Coleção pessoal de CarlaGP
"O inferno é a inviabilidade de redenção, ou seja: a pessoa está aprisionada na imanência de uma dor para a qual não há saída. Daí o desespero. Daí o ódio devotado a todos os que não se encontram em tal situação. Daí a inveja. Daí a língua pródiga em blasfemar contra tudo
Nesta vida, deparamos com vários exemplos de gente derrotada pela angústia, de gente decaída no desespero, de gente refém das próprias murmurações e detrações.
Deus nos livre de chegar a tal estado, arquétipo da esterilidade espiritual em que uma pessoa, com grave culpa, se fecha à possibilidade de reorientar o vetor de sua vida.
Tais criaturas nos mostram que o inferno é logo ali, e ai de nós se não estivermos vigilantes".
"Disseminar o pânico e propor soluções para resolver os problemas que dele decorrem é a maneira mais eficaz de hipnotizar as massas e, em seguida, manipulá-las.
O século XXI promete deixar no chinelo o monstruoso século XX".
"Não existe lealdade a pessoas, grupos ou projetos. Só existe genuína lealdade à verdade; o resto são formas de acumpliciameto mais ou menos deplorável.
Só os verazes são leais, e como a veracidade requer um conjunto de virtudes para deitar raízes na alma de alguém, como coragem e humildade, para citarmos apenas duas, entende-se o porquê de as pessoas leais serem tão poucas neste mundo.
Quem é leal por interesse, seja este qual for, é um Judas por vocação".
"As pequenas provações, que são as da vida inteira, exigem-nos paciência e constância; as grandes, que são excepcionais, demandam coragem e fidelidade à verdade.
Quem se arma destas quatro virtudes morais se aperfeiçoa aos poucos e logra ter sólida fortaleza, virtude cardeal distintiva das personalidades maduras.
Ou isto, ou a paulatina degradação do caráter por ninharias, até se chegar à autocomiseração e desta à inclemência, pois quem tem pena de si mesmo não sente compaixão por ninguém e se faz implacável em seus julgamentos.
A pessoa de alma molenga é injustamente dura com o próximo, sempre".
"Cedo ou tarde, a bondade precisa passar pela prova do heroísmo, sem a qual não chega a ser mais que veleidade".
"Induzir jovens a entrar em contendas intelectuais é matar as suas inteligências e, por via de conseqüência, atrofiar a vida moral deles. Fazer isso é inviabilizá-los, torná-los – a médio e longo prazos – incapazes de perceber as verdades mais sutis e decisivas, tanto no âmbito da razão prática, como no da especulativa.
Em suma, oferecer narcóticos utopistas a discípulos inexperientes é condená-los à imaturidade e à esterilidade. Portanto, o professor que enche de caraminholas quixotescas a cabeça dos seus jovens alunos é réu de crime de lesa-inteligência. Platão – o pagão Platão! – dizia que a boa formação consistia em estimular os mais capazes a adquirir, a partir dos 20 anos, uma visão de conjunto (σύνοψις = sýnopsis) da ordem do ser; a fazer, a partir dos 30, o trânsito do sensível ao inteligível; e a contemplar, a partir dos 50, a Idéia de Bem, modelo das discussões dialéticas e das decisões de Estado.
Cabe, sim, matizar e fazer algumas correções a esta doutrina, mas o espírito prudencial que a conforma é acertado.
Górgias e seus companheiros de travessuras sofísticas, que deram de ombros a esta lição, desencaminharam – e continuam a desencaminhar, no decorrer dos séculos – inúmeros incautos, às vezes em nome de Deus."
"De ordinário, pessoas enganadas recusam-se a admitir que foram feitas de idiotas; preferem negar a realidade a mostrar as chagas abertas do seu orgulho ferido. Pessoas que enganam muito menos admitirão suas fraudes, por razões óbvias. Há, pois, um pacto tácito entre o enganador e boa parte dos indivíduos enganados por ele: todos – por diferentes motivos – preferem esconder os delitos de que participaram como criminoso e vítimas, respectivamente.
O problema é quando as vítimas, levadas a um estado de pânico, não apenas são convencidas pelo embusteiro a agir desta ou daquela maneira, como também tentam convencer outras pessoas a caírem no mesmo engano.
Neste caso, deixam de ser apenas vítimas para tornarem-se vítimas e cúmplices, a um só tempo".
"Quem deseja o impossível acaba doido; quem espera o impossível acaba mau.
Neste último caso, trata-se de um desespero travestido de esperança, e ninguém chega a isso sem malícia".