Aviao sem Asa Fogueira sem Brasa sou eu assim sem
Quando olho para trás percebo o quão abençoada sou. Quando abro minhas gavetas das memórias e relembro as maravilhas que ali guardei percebo o quanto tenho para agradecer. São tantas coisas lindas que guardei que eu me perco em nostalgia ao me deparar com os afetos, com as delicadezas, com o calor dos abraços, com sorrisos que como sol iluminaram meus dias nublados, todos ali guardadinhos.
Nas gavetas do coração guardei afagos, toques, gostos, palavras bonitas, que chegaram a mim como lenitivo nos dias em que mais precisei e até hoje ainda ressoam dentro de mim como uma prece. Nesse álbum tão cheio de encantos guardei fotos das pessoas queridas e dos lugares incríveis que conheci. As músicas ainda vibram dentro de mim no tom exato da emoção que me toma cada vez que as ouço tocando dentro de mim.
A lembrança mais bonita que tenho é o sorriso do meu filho ecoando em todos os cômodos da minha alma. Essa está marcada em mim como tatuagem e por quantas vidas eu viver, eu sei que a levarei comigo.
Quando abro as janelas dos sonhos me sinto extremamente privilegiada por ter tido a oportunidade de realizar vários deles. Alguns ainda são sementes, mas na hora certa os lançarei em solo fértil, outros tenho que me desfazer, não porque estão mortos, mas porque a sensatez não me permite mais realizá-los.
Não pense que em minhas gavetas das memórias só tem coisas bonitas, tem também dor, mágoas, desencanto, decepções, frustrações, traições, mas essas eu vou jogando fora à medida que encontro, além de não servirem pra mais nada, não valem o lugar que ocupam. Preciso de espaço, ainda tenho muitas outras coisas lindas pra guardar.
Sou grata a generosidade das mãos que me estenderam ao longo do caminho. Sou grata pela hospitalidade de cada coração que me acolheu como casa e de forma temporária ou definitiva deixou-me morar dentro dele. Sou grata a cada sorriso que iluminou minha estrada nos dias mais escuros da vida. Sou grata a cada palavra de carinho que envolveu a minha alma como um manto sagrado de prece.
Sou grata pelos olhares de carinho que fizeram-me lembrar de quem sou, todas as vezes que as dores da vida faziam-me esquecer.
Sou grata a cada incentivo que empurrou-me pra frente quando eu tive vontade de desistir.
Sou grata a cada sentimento bonito que como flor foi plantado no meu jardim do coração.
Não sou humilde o suficiente pra dizer que sou pequena, nem arrogante o bastante para sentir-me maior que os outros. O que sou é eterna aprendiz de uma vida regida pela mudança.
Sei que não sou, nenhum gênio da literatura e que pouco ou quase nada contribuo para sua inovação, mas isso não me preocupa, considero-me, antes de mais nada uma tradutora de sentimentos, não só dos meus, mas também dos sentimentos das pessoas que se identificam com o que escrevo.
Não sou uma defensora da mentira, muito pelo contrário, mas penso que em muitos casos a raiz da mentira não é o mau caratismo é a incompreensão. Ninguém mente porque quer ser um mentiroso ou ficar desacreditado, às vezes, as pessoas mentem porque de antemão sabem que serão incompreendidas e muitas vezes serão duramente punidas por não corresponderem ao que os outros pensam, querem ou esperam dela.
Senhor, diante das incontáveis bênçãos e belezas com as quais todos os dias sei que sou presenteado, peço-te apenas mais, meu Pai Celestial: ensina-me a ter olhos gratos para que eu possa reconhecer tua infinita bondade em cada uma delas.
Não sou hipócrita ao ponto de exigir perfeição das pessoas: primeiro porque dizem que perfeição não existe. Segundo porque mesmo que exista, eu própria não sou perfeita e não tenho a menor pretensão ou intenção de ser. Mas verdade, essa sim eu exijo porque é o mínimo que devo ter com com os outros e principalmente comigo mesma.
Ver o homem que o meu filho se tornou e saber que sou parte integrante desse processo espiritual tão complexo e bonito, enche-me de gratidão de tal forma que mesmo que tudo em minha vida tivesse dado errado, ainda assim eu sentiria-me plena e privilegiada por tê-lo tido como filho e compartilhar a vida com ele.
Posso não ser a pessoa mais perfeita, a mais bonita ou a mais importante do mundo, mas sou importante o suficiente para receber o teu respeito e de antemão já aviso: não aceito menos que isso.
O que sou não é um mero acaso, muito menos sorte, o que sou é o resultado da força, da perseverança, da coragem que tive de enfrentar os problemas e não permitir ser derrotada pelas dificuldades, pelos obstáculos que encontrei ao longo do caminho.
Sei que não sou perfeita, nem tenho a pretensão de ser. Administro bem minhas falhas, defeitos e imperfeições e não preciso da sua validação para ser feliz. A forma que você me vê, o que pensa a meu respeito, se aceita-me ou não, não faz a menor diferença. Se você ignorar a minha presença, fingir que eu não existo e me deixar quieta no meu canto para mim já é o suficiente.
Não sou pergunta nem resposta, sou o eco que nasce e morre entre elas antes de adquirir a medíocre forma das coisas exatas e definidas pela semântica dos termos.
Não sou santa nem libertina, sou apenas uma mulher intensa, com o desejo à flor da pele. Uma mulher que ama e é correspondida, que deseja e é desejada e que sabe aproveitar com volúpia até a última gota dessa dádiva.
Não sou um anjo com o dom de no primeiro olhar despertar ternura em alguém, mas também não sou um demônio.
Sou uma viajante errante sem compromisso com a constância, a lógica ou qualquer outro tipo de script ou roteiro. Nessas minhas viagens inusitadas sigo a clarividência poética dos meus sonhos, as setas que a beleza aponta e a correnteza desse rio caudaloso de emoções que leva para dentro de mim mesma. Sou poeta!
Não sou metade da laranja de ninguém, a peça que falta no quebra-cabeça, a tampa da panela ou qualquer outra analogia grotesca do tipo. Sou uma mulher imperfeita, mas tão perfeita nessa minha imperfeição que sinto-me inteira, completa e plena, pronta não só para receber amor, mas também doá-lo, trocar experiências e viver tudo que a vida me reserva com toda coragem de uma mulher que deseja ser feliz.
Sou a mão estendida, a palavra que conforta,o olhar sem julgamento, o abraço que acolhe, o silêncio que respeita. Sou o reflexo do que tem dentro de mim em um enlevo que me abraça.