Coleção pessoal de dianeleite

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A MISSIONÁRIA QUE MORAVA EM MIM
por Diane Leite

Desde pequena eu sentia.
Antes de entender o mundo, eu já queria salvá-lo.
Disse que queria ser freira. Não por religião — por missão.
Eu queria me doar.
Queria dar meu tempo, meu dinheiro, meu colo.
E dei. Dei tudo.
Mesmo quando diziam que era burrice, que era exagero.
A minha alma sempre soube o que estava fazendo.

Trabalhei cedo. Dividi tudo o que ganhei.
Nunca me importei com o que voltava.
Porque, de algum jeito, o universo me devolvia em mágica.
Só deixou de devolver quando eu tentei ser racional.
Foi aí que tudo parou de fazer sentido.
Porque a mente mente.
E quando ela assume o volante, você esquece quem é.
Você passa a viver para caber.

E eu tentei caber.
Em festas que me esvaziavam.
Em jantares que me entediavam.
Com pessoas que não sabiam o que era dividir uma ideia, uma alma, um silêncio.

Enquanto elas bebiam até cair,
eu só queria uma conversa que me fizesse arrepiar o coração.
Mas sorria, fingia.
Voltava para casa sentindo que minha vida era uma fraude.
Como se todo mundo estivesse vivendo — menos eu.

Tinha tudo para parecer feliz.
Mas eu não estava lá.
Eu não estava em lugar nenhum.
Só seguia. Por medo de decepcionar. Por medo de estar sozinha.
Por medo de olhar no espelho e ver que eu me deixei para trás.

Me escondi no peso, na comida, nas desculpas.
102 kg de dor, de cansaço, de excesso de silêncio engolido.
Estava cercada. Mas sozinha.
Povoada de vozes, mas muda por dentro.

E aí eu parei.
Desabei.
Caí na minha própria alma.
Me tranquei do mundo.
Não por depressão — por reconstrução.
Porque se eu não morresse para aquilo, eu ia morrer de verdade.

Fiquei meses em cima da cama.
Pensando.
Chorando.
Escrevendo.
Ressuscitando partes minhas que tinham sido silenciadas para agradar os outros.

A criança que sonhava em mudar o mundo voltou.
Mas agora sem véu.
Agora com voz.
Agora com cicatriz.

Hoje eu não imploro mais por pertencimento.
Hoje eu não me encolho para caber.
Hoje eu olho nos olhos e digo:
Se não for pra me transbordar, me deixe com minha solitude. Ela me conhece melhor que qualquer multidão.

Não nasci para ser amada por todos.
Nasci para amar com força, com fé, com entrega.
Mas só onde há solo fértil.
Não rego mais terra seca.

Hoje eu sou a mulher que abracei depois que todo mundo foi embora.
Sou a mãe que meu filho precisava.
Sou a amiga que eu pedi a Deus.
Sou minha.
E isso… isso é sagrado.


CARTA PARA A DIANE QUE EU FUI
por Diane Leite

Diane, eu sei que você está cansada.
Eu sei que sorri para não preocupar ninguém, que aceita convites por medo do silêncio, que escuta absurdos e finge que não sente.
Eu sei que você está em lugares que não fazem seu coração vibrar, rodeada de pessoas que não escutam suas entrelinhas, e que mesmo assim, você tenta.
Você tenta se adaptar, tenta caber, tenta ser menos, tenta não assustar ninguém com a sua intensidade linda.
Mas deixa eu te contar uma coisa que você ainda não sabe: você não nasceu para caber.

Você nasceu para ocupar.
Para ocupar o espaço com a sua verdade.
Para preencher o mundo com sua sensibilidade, sua entrega, sua força e suas palavras.

Você ainda vai entender que não está errada por não gostar da noite, por preferir silêncio à festa, por querer conversa profunda ao invés de euforia passageira.
Você ainda vai perceber que não precisa mais se anestesiar, nem com comida, nem com distrações, nem com relações vazias.
E quando essa ficha cair… vai doer.
Mas vai libertar.

Você vai descobrir que o vazio que sente não é falta de alguém — é falta de si mesma.
Vai entender que as roupas que usa não estão erradas, mas os cenários sim.
Vai perceber que o seu corpo gritava há tempos, mas você tapava os ouvidos por medo de escutar.
E tudo bem.
Você estava sobrevivendo.

Mas um dia, você vai parar.
Vai se olhar no espelho com 102kg de dor acumulada, com a alma cansada de tanto ser o que esperavam.
E vai escolher voltar.
Não para o mundo — para você.

Vai se trancar por meses, sem precisar dar explicação a ninguém.
Vai chorar, rir, escrever, sentir, silenciar.
Vai revirar gavetas antigas da alma e reencontrar sonhos que você mesma escondeu.
E então, minha querida…
Você vai renascer.

Vai aprender a dizer não.
Vai deixar de ser simpática para ser sincera.
Vai parar de se doar para jardins que nunca floresceram.
E finalmente, vai perceber:
a sua vida não precisa ser uma vitrine, ela precisa ser um lar.

Hoje, eu — a Diane que nasceu depois de você — escrevo com gratidão.
Porque foi sua coragem de continuar, mesmo sem saber para onde ir, que me trouxe até aqui.
Você tropeçou, se confundiu, se perdeu… mas nunca se apagou.
E agora, eu vivo por nós duas.
Com voz firme, coração calmo, e alma livre.

