Citações de Livros
[...] Preste atenção. O que é fé?
Essa era fácil.
- A substância do que a gente espera,
a prova de tudo que a gente não vê.
- É. E qual é o estado espiritual do fiel?
- Hum ... amor e aceitação, eu acho.
- E qual o oposto da fé?
Essa era mais difícil - realmente indigesta
na verdade. Como uma daquelas malditas
provas de literatura. Escolha a,b,c ou d.
- A descrença? - aventurou.
- Não a descrença não; a não-crença.
A primeira é natural, a segunda voluntária.
E quando a gente é não-crente, David , que estado
espiritual é esse?
Ele pensou no assunto, depois balançou a cabeça.
- Não sei.
- Sabe, sim.
Ele pensou de novo e percebeu que sabia.
O ESTADO ESPIRITUAL DA NÃO-CRENÇA É O DESESPERO.
O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão; como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado; na insônia dos braços luminosos do relógio; e acaba o amor nas sorveterias diante do colorido iceberg, entre frisos de alumínio e espelhos monótonos; e no olhar do cavaleiro errante que passou pela pensão; às vezes acaba o amor nos braços torturados de Jesus, filho crucificado de todas as mulheres; mecanicamente, no elevador, como se lhe faltasse energia; no andar diferente da irmã dentro de casa o amor pode acabar; na epifania da pretensão ridícula dos bigodes; nas ligas, nas cintas, nos brincos e nas silabadas femininas; quando a alma se habitua às províncias empoeiradas da Ásia, onde o amor pode ser outra coisa, o amor pode acabar; na compulsão da simplicidade simplesmente; no sábado, depois de três goles mornos de gim à beira da piscina; no filho tantas vezes semeado, às vezes vingado por alguns dias, mas que não floresceu, abrindo parágrafos de ódio inexplicável entre o pólen e o gineceu de duas flores; em apartamentos refrigerados, atapetados, aturdidos de delicadezas, onde há mais encanto que desejo; e o amor acaba na poeira que vertem os crepúsculos, caindo imperceptível no beijo de ir e vir; em salas esmaltadas com sangue, suor e desespero; nos roteiros do tédio para o tédio, na barca, no trem, no ônibus, ida e volta de nada para nada; em cavernas de sala e quarto conjugados o amor se eriça e acaba; no inferno o amor não começa; na usura o amor se dissolve; em Brasília o amor pode virar pó; no Rio, frivolidade; em Belo Horizonte, remorso; em São Paulo, dinheiro; uma carta que chegou depois, o amor acaba; uma carta que chegou antes, e o amor acaba; na descontrolada fantasia da libido; às vezes acaba na mesma música que começou, com o mesmo drinque, diante dos mesmos cisnes; e muitas vezes acaba em ouro e diamante, dispersado entre astros; e acaba nas encruzilhadas de Paris, Londres, Nova Iorque; no coração que se dilata e quebra, e o médico sentencia imprestável para o amor; e acaba no longo périplo, tocando em todos os portos, até se desfazer em mares gelados; e acaba depois que se viu a bruma que veste o mundo; na janela que se abre, na janela que se fecha; às vezes não acaba e é simplesmente esquecido como um espelho de bolsa, que continua reverberando sem razão até que alguém, humilde, o carregue consigo; às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido; mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade; o álcool; de manhã, de tarde, de noite; na floração excessiva da primavera; no abuso do verão; na dissonância do outono; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba.
O infinito
É mais que finito
Para quem sabe sonhar
As estrelas são contáveis
Para quem tem tempo
Para imaginar
É de cegar os olhos
Tanta massa e concreto
E velocidade
Da uma felicidade
Ir para o meio do mato
E saber que elas estão sempre ali
E sempre estiveram
Ganha-se tempo
Para perdê-lo
Que prazer enorme
Parar para recontar
Quantas estrelas tem no céu.§
Nasci
Nu da razão
Tenho muito para agradecer
A tantas pessoas.
Vestiram-me com amor
Com a arte da paciência
Ensinaram-me
Sobre a luz e as trevas
Ensinaram-me a caminhar
Gastaram seu tempo
Tempo é vida
E a cada gasto
Um pouquinho a mais que se morre.
