Coleção pessoal de JanainaCota

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⁠Não sei se a idade tem me deixado sentimental ou se minha vida tem estado muito parada, mas quando vejo alguém feliz eu fico feliz junto, parece até uma doença contagiosa. Quando assusto estou lá sorrindo e chorando de alegria com a pessoa. Parece mesmo que a felicidade é minha. E meu coração fica feliz.

⁠Existe certa poesia em momentos ruins. As vezes em que estive no fundo do poço e decidi que era hora de voltar, me ensinaram a enxergar pequenas felicidades em coisas que antes minhas vistas estavam cansadas demais para ver.

⁠Na vida eu sou um panda enfurecido, determinado e desengonçado subindo o mais alto nas árvores e a chacoalhando como uma louca, sem razão alguma. Só precisava fazer aquilo para aliviar a tensão. De repente um galho se parte e lá vou eu para o chão assustada. Segundos depois, assim como os pandas eu me levanto e saio andando sem graça como se nada tivesse acontecido. Se a vida não é isso, eu falhei miseravelmente.

⁠É absurdamente estranho não conhecer o amor. Há uns bons anos me faço a mesma pergunta. O que é o amor? Ele existe? Ou é apenas mais uma forma de nos enganarmos? E é ainda mais assustador não ter nenhuma resposta para dar depois disso. No fundo sempre fica aquela pontada de esperança torcendo para que seja real e euapenas uma cética mal amada.

⁠Carta para XY

24 de Agosto de 2020



Há duas madrugadas venho sentindo sua falta. Tenho pensamentos de saudade. Penso se se casou ou tem alguém. Gosto de imaginar que você mudou e é um homem melhor agora. Mas em alguns momentos eu me permito sonhar um pouco.
Em algum lugarno tempo eu cheguei no momento certo e disse a coisa certa. Em algum lugar no tempo você sorri ao me ver. Em algum lugar no tempo você sente a minha falta também. Mas nesse lugar do tempo chamado presente eu estou sozinha com a saudade.

⁠Minúcias

De dorso em curva
Montanhas pastosas
Rústico e rígido
De superfície corada
Queimada pelo sol
Cheiro de suor e mato
De olhar tenaz
Feito gavião em sua presa
Fixo e firme
De ouvido atento
Meio instinto, meio opção
De conversa curta
Ações ligeiras
De braços fortes
Protetores
De risos raros
Radiantes
De calor intenso
Fogo e madeira
De inverno abrupto
Ventos e uivos
De silêncio e pensamento
Imerso em si
Imerso em mim
Imerso...

Nós dois éramos grandes fingidos, ele fingindo que valia algo e eu fingindo que não valia nada. Ele falava a verdade mentindo e eu mentia falando a verdade. A gente não valia nada. E isso valia muito.

Ritual de purificação feminina

Certo dia cansada estava, chamei minha amiga que tanto sofria para beber. Peguei o papel e o isqueiro que a muito já anda na bolsa. De copo cheio então brindei:

O álcool a gente bebe
Papel a gente escreve
e depois queima

Se o ritual funcionou eu não sei, mas fiquei muito mais leve com a vodka. Minha amiga ria e eu tinha menos um caminhão de palavras entaladas na garganta. Que noite feliz meus amigos, que noite feliz.

⁠Mary Scotland (Poesia Premiada pela Alacib)

Don...Don...Don
O sino anuncia
Já é hora
Outra cabeça fora
O reino espera
a doce donzela
de destino infeliz
Pobre flor-de-lis
Donde vêm
foi refém
Em muralhas
muito além
Para seu tapete
vermelho
o mais puro sangue
verdadeiro
Sua coroa reluz
Sob olhos acuados
Esperando todos dela
vingança aos desalmados
Desta coroação
Surgiu bela união
Enlace aclamado
Terá fim antecipado
Quando a guerra chegar ao fim
O rei sucumbirá
Sua amada rainha
o acompanhará
Don...Don...Don
Anuncia o sino novamente
Chegou o momento
a cabeça da rainha foi ao vento

Sal, vento, areia e mar.
18 de novembro de 2014 às 01:43

Desejo rever o mar como nunca desejei antes.Sentir a brisa suave, o bater das ondas e a areia contra meus pés, deslisando em um movimento tão natural quanto o respirar.Um querer sentir em minhas raízes a minha verdadeira origem.Encontrar me em cada detalhe das ondas, do vento e do ar.
Misturar me ao sal e perder no azul infinito, bem ao longe, onde meus olhos não poderão mais alcançar.E delimitar com um giz branco invisível a minha visão do paraíso.

