Coleção pessoal de dannap

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CONFISSÃO

Que esta minha paz e este meu amado silêncio
Não iludam a ninguém
Não é a paz de uma cidade bombardeada e deserta
Nem tampouco a paz compulsória dos cemitérios
Acho-me relativamente feliz
Porque nada de exterior me acontece...
Mas,
Em mim, na minha alma,
Pressinto que vou ter um terremoto!

Não digas onde acaba o dia.
Onde começa a noite.
Não fales palavras vãs.
As palavras do mundo.
Não digas onde começa a Terra,
Onde termina o céu
Não digas até onde és tu.
Não digas desde onde és Deus.
Não fales palavras vãs.
Desfaze-te da vaidade triste de falar.
Pensa,completamente silencioso,
Até a glória de ficar silencioso,
Sem pensar.

Soneto 116

De almas sinceras a união sincera
Nada há que impeça: amor não é amor
Se quando encontra obstáculos se altera,
Ou se vacila ao mínimo temor.
Amor é um marco eterno, dominante,
Que encara a tempestade com bravura;
É astro que norteia a vela errante,
Cujo valor se ignora, lá na altura.
Amor não teme o tempo, muito embora
Seu alfange não poupe a mocidade;
Amor não se transforma de hora em hora,
Antes se afirma para a eternidade.
Se isso é falso, e que é falso alguém provou,
Eu não sou poeta, e ninguém nunca amou.

SONETO LXXXVIII

Quando me tratas mal e, desprezado,
Sinto que o meu valor vês com desdém,
Lutando contra mim, fico a teu lado
E, inda perjuro, provo que és um bem.
Conhecendo melhor meus próprios erros,
A te apoiar te ponho a par da história
De ocultas faltas, onde estou enfermo;
Então, ao me perder, tens toda a glória.
Mas lucro também tiro desse ofício:
Curvando sobre ti amor tamanho,
Mal que me faço me traz benefício,
Pois o que ganhas duas vezes ganho.
Assim é o meu amor e a ti o reporto:
Por ti todas as culpas eu suporto.

Pedaço de mim

Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar

Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais

Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu

Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi

Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim
Leva os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor
Adeus

Ao matar seus demônios, cuidado para não destruir o que há de melhor em você.

Se te queres matar

Se te queres matar, porque não te queres matar?
Ah, aproveita! que eu, que tanto amo a morte e a vida,
Se ousasse matar-me, também me mataria...
Ah, se ousares, ousa!
De que te serve o quadro sucessivo das imagens externas
A que chamamos o mundo?
A cinematografia das horas representadas
Por actores de convenções e poses determinadas,
O circo polícromo do nosso dinamismo sem fim?
De que te serve o teu mundo interior que desconheces?
Talvez, matando-te, o conheças finalmente...
Talvez, acabando, comeces...
E de qualquer forma, se te cansa seres,
Ah, cansa-te nobremente,
E não cantes, como eu, a vida por bebedeira,
Não saúdes como eu a morte em literatura!

Fazes falta? Ó sombra fútil chamada gente!
Ninguém faz falta; não fazes falta a ninguém...
Sem ti correrá tudo sem ti.
Talvez seja pior para outros existires que matares-te...
Talvez peses mais durando, que deixando de durar...

A mágoa dos outros?... Tens remorso adiantado
De que te chorem?
Descansa: pouco te chorarão...
O impulso vital apaga as lágrimas pouco a pouco,
Quando não são de coisas nossas,
Quando são do que acontece aos outros, sobretudo a morte,
Porque é a coisa depois da qual nada acontece aos outros...

Primeiro é a angústia, a surpresa da vinda
Do mistério e da falta da tua vida falada...
Depois o horror do caixão visível e material,
E os homens de preto que exercem a profissão de estar ali.
Depois a família a velar, inconsolável e contando anedotas,
Lamentando a pena de teres morrido,
E tu mera causa ocasional daquela carpidação,
Tu verdadeiramente morto, muito mais morto que calculas...
Muito mais morto aqui que calculas,
Mesmo que estejas muito mais vivo além...

Depois a trágica retirada para o jazigo ou a cova,
E depois o princípio da morte da tua memória.
Há primeiro em todos um alívio
Da tragédia um pouco maçadora de teres morrido...
Depois a conversa aligeira-se quotidianamente,
E a vida de todos os dias retoma o seu dia...

Depois, lentamente esqueceste.
Só és lembrado em duas datas, aniversariamente:
Quando faz anos que nasceste, quando faz anos que morreste;
Mais nada, mais nada, absolutamente mais nada.
Duas vezes no ano pensam em ti.
Duas vezes no ano suspiram por ti os que te amaram,
E uma ou outra vez suspiram se por acaso se fala em ti.