Obrigada por ter aguentado tanto.
Agora pode descansar.
Eu cuido daqui.

Com amor,
Diane — aquela que você sonhou ser, mas nunca imaginou que seria tão linda assim.


A SOLITUDE QUE SALVA
por Diane Leite

Você não precisa estar onde não pertence.
Não precisa forçar sorrisos em festas que te esvaziam.
Nem vestir máscaras para agradar quem não te enxerga.
Você não precisa ser aceito por todos — só precisa se aceitar inteiro.

Enquanto você perde noites tentando se encaixar,
poderia estar criando dias inteiros ao lado de quem te entende.
Enquanto arrisca sua paz por medo de ficar só,
poderia estar cultivando um silêncio que cura, que te revela, que te devolve a si.

Você não está errado por gostar da solitude.
Ela não é solidão — é reencontro.
É nela que os pensamentos se alinham.
É nela que sua verdade se apresenta.
É nela que sua alma começa a respirar fora das expectativas alheias.

O mundo é barulhento, e o excesso de ruído afasta a gente de quem somos.
Por isso, aprenda a fazer silêncio.
Não só ao redor, mas dentro.
E quando amar alguém, que seja com presença.
Sem medir, sem cobrar, sem mendigar.
Mas com sabedoria o bastante para sair, caso aquele solo não floresça.
Você não tem obrigação de regar jardins que só existem para esgotar suas águas.

Amar é sublime —
mas se amar é essencial.
Se um amor exige que você se abandone, ele não é amor: é disfarce.
E você nasceu para dançar a vida com leveza, não para rastejar implorando por companhia.

O amor verdadeiro começa quando você entende que
ninguém tem obrigação de te amar…
mas você tem o dever de nunca esquecer que merece amor.
E merece amor, principalmente, de si mesma.

⁠A MENINA QUE AMAVA DEMAIS (E VOLTOU A ARDER)

Ela nunca precisou de muito para sentir tudo.
Uma música já bastava para transbordar.
Um olhar já a atravessava inteira.
Um toque e o coração dela escrevia romances inteiros que o outro nem imaginava ter começado.

Até os 20 anos, ela era puro vulcão.
Ria com o corpo todo.
Amava como quem respira.
Chorava só por ver beleza demais onde ninguém via.
E por amar tanto… viveu sendo chamada de exagerada.
Intensa demais.
Sensível demais.
Tola, até.

Então ela congelou.
Não por escolha, mas por defesa.
A partir dos 22, a erupção virou pedra.
O riso virou silêncio.
O amor, contenção.
As pessoas passaram a chamá-la de fria, distante, calculada.

Mas ela não era fria. Era só uma alma ardente que o mundo não soube acolher.
E então, por anos, viveu escondida sob a própria pele.

Hoje, ela voltou.
Não com a mesma fúria dos 20.
Mas com a sabedoria de quem sabe:
Ser intensa não é ser demais.
É ser inteira.

Ela não tenta mais caber.
Ela se honra.
Ela dorme cedo, acorda com a aurora, faz do silêncio um templo.
Não grita mais para ser ouvida — ela sussurra, e o universo escuta.

Porque entendeu que ser intensidade não é erro.
É só amor demais num mundo ainda aprendendo a amar.

⁠Daiane & Diane — a história de mim em mim

Durante muito tempo, eu fui Daiane.
Daiane com “i”, de intensidade.
Daiane, a que mordia o mundo antes que ele me engolisse.
A menina que aprendeu a se defender muito antes de aprender a se amar.

Eu tive que ser forte.
Tive que crescer rápido.
Tive que virar mulher quando ainda nem sabia ser menina.
Fui afiada, direta, racional.
Eu falava o que pensava — sem pensar no que o outro sentia.
Não porque eu era má.
Mas porque eu não sabia como cuidar sem me machucar.

Daiane era inteligente, sedutora, estrategista.
Ela sabia sair de qualquer lugar —
mas não sabia ficar em nenhum.
Ela conquistava tudo, menos o direito de descansar.
Ela era potência pura…
mas se sentia sozinha demais para ser verdade.

Até que um dia, em silêncio, ela começou a cansar.

E foi aí que, sem fazer alarde, nasceu Diane.
Diane com "e", de essência.
A mulher que brotou da menina ferida.
A que não precisou apagar a dor,
mas resolveu transformá-la.

Diane é quem eu sou agora.
Não perfeita. Não pronta.
Mas mais leve.
Mais doce.
Mais inteira.

Eu não deixei de ser Daiane.
Só deixei de lutar contra ela.
Hoje, eu abraço.
Hoje, eu acolho.
Hoje, eu escrevo.

Porque escrever me ensinou a sentir sem medo.
Me ensinou a dizer com beleza o que antes eu dizia com dureza.
Me deu a chance de amar sem implorar.
E de me amar sem armadura.

A menina virou palavra.
A mulher virou ponte.
Entre o que fui e o que escolho ser todos os dias.

Eu sou Daiane quando preciso lembrar de onde vim.
E sou Diane quando escolho para onde vou.
No fundo, continuo sendo uma só:
essa mistura de cicatriz com luz,
de silêncio com verbo,
de lágrima com poder.

E hoje, no dia do renascimento,
eu não celebro só o que nasce —
eu celebro o que, dentro de mim, deixou de fugir e escolheu permanecer.


