Coleção pessoal de denissantana

Encontrados 15 pensamentos na coleção de denissantana

Como escrever sem você aqui?
me vejo cair de uma imensidão
vendaval, levando longe daqui
respiro e queima, febre, redenção.

Como, por fim, descrever o nada?
mundo escuro, ficou meu coração
assim perdido, minha mente falha
sou ferro forte, triste, em corrosão.

Como, bela, seguir em frente sem ti?
dona das flores, cheiro no rosto
sua orelha, bela, arrepio sentir
mesmo abstrato, sabor dum gosto.

Como andar adiante sem lembrar?
se tudo que tenho é tua possessão?
se do meu corpo inteiro fiz o teu lar?
e do teu ar é que vivem meus pulmões?

(Como escrever - Denis Santana - 2016)

Sinto frio, envolto nos pés
tocando areia molhada
fugindo tensão e revés
horizonte, moldura pintada.

Quando você foi, dia feito hoje
um medo de voltar sozinho
como filhote longe do ninho
me lembro, dói triste feito hoje.

Rio que desce, correndo olhos
vento que leva, entalha cristais
amarga meu sono, pingos no solo
bela menina que laços desfaz.

Eis que não caiu somente sobre mim
chuva fina, nos conduz em solidão
lá fora, pétalas, havia um jardim
embaça vidro, desenha coração.

Para mim, cheiro jasmim, carmim, sim
para ti, resilição, relação de ilusão, não
sem você, tenho medo, me ajude, querubim
por você, sou forte trovão, encaro um dragão.

Enquanto a chama arder, me sinta
sabes bem, olhe pra dentro, repita
coração e mente, vida, momento
estou aqui, no frio, escuro, relento.

(Relento - Denis Santana - 2016)

Tem dias que boa noite te afasta,
e bom dia te ilumina;
boa tarde te faz ver.

Tem dias que boa noite ilumina,
e bom dia, chuva fina;
boa tarde, se esconder.

Tem dias que boa noite me fascina,
e bom dia, pra menina;
boa tarde, meu querer.

Tem dias, doces dias, coloridos,
e dias frios de arrepios;
belas noites estreladas,
cantarolando assobios!

(Dias - Denis Santana - 2016)

Pairar com o sofrimento
tapete mágico da paixão
ponteiro estalando lento
tempo contado em grão.

Apostar num jogo de azar
sabendo duma decisão
guilhotina a degolar
vida dum atento coração.

Se fria quiseres me arrancar
com força que tens nas mãos
prefira de uma vez me matar
a judiar lentamente em corrosão.

Sabes, meu sorriso é falso
por dentro, pura solidão
estrela dum brilho fraco
sozinha, nessa imensidão.

(Corrosão - Denis Santana - 2015)

Há tanto tempo não escrevo
certas coisas que preciso ouvir
razão qualquer, talvez medo
acordando dum sonho a sorrir.

Sou pássaro a fugir da gaiola
que passou a vida em segredo
não aprendi a voar mundo a fora
quando arrisco sinto ofegante o peito.

Andante sou, andarilho com asas
tenho algo que não, não sei usar
coração, uma vontade que falha
momento, dum sentimento mostrar.

No caminho de tantos cascalhos
fito meus olhos na fina lua nova
poeira de ondas, delicia de orvalho
aspergindo ouro num céu que renova.

Uma vida que vai, noutra vida que vem
chuto ventos, fingindo não me entregar
num querer dum respiro daquilo que tens
fragrância dum beijo de pássaro encantar.

Sigo a pouco escrever, sem ter
sentindo meu próprio canto ecoar
num corredor, de mãos como asas
sou ave migrante, buscando lugar.

(Pássaro - Denis Santana - 2015)

Ser feliz é complicado
mundo gira, cada passo
voa cavalo alado, algemado
cantando, perder o compasso.

Cantarolar em dor maior
dor que prende num bemol
sentir no peito dó maior
agonizo na espera dum sol.

Sinto caminhar, sem chegar
molho lábios em brisa nebulosa
saio em prantos, corda, sufocar
sou filme de noite conflituosa.

Se por vezes teu caminho odiei
pois fui cão na corrente de sua mão
ingenuo no tanto que te bajulei
me enterro no meio da solidão.

Sou árvore e tu minha poda
mas cresço, em cada estação
eres carro e eu sua roda
zombas, pisas no coração.

(No meio da solidão - Denis Santana - 2015)

Pobre coração que se engana
que se comporta como tolo
bandido e traidor quando ama
só mente e causa dolo.

Se não estiver tudo bem
como sabes que esteve
pois de ti fui refém
e ninguém me deteve.

Ficou tudo mais claro
sigo a trilha do medo
levando objeto raro
revelando segredo.

Como sabes vou estar aqui
misturado na multidão
se conseguires me ver
segure a minha mão.

Desabando bem profundo
uma espada no coração
rejeitado em teu mundo
sou cego na escuridão.

