Tati Bernardi

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Eu sou apenas a garota angustiada, de cabeça metralhadora, de tremedeira na existência, de maxilares travados de tanto que dói gostar tanto de tudo. Eu sou apenas a garota que tenta ser amada. E sou profundamente amada por alguns meses, até o garoto segurar firme a minha mão e dizer "nós somos inseguros e queremos uma garota normal". E então eu me pergunto se não deveria lobotomizar meu cérebro pra pensar menos, lobotomizar meu coração pra sentir menos.

E você continua indo embora, e eu continuo ficando, vendo você levar partes de mim que antes eu nem sentia falta. E você continua escrevendo sua história pulando linhas, errando palavras, esquecendo os títulos. E eu continuo escrevendo seu nome com letras cheias, para tentar preencher você de alguma maneira. Pra tentar deixar tangível a sua existência. E principalmente pra poder amassar o papel e jogar no lixo.

Eu tenho medo da força absurda que eu sinto sem você, de como eu tenho muito mais certeza de mim sem você, de como eu posso ser até mais feliz sem você. Pra não pensar na falta, eu me encho de coisas por aí. Me encho de amigos, bares, charmes, possibilidades, livros, músicas, descobertas solitárias e momentos introspectivos andando ao Sol. E todo esse resto de coisas deixa ao pouco de ser resto, e passa a ser minha vida, e passa a enterrar você de grão em grão.

Que o tempo nos permita alguns reencontros sem culpas porque é bom sentir sempre mais uma vez.

Tem sempre aquela dorzinha aguda no peito, aquela saudadezinha filha da mãe gritando no ouvido a falta que ele faz.

O amor não acaba, ele continua em outros lugares.

Essa vida viu Zé, pode ser boa que é uma coisa. Já chorei muito, já doeu muito esse coração. Mas agora tô, ó, tá vendo? De pedra.

Tati Bernardi

Nota: Trecho da crônica "Zelador".

"Você não sabe a saudade que eu senti todo esse tempo."

Cada um sabe a falta que o outro faz.

Não adianta só virar a página, muitas vezes precisamos rasgá-la.

Cansei das promessas de compra e das devoluções gastas do meu corpo. Cansei de expor minha alma se no fim tudo acaba mesmo.

De tanto tentar colocar um ponto final, eles acabam se tornando reticências…

(…) Tenho uma vida ótima. Mas nenhuma dessas coisas se comparava ao prazer que eu tinha ao ouvir o barulhinho de uma mensagem dele chegando. Ou de quando o porteiro dizia seu nome e o meu coração disparava tanto que eu tinha medo de morrer antes de o elevador abrir a porta. E olhar para ele, com o seu sorriso misturado de pior e melhor pessoa do mundo. E olhar o brilho dos seus olhos sem saber se vinha da alma ou da lente de contato. Enfim: olhar e me sentir errando tanto e acertando muito. Isso tudo fazia valer os últimos dez, quinze ou quarenta dias sem saber se ele estava ou não vivo. (…) Mas aí resolvi começar o ano fora dessa palhaçada. Essa não parece a história de uma mulher esperta ou que merece uma história melhor. Quem pode cobrar da vida uma história de verdade se fica alimentando uma coisa desse tipo? Chega. (…) Por isso, com muito custo, chacoalhei minhas mangas. E só eu sei o quanto doeu ver a melhor coisa do mundo indo embora. Doeu um, dois dias. No terceiro, a melhor coisa do mundo virou a melhorzinha. Que virou a décima melhor. Que não virou nada.

Sabe aquele medo horrível que você tem de sofrer? De perder algo que ama muito? De vomitar? De que tudo saia do seu controle? Eu torço pra que isso te aconteça, acredite, é maravilhoso. Se um passarinho azul passar na sua frente e borboletinhas amarelinhas o acompanharem, isso é realmente lindo, não porque você ganha bem, ou porque tem um apartamento cheio de almofadas te esperando, ou porque tem uma pessoa especial ao seu lado te dizendo que eles são lindos. Eles são lindos porque existem simplesmente, igual a você. Eles são lindos porque você está completamente sozinho neste mundo, mas este mundo é maravilhoso, não tenha medo. Não tenha medo de descer até o inferno e queimar como um papel cheio de regras e certezas, queime, vire cinzas, chega de querer controlar a vida, chega de querer amar, existir e desejar pelo seu ego. A vida é muito maior do que você, acredite nela, colabore com ela, tenha fé nela, faça a sua parte, mas em hipótese nenhuma sonhe que você pode simplesmente enfiá-la amassadinha dentro da sua bolsa, ela com certeza vai se vingar de você. Deixe, deixe a onda da dor passar por você, ela pode até te derrubar, te afogar um pouco, te chicotear com o sal, te assustar com tanta grandeza, mistério, profundidade e experiência, mas acredite em mim, você não vai morrer. Você vai se levantar, ainda que a praia inteira ria de você, ainda que a força tenha levado suas roupas e você esteja completamente desprotegido para a vida, nu, entregue, sem dignidade. Ainda assim você vai se levantar e seguir em frente. Acredite no Deus que mora dentro e fora de você, acredite que, para cada vez que você diz “eu odeio”, algo ou alguém vai te odiar. Acredite que, para cada vez que você diz “eu não acredito”, algo ou alguém vai perder a fé em você. Então diga agora, bem alto, para que até aquele seu lado mais surdo e teimoso ouça, “eu amo e acredito em mim e na vida”. Siga nu, quase sem vida, quase sem vontade, sem sono, sem fome, sem desejos, mas siga, o passo que está na sua frente já carrega uma dor menor do que o anterior, aos poucos você deixará para trás essa carga horrível que você mesmo juntou e então poderá voar. Aos poucos cairá tudo e só sobrará você, e você é feliz, sua essência é feliz. Onde estava você, escondido embaixo de tantos sonhos frustrados? Você é real, não tenha medo de apenas ser e ser agora, sua felicidade não está nem no útero e nem no dia perfeito, ela está aqui e agora, o resto você inventou porque ainda não sabia que podia contar com você. A verdade é que você só pode contar com você. Amar de verdade é esquecer um pouquinho de si mesmo, se você já se esqueceu num cantinho como uma criança de rua carente por causa do amor, não se culpe, você só mostrou, ainda que seja difícil mostrar alguma coisa nesse mundo de aparências, falsidades e medos, que você tem coragem para amar, parabéns. Mas chega, se não houve troca, chega, porque amar sozinho é solitário demais, abandono demais, e você está nessa vida para evoluir, mas não para sofrer. Essa criança carente agora precisa dessa mesma coragem para ser amada e ela merece mais do que ninguém, ela é, de verdade, a única coisa que você realmente tem e terá para sempre. Por favor, está na hora de levá-la tomar banho, tomar sol e tomar sopinha de mandioquinha. Hoje eu acordei numa casa diferente, num quarto diferente, sem nenhuma muleta, sem nenhuma maquiagem, meus amigos estão ocupados, meus pais não podem sofrer por mim. Hoje eu acordei sem nada no estômago, sem nada no coração, sem ter para onde correr, sem colo, sem peito, sem ter onde encostar, sem ter quem culpar. Hoje eu acordei sem ter quem amar, mas aí eu olhei no espelho e vi, pela primeira vez na vida, a única pessoa que pode realmente me fazer feliz.

