Coleção pessoal de dando

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Vida

Já perdoei erros quase imperdoáveis,
tentei substituir pessoas insubstituíveis
e esquecer pessoas inesquecíveis.

Já fiz coisas por impulso,
já me decepcionei com pessoas
que eu nunca pensei que iriam me decepcionar,
mas também já decepcionei alguém.

Já abracei pra proteger,
já dei risada quando não podia,
fiz amigos eternos,
e amigos que eu nunca mais vi.

Amei e fui amado,
mas também já fui rejeitado,
fui amado e não amei.

Já gritei e pulei de tanta felicidade,
já vivi de amor e fiz juras eternas,
e quebrei a cara muitas vezes!

Já chorei ouvindo música e vendo fotos,
já liguei só para escutar uma voz,
me apaixonei por um sorriso,
já pensei que fosse morrer de tanta saudade
e tive medo de perder alguém especial (e acabei perdendo).

Mas vivi!
E ainda vivo!
Não passo pela vida.
E você também não deveria passar!

Viva!

Bom mesmo é ir à luta com determinação,
abraçar a vida com paixão,
perder com classe
e vencer com ousadia,
porque o mundo pertence a quem se atreve
e a vida é muito para ser insignificante.

AS DEZ CLASSES PRINCIPAIS DE SIGNOS SEGUNDO CHARLES SANDERS PEIRCE



Patricia Thomaz
Francisco Machado Filho*


RESUMO:


O presente trabalho apresenta as 10 principais classes de signos, de acordo com a classificação lógica de Charles Sanders Peirce, a partir das relações do signo com ele mesmo, com o objeto e com seu interpretante.


PALAVRAS-CHAVE: Charles Sanders Peirce - Semiótica - Filosofia - Lógica - Signo.



INTRODUÇÃO

A semiótica, cada vez mais, vem sendo utilizada no campo comunicacional como método de pesquisa nas mais diversas áreas, seja nos estudos das linguagens musical e gestual, da linguagem fotográfica, cinematográfica e pictórica, bem como pela linguagem poética, publicitária e jornalística.
Assim, fica cada vez mais evidente a necessidade de se compreender a relação do homem e a infinidade de signos existentes em nossa sociedade atual. A linguagem humana tem se multiplicado em várias formas e novas estruturas e novos meios de disseminação desta linguagem têm sido criado. Já não apenas signos, mas hipersignos híbridos (SANTAELLA, 2000), ou seja, precisamos “ler os signos com a mesma naturalidade com que respiramos, com a mesma prontidão que reagimos ao perigo e com a mesma profundidade que meditamos”. (SANTAELLA, 2000 p. 11).
Para Décio Pignatari, entre as principais finalidades da Semiótica ou Teoria Geral dos Signos, está a indagação sobre a natureza dos signos e suas relações.

Mas, afinal, para que serve a Semiótica? Serve para estabelecer as ligações entre um código e outro código, entre uma linguagem e outra linguagem. Serve para ler o mundo não-verbal: “ler” um quadro, “ler” uma dança, “ler” um filme – e para ensinar a ler o mundo verbal em ligação com o mundo icônico ou não-verbal. A arte é o oriente dos signos; quem não compreende o mundo icônico e indicial não compreende o Oriente, não compreende mais claramente por que a arte pode, eventualmente, ser um discurso do poder, mas nunca um discurso para o poder. (...) A Semiótica acaba de uma vez por todas com a idéia de que as coisas só adquirem significado quando traduzidas sob a forma de palavras. (2004, p. 20).

Charles Sanders Peirce , foi o primeiro a tentar uma sistematização científica do estudo dos signos, com o trabalho Logic as Semiotics: The Theory of Signs (“Lógica enquanto Semiótica: A Teoria dos Signos”) composto pelos artigos escritos entre 1893 e 1910. Sua obra vem inseminando o pensamento e os métodos de numerosos estudiosos como Morris, Ogden, Richards e Roman Jakobson.