(Traidor - Denis Santana - 2015)

Com um jeito bonito e acanhado
é um riso tímido que encanta
muito mais do que eu havia sonhado
meu coração transborda e canta.

Pele clara, um cheiro cobiçante
seus cabelos, minha morada
entre meus dedos, és viajante
fito, apalpo, poeira dourada.

Penso, que me absorves no peito?
olhar, simples no lugar a que foi feito
uma selva primorosa para o leão
uma música fabulosa para o refrão.

Linda, seus passos e sombra pela rua
vida, sol e lua, se encantam ao ver
flores, um perfume, presença sempre sua
sem ar, tortura, meus sentidos vou manter.

(Riso - Denis Santana - 2015)

Já não parece ser tão longe
seu coração de onde estou
bela, como este horizonte
suspirante, meu suspiro herdou

Olhando pelo canto da janela
reflete no vidro o seu desenho
te encosto, dou um beijo com cautela
seu gosto, meu amor, sou eu quem tenho

Seguro forte, te olho deste jeito
feche os olhos, quero te ver sorrindo
Minhas mãos deslizam no seu peito
sussurrando, como o vento bramindo

És meu calor, princesa fabulosa
és madeira, e eu seu artesão
delícia, uma pedra preciosa
eternamente, guarde minha confissão.

(Confissão - Denis Santana - 2015)

Uma voz chamou Cristine
mas ela não respondeu
não há lua que ilumine
estou perdido neste breu.

Não negue que me amou
Cristine, me dê uma razão
não me digas que cessou
o calor do seu coração.

Simples, cale meu olhar
me deixando na tristeza
teu respirar é meu lugar
súdito de sua nobreza.

Eu preciso ter razão
caminhar com mais destreza
pensar com o coração?
suspiro com muita incerteza

Cristine, eu preciso ir
ainda não me respondeu
estou a beira de falir
eis que o dia amanheceu.

(Cristine II - Denis Santana - 2015)

Desisto do coração
vou pensando seriamente
jogar no calabouço
proteger avidamente

Desisto de me entregar
olhos fechados pra riqueza
não tenho para dar
sem barco em Veneza

Desisto de me encontrar
não quero me entender
é impossível que me vejas
frio intenso a viver

Desisto de rimar
as palavras são avessas
quando tento te falar
entre trilhas tão espessas

Desisto de mentir
ter coragem, me enganar
eis a vida que é tão seca
deserto vou nadar

Desisto disso aqui
em meu quarto vou ficar
não tenho para onde ir
medo, medo de amar.

(Desertor - Denis Santana - 2015)

Este som que me incomoda
quase sempre de madrugada
um desejo que implora
minha linda namorada

Se mistura no seu beijo
seu suor, respiração
selvagem no cortejo
sou firme na paixão

Sou amante aspergindo
em teu peito o meu sangue
amor que vem sentindo
mãos na pele, excitante

Lua nova me ilumine
luz esquenta meu verão
uma voz chama Cristine
neste céu sou gavião.

Entorpece no sono flamejante
folhas secas viram carvão
mato queima, fumaça chiante
errei, mas peço perdão

Queixo trêmulo e soluçante
imploram por mera absolvição
nesta escravidão sou reinante
tenho em mente uma bifurcação

Dum amor fui resignante
como pássaro num alçapão
perdido, animal rastejante
me prendes negando decisão

Águia sábia de ataque farsante
tu és bela mas ages como camaleão
viajando pela flora verdejante
passeia enganando a paixão

Estreante dum caminho estrelante
não preciso de prova e certidão
és uma louca diva alucinante
brincando de colecionar coração

Sigo aqui quieto e zelante
apostando num cavalo azarão
sentimento cruel e tratante
que exala pura descompaixão.

(Resignante - Denis Santana - 2015)

Fico perdido, mão trêmula
olho para o céu, vejo azul
teu cheiro como bússola
inebria, costas para o sul

No caminho, chuto pedras
cabisbaixo com o fracasso
arando, caindo na cratera
fogo forjando em pedaços

Me resta amizade, fantasiosa
apenas no rosto, mais um beijo
contato queima, pele vertiginosa
faísca, risco e fuga, devaneio

Um nome, não sei, talvez Lola
no peito, com L num brazão
canto, danço, numa gôndola
tristeza fim, aspiro abolição.

(Lola - Denis Santana - 2015)

Desisto, não sou kamicaze
desespero, rota de colisão
ferida se fecha com gaze
não caio, tenho um corrimão

Nos olhos de mero andante
sorri e bebi dum vulcão
sofri como manada berrante
sufocado de uma erupção

Não posso, sou renunciante
nas mãos, me envolve um vento
caio em prantos, dor torturante
não tem jeito, sou puro lamento

Tão vazio está este pátio
no silêncio ruge um leão
há vozes e no fundo um rádio
que figura, morrer por arpão

Respiro, desejo que arde
confesso, ouvir sua dicção
insisto, não sou kamicaze
sincero, sou seu guardião.

(Kamicaze - Denis Santana - 2015)