Caminhando pela Vida
CRIANDO CIDADÃOS
Demétrio Sena, Magé - RJ.
A vida em sociedade não se restringe ao que é certo ou errado. Legal ou ilegal. Arriscado ou sem risco. Também existem o ético e o antiético; de bom e de mau tom; o adequado e o inadequado. Há muitos atos que a lei proíbe, mas que não geram consequências, não fazem ninguém sofrer agora nem no futuro, não constrangem nem desconsertam. No entanto há outros que a lei permite, mas causam sofrimento e dor; geram sentimentos confusos; conflitos internos; constrangimentos duradouros e de alta relevância.
Devemos criar os nossos filhos dentro desses princípios. Não apenas com palavras ou ordens a serem obedecidas, mas com a convivência. Se agirmos dentro da lei porque isso é certo e não porque seremos presos ao não agirmos... se tivermos comportamentos éticos e adequados para que copiem... se nos portarmos com e diante deles de formas firmes e corretas, sem precisarmos recorrer às ameaças e à prática de pô-los contra a parede, criaremos filhos sadios. Com seus desvios naturais, porque ninguém é perfeito, mas com caráter firme; personalidade serena; senso de responsabilidade.
Chega o tempo – a idade – em que os filhos, mesmo ainda menores, precisam ser menos mandados. Ter ainda seus deveres, como sempre terão, mas ter aqueles direitos que antes não lhes dávamos, porque ainda não saberiam o que fazer deles. É o tempo em que teremos de respeitar sua privacidade, seu direito a certos segredos e a sua própria aplicação de alguns códigos e valores que lhes ensinamos e agora são usados, de alguma forma, contra o nosso poder de arbitrar por quem antes dependia de todos os nossos comandos. A idade da cidadania não chega só aos dezoito.
Sejamos para nossos filhos, exemplos presenciais de comportamento ético; adequado; democrático; firme sem tirania. E não restrinjamos nossos ensinamentos ao que a lei proíbe ou permite. À fuga do que a sociedade aponta como fatal. Ao medo só da desgraça física. Se atentarmos para o que é ético, de bom tom, adequado e dentro dos conceitos que eles, os filhos, querem que respeitemos porque assim aprenderam, e foi bem aprendido, suas cabeças e seus corações estarão preservados e ninguém os enganará na idade adulta, com lábias maliciosas. Com abusos velados e contidos.
E o mais importante, nossos filhos serão daqueles cidadãos que sabem: roubar, entre outros crimes, é errado. Mesmo que não sejamos presos. Mesmos que a polícia nunca saiba. Que a sociedade não faça ideia. E quem vê assim os códigos de lei, com um respeito que em nada lembra medo, terá uma vida inteira pela frente, amparado por códigos de conduta livre, porém responsável, de forma que sua vida nunca será um arranjo de permissividades dentro da lei. Nunca será uma bagunça.
ÚLTIMO ATO
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Chega o tempo em que a vida nos amansa,
em que o mundo nos faz conter os atos,
pois a força descansa em nossos sonhos;
nos boatos que vencem as certezas...
Uma vida que o tempo desbotou,
onde os atos se ajustam para o mundo,
não restou a sonhar senão boatos
de que o fundo, no fundo, é bem além...
E assim chega o tempo em que já chega,
mas o resto se deixa remoer
pra nos dar um consolo sem sentido..
É um ato em que a vida que se tem
já não é de se ter, mas ver passar
no teatro que o mundo impõe ao fim...
PARA NOVAS SAUDADES
Demétrio Sena, Magé – RJ.
Outra peça de amor será bem vinda
numa vida que agora está vazia;
uma farsa bem doce, aconchegante,
fantasia de todos os desvelos...
Outro alguém pra fingir que bem me quer,
ser capaz de qualquer desdobramento
pra sarar minhas mágoas com carícias;
bons momentos de falsa eternidade...
Já me cansam sinceros bons humores,
os amores azedos de franqueza
de quem faz o dueto ser duelo...
Quero a luz da ribalta passional;
emoções, alegrias de festim,
mais um fim de saudosas ilusões...
VALE VIDA
Demétrio Sena, Magé – RJ.
Uma vida só vale seu tempo cumprido
entre sonhos, ações, utopias, verdades,
o cupido, as paixões, desafios aceitos
e as quedas seguidas de novos perigos...
Não há mundo que valha um só giro no espaço
se não for pra causar as vertigens de praxe,
pra borrar nossa guache, nossas aquarelas,
nos fazer insistir e pintar outros quadros...
Todo tempo se cumpre com horas feridas,
porque vidas precisam afrontar a morte
ou serão evasivas; vazias de causa...
Vale a pena viver sem certeza e promessa,
sem a peça que sempre nos falta encaixar
e assim desfazemos pra fazer de novo...
DO QUE PENSO QUE SEI
Demétrio Sena, Magé – RJ.