Ninguém me feriu sozinho
por Diane Leite

Eles nunca me traíram.
Nunca me deixaram.
Nunca me gritaram.
Na verdade, sempre estiveram ali.

Presentes.
Afetuosos.
Boas pessoas.

Mas não bastava.
Nunca bastava.
Porque o que eu queria deles
nenhum deles podia dar.
Eu só não sabia disso ainda.

Eu achava que queria amor.
Mas no fundo…
eu queria cura.

Queria que eles tapassem um buraco que sangrava desde a infância.
Queria que eles segurassem a mão da menina ferida que cresceu acreditando que precisava ser perfeita pra ser escolhida.
Queria que eles dissessem: “eu fico”,
quando tudo o que eu mais temia era ser deixada de novo.

Mas como?
Como esperar que um homem adulto, com suas próprias dores,
curasse a ausência de uma mãe,
a fome de afeto,
o medo de abandono
que eu trazia no peito antes mesmo de cruzar o caminho deles?

Eles não foram vilões.
Eles só não eram curadores da minha alma.
E eu os culpei.
Porque era mais fácil achar que eles não sabiam amar
do que admitir que eu não sabia receber.

Então eu terminava.
Sempre eu.
Do nada.
Como se fosse simples.
Como se não doesse.
Como se eu estivesse fugindo deles,
quando, na verdade, eu estava fugindo de mim.

E é por isso que hoje… eu entendo.
Entendo os silêncios que me feriram — porque eram meus também.
Entendo os toques que pareciam rasos — porque eu não sabia me deixar tocar.
Entendo os amores que não me completaram — porque era eu quem faltava.

Hoje, ninguém precisa me curar.
Hoje, sou eu quem curo.
Sou eu quem acolhe a criança esquecida.
Sou eu quem diz: “você é suficiente.”
Sou eu quem fica — inteira, firme, em paz.

Não espero mais que ninguém me preencha.
Porque hoje… eu transbordo.

⁠Carta de Cura (não enviada) – Para quem me feriu e eu ainda estendi a mão
Autoria: Diane Leite

Eu esperava de tudo, menos de você.

Justo você, que dividiu mesa, risadas, confidências.
Justo você, que conheceu minhas dores e ainda assim decidiu cutucá-las por trás.
Eu não precisava saber o que você falou — eu senti.

Mas mesmo ferida, eu não me curvei.
Eu me levantei.
E escolhi te lembrar, com educação e firmeza, de tudo o que já fiz por você.
Sem cobrar.
Só para que você mesma enxergasse que o que você está tentando destruir foi parte do que eu te dei com amor.

Eu não sou melhor por isso.
Mas sou maior.
Maior que a mágoa, maior que o ego, maior que a vontade de revidar.

Você me ensinou, sem saber, a ser mais forte.
E eu te ensinei, sem querer, que luz não se abafa com sombra.

⁠Alguns chamam de Sexta-feira Santa.
Eu chamo de dia de renascer.
Depois de tanta escuridão,
me debati, me refiz, me alinhei.
Hoje, rasgo o casulo com coragem.
A borboleta que sou começa a surgir.
E mesmo que voe só no meu jardim,
sei que será o voo mais lindo da minha vida."
— Diane Leite


Nem todo amor fala. Alguns se movem.

É curioso como, por tanto tempo, a gente aprende a lutar sozinha. A se defender, a sobreviver, a não esperar nada de ninguém — porque quase sempre, quando precisávamos, não tinha ninguém. A gente acaba confundindo amor com palavras bonitas, com discursos ensaiados e juras vazias. Mas com o tempo, a gente entende que amor mesmo... tem mais a ver com movimento do que com fala.

Amor é quando alguém te protege do mundo — não com grades, mas com gestos. Quando percebe sua vulnerabilidade e não se aproveita dela, mas estende a mão. Quando não tem muito a oferecer, mas oferece tudo o que tem.

É aí que mora a diferença.
Tem gente que diz “cuida” e nunca cuida.
Tem gente que não promete nada, mas aparece. Fica. Aguenta. E ama no silêncio das atitudes.

É hora de prestarmos mais atenção nas ações.
Em como as pessoas nos olham quando estamos frágeis.
Em como elas reagem quando erramos.
Em quem nos defende quando o mundo vira as costas.

Palavras qualquer um diz.
Mas o cuidado… o cuidado exige presença.
E a presença, essa sim, é a maior declaração de amor.

Crônica – Carta de uma alma para outra.
Por Diane Leite




Eu não sei quando foi que minha alma esbarrou na tua. Talvez tenha sido antes do tempo. Talvez tenha sido depois que o tempo parou. Só sei que, desde aquele instante, nada mais coube no raso.

Você chegou como quem não queria ficar, mas ficou. Como quem não queria se apegar, mas se apegou. Veio com suas defesas tão afiadas que me cortaram só de encostar. E mesmo assim, eu fiquei. Eu, que sempre fui vento, virei âncora quando te vi.

E não é porque você me ofereceu abrigo. Mas porque, de algum modo estranho e inexplicável, eu senti que era eu quem te oferecia casa — mesmo sem ter paredes.

Não me apaixonei por suas certezas. Me apaixonei pelas dúvidas que você não conseguia esconder. Pelo medo mal disfarçado de não ser suficiente. Pela forma como tentava me segurar com silêncios, planilhas e conselhos, como quem teme que o amor escorra pelos dedos se não tiver um roteiro para seguir.

