Carta a um Amigo Especial

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A FARSA DA VAIDADE
O ABISMO DO INVALIDADOR



Quando o trabalho de um indivíduo nasce da tentativa de diminuir o de outro,
em sua origem o invalidador já é uma farsa.


Usurpador que tenta galgar atenção com a ilusão do esforço alheio,
mentiroso sem escrúpulos que sustenta um corpo oco,
voando na brisa da própria enganação.


De todas as vaidades,
quem flutua em ilusão é sempre o primeiro a colidir com o muro da realidade.


Atravessam o tempo apenas aqueles que cultivam o esforço e, sem intervalos,
falam a verdade no silêncio, sem necessidade de cúmplices ou testemunhas.

VOLTA MEU FILHO
(Inspirada em Lucas 15:11-32)

Um pai tinha dois filhos, casa cheia de amor
Mas o mais novo cansou, pediu a parte que restou
“Me dá minha herança, vou viver do meu jeito”
E partiu sem olhar pra trás, com o coração desfeito

Longe de casa, gastou tudo em prazer
Viu a alma vazia, começou a entender
A fome chegou, e ninguém estendeu a mão
Num chiqueiro ele pensou: “Preciso voltar então…”

“Pequei contra o céu, pequei contra o meu pai
Não sou mais digno, mas talvez ele me aceite lá…”

Mas o pai correu ao ver o filho voltar
Abraçou, beijou, mandou festa preparar
“Esse meu filho estava morto e reviveu
Tava perdido, mas agora se encontrou, é meu”

E o irmão mais velho ouviu a música soar
Ficou com ciúmes, se negou a festejar
Mas o pai saiu e disse: “Tudo o que tenho é teu
Mas esse teu irmão voltou, e o coração do céu gemeu…”

Tem festa no céu quando um filho se arrepende
O amor do Pai é ponte, não depende do que a gente entende
Não importa a lama, o erro, nem a ilusão
Quem volta com verdade, ganha veste e perdão

Porque o Pai sempre espera, mesmo em silêncio
Com os braços abertos, no alto do tempo
O amor não calcula, não joga na cara, não mede o chão
Ele apenas te chama… pra voltar pro coração

As pessoas rezam para que Deus as abençoe, oferecendo um amor que dure a vida toda.
Mas quase nunca pedem a Ele que as ajude a se amar.
Percebi isso ao ler os livros de Rubem Alves.


Os adultos acham que sabem mais do que as crianças, por isso ensinam.
Os adultos querem avançar, progredir. Já os poetas entendem que a alma não deseja seguir adiante; ela é movida pela saudade. E ela não quer ir para frente, quer voltar para trás. Os adultos fogem da loucura da vida adulta.


Falam tanto sobre os adolescentes estarem à “flor da pele”, por se sentirem ofendidos ou tristes diante das palavras da mãe e do pai, que esquecem de ensiná-los a ser felizes. Esquecem que o remédio para a alma cansada não é o esquecimento.


Se ainda não entendeu, eu explico com calma.


Os adultos querem que os filhos sigam aquele velho ditado: “os filhos se espelham nos pais” e, com o tempo, se tornem adultos como eles.
Os adultos desejam sucesso, riqueza, status, roupas caras, carros do ano, celulares de última geração.
Os adolescentes, sejam tristes ou revoltados com a vida, pedem apenas uma coisa aos pais: que os escutem em silêncio. Não buscam remédios para tratar distúrbios mentais, depressão ou ansiedade; eles só precisam de escuta.


Os adultos muitas vezes idolatraram o dinheiro e as coisas materiais. Eu, como poeta, peço apenas uma coisa: que me devolvam tudo aquilo que me tiraram, chamado saudade.


Somos tudo aquilo que vemos.
Se você vê o mundo colorido, aprende a encará-lo com resiliência e percebe o lado bom da vida.
Se, como eu, você vê o mundo em preto e branco, percebe nuances que quase ninguém nota.


Voltando ao início: nunca vi nenhum religioso pedindo a Deus que o ajude a se amar. Às vezes, o que os adultos precisam não é ostentação, dinheiro, joias ou luxo, mas silêncio. Silêncio para escutar o que vem de dentro e, assim, compreender os adolescentes.
Os adultos são convencidos. Lembram que crianças e adolescentes não têm contas para pagar e concluem que não podem sofrer. Mas nunca pensam que a dor deles é verdadeira, causada pela ausência de uma vida adulta que os compreenda.