Encara-te a frio, e encara a frio o que somos...
Se queres matar-te, mata-te...
Não tenhas escrúpulos morais, receios de inteligência!...
Que escrúpulos ou receios tem a mecânica da vida?

Que escrúpulos químicos tem o impulso que gera
As seivas, e a circulação do sangue, e o amor?
Que memória dos outros tem o ritmo alegre da vida?
Ah, pobre vaidade de carne e osso chamada homem.
Não vês que não tens importância absolutamente nenhuma?

És importante para ti, porque é a ti que te sentes.
És tudo para ti, porque para ti és o universo,
E o próprio universo e os outros
Satélites da tua subjectividade objectiva.
És importante para ti porque só tu és importante para ti.
E se és assim, ó mito, não serão os outros assim?

Tens, como Hamlet, o pavor do desconhecido?
Mas o que é conhecido? O que é que tu conheces,
Para que chames desconhecido a qualquer coisa em especial?

Tens, como Falstaff, o amor gorduroso da vida?
Se assim a amas materialmente, ama-a ainda mais materialmente:
Torna-te parte carnal da terra e das coisas!
Dispersa-te, sistema físico-químico
De células nocturnamente conscientes
Pela nocturna consciência da inconsciência dos corpos,
Pelo grande cobertor não-cobrindo-nada das aparências,
Pela relva e a erva da proliferação dos seres,
Pela névoa atómica das coisas,
Pelas paredes turbilhonantes
Do vácuo dinâmico do mundo...

O suicida na verdade não quer se matar mas quer matar a sua dor.

Também temos saudade do que não existiu, e dói bastante.

ALÉM DA TERRA, ALÉM DO CÉU

Além da Terra, além do Céu,
no trampolim do sem-fim das estrelas,
no rastro dos astros,
na magnólia das nebulosas.
Além, muito além do sistema solar,
até onde alcançam o pensamento e o coração,
vamos!
vamos conjugar
o verbo fundamental essencial,
o verbo transcendente, acima das gramáticas
e do medo e da moeda e da política,
o verbo sempreamar,
o verbo pluriamar,
razão de ser e de viver.

Ao Amor Antigo

O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.

O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.

Se em toda parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
a antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.

Mais ardente, mas pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.

Ausência

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como uma nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.

Se o amor é fantasia, eu me encontro ultimamente em pleno carnaval.

Não, a normalidade e a constância não cabem em mim. Existe uma necessidade de me apaixonar intensamente a todo tempo para viver. Pertenço hoje, com devoção e vontade, a um momento que posso realmente repugnar amanhã. Mudanças que aceleram, que energizam, que alimentam e que nos extraem do estado normal e constante das coisas. Isso me faz sentir o coração. Completamente entregue e dedicada, desde o amanhecer até o adormecer. Além disso: em sonhos também. Vejo as cores com mais sabor. Me encontro exagerando nos melhores momentos com todo meu amor. Arrastando como um furacão mesmo, chegando até onde não se alcança mais. Então perdendo a força, levo embora aquilo que me faz bem. Os ciclos se encerram e viram boas e deliciosas lembranças. O próximo passo é viver tudo com muita verdade sim! Mas algo novo e que, de repente, é diferente de tudo que um dia reprovei. Por isso julgamentos e moralismos não são nada bem vindos. Dessa forma, a felicidade estará presente do princípio ao fim. Como histórias a serem plenamente vividas. Equivocada ou não, creio que a ânsia de viver justifica qualquer ousadia ou loucura. E aos meus olhos, isso também pode mudar um dia. Que surjam as paixões!

Sou apego pelo que vale a pena e desapego pelo que não quer valer.

Os prazeres são as únicas coisas que vale a pena serem vividas. Nada envelhece tão depressa como a felicidade.

Reflexão seria algo vasto e frio para este momento de cansaço e solidão. Esta paz que se foi quando um dia eu ousei em teimar com meu coração. Prefiro não pensar nisso, mesmo sabendo que a certeza mais pura de minha vida se deixou levar pelo mais puro e simples medo de ser feliz. Quando me sinto só, não vejo outra forma de não pensar mais e mais em você.

Tive em meus braços a certeza, a luz.. conduzi em meu pranto a mais perfeita companhia que alguém poderia sonhar, compartilhei a felicidade em todas as oportunidades que tivemos... mesmo assim não fui sábio em perceber que você era sem dúvida a certeza mais certa que meu coração poderia encontrar.

Quando olho para trás eu vejo aquele sorriso fácil correndo pelas ladeiras, sinto a mais cristalina e sincera carismas que alguém poderia sonhar em ter.

Estava ao meu lado todo este tempo a razão e a clareza de uma vida alegre e mesmo assim, digo, infelizmente, não fui capaz de dizer não ao medo que um dia assombrou o meu caminho. A solução dos nossos problemas encontrava-se todo este tempo em minhas mãos e por ironia do destino suportei minha indecisão em troca de seu aprendizado.