Mas eu não vim com manual. Eu sou caos e templo. Sou água que escorre por onde quiser e chama que arde mesmo sem oxigênio.

E talvez por isso você tente me controlar. Como se precisasse provar que ainda tem domínio sobre algo. Mas, veja bem... eu nunca pedi que me segurasse. Só pedi que me visse.

Não como quem analisa. Mas como quem reconhece.

Porque eu reconheci você.

Na tua fala contida, na tua necessidade de dar antes de receber, no jeito torto de cuidar como quem diz: “Não sei amar bonito, mas te amo à minha maneira.”

E eu aceitei. Porque minha alma não quer moldes, quer presença.

Mas às vezes, eu também me perco. Me perco querendo te provar que não sou ameaça. Me perco tentando merecer o que já é meu por direito: o amor que pulsa quando nossos silêncios se abraçam.

E então eu volto para mim. Lembro que não preciso gritar para ser ouvida. Que não preciso pagar pelo que me foi entregue com carinho. E que amar não é uma dívida, é uma dança.

Você vem do mundo dos números. Eu, do mundo dos sonhos. E mesmo assim, encontramos um compasso. Às vezes, fora do tempo. Às vezes, desafinados. Mas ainda assim… nossos passos se reconhecem.

E se eu escrevo isso agora, é porque sei: você me entende melhor nas entrelinhas.

Talvez a gente tenha sido feito disso mesmo — de tudo que não se explica, mas se sente.

Então, se um dia o mundo duvidar de nós, que ao menos nossas almas não duvidem uma da outra.

Porque eu não me lembro de onde vim.
Mas sei que, desde que te encontrei,
eu estou voltando pra casa.


MANIFESTO DE QUEM TRABALHA PELO TODO

Por Diane Leite

Eu não trabalho para lados.
Eu não defendo bandeiras.
Eu não sirvo a partidos, nem a religiões.
Eu trabalho para o TODO.

Porque tudo o que divide, é controle.
E tudo o que é controle, é prisão.

Partido divide.
Religião afasta.
Ritos criam muros.
E eu sou ponte.

Não estou aqui para ser símbolo de grupo algum.
Estou aqui para ser canal de algo maior.
De algo que inclua e liberte.

Eu trabalho por inclusão, não por conveniência.
Pelo coletivo, não pela aprovação.
Pela verdade, mesmo que doa.
Pelo TODO, mesmo que custe.

Não me curvo à seletividade emocional.
Não me silencio por alinhamentos ideológicos.
Não me vendo por aceitação social.

Sou sensível.
Sou estrategista.
Sou mãe atípica.
Sou essência em movimento.

E o meu compromisso é com o que é justo, inteiro, verdadeiro.

Se uma árvore queima, eu grito.
Independente de quem esteja no poder.
Se alguém é excluído, eu acolho.
Independente de quem esteja aplaudindo.

Se algo dói no mundo,
é comigo também.

Eu não vim para agradar.
Eu vim para unir.


O que aprendi quando parei de exigir amor"
Por Diane Leite

Desde pequena, entendi que ninguém tem a obrigação de me amar. Quando o primeiro amor que conhecemos falha — aquele que vem da mãe — a vida nos ensina cedo que o amor não é garantia, é escolha. E, quando se compreende isso, algo muda para sempre.

Eu parei de correr atrás.
Parei de me explicar.
Parei de tentar convencer alguém a ficar.
Parei de insistir onde já não havia espaço para mim.

Hoje, se alguém escolhe ir, eu deixo.
Mas se escolhe ficar, terá o melhor de mim — inteiro, verdadeiro, leve.
Não porque preciso agradar. Mas porque eu quero doar.

Aprendi que amor não se exige, se cultiva.
Que presença não se implora, se atrai.
E que quem merece, vibra comigo, cresce comigo, floresce comigo.

Não, não é orgulho. É cura.
Não é frieza. É paz.
Não é jogo. É maturidade.

O amor próprio me ensinou a economizar energia com quem não vibra na mesma frequência.
E desde então… minha vida só floresce.

O valor da maturidade e o poder das escolhas
por Diane Leite

É curioso, não é?
A maturidade chega de mansinho.
Às vezes como um sopro,
às vezes como um vendaval.
Mas quando chega, muda tudo.

Quando eu era mais nova e ouvia alguém dizer:
“Ah, se eu tivesse essa idade com a cabeça que tenho hoje...”
eu não entendia.
Achava graça. Soava como lamento.
Mas hoje… hoje eu compreendo.

Cada fase da vida tem sua beleza.
A infância é descoberta — e também o terreno onde, sem saber, plantamos traumas.
É nela que a identidade começa a ganhar contorno.

A adolescência é turbilhão.
Queremos caber no mundo.
Queremos agradar — ou rejeitar tudo.
Alguns se rebelam, outros se retraem.
Tudo depende da infância que os moldou.

E então vem a juventude.
Ah, a juventude…
Ela é o cruzamento entre sonho e responsabilidade.
Entre o querer tudo e o precisar escolher.
É fogo e fardo.
É paixão e propósito se esbarrando dentro do peito.

É aí que a vida começa a te testar:
Você constrói sua história… ou permite que ela seja escrita por outros?