Assim como os mais velhos. Alguns caíram no esquecimento. Às vezes penso: foram tão difíceis ao longo da vida que todos os abandonaram? Ou será que os adultos são apenas ingratos?
Os velhinhos às vezes se parecem com crianças: veem o mundo de forma divertida, coerente e colorida. Não como os adultos, que falam muito e escutam pouco.


Eu, como poeta, devo dizer:


Vocês, adultos, fogem da loucura porque temem o presente. Se preocupam demais com coisas superficiais. Vocês não precisam de dinheiro em excesso; precisam de silêncio e escuta em abundância. E, a partir disso, poderão amar ao próximo, e finalmente amar-se.

O tempo tem um jeito silencioso de cuidar daquilo que a gente não consegue alcançar com as próprias mãos.
Ele não tem pressa, mas é sábio; vai costurando o que se rasgou, vai clareando o que parecia sem cor.


Há dores que se resolvem sem barulho.
Há caminhos que só se revelam quando a gente aprende a esperar.
E há beleza, sim, até nas pausas mais escuras, porque é ali, no fundo do silêncio, que a luz começa a nascer.


Nem sempre o que hoje parece fim é realmente um fim.
Às vezes, é só o tempo pedindo passagem para transformar o que ainda não amadureceu em paz.


— Edna de Andrade

Há um jeito bonito de Deus ajeitar o que parecia perdido.
Ele não apaga histórias; apenas muda o rumo das linhas.
O que hoje parece ponto final,
amanhã pode ser só uma pausa antes de um novo começo.


A vida é feita de parágrafos que se reinventam,
de páginas que se reescrevem com o tempo,
de capítulos que a gente nem imaginava viver.


Nada está totalmente pronto.
Nem a gente. Nem os sonhos.
E é justamente aí que mora a beleza:
no movimento constante de aprender, sentir e recomeçar.


— Edna de Andrade
@coisasqueeusei.edna

Paredes de hospitais.

Hospitais têm um tipo estranho de silêncio. Não é ausência de som… é o silêncio que pesa, que acompanha cada passo como se o chão estivesse escutando nossas orações engolidas. Nessas paredes brancas a gente descobre que o tempo não anda em linha reta. Ele para, tropeça, resolve andar em círculos. Cada minuto que passa tem tamanho de uma eternidade.

Quando é a vida de quem a gente ama que está lá dentro, é como se o coração da gente fosse parar na porta que se fechou. Ficamos sentados em cadeiras desconfortáveis com pensamentos que não sabem sentar direito nunca. A gente imagina, a gente torce, a gente lembra de todas as risadas, de todos os “depois a gente vê”, e percebe que nada tem mais urgência do que vê-los voltar bem.

As paredes do hospital carregam histórias que ninguém escolheu viver, mas que todo mundo aprende alguma coisa. Tem força onde antes só havia medo. Tem fé disfarçada de teimosia. Tem amor fazendo barulho dentro da gente, querendo arrombar cada porta para alcançar quem está sendo cuidado por mãos que não conhecemos, mas que naquele instante se tornam as mais importantes do mundo.

Ali, a gente descobre que esperança não é luz… é brasinha. Pequena, mas impossível de apagar. Enquanto isso, a parede segue muda, testando nossa paciência, segurando segredos que não contamos a ninguém. Um dia, ela vê lágrimas. No outro, abraços de alívio. É testemunha fiel de quem chega quebrado e de quem volta inteiro.

E no fim, quando a porta finalmente abre, a gente respira de verdade pela primeira vez em horas. Aprende a agradecer o que sempre achou garantido. As paredes continuam lá, firmes, como quem diz: “Você não está sozinho”. E a gente volta pra vida diferente. Mais grato. Mais humano.

A Elegância de um começo

Vestido branco de cetim, um rio de candura, envolto em mistério, em sublime tessitura.

Um singelo e clássico colar de pérolas a brilhar, a graciosidade do momento, a me encantar.

O espelho refletia a luz em seu lugar, eu sob o véu, pronta para amar.

Trazia na face à graça mais pura, envolta em um cheiro suave de ternura.

E em cada detalhe, a certeza que se via, era a benção do grande poder de Deus que ali fluía.

Um suspiro me escapou ao sentir a arte no ar, me senti em um sonho lindo, como se tivesse entrado em um quadro.

E o coração? Ah! Ele disparava.

A luz entrava, pintando o quarto, e o cheiro doce de baunilha me envolvia, acalentando a alma.

