Coleção pessoal de alessandrahorta

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Que julgassem
meu amor,
meu sonho,
e minha alegria,
mas não cortassem
a felicidade
com a lâmina afiada da mentira.
Porque em meus passos cambaleantes
ainda sou verdade.

O que dou, sinto e sou
tenho de volta
em doses homeopáticas
de florais.

O que preciso mesmo
é de uma boa injeção de morfina!

Ainda é forte o gosto.
Sorvo e sinto
o movimento ensaiado,
mergulho cego.
Me embebo em lembranças,
me afogo no orvalho frio
da noite de espera.

Atrás da pintura
o sentimento escondido.
E a seda era a delicadeza
do sonho vivido.

Leio um livro em branco.
Sem letras, sem palavras.
O discurso é reticente
e não me diz nada.
Não diz nem cala.

Voltei feliz, embora cansada.
O trânsito era infernal,
mas me deixava ver as vitrines.
Me ative às de lingerie,
pensei numa camisola nova.

Viajei pela janela molhada
e turva da chuva fraca
imaginando a sedução da seda.

Te vi, meus olhos sorriram.

A chuva que eu pedi, veio.
Encharcou a terra, alagou o chão.
Afogou a alegria em pequenas
doses de frio e olhares fechados.
A seca não foi suficiente.

A porta se abriu e o tempo fechou.
Nuvens escuras encobriram o céu,
fortes raios fizeram estremecer
a terra firme.
A tormenta atravessou o corpo que tombou.

O sol não brilhou, o vento não arrefeceu.
Plantas murcharam, folhas secaram.

Foi a chuva que não caiu.

Assola a melancolia inexplicável.
Solidão, saudades, medo.
Mente e coração fervilham,
se embaralham e se confundem
num emaranhado,
num nó de marinheiro.

A linha é tênue, como eu.

Os afagos não são gratos,
nem os amassos
apertados.

Ando em pedaços
descalços
no asfalto.

Escalo montanhas,
arrasto trilhos,
carrego ninhos.

E ao mesmo tempo
em que brilho,
me ofusco.

A linha continua tênue, como eu.

O corpo era franzino.
As mãos?
Suaves e doces.
O beijo era macio
e eu tremia.

Como o tempo
come o tempo
que passa
tão rápido
e não chega
nunca.

Deliro no vento
desse tempo
que corta,
sangra,
arde
e não sara
ou estanca.

Queria o tempo
do vento forte
que me arranca,
me arrasta
e me faz voar.
No tempo....

Reviraram o lixo.
Muitas coisas
foram reaproveitadas.
Sorveram as latas,
as pets.
Papéis, brinquedos,
e até o resto de comida
que ficou esquecido.

Só não sorveram
a alma de quem,
cuidadosamente,
recolheu
e separou
as migalhas.

Portas abertas,
sala fechada
e quarto vazio.

Passo frio!

Procuro o cobertor,
mas acho
que se perdeu no tempo,
com o vento.

Procuro o alimento,
mas não há
como fazê-lo,
ou conservá-lo.
Nem a maldita cerveja!

Procuro a TV,
procuro o PC,
mas não encontro.

Só encontro o vazio.

Vejo no céu uma estrela pequena e solitária.
Ela está triste e ninguém vê.
Vejo-a tentando brilhar, reluzir, irradiar luz e calor.
Mas não consegue, porque está triste e só.
Ela se sente um grão de areia, e não uma estrela.

Tento colher sementes
na flor que inda não brotou.
Talvez eu seja impaciente,
ou talvez meu adubo
não seja o melhor.

Andarilha do destino que escolhi,
caminho em passos solitários.
E lentos.

Sou cachoeira que verte lágrimas
quando a maldade
coloca pedras no meu caminho.

Gargalho como a hiena.
Sou urso
e hiberno palavras
quando percebo
ouvidos realmente moucos.

No exato momento,
sou pássaro preto.

Sou a Lua,
a namorada do Sol
que fica vagando,
esperando
um pouquinho da manhã,
só pra te ver passar.