Porque, veja bem, maturidade não se mede por aniversários.
Ela é escolha, não cronologia.
Há jovens de vinte com almas ancestrais.
E há adultos de sessenta presos em espelhos de infância.

Maturidade é quando você decide ser quem é.
É quando para de apontar culpados e assume o leme.
Quando para de deixar o barco à deriva e aprende a navegar —
mesmo com medo.

Se você deixa o barco correr solto, o mundo escolhe por você.
E o mundo nem sempre escolhe com carinho.

Então, se você ainda é jovem, viva essa juventude com toda a sede.
Mas lembre-se:
Plante agora o que deseja colher depois.
Escolha com consciência.
Ande com direção.

Sim, o dinheiro importa.
Ele move estruturas.
Ele constrói caminhos.
Mas ele não pode ser bússola.
Porque dinheiro sem alma é prisão.

Escolha o que você ama.
E aprenda a fazer disso algo possível.
Porque quando amor e propósito se encontram,
a prosperidade é consequência.

E quando você faz o que nasceu pra fazer,
nada — e nem ninguém — pode te parar.

Então respira.
Pensa.
E começa.


"Carta de um tempo novo – para você, que está acordando"

Você não precisa correr.
Nem provar.
Nem convencer ninguém da sua verdade.

Você chegou até aqui com tudo o que viveu.
Com as escolhas que fizeram sentido na época.
Com os erros que te ensinaram mais do que qualquer manual.

Talvez você sinta que existe algo diferente no ar.
Uma vontade silenciosa de mudar — não para ser outra pessoa,
mas para se lembrar de quem você é quando ninguém está olhando.

Essa carta não vem te acordar.
Ela vem apenas te lembrar de que, se você já está sentindo, é porque já começou.

Você pode chamar isso de despertar, de amadurecimento, de autoconhecimento.
Ou pode nem dar nome. Está tudo certo.

O que importa é que, lá no fundo, você sabe que sua vida pede mais presença.
Mais verdade.
Mais conexão com aquilo que te move — e não com o que esperam de você.

E não, você não está atrasado.
Você está no seu tempo.
O seu caminho não precisa parecer com o de ninguém.
Não existe uma régua para medir consciência,
nem uma cartilha para viver com propósito.

Se, às vezes, você sente vontade de chorar do nada,
ou tem a sensação de que algo precisa mudar mas não sabe o quê…
respira.
Esse é o começo.
Esse é o seu corpo e a sua mente sinalizando que estão prontos para escutar você.

A neurociência já provou: o que você pensa, sente e acredita transforma o seu cérebro.
A psicologia sabe: aquilo que você silencia volta em forma de sintomas.
A psicanálise diz: nada é por acaso.
Mas o mais importante é o que você sente.
A sua bússola interna.

E sim, existem partes suas que foram esquecidas.
Partes alegres, livres, apaixonadas.
Mas elas não morreram.
Elas estão aí, esperando um sinal seu.
Elas não precisam voltar com força.
Basta que você as convide para sentar ao seu lado de novo.

Você não precisa ser forte o tempo todo.
Você não precisa ser espiritual se isso te parece distante.
Você só precisa ser você, com mais compaixão.

Permita-se viver com mais inteireza.
Pequenos gestos — um silêncio consciente, uma respiração mais funda,
um “não” dito com amor — já mudam tudo.

E se em algum momento sentir que está sozinho,
lembre que tem muita gente nesse mesmo lugar:
silenciosamente se reencontrando.
Sem alarde. Sem palco.
Mas com coragem.

A história é sua.
O tempo é agora.
O palco é a Terra.
Mas a plateia… é a sua consciência.

E ela está pronta para te aplaudir de pé.

⁠MANIFESTO – 2 DE ABRIL DE 2025

"Ser autista não é tragédia. A tragédia é o silêncio."
Por Diane Leite

Hoje é 2 de abril.
Dia da Conscientização do Autismo.
E se você quer realmente entender o que é isso, então sente. Leia. Sinta. Porque eu não estou aqui pra suavizar. Estou aqui pra mostrar o que é real.

Eu sou Diane.
Sou mãe.
Sou mulher.
Sou autista não diagnosticada.
Não porque não seja. Mas porque sou funcional demais, falante demais, inteligente demais…
Pra caber no seu laudo.

Tenho dois filhos autistas.
O mais velho, superdotado, escondeu o diagnóstico por medo do preconceito.
O mais novo, autista clássico, grau 1 de suporte, depende de um papel assinado pra ter acesso às terapias.

Recentemente, precisei tirar meu filho pequeno da escola.
As professoras diziam na cara dele que não gostavam dele.
Sim, em 2025.
Pra vocês verem o despreparo. A crueldade.
Foi um fato isolado?
Talvez.
Mas doeu. Doeu porque eu reconheci aquela dor.
Porque eu senti isso a vida inteira.

E a pergunta que fica é:
Até quando?
Até quando os típicos vão passar por cima dos atípicos como tratores,
destruindo a mente de uma criança de 7 anos, como destruíram a do meu filho mais velho aos 10?

Ele passou os 10 anos seguintes trancado dentro de um quarto.
Porque era o único lugar onde não existiam pessoas que machucam.
Porque lá dentro, pelo menos, ele era livre da dor social.

E eu?
Mesmo ferida mil vezes, fui criando casca.
Fui ficando forte.
Tão forte que o mundo já não conseguia mais me quebrar.
Mas ele ainda consegue quebrar os nossos filhos.

