Carlos Drummond Mensagens de Despedida

Há duas coisas que não se perdoam entre os partidos políticos: a neutralidade e a apostasia.

Os defeitos de quem amamos, devemos vê-los com os mesmos olhos com que vemos os nossos.

A vitória de uma facção política é ordinariamente o princípio da sua decadência pelos abusos que a acompanham.

Os filhos seriam, talvez, mais caros a seus pais e, reciprocamente, os pais aos filhos, sem o título de herdeiros.

O interior das famílias é muitas vezes perturbado por desconfianças, ciúmes e antipatias, e enganam-nos as aparências de satisfação, calma e cordialidade, fazendo-nos supor uma paz que não existe; poucas há que ganham em ser aprofundadas.

Os grandes, os ricos e os sábios sorriem-se: os pequenos, os pobres e os néscios dão gargalhadas.

Existem a beleza que excita, a que comove e a que satisfaz: a melhor é a última.

Parece, na verdade, que nós nos servimos das nossas orações como de um jargão e como aqueles que empregam as palavras santas e divinas em feitiçarias e em efeitos de magia.

O nascer não se escolhe e não é culpa nascer do ruim, e sim imitá-lo; e é culpa maior nascer do bom e não imitá-lo.

Todos se queixam, uns dos males que padecem, outros da insuficiência, incerteza, ou limitação dos bens de que gozam.

Os moços de juízo honram-se em parecer velhos, mas os velhos sem juízo procuram figurar como moços.

A pobreza não tem bagagem, por isso marcha livre e escuteira na viagem da vida humana.

A dialética do interesse é quase sempre mais poderosa que a da razão e consciência.

Ainda é mais fácil avaliar o espírito de um homem pelas suas perguntas do que pelas suas respostas.

Na admissão de uma opinião ou doutrina, os homens consultam primeiramente o seu interesse, e depois a razão ou a justiça, se lhes sobeja tempo.

Qualquer homem é capaz de fazer bem a outro homem; mas contribuirmos para a felicidade de uma sociedade inteira é parecermo-nos com os deuses.

A vida, quando é miserável, custa a suportar; se é feliz, é horrível perdê-la. Uma coisa equivale à outra.

Nada devemos fazer que não seja razoável; mas nada também de fazermos todas as coisas que o são.

Os homens têm geralmente saúde quando não a sabem apreciar, e riqueza quando a não podem gozar.

A virtude é coisa deveras inútil e frívola, caso apenas tenha a recomendá-la a glória.