Tenho tanto para agradecer
A tantas pessoas
Que sou o que sou
Graças a boa intenção
De muitos.§
Queria continuar um poema de Gullar
A Adélia falou que não,
Deixou claro que no trem não cabia,
Era sentimento demais.
Drummond concordou,
Falou que José era um chato e não gostava de passeio.
Pessoa chegou com Eros
E mostrou para Camões, que estava cansado do amor.
Neruda tentou ajudar,
Mas Wilde, com toda rebeldia,
Fez o poema correr.
Blake, com sabedoria,
Capturou tudo num pincel
E me deu de graça e sem explicação.
E eu flertei com a tinta,
Por causa de um sorriso. §
O meio fio
Que divide em dúvida a lembrança
Faz do homem um romeiro
O azedume
Fê-lo sério em brincadeira
Crente no in-crível
Ele acredita na vida velha
Deseja que sua tigela
Apague da barriga a ideia da fome
Na última estação
O passageiro espera
Que passe trem
Chamado esperança.§
Você que faz do ponto de ônibus
A sua sala de estar
Dos pedestres
Estranhos dentro de sua casa
Você que deseja
E não pode ter
Você que não tem idade para contrapor aos instintos corporais.
Você, sem tempo para semear sabedoria
Você que teme por sua saúde
Não tem em quem confiar e para onde ir
Você de sorriso banguela
De esperança cansada
Você de olhos sem brilho
Você medroso do assalto
Você que é parte do futuro
Você a quem o tempo não pertence
Você que vive só do presente
Você que não sonha
Você que deseja morar numa próxima estação
Que machuca sem saber
Você que é só pedra
Pra quem não quer te ver.§
A vida novamente bateu a minha porta
Para mostrar quem era.
Levou toda a minha tranquilidade
Que pensei ter conquistado para sempre.
Ela bateu a minha porta
Tomou conta da minha energia
Para mostrar de perto o meu drama.
Eu, homem formado,
Deitei na cama como um menino.
Porém, naquele momento,
O tempo tinha me levado muitas pessoas
Nem colo eu tinha
Olhei para a única coisa que me restava:
Uma janela.
Através dela eu vi o lixeiro,
Vi o vendedor e uma pessoa que atravessava a rua.
Num primeiro momento, tive pena da minha fragilidade.
Mas, a força da fé e da honra me fez levantar.
Com a humildade apreendida,
Pude fazer como homem:
Que mesmo sem saber o que fazer
Escuta seu coração
Sem perguntar por que bate.§
Se eu estivesse perdido
Gostaria que me achasse
Mesmo que eu estivesse escondido
Dentro do meu ser
Eu gostaria que me achasse.
A ilusão de que se está perdido
Vive no discurso de quem nunca se procurou.
Quem procura e não se encontra
Quer ser achado.
Mesmo que se pague com a esperança
O peso da ilusão.§
Olho para o lado
E vejo um monte de gente bacana
Tentando organizar a vida
Sem trabalho,
Flertando no amor
Se arriscando em coisas não duradouras.
Muitos assim.
Andar é importante
O que não pode é ficar parado.§
É muito fácil achar motivos para ficar triste,
Encontrar motivos para ser feliz é para poucos.
O que as pessoas tristes tem que aprender sobre a vida,
É que as pessoas guerreiras e alegres são uma lição de vida.§
Se nada mais me restasse
E eu estivesse no fundo do poço
Eu iria atrás de um sonhador
Qualquer um que fosse
E ficava ao seu lado
Perguntando a todo momento de seus sonhos
Eu fingiria que também sonhava
Pegava emprestado o sonho que eu não tinha
Faria isso repetidas vezes
Até que sem perceber, algum eu já teria:
Talvez lembrado dos antigos,
Talvez criado novos.
Não desistiria
Porque os sonhos são os alicerces do mundo
O motivo da sobrevivência
A causa da felicidade.§
Mãe
Algumas por acaso
Outras por escolha
Algumas sorrindo
Outras chorando
Algumas acompanhadas
Outras sozinhas
A mesma barriga
A mesma raça
O mesmo período
A mesma trajetória
Onde através da dor
Faz-se o parto
Onde das assas
Faz proteção
Cresce nu o filho
Num mundo já em movimento
Sem escola faz-se professora
De uma matéria hostil
Passa o tempo
Vão os filhos
E a maternidade fica
Como tatuagem
Estampa no rosto
Ser mãe:
Que coragem.§
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