Coleção pessoal de barrudas

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Ao coração,

Os dias voam se arrastando, como quem quer e não quer acabar depressa. Suplico saber se todos eles serão assim. Com os mesmos traços, com o mesmo fim. Imagino de relance que tudo terminou, e antes do final tudo se reitera mais uma vez. No meu calendário não consta emoção, paixão e intensidade. Por onde andam? Se por acaso souberes, diga que venham aqui me aliviar desses dias vadios. Se puder também, traga junto com eles uma dose de sexta-feira com uma beira de sábado, pretendo acordar noutro fim de semana.

Sonhei que a vida não era apenas um mundo abstrato capaz de conter todas as minhas informações pessoais e gostos. Sonhei que o menino branco queria ser igual ao menino preto, e o preto igual o branco. Em meu sonho José e Pedro eram tão felizes e respeitados quanto João e Maria. Em meu país existia um cuidado especial pelas vidas que formam a sua própria pátria. A pátria era querida e espelhada pela sua família. Os garis e operários tinham o mesmo prestígio que os mestres e doutores. Me lembro que a justiça não tardava e nem falhava. No meu sonho não se tinha dor e sofrimento, apenas paz e satisfação.

Cá estou mais uma vez. Com o olhar perdido e o pensamento carregado. Travo dentro de mim a disputa entre diversas personalidades distintas que dialogam entre si. Sou um mero telespectador na prosa desses seres. Evidencio que não tenho domínio no que me dá. Eles independem de mim. Penso que sou apenas um portador de voz para os manifestantes. Me desprendo do monótono e deixo que formem o que chamo de “eu”. Afinal, o que seria de mim sem eu?