Gostaria de ser o senhor dos tempos neste momento para voltar a algum lugar do passado e resgatar nossos momentos e levar a seu coração a certeza que o sonho tornou-se realidade, que a verdade que existia em nossos corações seria transparecida de forma gradual a magia que aproximava dois corações.... seu nome ao meu.... por toda nossa vida, até o dia que nossas almas quisessem ir ao encontro do papai do céu...tudo isso seria possível através do amor, aquele que permanece em meu coração.

Todas as noites, todas as manhãs... sempre! Perdi aquilo que todos procuramos, algo que preenchia meu coração de forma integral, como um gás invadindo uma sala em frações de segundo; ao meu ver, creio que a derrota não é apenas um prato que se come frio, sua ausência impacta em minha vida e em meus desejos. Se pude-se voltar ao dia 05 de janeiro de 2008, com certeza estaria confortável em saber que eu teria essa chance de trazer tudo que um dia você sonhou ao seu presente.

Teu corpo junto ao meu comprovava as leis da física.. a química que nos envolvia, nossos momentos.... eram fantasias regadas a prazer carnal e claro sentimental... mesmo não tendo nada assumido, era possível perceber que a amizade era algo importante, mas por detrás deste, existia o calor do coração incendiando ao nosso redor o caminho que talvez poderia nos unir...

Mesmo tendo em meu âmago a certeza da felicidade, mesmo tendo em meu coração a certeza de estar sorrindo, mesmo.... lhe perdi... lhe perdi para a mais justa e certa declaração que eu poderia sofrer... a declaração de quem foi mais sábio em entender que você era única e como tal, deveria ser atacada o mais breve possível pela flecha de um amor correspondido.. te perdi... não para sicrano ou beltrano... te perdi para mim mesmo...

A derrota me ensinou a dar valor aos bens intangíveis, no caso, amor, alegria, tristeza, enfim, me deu clareza em entender que um de nós está bem... mesmo com um discurso lindo e motivacional como esse, choro... choro por ter deixado escapar a certeza de um amor sincero, sem interesses concretos... choro por ter perdido a melhora amiga que eu poderia sonhar em ter...a pessoa que me acompanhava a todos os lugares.... uma pessoa que nunca reclamou em dar a mão para mim, mesmo eu estando errado... uma pessoa que sempre me ligou para falar qualquer coisa, pelo puro e simples desejo de contar algo de seu dia....

Estou chorando não por que você foi embora, mas por minha inocência em não acreditar em uma pessoa tão maravilhosa como você, poderia se encantar por mim....

Gostaria de deixar uma mensagem a todos os navegantes que estão no mar a ver navios, a espera de um amor:
- Ser feliz não é ter o carro do ano, ser rico ou coisa do gênero... ser feliz é você acordar todas as manhãs e agradecer a Deus por ter colocado em seu caminho a pessoa mais certa que você poderia encontrar... ser feliz é você sorrir para alguém sem cobrar algo em troca... ser feliz não é estar na multidão e ser ovacionado por que não lhe conhece... ser feliz é você olhar para o momento e saber que hoje, ontem e sempre, você sempre será a pessoa mais importante para esta independente do que aconteça...

Eu vou te esperar.... sempre (B.Magnoli 21/09/2009)

Eis aqui um pedaço de mim verdadeiro e sem chefe. Que é pesado e viveu uma linda história de amor consigo mesmo. Chegou um dia a me fazer sentir a vida com a maior intensidade que ela podia e encheu meus olhos de lágrimas que não escorriam, mas os faziam brilhar em prisma.

Quis até desistir uma vez do seu ritmo de bater. Porém não viu razão já que não há um humano culpado sequer para isso. Anseou em pular sozinho. Sem instrutor e equipamentos de segurança. Fez a festa e estourou os balões em solidão plena. Cantando uma marcha bonita e pura repetidamente. Com direito a serpentina e confete. Quase um carnaval no escuro vazio.

O timbre e as principais frases da canção ecoam até hoje. Posso cantá-la se um qualquer da rua pedir. A esmo, ao nada, de graça.

A valsa então acabou. Ficou a baderna de pratos, papéis, copos e fantasia espalhados pelo chão. Mal deu tempo de abaixar o som e como estava sem luz, saiu pisando em tudo. Esbarrou em corações vizinhos sem pedir licença, deixando-os desavisados e doloridos. Desses que juram amor eterno, sabe...Pois é, não tinha saída. E ainda não tem.

Esse dia então justificou a si mesmo por nossa simples existência.

Um amor puro torna qualquer indivíduo um ser digno de perdão por sua ousadia e loucura, uma vez que o coração justifica todas as suas ações.

JOSÉ

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio, - e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais!
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja do galope,
você marcha, José!
José, para onde?