Eu sabia, a vida estava ali, pronta para começar, e eu estava pronta para vivê-la.

As sobrancelhas grossas emolduravam o meu olhar, esculpindo o meu rosto com belos traços que o tempo jamais poderia apagar.

Em minhas mãos, um buquê de delicadas flores brancas, simbolizando a pureza de um começo que nunca se apagará.

A cada instante, a cada passo eu sentia a elegância da alma a brilhar, a beleza que emerge, genuína a reinar.

A cada passo, um suspiro, a vida se revelava, no caminho do amor que se iniciava.

Uma postura deslumbrante, de rara nobreza, era a personificação da divina elegância e beleza.

Outrora você foi um sonho que,
com o passar do tempo, fez-se concreto. Vislumbrei-te como um pretexto para que eu pudesse ser feliz. Tornaste-te platônico, tornaste-te plausível. Tornaste-te real.
Outrora você foi um sonho do qual eu preferia não ter despertado,
para continuar idealizando um ser perfeito. Amei-te enquanto sonho e pretexto, mas, quando real, percebi que a minha felicidade estava bem longe dali.

Quando a Saudade Aperta


Do nada, vem.
Um aperto no peito,
como se o tempo parasse
só pra lembrar que algo falta.

Não tem aviso.
Só a lágrima que escorre
sem barulho,
como quem entende
o que nem você sabe explicar.

É saudade —
daquilo que foi,
daquilo que nunca foi,
ou talvez só de um pedaço seu
que ficou em algum lugar do passado.

Você respira fundo.
Não pra esquecer,
mas pra caber de novo em si.
E sussurra, quase sem voz:
“Vai passar.”
Mesmo sem saber quando.
Mesmo sem saber como.

Fragmentos que batem


No peito bate um coração quebrado,
feito vitral rachado pela dor.
Mas mesmo em cacos, segue iluminado,
refletindo lampejos de amor.

Carrega em si o peso do que foi,
as promessas que o tempo levou.
Mas entre os estilhaços, algo constrói:
um sonho novo que não se apagou.

Pois há beleza em quem resiste,
em quem ama mesmo sem guarida.
Coração partido não desiste —
ele aprende a pulsar pela vida.

⁠“Nada é mais perigoso do que um homem que curou suas feridas sozinho. Esse homem mergulhou no mais profundo dos seus medos; caminhou nos labirintos da Alma, sem bússola ou luz que guiasse seus passos; gritou pedindo socorro e não conseguiu ouvir o eco dos seus gritos; lambeu suas cicatrizes e sentiu o gosto amargo da solidão; abraçou a solidão e sentiu o arrepio de experimentar a assustadora condição humana; conversou com seus demônios e compreendeu cada um deles e... agradeceu.
No entanto,nada é mais libertador do que curar as próprias feridas, bater o pé no fundo do poço e subir até a superfície.
Sentar no olho do furacão e dizer a si mesmo - Eu sou o furacão!”

Você Tem um Valor Inestimável!


"Quero que você pare por um instante e reflita sobre o quão especial você é. Aos olhos de Deus, seu valor é inestimável, muito além de qualquer medida humana"


Você não é um acidente, nem está aqui por acaso; você é uma criação única e amada, com um propósito divino.


E o mais maravilhoso de tudo é isto:

O Espírito Santo se move em você! Sim, a presença do próprio Deus habita em seu interior, como um consolador e guia constante. Isso significa que você nunca está sozinho(a).

Nos momentos de dúvida, é Ele quem acalma seus temores e te enche de esperança.

Nas horas de decisão, é Ele quem te oferece sabedoria e direção.
Sinta essa presença.

Ela é a fonte do seu testemunho pessoal e da sua força interior.

Permita que o Espírito Santo guie seus passos e inspire seu pensar e agir. Quando você reconhece e vive nessa verdade, sua vida gera bons frutos e você se torna imparável.

