Coleção pessoal de aratykyra

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Nosso narrar é como as águas em movimento com fluxos tecidos no espírito e que, nas raízes cantam nossa história. Palavras são sementes que plantamos para que continuem a crescer fortes e em árvores nossos filhos ainda possam ler nas folhas os saberes do nosso povo.

Etnomídia é uma ferramenta de empoderamento cultural e étnico, por meio da convergência de várias mídias dentro de uma visão etno. Por isso o uso deste prefixo. Ela é uma forma de promover a descolonização dos meios de comunicação, podendo ser executada por diferentes identidades étnicas e culturais. A apropriação dos meios de comunicar tornou possível aos povos serem seus próprios interlocutores.

A cada respiração a magia da vida nos conecta a todos os seres, nesse momento nosso coração não pertence apenas a nós, mas a toda humanidade.

O ciclo de cada existência é como a vida de uma árvore, desde o inicio de suas raízes. Quando se perde parte das raízes, a árvore jamais volta a ser o que era antes, assim como o ser humano que esquece sua essência, mascarando sua verdadeira face, esquecendo que na vida ele não é dono de nada e sim parte do todo. A terra que pisamos não é nossa e sim parte do que somos, cuidamos dela e ela cuida de nós.

Nas salas de aula ao professor é dado esse desafio, nossa educação é através do exemplo, da vivência. Assim educamos e somos educados em nossos dia a dia. É impossível para os alunos compreender o valor de uma cultura sem vivência-lá. O aluno deve primeiramente compreender que ela não está afastada geograficamente, que ela não vive apenas em um lugar e que ela se transforma, não é imutável e sim viva. Ela não é uma cultura, mais muitas culturas e que não somos um povo, mais muitos povos.

Não adianta oprimido virar opressor em uma sociedade doente, que em seu silêncio e cegueira sempre quando chega a escuridão da noite clama por cura. O antídoto para uma mordida de cobra venenosa a gente encontra na floresta, para uma sociedade patológica começa em uma educação de base e honesta que em sua virtude promova o respeito ao outro independente da cor de sua pele, formação cultural e religiosa.

É preciso encontrar a verdadeira essência, a fonte das raízes, ela não possui vestimenta, cor ou forma definida, ela é o sopro que dá origem a toda forma de vida.Sua suave dança nasce criando, morre e renasce, atravessando ciclos mutáveis.
Caminha na terra, toca com teus pés as areias da terra, sinta os grãos, eles fazem parte de quem você é. Não abandones tuas partes no mundo.

A força do som pode trazer cura, alegria ou doença e tristeza. A música de um povo não mostra apenas sua cultura, sua crença e história. A música de um povo os une para sempre. O espírito do povo vive em sua música. Se você canta a música se torna parte daquele espírito também. Você não está sozinho, está em todos e todos estão em você. Naquele momento você não é você, seu corpo abriga outros espíritos, você os representa na música e na dança, representa suas energias e forças. Um povo não sobrevive sem música. A música não sobrevive sem o povo.

Somos guardiões das raízes e devemos defender com sabedoria o que aprendemos com elas.

Quando falamos em comunicação indígena não estamos limitados ao formato jornalístico padronizado ou apenas na missão de produzir notícias indígenas feitas por diferentes etnias, mas falamos de uma comunicação ampla, além das palavras, imagens, ativismo ou faits divers. A força da comunicação oral é a mesma que permite memórias e saberes serem compartilhados por gerações. Um bom comunicador indígena possui uma sensibilidade que ultrapassa o mundo físico.

A colonização audiovisual em filmes que mostram as culturas indígenas é frequente pois diretores muitas vezes não percebem que estão impondo também sua perspectiva colonial em seu trabalho.

Qualquer coisa que comprometa a narrativa indígena abre discussão para questionamentos sobre conteúdos indígenas e indigenistas. É muito comum haver confusão entre os dois e o lugar de fala de cada um. No cinema cresce cada vez mais o número de documentários e filmes indigenistas, em que não indígenas trazem seu olhar sobre as temáticas indígenas por meio de depoimentos de indígenas dos diferentes povos no Brasil.

