Coleção pessoal de camargoeb

Encontrados 17 pensamentos na coleção de camargoeb

paredes
(mesmo as de vidro)
são masmorras por certo
nos comprimem a morte
de forma lenta e gradual
sem ao menos sair do lugar

Demônios são criaturas que tem o saber como uma de sua fomes,
a ignorância dos homens aguça mais os seus apetites.

Sempre imaginei que livros queimados em praça pública em manifestações nazistas, livros queimados em fogueiras de autos de fé, livros triturados e amalgamados em novo papel higiênico, se transportavam para as bibliotecas do inferno. Os destruidores da Biblioteca de Alexandria, trazidos ali originalmente para cuidar dos volumes desta, catalogavam e cuidavam deste precioso acervo. Depois, bibliotecários sádicos, maus poetas e beletristas, passaram a cumprir ali seu castigo eterno. Mais tarde ainda censores papais e de insipientes ditaduras completaram os cargos remanescentes.

sempre por amor
se matou e se deixou matar
e assim será por séculos e séculos

os cabelos de minha amada
novelo de Ariadne
me conduzem pela noite escura
pelos labirintos que me afligem

esses cabelos de minha amada
têm cheiro de erva e flores
é como retorno a casa
terraço a contemplar deserto
animal de fruto liberto
os cabelos de minha amada

tenho receio de escusas
se estas se multiplicam miríades de estrelas
desculpas são como mentiras
não se prescindem umas das outras
e se multiplicam ao infinito

meu avô materno tocava ocarina
um pedaço de barro que soa como um oboé
por mais que tentasse
nunca consegui imitá-lo
tocar ocarina foi meu primeiro de sucessivos fracassos

quartos de guardados são cemitérios de almas
não há paraíso para reminiscências
há sempre improvisos de inferno
tentação de olhar para trás

ai daquele que confia sua dor aos outros
mal aventurado o que mente
o que planta sementes em terrenos estéreis
o que busca água nos desertos
o que despreza o mar por ser grandioso
e busca alento nos regatos das montanhas

o poeta e o louco da aldeia tem o mesmo destino
de acreditar que insensatez é verdade
de ter poder de criar mundos com palavras
melhor o palhaço que faz rir
e ri de todos
guardando o choro para o escondido das cortinas

aquele que vive entre serpentes:
sibila

o pires sustenta a xícara
se movido
moverá o universo
se universo se perderá no branco


uma formiga peregrina na parede
em um passeio marcial
carregando o infinito em suas patas

psicografar poemas
dar voz a velhos
fantasmas
é ato perigoso
qual dançar sobre
abismos

é torcer tramas de corda
para o próprio enforcamento

(toda mulher é um vulcão domesticado
a guardar terremotos em seus zelos
e perigosos orgasmos)

quero uma mulher que seja tu agora
e nos séculos dos séculos dos séculos

tenho o estranho hábito
de comer maçã olhando o horizonte
esta insondável natureza
de degustar nuvens com os olhos
em insolência aristocrática