O cristianismo, em uma análise fria e realista, é um câncer social. Algo que legalizou a barbárie, e desumanizou milhões de pessoas. Criou a ideia de céu e inferno, um deus "todo bom", apesar de perverso, ególatra, infanticida, misógino, ditador e facilmente enfurecido por não ser amado, adorado e obedecido por todos, assim como um diabo maligno que o "todo poderoso" não teve a capacidade de destruir.
A partir daí surgiram as pessoas "de deus" e as "do diabo", ou seja, os humanos "de bem" contra os monstros, os demônios, os demoníacos. Não importa se esses "diabólicos" não fizeram mal a ninguém, por serem quem são, devem ser mortos, torturados, queimados vivos.
A verdade, quando se lê a bíblia, é que aqueles textos não tem amor, muito menos um deus amoroso. A maioria dos cristãos são fascistas e apoiam até mesmo chacinas em favelas, não por acaso. O cristianismo nunca foi sobre amor, por mais que haja uma minoria de cristãos que o levam dessa forma, e a esses todo o meu respeito apesar das divergências que temos de filosofia, crenças, e outras coisas.
Mas o cristianismo em si, é a religião do ódio. A maioria deles reproduz o deus bíblico de fato. Um ser enfurecido por sua pequenez, narcisista, megalomaníaco, que precisa urgentemente de um terapeuta. Um ser que nega sua história, sua origem. Que se sente tão minúsculo que precisa fingir que é gigante. Ele mesmo se coloca como todo o bem e todo o mal no velho testamento.
As pessoas tentam romantizar o cristianismo, mas o próprio Jesus em uma passagem do chamado "novo testamento" faz uma parábola comparando-se ao rei e seus seguidores aos súditos desse rei, que afirma que todos que forem contra "a coroa" devem ser mortos. O amor cristão é uma farsa ideológica. Eles só tem amor por aquilo que é igual, que segue suas regras. O diferente sempre será "do Diabo", um "monstro" a ser combatido. Quem não se ajoelha, sempre será o demônio pra eles, desumanizado, odiado, que deve ser queimado sem dó nem piedade. Pelo ponto de vista humano, no melhor sentido da palavra, o cristianismo, assim como seu deus, é o verdadeiro maligno.
- Marcela Lobato

Um País Ferido pela Corrupção


Vivemos em um governo onde a corrupção se tornou rotina e o povo, refém da própria esperança. A cada dia, vemos o dinheiro público sendo arrancado das mãos de quem mais precisa e colocado nos bolsos de quem promete mudanças que nunca chegam. Enquanto isso, a população sofre, adoece e se desespera em meio a um sistema que parece se alimentar da dor de seu próprio povo.
O mais triste é perceber que a injustiça virou normalidade. Trabalhamos, pagamos impostos, confiamos — e, no fim, somos traídos. A saúde falha, a educação é esquecida, a segurança é um luxo. O governo que deveria proteger, explora; o Estado que deveria servir, consome. O resultado é um país cansado, onde muitos acabam se perdendo entre o desespero e a revolta.
Não é apenas o dinheiro que nos tiram, é a dignidade. A corrupção não mata apenas com balas, mas com a fome, com a falta de atendimento, com o abandono. E o pior é que, enquanto o povo se destrói entre si, quem comanda continua sorrindo, como se o caos fosse parte do plano.
É hora de acordar. Um país só muda quando seu povo deixa de aceitar o sofrimento como destino e transforma a indignação em força. Porque o verdadeiro poder sempre esteve nas mãos do povo , só falta o povo lembrar disso.

Vivemos em um mundo onde a empatia parece ter se tornado um sentimento raro. As pessoas estão cada vez mais voltadas para o próprio interesse, esquecendo-se de olhar ao redor e perceber a dor do outro. O valor humano tem sido substituído pelo valor do dinheiro, e muitos se deixam corromper por ele, acreditando que o poder e o status são mais importantes do que a honestidade e o amor ao próximo.
A sociedade caminha em um ritmo acelerado, movida pela competição e pela busca incessante por riqueza, enquanto o respeito e a solidariedade ficam em segundo plano. A frieza nas relações mostra o quanto estamos nos distanciando do essencial: ser humanos de verdade.
É urgente resgatar a empatia e os valores morais que nos tornam dignos. Somente assim poderemos construir uma sociedade mais justa, onde o dinheiro não seja o dono das atitudes e onde o coração volte a ter voz.

Bom dia minha linda
Nossa fé em DEUS nos motiva, e nos da força para sermos pessoas melhores, um ditado diz que somos aquilo que acreditamos ser, você mesmo me ensinou que a palavra dita tem força; e nossos pensamentos tambem. Acredite no seu potencial, você é uma mulher linda, inteligente, super mãe dedicada, amorosa, seja forte nessa luta diaria, e agradeça sempre a DEUS pela oportunidade de estar viva e ter os olhos do senhor sobre seus ombros. Nunca desista de acreditar em você jamais.
Abra seu coração para DEUS e peça com amor e fé ela ira te atender com muito amor e benevolência.
Acima de tudo somos amigos conte comigo sempre o que estiver ao meu alcance estarei ao seu lado bjsss te amo..

