Coleção pessoal de Davi-Roballo
Toda civilização que esquece os seus mortos cava, com
silêncio e festa, a própria sepultura.
Não é o estrangeiro que a dissolve — é o vazio de
sentido que a torna permeável ao abismo.
A vida não é uma linha reta, mas um sopro entre abismos — o segredo está em dançar, mesmo quando o chão vacila.
O trabalhador é o escultor invisível da história — seu suor molda o mundo que os políticos e os poderosos fingem ter criado.
O exílio mais árduo não é o da terra natal, mas o de si mesmo — quando a alma se esquece do caminho de volta ao coração.
A paz verdadeira não é a ausência de conflito, mas o repouso do espírito no meio do caos — como a flor que floresce sobre a pedra.
Os deuses que não caminham conosco, nos desertos e nas noites sem resposta, são apenas ídolos do conforto.
Odiamos no outro a parte de nós que, por vergonha ou fraqueza, negamos; como se, ao reconhecê-la fora de nós, nos víssemos espoliados daquilo que um dia foi nossa substância mais verdadeira.
A solidão é o único deserto capaz de restaurar, aquele que, longe de ser uma condenação, se apresenta como um espaço sagrado de reinvenção.
O tempo não passa: somos nós que nos esvaímos por entre os dedos do instante, como areia que nunca consentiu ser castelo.
A solidão não é ausência de companhia: é a superabundância de um eu que já não cabe no próprio peito.
Ser livre é arcar com a culpa de cada escolha, mesmo quando o universo inteiro se cala diante da nossa queda.
A fé é a loucura mais íntima: uma aposta silenciosa de que o abismo guarda, no fundo, um berço e não apenas a queda.
O verdadeiro silêncio não é a ausência de som, mas a presença devastadora de tudo aquilo que jamais ousamos dizer.