Aprendi a não ser o guardião da vida
e não ter as certezas que nos equivocam,
nos evocam pro salto nesse cais do caos
de quem acha que tudo se rende a seu olho...
Sei que sei muito aquém do que penso que sei,
porém algo; pois nada, só quem não viveu;
há um eu razoável curtido em meu peito
que não tem pretensão de ser cofre do mundo...
A estrada termina para quem chegou;
quem é pleno está pronto para ser colhido;
tem um show que nos pede para prosseguir...
Alcancei a ciência de crer no futuro,
meu agora é o escuro sobre o que será,
só existe o saber que se constrói sem fim...
RENOVE-SE
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Use a vida que o mundo expõe aos olhos,
dê aos olhos as plantas de seus pés,
tenha fés que se cruzem na su´alma
pra mostrar que as verdades vão e vêm...
Cabe ao tempo medir os seus ensejos,
conferir as patentes do seu sonho,
seus desejos expostos numa história
cujo texto se ajuste a cada dia...
Voe sempre nas asas da esperança,
mas não caia da própria realidade
quando a dança das horas for intensa...
Siga todas as fases de seus anos,
ponha perdas e danos num divã
onde a dor das vitórias pede paz...
HOMEM DE RUA
Demétrio Sena, Magé - RJ.
É na rua que a vida se anuncia
triste ou plena; de luz e sedução,
mas não perde os contornos de magia
da certeza que cede à dedução...
São as ruas que acendem mais o dia,
mesmo sob a mais funda solidão,
quando a hora parece mais tardia
do que aquele pecado sem perdão...
A minh´alma se afoga e logo volta,
pela força do amor e da revolta
que me fazem ter fome da verdade...
Quero a rua e preciso do seu colo,
só nas ruas consigo encontrar solo
pra plantar e colher identidade...
VIDA PÓS-VOCÊ
Demétrio Sena, Magé – RJ.
Vou chorar sem que o choro afogue o ego
nem me deixe vazio; raso; seco;
há um prego em que ponho essas pendências
de sentido, sentimento e razão...
Seu adeus não precisa ser simplório
ou se justificar com pranto exposto,
deixe o roto exprimir serenidade
sem achar que preciso vê-la triste...
Não encene a tal ponto; só acene;
tenho a força do brio que me blinda
pra minh´ alma ter vida pós - você...
Um adeus não me priva do meu sopro;
eu não vou disputar quem sofre mais,
pois não sofro, apesar do sofrimento...
TEMPO É VIDA
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Qual é a sua?
Você olha quando a lua
surge no entardecer?
E o sol...
Qual foi a última vez
que o sol nasceu pra você?
Cadê seu tempo...
Você vendeu para quem
o melhor do seu ser?
E a vida...
Será de fato a saída
você nunca mais viver?
SEM PINGO NO I
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Uma vida em conserva não serve pra mim;
sempre fui a varejo; fora do pacote;
um caminho sem fim, sem atalho pra outros
não é mote pro sonho que levo comigo...
Há um mundo em redor e preciso entendê-lo,
percorrer o que os olhos alcançam daqui,
pois o gelo da espera sobre as esperanças
é um pingo no i que se perde no mar...
Ser feliz no caixote não faz o meu tipo;
quem me planta não colhe, pois o vento extrai;
sou a folha que vai, ao sabor do que vem...
Sempre volto, mas venho pelas minhas asas,
Tenho casas no espaço e são todas de ar;
um amor só me prende se me libertar...
CHÃOS
Demétrio Sena, Magé – RJ.
Cada olho sulcado pelas rugas
conta histórias de vida, sonho e morte;
lega rusgas, esperas, esperanças
entre o corte que o tempo tornou rio...
A idade me fez um livro em braile;
não precisa me ver, já sou leitura,
minha jura de amor é pelo mundo
que seus olhos encontram no meu ser...
Tenho chãos que não saem do meu pé;
uma fé que dispenso expor ao ar
e não cabe nos templos construídos...
Minha paz vem de guerras que perdi;
rio todos os danos que sangrei
ao achar que chorei meus oceanos...
EFEITO SOLIDÃO
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Vida inteira vivida pra ser meia;
um espaço que o tempo não preenche;
minha veia mais late que lateja
sob a lua vazia; sem luar...
Solidão que atravessa os anos gastos;
incha toda incerteza do meu ser;
seca os pastos carentes de minh'alma
e com eles as minhas vãs esperas...
Pororoca de sonhos e verdades
que no meio do embate são só meios,
as metades de ambos dão em nada...
Nesta rua da vida caio em mim;
há um fim cuja cara já conheço;
só há preço a pagar, porque cheguei...
NOSSA FEIRA
Demétrio Sena, Magé - RJ.
É um sonho que a vida nos empresta,
sem dizer até quando, e com que juros,
uma festa nos olhos, corpo, alma,
que não tem exigências nem padrão...
Vou amando e te levo em meu caiaque,
pelas águas profundas, de mistérios,
venço ataques de minha consciência
entre sérios embates do que sinto...