Lua mentirosa


Lua mentirosa
Porque dizes que esta vida é um mar de rosas?
Se na verdade estão tão mortas as mariposas
Morreram ainda muito novas


Lua mentirosa
Porque mentes e me gozas?
Se eu te desejo bem pela frente e pelas tuas costas
Se ao menos ganhasses uma nova forma


Lua mentirosa
Vejo-te menos dura e mais bondosa
Com uma ternura pela noite fora
Cura esta minha demora


Lua mentirosa
Minha demora está relacionada com a tua recepção calorosa
Deixa-me demasiado intimidado para estar contigo nessa hora
Por isso quando te pões nua me levanto e vou embora

Quem nunca montou um quebra cabeça !?
Não querendo generalizar mas a nossa vida parece como um quebra cabeça de mil peças que foram espalhadas pelo mundo inteiro mas ou menos como um caça tesouros. As vezes a gente acha as peças com uma facilidade e vai feliz montando, quando inesperadamente tem que sair correndo atrás de outra peça, e tem algumas que pra conseguir encontrar e um teste de sobrevivência.

Sou um renascentista


Talvez eu tenha nascido fora do tempo,
mas minha alma caminha pelas ruas de Paris.
Não as ruas apressadas do turismo,
mas aquelas onde a madrugada ainda cheira a vinho, tinta e papel.
Onde os músicos tocam como se o destino dependesse de um acorde
e os poetas bebem a lua em silêncio.
É ali que existo — entre o som e a palavra,
entre o piano e o abismo.
Sou um renascentista: músico, poeta, pianista.
Vivo entre o sagrado e o profano, entre o vinho e o verbo.
Cada nota que toco é um pedaço de mim tentando renascer,
cada verso, uma confissão que o tempo não conseguiu apagar.
Não bebo para esquecer, bebo para lembrar —
que a vida, como a arte, é feita de breves eternidades.
Quando sento ao piano, sinto Paris me ouvir.
Os fantasmas de Debussy e Ravel espiam por sobre meu ombro,
e o Sena, lá fora, parece repetir minhas notas nas águas.
O poeta em mim escreve o que o músico sente;
o músico traduz o que o poeta pressente.
É uma comunhão silenciosa entre o som e o pensamento —
a forma mais bela de loucura.
Ser renascentista é não aceitar a indiferença dos tempos modernos.
É crer que a beleza ainda pode salvar,
que o corpo é templo e o amor é arte.
É brindar com o vinho e com o caos,
com a esperança e o desespero,
porque tudo o que é humano é divino quando há música no coração.
Sou um renascentista.
Poeta, músico, homem que vive nas ruas de Paris —
onde o tempo se curva diante de um piano,
e o vinho se torna prece nas mãos de quem ainda acredita
que a vida é, acima de tudo, uma sinfonia inacabada.

A Menina e o Cachorro


Uma criança brinca com um cachorro
no meio da praça.
Na Praça do Patriarca,
foi lá que eu vi.
Entre cinco e seis anos de idade,
tinha a criança.
Igualmente jovem era o animal.


A garota abraça, beija,
se desmancha em carinhos...
O cachorro retribui lambendo animado
o rosto da menina.
Os dois caem,
rolam no chão.
A menina ora por cima do cão,
ora por baixo.


Alguns pedestres param,
observam, riem, tiram fotos,
maravilhados com a beleza da cena.
Outros, apressados,
submersos em seus problemas,
incapazes de enxergar o mundo à sua volta,
passam sem nada perceber.


Uma mulher se aproxima,
afaga a cabeça do cachorro.
A menina se levanta,
fica de pé, imóvel, séria.
Em sua seriedade,
o esboço de um sorriso enigmático,
quase imperceptível,
me fez lembrar Mona Lisa.


Com o olhar fixo na mulher
acariciando o pequeno animal,
a menina parecia esperar sua vez
de também receber carinho.
A mulher, no entanto, se levanta,
faz um último carinho no cão, arruma a blusa,
ignora a criança e vai embora,
diluindo o sorriso de Mona Lisa da menina,
que a acompanha com o olhar desapontado.


E eu, que a tudo assistia, pensei:
— Infelizmente é assim que nós estamos agora!


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Nascida em meio à pandemia, em 2020, esta crônica em versos descreve uma cena real: uma garotinha em situação de rua e seu cachorro, na Praça do Patriarca, em São Paulo.