Coleção pessoal de Christopher_Bennett
Poema - Vodu
.
Dois botões
de um casaco,
duas cores
— O olhar dela —
Seu cabelo
arrancado
de almas mortas,
cheira a terra:
Com seus pontos
de remendo
( sendo pano
Empoeirado )
Seu vestido
nem os ventos —
quem ousou
Soprá-lo?
Maquiada
pelas traças,
Costurada
por aranhas —
É mestiça
é de palha
e também
porcelana!
— Das costelas
dela, um fio
Se soltando
é sombrio:
e vê caindo
das entranhas
tristes ossos
Estridentes,
Recheada
com agulhas
com unhas
E até dentes —
mais assombro
causa o nome
da boneca
De presente! ( ... )
- Lemos de Sousa
@lemo.sdesousa
Poema - Gárgula
.
Eu vi um santo
muito feio
Se sentar
aos pés
De uma Cruz —
Se chovia
suas asas
Lhe estendia
como taças
e bebia
água benta
aparada
de Jesus:
Era alado,
tinha um falo
Parecia
ser Diabo,
mas chorava
aos pés
De uma Cruz! —
Tinha garras
tinha presas,
Eram chifres
a tiara
que o adornava
e adorava —
abaixava
a cabeça!
Eu vi um santo,
dava medo:
Vi no topo
de uma igreja
e ele ria
sem sossego,
Com esgar
e incertezas —
Ele ria
quem olhasse
para o trono
das estrelas! ( ... )
- Lemos de Sousa
@lemo.sdesousa
Poema - Pássaros
.
Tenham pena,
suas Asas,
dissecadas
De pancada
debatidas
Por Canção —
se elas partem
meu telhado
se elas caem
Separadas
se elas chovem
Solidão:
Sacrifícios
de silêncio
artifícios
do Deus tempo,
pra tingirem
de tormento
pra escreverem
de vermelho
Na entrelinha
dessas mãos —
tenham pena
suas Asas
Arrancadas
como as minhas
costuradas
Na Canção,
se os meus Versos
são gaiolas
se a Minh'alma
nunca chora
porque a delas
foi embora —
é que as aves
estão mortas
e eu roubei
a Canção! ( ... )
- Lemos de Sousa
@lemo.sdesousa
Poema - Paimon
.
Ó andarilho —
Conquistador
da torre negra!
Senhor bastardo
que Serpenteia
e deus herdeiro
das Areias! —
Sopra a ampulheta
entre os meus olhos
que marca o tempo
de tua estrela:
Vem, anuncia
o aluvião!
Não silencia
a tempestade
que percorrendo
o meu Deserto
é um império
até então! —
Vem, andarilho,
reinar o pó
de minhas mãos —
elas são duas!
Vem, e confunda,
e ruja as mãos
e essas palavras,
elas são tuas!
Vem, andarilho,
veja o teu filho —
e como Dário,
como Alexandre
ou como Ciro
Ouve o meu Verso
entre o alaúde,
o dromedário
e o nosso Exílio! ( ... )
- Lemos de Sousa
@lemo.sdesousa
Poema - És
És qual cantiga de ninar
a um sepulcral descanso;
O sopro frio de inverno
em secas folhas de outono ...
És do jardim da solidão,
pétala, e caíra ...
Assim pálida de adeus,
de abismos esculpida!
És raio de sombra de um sonho
e não se sonha em trevas;
Como descarnado abraço
que o amor desaconchega ...
És aos campos-santos
poesia de epitáfios
Pútrido coração
e deformada paixão não igualo ...
És a beijos de distância
folha a fio levada
Íris cadente alinhada
a luar em febril lábio ...
És das lágrimas mais puras,
desnuda não cairá
Comum brinde de corpos
por tênue sopro de amar! ...
Lemos de Sousa
@lemo.sdesousa