Tiago Scheimann
Não sei bem o que é o amor, talvez porque ele nunca tenha se revelado a mim em sua forma plena, ou talvez porque sua essência escape à razão, como tudo o que verdadeiramente importa. O que conheci foram fragmentos, alguns gestos partidos, promessas sem permanência, afetos que vinham com prazo e medo. O amor, para mim, foi sempre uma hipótese, nunca uma certeza. Uma palavra grande demais para caber nas experiências que vivi. E talvez, no fundo, o que me dói não seja a ausência dele, mas a dúvida eterna se um dia o reconheceria, mesmo que estivesse diante de mim.
Talvez eu não saiba o que é o amor porque aprendi a reconhecê-lo mais pela carência do que pela presença.
O amor, para mim, é uma ideia em estado de latência, uma presença ausente cuja inexistência moldou silenciosamente minha gramática emocional.
Na escuridão do sol, o tempo chora memórias que nunca chegaram a florescer. São lembranças inacabadas, suspensas no vazio entre o que quase foi e o que jamais será. O vento passa com o perfume do que não vivemos, e cada silêncio carrega o peso de uma saudade que não tem nome, mas ainda assim dói, como uma ausência sem começo, como uma ferida que nasceu do nada e insiste em permanecer. Há ecos de palavras que nunca foram ditas, gestos interrompidos pela pressa do destino, e olhares que não se cruzaram a tempo de mudar alguma história. Tudo parece repousar num limbo entre o sonho e a desistência, onde o coração ainda espera, mesmo sabendo que já é tarde. E nessa espera muda, nessa penumbra sem rosto, até a luz parece hesitar, como se o próprio sol também sentisse falta de algo que não viveu.
Se essa minha velha amiga, a lembrança, não me procura, talvez seja porque anda ocupada demais consolando saudades que gritam mais alto que as minhas, ou, quem sabe, reabrindo dores que o tempo tentou em vão enterrar. Pode ser que esteja vagando por corações mais frágeis, atravessando noites insones onde os fantasmas ainda têm nome e endereço. Não a culpo por seu sumiço, há memórias que demandam mais urgência do que as minhas, há histórias que ainda imploram por algum desfecho. E tudo bem. Aprendi a conviver com a ausência dela como quem se adapta à mudança das estações, aceitando o frio que permanece quando ela parte, e suportando o calor sufocante de sua presença quando decide voltar, sempre sem pedir licença, sempre com os bolsos cheios de passado.
Assim como a chuva leva consigo as folhas secas, lavando o chão empoeirado, ela carrega as memórias encrustadas em uma mente já transbordada de tanto pesar.
As batalhas da vida são testes, os sentimentos, obstáculos. O verdadeiro objetivo é superá-los, sem importar o tempo que leve, pois ter uma meta é essencial para vencer.
O tempo é um paradoxo quântico, para mim, não faz sentido, pois nossa existência é moldada por instantes que já se foram e por futuros que ainda não nasceram. Vivemos no fio tênue do agora, mas carregamos em nós as marcas de tudo que foi e a ansiedade de tudo que poderá vir. O presente é apenas um fragmento entre duas eternidades invisíveis.
Tal qual o riacho diminuto que se estende ao encontro do mar majestoso, avanço também, guiado pelo anseio de um porvir mais vasto que as raízes que me retiveram no instante do meu nascimento.