Na Europa, os estudos sobre signo e linguagem vêm ganhando grande impulso, de uns anos a esta parte, especialmente graças ao trabalho desenvolvido pela École Pratique des Hautes Études (Centre d’Études de Communications de Masse), de Paris, que edita a revista Comunications, onde se destacam, entre outros, Roland Barthes e Edgar Morin; na Itália, Umberto Eco segue a mesma orientação, que se funda na Lingüística Geral, de Ferdinand de Saussure, cujo pensamento se enfecha no “Cours de Linguistique Générale”, que ministrou na Universidade de Genebra entre 1906 e 1911 e que foi compilado por alguns de seus alunos. Na Europa, a Semiótica é chamada de Semiologia e se apresenta fortemente vincada pelo parti pris lingüístico de suas origens, como se pode observar pela nomenclatura de suas principais noções: denotação e conotação, significante e significado. Porém, mesmo no setor da Lingüística Estruturalista, um Roman Jakobson não oculta suas preferências por Peirce. (PIGNATARI, 1977. p. 27 - 28).

Para Peirce, a Lógica era um outro nome possível para a Semiótica, a teoria geral dos signos, definida por ele, como a doutrina quase-necessária ou formal dos signos.

Por doutrina quase-necessária ou formal, quero significar que observamos os caracteres desses signos tais como os conhecemos, e dessa observação, por um processo que não discordo em chamar de Abstração, somos levados a pronunciamentos eminentemente falíveis e, portanto, nesse sentido, de modo algum necessários, sobre o que devem ser os caracteres de todos os signos usados por uma inteligência “científica”, ou seja, por uma inteligência capaz de aprender pela inteligência. (1931-1958)

Para Peirce, “todo pensamento é um signo”, assim como o próprio homem. “Em qualquer momento, o homem é um pensamento, e como o pensamento é uma espécie de símbolo, a resposta geral à questão: Que é o homem? – é que ele é um símbolo” (idem). A semiótica, portanto, estuda os signos e como eles se relacionam. Mas o que é um signo?

Signo ou Representamen é aquilo que, sob certo aspecto ou modo, representa algo para alguém. Dirige-se a alguém, isto é, cria, na mente dessa pessoa, um signo equivalente, ou talvez um signo mais desenvolvido. Ao signo assim criado denomino interpretante do primeiro signo. O signo representa alguma coisa, seu objeto. Representa esse objeto não em todos os seus aspectos, mas com referência a um tipo de idéia que eu, por vezes, denominei fundamento do representâmen. (1977, p. 46)

A origem da palavra “signo” é explicada por Décio Pignatari.

Pelo menos hipoteticamente, a palavra signo, através do latim “signum”, vem do étimo grego secnom, raiz do verbo “cortar”, “extrair uma parte de” (naquele idioma) e que deu, em português, por exemplo, secção, seccionar, sectário, seita e, possivelmente, século (em espanhol, “siglo”) e sigla. Do derivado latino são numerosas, e expressivas, as palavras que se compuseram em nossa língua: sinal, sina, sino, senha, sineta, insígnia, insigne, desígnio, desenho, aceno, significar etc. (1977, p. 25)

Portanto, o signo não é objeto, é algo distinto, ele está ali, presente, para designar ou significar outra coisa. Para que algo possa ser um signo, esse algo deve representar alguma outra coisa, chamada seu objeto. E ele pode ser perceptível, imaginável ou mesmo inimaginável num certo sentido. Por exemplo: o cheiro da fumaça pode designar fogo. A palavra “estrela”, quando pronunciada, pode significar: astro com luz própria, artista célebre ou sorte.
Peirce, no início de seus trabalhos, estabelece três tricotomias do signo. A primeira tricotomia envolve a natureza material do signo, se dá em relação ao signo consigo mesmo por uma qualidade, uma singularidade ou uma lei geral. Assim, um signo pode ser um quali-signo, um sin-signo ou um legi-signo. A segunda tricotomia diz respeito a relação do signo com seu objeto. Desta forma, um signo pode ser um ícone, um índice ou um símbolo. A terceira tricotomia relaciona o signo ao seu interpretante. Um signo pode ser um rema, um dici-signo ou um argumento. A relação entre estas tricotomias gera 10 classes de signos, formando a percepção que se dá em três níveis: Primeiridade, Secundidade e Terceiridade.
Para ilustrar e esclarecer a divisão das categorias, Pignatari cita o seguinte exemplo:

Estou caminhando por uma via de um grande centro urbano, sem que nenhuma idéia me ocupe a mente de modo particular e nenhum estímulo exterior enrijeça a minha atenção: em estado aberto de percepção cândida, digamos. Ou seja, em estado de primeiridade. Por um acidente qualquer – um raio de sol refletido num vidro de um edifício – minha atenção isola o referido edifício do conjunto urbano, arrancando-me da indeterminada situação perceptiva do estado anterior, ancorando-me no aqui-e-agora da secundidade. Em seguida, constato que essa construção é um “arranha-céu de vidro”, que se insere no sistema criado por Mies van der Rohe, nos anos 20; que Mies, por seu lado, nada mais fez do que desenvolver as possibilidades construtivas do aço e do vidro, coisa que Paxton já havia feito no seu famoso “palace made o’windows” (Thackeray), o Palácio de Cristal, de Londres, em 1851 etc. etc. Este estado de consciência corresponde à terceiridade. (2004, p. 46).