Adotar uma etnocomunicação é expressar sua essência étnica na comunicação. O que faz dela uma poderosa arma contra preconceitos e falta de informação especializada na grande mídia.

Os processos comunicativos ganham identidades ao ser trabalhados por diferentes culturas. Personagens tornaram-se interlocutores de suas histórias e pensamentos. Fotografados, analisados, pesquisados e entrevistados constantemente, agora produzem seu próprio conteúdo. Grupos étnicos que por anos foram apenas objetos lançam hoje olhares sobre si e o mundo.

Muito se fala em dar voz e espaço ao indígena, mas até quando é conquistado esse direito surgem interlocutores, facilitadores, especialistas e muitos outros, para segurar o microfone dessa interlocução.

Quando o indígena ocupa cargos de destaque, espaços políticos, conquista títulos acadêmicos, possui profissão, não muda a visão e comportamento das pessoas, em sempre olhar o ''índio'' e não aquele ser humano capaz como todos os outros. Mas o ''índio'' que conquistou por mérito ou não tal posição. Ser ''índio" nome inventado pelo colonizador, que nada tem a ver com ser indígena mas sim ser visto ainda como inferior na sociedade ocidental, alguém que precisa sempre de auxilio para viver, chegar a algum lugar ou decidir o que fazer. Aqueles que precisam ser salvos ou mortos, homenageados ou humilhados, por serem diferentes e de culturas que o mundo chamado civilizado tenta decifrar, em um estado de constante encantamento ou repulsa. É o encanto e o medo, daquilo que desconhecem pela diferença.

Algumas associações, projetos ou organizações, administradas pelos não indígenas que impõem sua forma de trabalhar e pensar ainda são motivos de reflexão sobre até que ponto foram rompidas as correntes de pensamento e práticas coloniais. Benfeitores se espalham por todos os lados, áreas e segmentos da sociedade, com o discurso de prestar auxílio aos povos indígenas mantendo a politica indigenista e não indígena. Muitos, imbuídos de boas intenções, mas acostumados com a postura etnocêntrica, reproduzindo um paternalismo dominante que não ajuda na conquista de um protagonismo real indígena.

Por isso que os nossos velhos dizem: "Você não pode se esquecer de onde você é e nem de onde você veio, porque assim você sabe quem você é e para onde você vai". Isso não é importante só para a pessoa do indivíduo, é importante para o coletivo, é importante para uma comunidade humana saber quem ela é, saber para onde ela está indo...

(O Eterno Retorno do Encontro)

Tanto nos textos mais antigos, nas narrativas que foram registradas, como na fala de hoje dos nossos parentes na aldeia, sempre quando os velhos vão falar eles começam as narrativas deles nos lembrando, seja na língua do meu povo, onde nós vamos chamar o branco de Kraí, ou na língua dos nossos outros parentes, como os Yanomami, que chamam os brancos de Nape. E tanto os Kraí como os Nape sempre aparecem nas nossas narrativas marcando um lugar de oposição constante no mundo inteiro, não só aqui neste lugar da América, mas no mundo inteiro, mostrando a diferença e apontando aspectos fundadores da identidade própria de cada uma das nossas tradições, das nossas culturas, nos mostrando a necessidade de cada um de nós reconhecer a diferença que existe, diferença original, de que cada povo, cada tradição e cada cultura é portadora, é herdeira. Só quando conseguirmos reconhecer essa diferença não como defeito, nem como oposição, mas como diferença da natureza própria de cada cultura e de cada povo, só assim poderemos avançar um pouco o nosso reconhecimento do outro e estabelecer uma convivência mais verdadeira entre nós.

(O Eterno Retorno do Encontro)

Frequentar as instituições dos brancos não significa empoderar nada...