Eu prefiro morrer sua amiga do que quebrar algum elo misterioso e te perder para sempre. Te perder como sempre. Tenho vontade de perguntar baixinho: você não gosta nem um pouquinho de mim? Nem sequer um tiquinho? Eu sempre me apaixono por você. Todas as vezes que te vi, eu sempre me apaixonei por você.

Um chato metido a rico é um chateau.

Eu acredito em histórias felizes, em história sem fim, e a minha história, eu quero viver contigo.

Sou isso hoje...
Amanhã, já me reinventei.

Você encerrava em mim eu mesma e era uma loucura tudo, como eu sentia, como eu queria me vomitar e ensanguentar e explodir e rodopiar em mim até furar o chão como uma broca desgovernada e depois sair derrubando o mundo como o único pião que sabe a verdade e precisa chacoalhar seu entorno pra não enlouquecer sozinho. Era uma loucura tudo. Mas a morte, o fim, nós, andando calmos, ao lado um do outro, isso me permitiu estar de alguma forma sem querer habitar cada instante do estar e para isso me retirando o tempo todo. E isso pode ser viver mas viver é terrível. E antes, quando eu não sabia viver e me sentia amada, era ainda mais terrível. Daí que sobra essa sensação de uma solidão filha da p*** mil vezes pois em nada dá pra ser com você. E tudo bem, não é você, nunca foi, mas escuta a maluquice: é que nada disso impede que eu sinta um amor absurdo por você.

Mas quem é mesmo que morre dessas coisas? Não, não podemos, com tanta coisa pra fazer, os meninos de dez a vinte dias, os bares, e almoços, o Pilates, a dança, os empregos, escrever, tudo isso que é minha vida antes e depois de você. Tudo isso que daqui a pouco, quando a sensação desgraçada de absurdo e solidão passar, tudo isso volta, se acomoda, a agenda mágica, o gostosinho no peito, esquecer você todo dia um pouco pra vida e todo dia muito pro dia. Mas agora, hoje, guarda isso, eu amo demais você. Por que escrevo? Porque é a minha vingança contra todas as palavras e sensações que morrem todos os dias mostrando pra gente que nada vale de nada. Toma esse texto, o único lugar seguro e eterno pra gente.

Sabe rir mole de bobeira? Sabe dançar idiota de alegria? Sabe dormir gemendo de saudade? Sabe tomar banho sorrindo para a sua pele? Sabe cantar bem alto para o mundo entender? Sabe se achar bonita mesmo de pijama e olheiras? Sabe ter ânsia de vômito segundos antes de vê-lo e ter fome de mundo segundos depois de abraçá-lo? Sabe não agüentar? Sabe sobrevoar o frio, o cinza, os medos, os erros e tudo que pode dar errado? Ele consegue fazer com que eu me perdoe por apenas viver sem questionar tanto. Eu quero parar com tudo isso, ele é um menino que não pode acompanhar minha louca linha de raciocínio meio poeta, meio neurótica, meio madura. Eu quero colocar um fim neste tormento de desejar tanto quem ainda tem tanto para desejar por aí. E aí eu me pergunto: pra quê? Se está tão bom, se é tão simples. Ele me ensinou que a vida pode ser simples, e tão boa.

Para não sofrer eu vou me drogar de outros, eu vou me entupir de elogios, eu vou cheirar outras intenções.

Deletar do desktop é fácil, quero ver você ter coragem de deletar do lixo também.

Nem sempre vale a pena evoluir. Andar pra trás é o único jeito de te encontrar.

Ele sumiu no mundo e eu caí na vida.