O princípio da razão, aqui no sentido de entendimento, se estabelece com a dúvida. A dúvida foi instituída no pensamento por René Descartes que rompeu definitivamente com a Escolástica e com o modo dicotômico de pensamento. Nesta época o homem construía seu pensamento pela observação e experiência (tentativa e erro). O novo método de pensar formulado por descartes, trouxe um outro elemento, a razão. Peirce também utiliza a dúvida como modo pelo qual o pensamento racional se estabelece, mas incorpora a este modo novos elementos.
Para que exista a dúvida é necessária uma “coisa” primeira. Qualquer coisa, ou pelo menos o nome da coisa. Um pensamento tão primitivo que pode até mesmo ser uma sensação. Assim, temos uma qualidade primeira, ou Primeiridade que é a sensação, uma Secundidade que é a dúvida, e por fim, a reflexão que fazemos no momento Terceiro do pensamento que é denominada de Terceiridade.
Thomaz S. Knight (1965), interpretando espistemologicamente as categorias peirceanas, entende que a primeiridade, referindo-se a um sentido de qualidade ou a uma idéia de sentimento, seria um estado de consciência sobre o qual pouco pode ser afirmado, a não ser em termos negativos: é incomparável, não-relacional, indiferenciado, impermutável, inanalisável, inexplicável, indescritível, não-intelectual e irracional. Tratando-se de consciência instantânea, é não-cognitivo, original, espontâneo; é um simples sentido e qualidade – o sentido de qualidade de uma cor, por exemplo.
Já a secundidade, segundo Knight (1965), é uma idéia de fato, de luta, de resistência, de poder, de volição, de esforço. Realiza-se ou é percebida nos estados de “choque”, surpresa, ação e percepção. Metafisicamente, caracteriza-se pela alteridade, pelo não-ego. O aqui-e-agora de uma qualidade constitui uma secundidade.

Não é um conceito, nem uma qualidade peculiar: é uma experiência. Manifesta-se plenamente no choque da reação entre ego e não-ego. Aí está a dupla consciência do esforço e da resistência. É algo que não pode ser propriamente concebido, pois concebê-lo é generalizá-lo e generalizá-lo é perder o aqui e o agora que constituem a sua essência. (precisa da referência)

A terceiridade não é apenas a consciência de algo, mas também a sua força ou capacidade sancionadora – “o delegado do tribunal de justiça”. Sendo cognitiva, torna possível a mediação entre primeiridades e secundidades. A terceiridade implica generalizações e lei – na previsibilidade dos fatos.


10 CLASSES DE SIGNO


A classificação dos signos foi uma das grandes contribuições de Charles Sanders Peirce à Semiótica ou Ciência do Signo. Um estudioso da lógica, Peirce estabeleceu 10 tricotomias, isto é, 10 divisões triádicas do signo de cuja combinatória resultam inúmeras classes. “Por volta de 1906, Peirce descobriu que existem 10 tricotomias e 66 classes de signos. A análise das divisões adicionais nunca foi satisfatoriamente completada” (1977, p. 51) Sobre isto, Peirce já havia advertido: “Não assumirei o encargo de levar minha sistemática divisão dos signos mais longe, mas deixarei isso para futuros exploradores”. Dentre as 66 classes, há dez principais, às quais ele dedicou observações detalhadas.
As 10 classes se estabelecem na relação do signo consigo mesmo (Quali-signo, Sin-signo, Legi-signo), do signo com seu objeto (Ícone, Índice, Símbolo) e do signo com seu interpretante (Rema, Dicente, Argumento). Como explica Santaella:

Cada uma dessas divisões foi então re-subdividida de acordo com as variações próprias das categorias de primeiridade, secundidade e terceiridade. Os signos em si mesmos podem ser: 1.1 qualidades; 1.2 fatos; e 1.3 ter a natureza de leis ou hábitos. Os signos podem estar conectados com seus objetos em virtude de: 2.1 uma similaridade; 2.2 de uma conexão de fato, não cognitiva; e 2.3 em virtude de hábitos (de uso). Finalmente, para seus interpretantes, os signos podem representar seus objetos como: 3.1 sendo qualidades, apresentando-se ao interpretante como mera hipótese ou rema; 3.2 sendo fatos, apresentando-se ao interpretante como dicentes; e 3.3 sendo leis, apresentando-se ao interpretante como argumentos. Dessas nove modalidades, Peirce extraiu as combinatórias possíveis. Aquilo que um signo representa para seu objeto dependerá, em parte, do tipo de conexão entre signo e objeto e a espécie de conexão dependerá do caráter ou natureza do próprio signo (1995, p. 121).

Observemos o quadro a seguir:



Na primeira linha horizontal, temos R (representamen), O (objeto) e I (interpretante). Na primeira linha vertical, temos as categorias P (primeiridade), S (secundidade) e T (terceiridade). Na segunda linha vertical, temos a relação dos signos em si mesmos: qualidades (quali-signo); fatos (sin-signo) e natureza de leis ou hábitos (legi-signo). Na terceira linha vertical, percebemos a relação dos signos com seus objetos: por similaridade (ícone); conexão de fato, não cognitiva (índice) e hábitos de uso (símbolo). Finalmente, na última linha vertical, verificamos a relação dos signos com seus interpretantes: qualidades, apresentando-se ao interpretante como mera hipótese (rema); sendo fatos (dicentes) e sendo leis (argumentos). As combinações lógicas das tricotomias acima citadas resultaram nas dez classes:

I. Quali-signo, icônico, remático.
II. Sin-signo, icônico, remático.
III. Sin-signo, indicativo, remático.
IV. Sin-signo, indicativo, dicente.
V. Legi-signo, icônico, remático.
VI. Legi-signo, indicativo, remático.
VII. Legi-signo, indicativo, dicente.
VIII. Legi-signo, simbólico, remático.
IX. Legi-signo, simbólico, dicente.
X. Legi-signo, simbólico, argumental.

Sobre as três tricotomias mais importantes – as referentes ao signo, ao objeto e ao interpretante – Pignatari explica que, no “vértice-do-signo” (considerando em si mesmo), pode ser classificado em qualissigno, sinsigno e legissigno, que correspondem pela ordem, à primeiridade, secundidade, terceiridade.

Qualissigno – uma qualidade que é um signo; só é signo quando fiscalizado (embodied), mas não é a fiscalização que o caracteriza como signo.
Sinsigno (Sin= “aquilo que é uma vez só”, como em “singular”) -´coisa ou evento realmente existente que é um signo; envolve um ou mais qualissignos.
Legissigno – uma lei que é um signo. É um tipo geral, e não um objeto singular. É um protótipo, diríamos – em termos de design – que se manifesta e se significa por corporificações concretas, chamadas réplicas. Mas a réplica é um sinsigno, pois toda réplica é um objeto singular, tal como acontece com as palavras ou com os produtos fabricados em série. (2004, p. 51)

No “vértice-do-objeto”, o signo (em relação ao seu objeto) pode ser um ícone, um índice ou um símbolo.

Ícone (escala de correspondência: primeiridade, sintaxe, qualissigno, possibilidade) – é um representame que, em virtude de qualidades próprias, se qualifica em relação a um objeto, representando-o por traços de semelhança ou analogia, e de tal modo que novos aspectos, verdades ou propriedades relativos ao objeto podem ser descobertos ou revelados. Há ícones degenerados, representames icônicos, que Peirce denomina hipoícones, classificando-os em três tipos: Imagens, Diagramas e Metáforas.
Índice (escala de correspondência: secundidade, semântica, sinsigno, existente) – signo que se refere ao Objeto designado em virtude de ser realmente afetado por ele. Tendo alguma qualidade em comum com o objeto, envolve também uma espécie de ícone, mas é o fato de sua ligação direta com o objeto que o caracteriza como índice, e não os traços de semelhança. Há ícones degenerados, já convencionalizados: um nome próprio, um pronome pessoal.
Símbolo (escala de correspondência: terceiridade, nível pragmático, legissigno, lei ou pensamento) – signo que se refere ao Objeto em virtude de uma convenção, lei ou associação geral de idéias. Atua por meio de réplicas. Implica idéia geral. Envolve um índice, embora de natureza peculiar, como foi observado acima a respeito do sinsigno. A palavra é o símbolo por excelência.
(2004, p. 52 – 53)

No “vértice-do-interpretante”, o signo (em relação ao seu interpretante), pode o signo dividir-se em: Rema, Dicissigno e Argumento.