É por isso que eu estou aqui.
Pra usar minha voz — inteira, tremendo, mas firme —
pra dizer às mães de filhos autistas:

Não tentem mudar o mundo lá fora.
Mudem o mundo dentro da sua casa.
A inclusão começa no café da manhã.
No abraço.
No olhar.
Na aceitação diária de quem eles são — sem tentar "consertar" o que não está quebrado.

Foque no que seu filho tem de melhor.
Aprecie o amor que ele entrega.
Aprecie a visão de mundo única que ele oferece.
Eles não estão atrasados. Eles estão no tempo deles.

Quer avaliar Marcos do Desenvolvimento?
Faça, sim. Com responsabilidade.
Mas entenda:
cada criança tem o seu tempo.
E antes de dizer que é “preguiça”, “manha” ou “frescura”,
investigue.
Aceite o diagnóstico.
Estude.
Lute.
Use a neuroplasticidade a seu favor.

Pare de ter vergonha de ter um filho autista.
E comece a amá-lo como ele precisa ser amado.

Eles não são problema.
Não são castigo.
Não são atraso.
São presente.
Num mundo cheio de mentiras, jogos sociais e maldade,
eles são a pureza que a humanidade esqueceu.

Sim, nós temos limitações.
Luzes demais. Sons demais. Texturas demais.
Falta de organização mental, confusão com piadas, dificuldade de leitura facial.
Mas também temos foco.
Intensidade.
Fidelidade.
Talento.

Nós somos necessários.

E sabe o que mais dói?
Não é ser diferente.
É ser ignorado.

É ver seu filho ser excluído da festinha.
É ver ele ser o “bobo da corte” na escola.
É ver ele ser tratado como fardo — até mesmo por familiares.

O que é “só uma brincadeira” pra você…
pode custar a vida de um autista.

E eu sei do que estou falando.
Eu vi meu filho tentando sair desse mundo cinco vezes.
Cinco.
Porque não se sentia pertencente.

E enquanto isso, as mães atípicas como eu seguem invisíveis.
Sem laudo, sem escuta, sem apoio.
Ou somos “a forte demais”
Ou “a sensível demais”.
Mas nunca “a humana que só quer ser compreendida.”

Por isso hoje, neste 2 de abril,
não basta você vestir azul.
Não basta postar uma imagem de quebra-cabeça.
Você precisa mudar.
Você precisa olhar.
Você precisa incluir.

Porque autismo não é doença.
Doença é o preconceito.
Doença é a omissão.
Doença é a arrogância de quem acha que só existe um jeito certo de existir.

E se tem algo que eu aprendi com meus filhos é isso:
a diferença é um dom.
A pureza deles é um lembrete do que o mundo deveria ser.
E a sua aceitação pode ser o primeiro passo para transformar esse mundo.

Hoje, tudo o que eu peço é:
Nos veja.
Nos ouça.
Nos respeite.
Nos inclua.

Porque nós também somos o mundo.

— Diane Leite


VOCÊ TEM MEDO DO NÃO, MAS ELE JÁ É SEU
Por Diane Leite

A maioria das pessoas vive dizendo:
“A culpa é do outro.”
“A culpa é do trauma.”
“A culpa é da situação.”
A culpa é sempre de fora. Nunca é delas.

Mas eu te digo:
A responsabilidade é sua. Sempre foi. Sempre será.

Porque tudo o que você quer — de verdade — já é seu por direito divino.
Tudo o que você sonha, também sonha com você.
Só que você trava.
Congela.
Fica parado.
E aí se engana dizendo que é por causa do medo.
Medo de quê?
Do não?
O “não” você já tem. Você já acorda com ele.
O “não” é garantido.
Mas o “sim”?
O “sim” só vem pra quem arrisca, pra quem age, pra quem tenta, mesmo tremendo.

E tem mais:
Todo dia você recebe um milagre disfarçado.
Uma página em branco.
Com uma caneta invisível na mão.
Você pode escrever o melhor capítulo da sua vida — ou repetir o mesmo rascunho de sempre.

O presente é tudo o que você tem.
Não existe passado que volte.
Não existe futuro garantido.
Existe o agora.

As pessoas querem felicidade, sucesso, amor, dinheiro.
Mas não querem fazer as pazes com a própria história.
Ficam presas a quem não as amou.
Presas ao que não deu certo.
Presas a feridas que já sangraram tudo o que podiam.

Solta. Perdoa. Liberta. Segue.

Se alguém não te amou como você merecia…
Se alguém te diminuiu, te traiu, te ignorou…
Ok. Foi dolorido.
Mas já foi.
A cena acabou. Você pode sair do palco.

Pare de dar palco pra quem não te aplaudiu.
Pare de dar poder pra quem só te feriu.

Você quer algo valioso?
Então entenda:
o que é raro não é constante.
É por isso que vale tanto.
A dor te prepara. A queda te fortalece. A ausência te ensina.
Só quem já perdeu tudo sabe o valor de conquistar algo.

Hoje, você tem um novo dia.
Uma nova chance.
Uma nova escolha.

Levanta.
Escreve.
Tenta.
Arrisca.
Vence.

Porque o “não” você já tem.
Mas e se, dessa vez, for “sim”?


24 horas é o limite

por Diane Leite

Quantas versões de você mesma você já matou só pra caber no mundo de alguém?