Mas eu sei que o amor está presente,
não é simples corrente sob as veias
onde o sangue precisa de passagem...
Um ardor, um sentido, esta fogueira
que tempera e cozinha sentimentos;
uma feira de beijos; toques; gozos...
QUERO VIDA
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Peço a vida mais lenta e degustada,
pra sentir o teor de cada instante;
cada sonho vivido, passo, estrada,
livro lido e reposto em sua estante...
Sonho a vida mais simples e constante,
as manhãs bem mais queijo e goiabada;
ter no próximo alguém não tão distante,
ver a noite nascer enluarada...
É que o mundo está muito vai e vem;
gente próxima esquece quem é quem;
acumulam-se afetos virtuais...
Quero mundo melhor por ter a vida
feito mel, rapadura, mão lambida,
canjiquinha e sabor de quero mais..
O PESO DA LETRA
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Perderá seus afetos quem falar da vida,
porque todo vivente se verá no espelho,
saberá que a ferida pode ser a sua
e ninguém deveria pôr o dedo nela...
Já perdi muita gente, por compor meus versos,
minhas prosas de mundo, sociedade, anseios,
esperanças e meios de sonhar e ser
ou estilos, verdades e comportamentos...
Um olhar sobre tudo pode custar caro,
pode até nos render a solidão e a pira,
quando a ira da massa quer nos ver queimar...
Têm as letras as forças que desnudam medos,
flagram dores, angústias, mazelas e ranços,
dão à luz os segredos que ninguém confessa...
DOCE VIDA
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Há um mundo melhor quando bala perdida
é de anis, hortelã, tamarindo, morango,
pra que a vida nos faça degustar sabores;
converter nosso tango em terreiro de samba...
O que tem de ser bom seja em dobro; bombom
e assim rezaremos Ave-Mariola
em um tom colorido; risonho; fluente;
num suspiro de amor ou de creme de ovos...
Quando nossa esperança teimar em dar bolo,
vamos ser confeiteiros de bolo de festa,
porque sempre nos resta uma nova ilusão...
Tudo pode ser doce, apesar das mazelas;
saborize o viver com rodelas de sonhos
de amizades, de amores e de padaria...
CORAÇÕES INFÉRTEIS
Demétrio Sena - Magé
Qualquer um é meu próximo, a vida me diz,
diferenças me fundem ao meu semelhante;
felicite meus olhos ver alguém feliz,
vê-lo triste me cause tristeza constante...
Há um mundo que geme dessa dor constante;
solidões que se agravam na mesma raiz;
um amor que apodrece como dom farsante;
corações mais inférteis do que pó de giz...
Apesar dos contrastes, temos em comum
as verdades em volta, que nos fazem um;
pra que servem as crenças e seus preconceitos?
Temos fé professada nos gritos de guerra,
num inferno que finge ser o céu na terra;
somos trastes caiados de seres perfeitos...
CONVITE
Demétrio Sena - Magé
Nunca tive o sossego dos de vida ganha,
como nunca senti que poderia tê-lo,
ser de gelo ante os males do mundo em redor
nem usar artimanha pra viver em paz...
Porque há desconforto no menor conforto,
desde quando beirei a tragédia da fome,
da pessoa sem nome, dos becos escuros,
das meninas de porto e garotos de rinha...
Se me rendo a ter casa e familia sadia,
não existe um só dia em que não sinta muito
ao sentir o meu pouco limitado aos meus...
Conheci bem por dentro a vida no limite
e não sei me poupar, porque sei como é;
tudo faz um convite às lembranças de lá...
ALFORRIADO
Demétrio Sena - Magé
Para mim não há vida, se o laço dá nó,
se o afeto não pode respirar sozinho;
quando já me sufoca, prefiro ser só;
a gaiola de luxo não supera o ninho...
Quero cama que nunca me roube o caminho;
tomar banho e de novo me cobrir de pó;
vestirei os meus trapos, caso a seda, o linho
manipulem no contra; dominem no pró...
Que ninguém se nomeie senhor ou senhora
do meu tempo, meu vir e do meu ir embora,
pois me prendo e me solto pela minha chave...
E ninguém se pretenda ser meu adivinho,
decidir quando passo da pinga pro vinho,
se viajo de sonho, de charrete ou nave...
EMPATIA NATALINA
Demétrio Sena - Magé
Festejar tem sentido se a vida reluz,
por ter mais alegrias do que pranto e dor;
sem a flor não existe sinal de jardim;
só há paz quando a calma nos recheia e veste...
Cantorias e fogos não desviam lutos,
nosso amor se desmente sem reflexão,
não há frutos maduros ou idoneidade
nos arroubos que afrontam silêncios feridos...
Celebremos a vida respeitando a morte;
há um corte que sangra no pulso do mundo,
pois o mundo pranteia saudades e perdas...
Brindaremos ao sopro que ainda nos resta,
mas a festa não pode zombar da tristeza
dos acenos que os olhos perderam de vista...
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