Rema (escala de correspondência: primeiridade, sintaxe, qualissigno, ícone, possibilidade) – signo, para o seu interpretante, de uma possibilidade qualitativa; termo ou função proposicional que representa tal ou qual espécie de objeto possível, destituída da pretensão de ser realmente afetada pelo objeto ou lei à qual se refere.
Dicissigno ou Signo Dicente (escala de correspondência: secundidade, semântica, sinsigno, índice, existente) – signo, para seu interpretante – de existência real. É uma proposição ou quase-proposição envolvendo um Rema.
Argumento (escala de correspondência: terceiridade, nível pragmático, legissigno, símbolo, lei) Signo – para seu interpretante – de uma lei, de um enunciado,de uma proposição-enquanto-signo. Ou seja, o objeto de um Argumento, para o seu interpretante, é representado em seu caráter de signo; esse objeto é uma lei geral ou tipo. Envolve um Dicissigno. (2004. p. 54)



1ª CLASSE
Quali-signo Icônico Remático

Peirce explica:

É uma qualidade qualquer, na medida em que é um signo. Dado que uma qualidade é tudo aquilo que positivamente é em si mesma, uma qualidade só pode denotar um objeto por meio de algum ingrediente ou similaridade comum, de tal forma que um Qualissigno é necessariamente um Ícone. Além disso, como uma qualidade é uma simples possibilidade lógica, só pode ser interpretada como um signo de essência, ou seja, um Rema. (1962, p. 105)

Como exemplos, podemos citar:
n Uma pintura abstrata considerando a sua qualidade primeira – Sensação - (cores, luminosidade, textura), sem tentarmos interpretar (nivel da Primeiridade).
n Lúcia Santaella cita ainda uma tela de cinema que, durante alguns instantes, é uma cor vermelha forte e luminosa, como no filme “Gritos e Sussuros” de Bergman (2003, p.63).
Podemos concluir que é a qualidade apenas que funciona como signo, que se dirige a alguém e produz na mente alguma coisa como uma sensação. Santaella complementa:

Um rema é um signo que é interpretado por seu interpretante final como representando alguma qualidade que poderia ser encarnada em algum objeto possivelmente existente. É assim que o quali-signo é compreendido no interpretante final, como presença de um signo de uma qualidade que poderia estar corporificada em alguma ocorrência ou alguma entidade apenas possível. Na lógica, o rema corresponde ao que Bertrand Russel chamava de função proposicional. Por exemplo: ‘... é preto’, ‘... é um cavalo’, ‘... é guerra ou paz’. (1995, p. 188).



2ª CLASSE
Sin-signo Icônico Remático

Segundo Peirce é “todo objeto de experiência na medida em que alguma de suas qualidades faça-o determinar a idéia de um objeto. Sendo um Ícone e, com isso, um signo puramente por semelhança de qualquer coisa com que se assemelhe, só pode ser interpretado como um signo de essência, ou Rema. Envolve um Quali-signo” (1962, p. 105).
Exemplos:
n A triangulação para representar os três pólos que constituem um signo e suas relações:


Significado /
Interpretante
Representamen / Significante Objeto / Referente


n Um organograma que represente a hierarquia de uma empresa específica:



Visto que são de existência definida, representam as partes de seu objeto e suas relações análogas. Nivel de Secundidade (há uma relação). Santaella traz a seguinte explicação:

Por exemplo, um diagrama individual como um objeto da experiência é um sin-signo, mas se alguma de suas qualidades o leva a determinar a idéia de um objeto, será um ícone, isto é, um signo puramente por semelhança, de seja lá o que for com que se assemelhe. Assim sendo, só pode ser interpretado como um rema, um possível. Mais uma vez, não apenas o quali-signo e o sin-signo icônicos, mas também o sin-signo indicial poderá ser um rema. (1995, p. 188)




3ª CLASSE
Sin-signo Indicativo Remático

É todo objeto da experiência direta na medida em que dirige a atenção para um objeto pelo qual sua presença é determinada. Envolve necessariamente um Sin-signo Icônico de um tipo especial do qual, no entanto, difere totalmente dado que atrai a atenção do intérprete para o mesmo objeto denotado. (PEIRCE, 1962, p. 105)


Exemplos:
n Ao levar um susto, João deu um pulo espontâneo (e assim dirigiu a atenção para o objeto que o causa – o susto).
n O aluno ficou corado de vergonha ao levar uma bronca da professora.
n Risada de um bebê.
Está no nivel de Primeiridade (sensação).