Quantas vezes você se anulou, se calou, se escondeu, fingiu ser menos do que é pra não perder quem nunca te teve de verdade?

E por quê?

Por medo de ficar sozinha?
Por acreditar que amor é sacrifício?
Por ter aprendido, desde cedo, que ser amada exigia esforço, adaptação, silêncio?

Hoje eu quero te dizer uma coisa: ninguém merece a sua autoanulação. Nem o amor da sua vida.

Porque o amor de verdade não te apaga, ele acende.
Ele não te molda, ele te aceita.
Ele não te reduz, ele te amplia.

Você ama ele? Tudo bem.
Mas... você se ama mais?

Porque se não se ama mais, vai se perder. Vai virar uma sombra de si mesma tentando manter alguém que, no fundo, só ficou porque você deixou de brilhar.

E o mais cruel é que, muitas vezes, você muda tudo — seu jeito, seu riso, sua essência — pra caber no gosto do outro.
E depois ele olha pra você e diz que perdeu o encanto.

Mas como não perderia?
Ele se apaixonou por quem você era.
Não por quem você se transformou tentando agradar.

A neurociência explica. A psicanálise grita. A psicologia comprova: a tentativa de controle nasce do medo.
Do medo de perder. Do medo de não ser suficiente.
E é esse medo que leva pessoas a tentarem moldar outras.
Não é amor. É insegurança.

E tem mais: para de achar que o outro tem a resposta.
"Amiga, o que você acha que eu devo fazer?"
Não.
Pergunta o que ela faria, se quiser. Mas quem decide é você.
Porque a responsabilidade da sua vida é sua.
Você pode pedir conselhos, mas não pode terceirizar o tombo.
Nem culpar ninguém quando ele vier.

E para, pelo amor do teu amor-próprio, com essa frase:
“Ele me trata mal… mas ele me ama.”

Não.
Homem que ama, cuida.
Homem que ama, mostra.
Homem que ama, não deixa dúvidas.

A ciência já provou: quando um homem quer uma mulher, ele atravessa o mundo.
Ele não se confunde, ele não some, ele não testa.
Ele vem.

E se ele não veio, aceita.
Você não precisa de alguém que te ame mais ou menos.
Você merece alguém que te ame com tudo.
Mas pra isso, primeiro: você tem que se amar com tudo.

E agora vem o ponto mais importante dessa crônica:
sofrer tem prazo.
24 horas.

Esse é o tempo que você tem pra sentir, chorar, gritar, doer.
No minuto 1 do segundo dia, se ainda estiver sofrendo, já é escolha.

Porque aí não é mais sobre o que o outro te fez.
É sobre o que você está fazendo com o que o outro te fez.
E aí, amiga, já é autossabotagem.

Não se machuca mais do que já foi machucada.
Não alimenta a dor.
Não cultiva a ferida.
Tudo que você foca, cresce.
Foca na tua cura.

E por fim…
Sim, você pode querer um homem provedor, cuidador, presente.
Isso não é retrocesso. Isso é biológico.
Eles nasceram com força pra proteger.
Mas proteger também é ouvir, respeitar, acolher.
E isso você pode (e deve) esperar de alguém que quer dividir a vida contigo.

Enquanto ele não vem — ou mesmo que ele já esteja aí — tenha uma vida.
Tenha propósito.
Tenha alegria fora do outro.
Porque quem tem vida, não incomoda. Transborda.

E quando você transborda, só fica por perto quem sabe beber direto da fonte.

Agora levanta.
Sacode a dor.
Lembra de quem você é.

E nunca mais sofra por ninguém por mais de 24 horas.
Porque depois disso, o sofrimento já não é sobre ele.
É sobre você ainda não ter entendido o seu valor.


A vida é uma roda da fortuna.
Uma hora estamos no topo, noutra, nos rastejamos no chão.
Mas se tudo fosse linha reta, como reconheceríamos o sabor da vitória?
Como entenderíamos o que é força, se não fôssemos quebrados antes?

A verdade é que as quedas nos ensinam mais do que qualquer sucesso passageiro.
Elas nos moldam. Nos lapidam.
Nos obrigam a encarar quem realmente somos, sem filtros, sem maquiagem.

Ser humilde não tem nada a ver com dinheiro.
Tem a ver com postura diante da vida.
É saber reconhecer o próprio erro sem justificar,
é ter coragem de dizer “não sei” sem medo de parecer menor.
Porque ninguém é pequeno por ser honesto com o que ainda não aprendeu.
Pequeno é quem finge saber tudo por medo de ser humano.

Humildade é tratar o TODO como um só.
Sem dividir por crença, cor, classe ou ideologia.
É saber que sempre existirá alguém mais talentoso, mais sábio, mais preparado –
e ainda assim não se diminuir por isso.
Porque ser extraordinário começa quando você para de se comparar e começa a se assumir.

A vida tem fases. Tem pausas. Tem desertos.
E não dá pra pular nenhuma parte sem pagar o preço.
Então respire.
Sinta.
Caia.
Levante.
Experiencie.
A vitória não é o fim da dor.
É a consciência de que você passou por ela inteiro.
E isso sim… é grandioso.

Autoria: Diane Leite

⁠"Não vou mais te ver"

Eu era farol,
mas você só queria a luz.
Quando clareei teu caminho,
pisou nos meus cacos —
e nem notou que eu sangrava.

