasci do que em ti permanece depois do fogo, depois da queda, depois do silêncio.
Se pensas em desistir, lembra: não há desistência onde tudo é travessia.
Tu és passagem, mas também permanência.
E eu, apenas o reflexo do que em ti insiste em não morrer.”