4ª CLASSE
Sin-signo Indicativo Dicente

É todo objeto da experiência direta na medida em que é um signo e, como tal, propicia informação a respeito de seu objeto, isto só ele pode fazer por ser realmente afetado por seu objeto, de tal forma que é necessariamente um Índice. A única informação que pode propiciar é sobre um fato concreto. Um Signo desta espécie deve envolver um Sin-signo Indicial Remático para indicar o objeto ao qual se refere a informação. Mas o modo de combinação, ou Sintaxe, destes dois deve ser significante. (PEIRCE, 1962, p. 105)

Exemplos:
n Flor Onze Horas que só abre às 11h (indica o horário – confere uma informação concernente à existência concreta);
n Pegadas na areia (indicam que alguém passou por ali);
n Ponteiro da Bússola (indica o Norte).
Está no nivel de Secundidade (pois não está mais no puro sentir e é anterior a mediação do pensamento articulado, porém exige início do raciocínio, além disso, há uma relação). Lúcia Santaella explica:

No Nível de Secundidade, o dicente (ou dici-signo ou fema ou quase proposição) é um signo que será interpretado pelo seu interpretante final como propondo e veiculando alguma informação sobre um existente, em contraposição ao ícone, por exemplo, do qual só se pode derivar informação. O meio mais fácil de reconhecer o dicente é saber que ele ou é verdadeiro ou é falso, mas em contraposição ao argumento, o dicente não nos fornece razões por que é falso ou verdadeiro. Ele é um signo puramente referencial, reportando-se a algo existente. Desse modo, seu interpretante terá uma relação existencial, real com o objeto do dicente, tal como este mesmo tem. (1995, p.190)


5ª CLASSE
Legi-signo Icônico Remático

É todo tipo ou lei geral, na medida em que exige que cada um de seus casos corporifique uma qualidade definida que o torna adequado para trazer à mente a idéia de um objeto semelhante. Sendo um Ícone, deve ser um Rema. Sendo um Legi-signo, seu modo de ser é o de governar Réplicas singulares, cada uma das quais será um Sin-signo Icônico de um tipo especial. (PEIRCE, 1962, p. 106)

Exemplos:
n Um gráfico que represente o crescimento da exportação no Brasil.



Ou ainda qualquer diagrama em geral sem estar ligado a algo particular (é uma convenção/ lei que se apresenta como signo de algo). Está no nivel de Terceiridade (pensamento articulado). Santaella complementa:

Por exemplo, um diagrama, se desconsiderarmos sua individualidade factual e atentarmos para a sua lei ou tipo geral que, funcionando iconicamente, exige que cada um dos seus casos incorpore uma qualidade definida que o torna apto a despertar, no espírito, a idéia de um objeto semelhante; então, em relação ao interpretante, esse diagrama será um rema. (1995, p. 189)


6ª CLASSE
Legi-signo Indicativo Remático

É todo tipo ou lei geral, qualquer que seja o modo pelo qual foi estabelecido, que requer que cada um de seus casos seja realmente afetado por seu objeto de tal modo que simplesmente atraia a atenção para esse objeto. Cada uma de suas Réplicas será um Sin-signo Indicial Remático de um tipo especial. O interpretante representa-o como um Legi-signo Icônico, e isso ele o é, numa certa medida – porém numa medida bem diminuta. (PEIRCE, 1962, p. 106)

Exemplos:
n - “Pai, o que é aquilo?” - “Aquilo é uma pipa” (pronomes demonstrativos: este, aquele, isso, aquilo, etc., pois dão idéia de indicação);
n A sirene de uma ambulância.