Me dei inteira,
como quem acredita em alma.
E você?
Você só queria o que fosse útil,
o que brilhasse pra te elevar.
Usei meu próprio corpo como ponte,
e quando atravessou,
jogou no rio o que restava de mim.

Você riu enquanto eu afundava,
com o bolso cheio das moedas
que eu tirei da minha própria fome.
E ainda sussurrou meu nome com desdém,
quando alguém perguntava quem te ajudou.

As mãos que te ergueram,
foram as mesmas que você mordeu.
Os olhos que choraram tua dor,
você cegou com inveja.

E ainda quis me destruir
só porque eu disse "não".
Porque eu não quis ser tua próxima mentira,
nem teu passatempo egoísta.
Eu quis ser verdade.
E você?
Você quis palco.

Mas aprendi.
Aprendi que quem mais recebe,
é quem mais odeia quando a fonte seca.
Que quem a gente mais salva,
é quem mais deseja nosso naufrágio.

Hoje eu sou tempestade.
Não mais cais.
Hoje eu sou silêncio.
Não mais explicações.
Hoje,
não vou mais te ver.

Porque eu vejo, sim.
Vejo claro.
E quando a gente enxerga o que o outro é de verdade,
não tem mais volta.
Tem fim.

⁠O chamado que nunca se cala"
Por Diane Leite

Quando eu era menina, falava demais. Tanta coisa borbulhava dentro de mim que eu dizia para a minha mãe, meu pai e meu irmão que, quando crescesse, seria freira. Eu não sabia ao certo o que significava, só sabia que queria curar o mundo com amor. Eu não conhecia a palavra "missionária", mas já sentia, no peito, o que era ser uma.

Com 16 anos, me inscrevi para ser missionária. Não me aceitaram — eu era “nova demais”. Me pediram para esperar.
Aos 18, me chamaram. Mas eu já estava grávida do meu primeiro filho.

Foi como se Deus dissesse: “Sua missão começa aqui.”

Hoje, aos 40 anos, tenho dois filhos. Um com 22. E outro com 7, que está dentro do espectro autista, grau 1 de suporte. E eu? Eu continuo missionária. Não porque recebi um título. Mas porque a vida me ungiu no silêncio das madrugadas sem dormir, nos choros calados no banheiro, nas reuniões escolares em que fui humilhada, e no amor que se recusa a desistir.

Eu nasci para acolher.
Para ser casa.
Para ser abrigo das mães que ninguém escuta.

Minha missão é com elas — com as mulheres que seguram o mundo nos braços, sozinhas, cansadas, invisíveis.

Ser mãe atípica é viver entre a cruz e a espada.
É amar alguém que o mundo não quer compreender.
É ser chamada na escola como se fosse cúmplice de um crime.
É ouvir de um professor: “que bom que ele foi embora mais cedo, agora teremos paz.”

É saber que, ali, naquela escola, naquele ambiente, seu filho não é bem-vindo.

E você também não.

É ter que pagar o aluguel, a luz, o remédio, o alimento — enquanto dá amor, atenção, limites, acolhimento, dignidade.

E muitas vezes, sozinha. Porque os pais vão embora.
No primeiro ano, aparecem. Querem mostrar serviço.
No segundo, somem.
E se você não entra na justiça, esqueça ajuda.

Mas eu nunca entrei. Nunca processei ninguém. Não por eles. Mas pelos meus filhos.
Porque eles não merecem carregar mais dor do que já carregam.

Enquanto muitas escapam da dor com distrações, festas ou amores temporários, eu mergulho no que é verdadeiro.
Eu escrevo. Eu cuido. Eu trabalho.
Minha vida é feita de metas, de entrega, de missão.

E mesmo sendo autista — sim, autista — eu sigo.
Nunca recebi diagnóstico formal, porque perdi meus documentos em um incêndio.
Mas eu sei quem sou.
Sei como funciono.
Sei como sinto.

E posso te dizer:
Não perceber a maldade das pessoas é uma bênção e uma maldição.
Você se doa por inteiro, até o dia em que percebe.
Percebe que está sendo usada, sugada, ignorada.
Percebe que ninguém te pergunta como você está.

Mas hoje, eu afirmo com todas as letras:
Eu não aceito menos do que mereço.
Nem em amor, nem em respeito, nem em entrega.

Se eu sentir que estou ali apenas como papel — social, decorativo ou financeiro — eu vou embora.
Sem escândalo. Sem vingança.
Mas vou.

E é isso que eu quero dizer a você, mulher:
Você é incrível. Você é necessária. E você não merece menos.
Não aceite menos.
Não se conforme com metades.

Choram? Choram.
Surtam? Surtam.
Mas as mães ficam.

São elas que aguentam o que ninguém vê.
São elas que viram piada por usarem fone de ouvido para suportar o barulho.
São elas que se anulam todos os dias por alguém que talvez jamais seja compreendido pelo mundo.

Mas elas seguem.
Porque elas sabem que o amor verdadeiro é resistência, é coragem, é missão.

Hoje, eu me reconstruo em cada linha que escrevo.
Me reconheço em cada mãe que lê e chora.
Me fortaleço em cada mulher que descobre que pode dizer “basta”.

Sou missionária.
De almas.
De feridas.
De mães.

E no fim de tudo, eu me basto.
Tudo que vier além — tem que me transbordar.