Criado mudo
Palavras nunca ditas
Em um ficou o pó
E na minha boca consumidas
Pelas bactérias abruptas
a decompor o não dito
a não deixar nenhum vestígio
dos pensamentos ilícitos.

Possuir uma fraqueza é a condição para estar vivo.

O café já não está amargo o suficiente para eu ter que ler certas futilidades.

Viagem e suas coincidências (21/02/14)

Lembro que acordei às 8 da manhã e iria de destino de volta para casa, sem esperança de que algo ainda pudesse acontecer. Na primeira rodoviária comprei a passagem e subi no ônibus. Admirando toda aquela paisagem e o sentimento de que se tornaria algo familiar para mim. Desci no ponto final para tomar rumo ao próximo ônibus. Fui até o guichê e me informaram que o próximo partiria às 16 horas, o que significava ficar 5 horas isolada em uma rodoviária. Tive a ideia de perguntar o horário do ônibus para a cidade vizinha à minha e logo ele disse que partiria às 13 horas. Comprei a passagem e fiquei sentada em um dos bancos da rodoviária vendo o movimento e suas peculiaridades. Até que me chamou a atenção a figura de um rapaz, e o olhei por um tempo, já que ele também olhava para mim. Depois ele saiu falando ao telefone e andando de um lado a outro e logo me distraí com um garotinho que brincava com a bolsa da mãe. Uma hora da tarde, o ônibus chegou, e o rapaz e eu fomos na mesma direção, o trocador conferiu a passagem dele e em seguida a minha. Antes de ele entrar, ele fez uma cara engraçada para mim, sorri. Subi e decidi que iria pedir para sentar ao lado dele. Foi o que fiz. Conversamos por um tempo e era impossível não olharmos e sorrirmos, acho que tinha um misto de querer e vergonha. Lembro dele dizendo que estava com sono, mas que não iria dormir. Nos beijamos e rimos; ele brincava comigo tão naturalmente que parecia que nos conhecíamos há muito tempo. Ficamos juntos boa parte da viagem, até que eu disse para ele descansar e mudei para outra poltrona. Enquanto ele dormia o sol batia em sua pele e seu cabelo queimado de sol brilhava. Quando chegou a cidade dele, me deu um beijo e se despediu. E eu fico esperando aqui o dia da próxima viagem...

Olhar para o céu faz com que me perca no Universo e me sinta parte dele.

O tombo-23/10/13

Levei um tombo hoje.Não sei ao certo o que aconteceu,só me dei conta quando estava caída no chão de joelhos.Ainda tinha de seguir para o trabalho e minha calça se encontrava suja no local da batida.Tive que ir trabalhar mesmo sentido a dor na perna.Sorte que meu chefe não notou
e se notou,preferiu não dizer nada.Não sei como cai,não entendo.Não tinha ninguém,apenas eu ali,naquele local.Compreendo menos ainda como pude cair de joelho e sair arrastando no morro.A sensação era de não estar no meu corpo ou viver um sonho confuso.Só me dei conta que estava no chão quando senti a dor.Senti medo de não consegui me levantar e não possuir nenhuma ajuda e naquele instante senti alguma coisa me apoiando a levantar,se era um anjo invisível ou o velho da ponte,eu não sei,entretanto,foi a sensação mais estranha que vivi e que me trouxe a vida.

A minha última esperança se encontra no futuro.

Gosto de sentir o sangue pulsar em minhas veias e saber que tenho o controle.No entanto,as vezes,queria que alguém tomasse o controle de mim e soubesse o quanto sou frágil com todas as minhas forças.

A ponte rachada (fragmento da lembrança de meu sonho)

{...}E o senhor que estava nas proximidades da ponte rachada perguntou:
Tu já sabes o que fará daqui em diante?

(mesmo em sonho a pergunta me golpeou como uma faca trivial)
Justa posta,para responder naquele exato momento,ele me calou,dizendo:
Não respondeis agora,ainda há tempo,pense bem antes de tomar essa decisão-A entonação da voz soava como um alerta.

Acordei ao som do despertador e inconscientemente balbuciei:Eu sempre soube a resposta.

Em alguns corações,ao invés de sangue,corre ar comprimido.