Todas as palavras, por exemplo, são legi-signos, e, por pertencerem ao sistema de uma língua, sempre altamente arbitrário e convencional, estão relacionadas simbolicamente aos seus objetos. Mas há palavras, tais como “isto”, “aqui”, “eu” etc., (...) cuja relação indicial é proeminente. (SANTAELLA, 1995, p. 176)


7ª CLASSE
Legi-signo Indicativo Dicente

É todo tipo ou lei geral, qualquer que seja o modo pelo qual foi estabelecido, que requer que cada um de seus casos seja realmente afetado por seu objeto de tal modo que forneça uma informação definida a respeito desse objeto. Deve envolver um Legi-signo Icônico para significar a informação e um Legi-signo Indicativo Remático para denotar a matéria dessa informação. Cada uma de suas Réplicas será um Sin-signo Dicente de um tipo especial. (PEIRCE, 1962, p. 106)



Exemplos:
n Uma placa indicando que aqui é estacionamento exclusivo para pessoas portadoras de deficiência.


“Aqui” ou “ali” são lugares singulares (sin-signo dicente), e, a informação definida/ concreta veiculada é o estacionamento exclusivo de pessoas portadoras de deficiência.


n Um cartaz significando proibido fumar.




8ª CLASSE
Símbolo Remático ou Rema Simbólico

É um signo relacionado com seu objeto por uma associação de idéias gerais, de maneira tal que sua Réplica desperta uma imagem no espírito, imagem que, devido a certos hábitos ou disposições daquele espírito, tende a produzir um conceito geral, sendo a Réplica interpretada como signo de um objeto que é um caso daquele conceito. Assim o símbolo Remático ou é ou muito se assemelha ao que os lógicos denominam Termo Geral. O Símbolo Remático, como qualquer Símbolo, participa necessariamente da natureza de um tipo geral e é, assim, um Legi-signo. Sua Réplica, todavia, é um Sin-signo Indicativo Remático de tipo especial, no sentido de que a imagem que surge ao espírito atua sobre um Símbolo, para dar surgimento a um Conceito Geral. (PEIRCE, 1962, p. 106)

Exemplos:
n Os substantivos comuns – as palavras de modo geral (pois possuem idéia geral devido a uma convenção de idéias/lei);
n “Leão” (para designar força e nobreza) e outras metáforas;
n Bandeira branca (paz, trégua).
Nivel de Terceiridade (pensamento articulado). Tomemos a palavra “homem” como exemplo de um legi-signo simbólico. Peirce diz:

Falamos de escrever ou pronunciar a palavra ‘homem’, mas isso é apenas uma réplica ou materialização da palavra que é pronunciada ou escrita. A palavra, em si mesma, não tem existência, embora tenha ser real, consistindo em que os existentes deverão se conformar a ela. É um tipo geral de sucessão de sons, ou representamens de sons, que só se torna um signo pela circunstância de que é um hábito ou lei adquirida levam as réplicas, a que essa sucessão dá lugar, a serem interpretadas como significando um homem. Tanto as palavras quanto seus signos são regras gerais, mas a palavra isolada determina as qualidades de suas próprias regras. (1995, p. 176)


9ª CLASSE
Símbolo Dicente ou Proposição Ordinária

É um signo ligado a seu objeto através de uma associação de idéias gerais e que atua como um Símbolo Remático, exceto pelo fato de que seu pretendido interpretante representa o Símbolo Dicente como, sendo, com respeito ao que significa, realmente afetado por seu objeto, de tal modo que a existência ou lei que ele traz à mente deve ser realmente ligada com o objeto indicado. Assim, o pretendido interpretante encara o Símbolo Dicente como um Legi-signo Indicativo Dicente; e se isto for verdadeiro, ele de fato compartilha dessa natureza. Tal como o Símbolo Remático, é necessariamente um Legi-signo. Tal como o Sin-signo Dicente, é composto, dado que necessariamente envolve um Símbolo Remático para exprimir sua informação e um Legi-signo Indicativo Remático para indicar a matéria dessa informação. Mas a sintaxe destes é significativa. A Réplica do Símbolo Dicente é um Sin-signo Dicente de um tipo especial. Percebe-se facilmente que isto é verdade quando a informação que o Símbolo Dicente veicula refere-se a um fato concreto. Não pode veicular informação de lei. (PEIRCE, 1962, p. 107)

Exemplos:
n A afirmação: “Nenhum cisne é negro”.
n “Pode trovejar sem chover”.
n Qualquer proposição do tipo “A é B”.
Nivel de Terceiridade (pensamento articulado). Santaella explica:

Para distinguir a proposição, que é um dici-signo simbólico, de um dici-signo indicial, Peirce deu o exemplo da fotografia. A mera impressão, em si mesma, não veicula informação nenhuma, mas o fato de a fotografia ser virtualmente uma secção de raios projetados a partir de um objeto conhecido sob outra forma, torna-a um dici-signo, pois todo dici-signo é uma determinação ulterior de um signo já conhecido do mesmo objeto. (1995, p. 192)


10ª CLASSE
Argumento

É um signo cujo interpretante representa seu objeto como sendo um signo ulterior através de uma lei, a saber, a lei segundo a qual a passagem dessas premissas para essas conclusões tende a ser verdadeira. Manifestamente, então, seu objeto deve ser geral, ou seja, o Argumento deve ser um símbolo. Como Símbolo, ele deve, além do mais, ser um Legi-signo. Sua Réplica é um Sin-signo Dicente. (PEIRCE, 1962, p. 108)

Isto pode acontecer de três modos: Deduções, Induções e Abduções.
Ou seja, um Argumento é um signo de raciocínio lógico que relaciona premissas sugerindo uma conclusão verdadeira. Nivel de Terceiridade.
Exemplos:
n Formas poéticas,
n Resenhas,
n Letras de música.

Como podemos observar, as três tricotomias resultam, juntas, na divisão dos signos em 10 classes, que nada mais são do que o desdobramento lógico das combinações possíveis entre as tríades. Não existe signo puro, mas características predominantes. Bem afirmou Umberto Eco:

A verdade é que, como diz Peirce, é um terrível problema dizer a que classe um signo pertence. Isto significa que os signos podem assumir características diversas segundo os casos e as circunstâncias em que usamos, até porque têm um caráter fundamental comum – objecto de uma teoria unificada de signo que supere as várias classificações. (1997, p.67)

CONCLUSÃO

A Teoria dos Signos, criada por Charles Peirce, desempenha um papel de extrema importância em diversos estudos do campo comunicacional. Peirce rompeu com a dicotomia significante/significado, esclarecendo o processo de significação, com sua noção de interpretante. Também propôs as tricotomias do Signo em relação a si mesmo, ao seu objeto e ao seu interpretante. Nunca chegou a dar como rigorosamente acabada a sua divisão e classificação dos diferentes tipos de signos. Mas a classificação mais importante do signo peirceano é a que o divide as três tricotomias e as 10 classes principais, embora Peirce afirme também a existência de 10 tricotomias e 66 tipos diferentes de signos, entretanto, nomeia apenas o seu modo de geração, e não cada classe em particular.
Assim, um signo nunca aparece como signo "puro". A tricotomia peirceana é um método de análise que permite distinguir entre diferentes aspectos da semiose, mas, quanto à sua realização ou ocorrência no mundo, nenhum signo pertence exclusivamente a uma destas classes. Os signos podem assumir características diversas segundo os casos e as circunstâncias em que usamos. Todos necessitam, como vimos nas definições, do tipo de signo de ordem anterior (ou seu contexto). Como dizia Peirce, “todo signo tem um preceito de explicação, segundo o qual ele deve ser entendido como uma espécie de emanação de seu objeto”.
Este processo é contínuo. O signo e sua explicação formam outro signo. E este provavelmente exigirá uma explicação adicional, o que formará um signo ainda mais amplo. E assim, sucessivamente. As afirmações podem ser falíveis, como advertiu Peirce diversas vezes. “Na comunidade de estudiosos, o processo global de desenvolvimento dessas formulações através da observação e do raciocínio abstrativo de verdades que devem permanecer válidas quanto a todos os signos utilizados por uma inteligência científica, constitui uma ciência da observação, como qualquer outra ciência positiva, não obstante seu acentuado contraste com todas as ciências especiais que surge de sua intenção de descobrir o que deve ser e não simplesmente o que é no mundo real” (1977, p. 45).
A grande contribuição de Peirce, foi exatamente criar um modo onde podemos classificar um signo por meio de um método lógico. Peirce tentou fundar uma ciência geral dos signos que pudesse dar conta do mundo, da experiência humana e garantir a sua comunicabilidade. Sua reflexão sobre a linguagem, o signo e significação pontua os momentos mais importantes da história do pensamento ocidental.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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SANTAELLA, Lúcia. O que é semiótica. 19ª reimp. São Paulo: Brasiliense, 2003.

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