Silvia Waltrick Bernardi

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Estou aprendendo a apreciar cada vez mais esse tal de tempo, pavor de alguns e aliado indiscutível de outros. O tempo é soberano, irredutível, democrático. Fala, mostra, oferece, retira, instrui, aprimora, seleciona. Ele está sempre por perto, sutil, passando aqui e ali, modificando formas, cores, situações, pessoas. Trabalha silencioso, levando embora o ímpeto, o viço, “aquele” momento, a glória de outros tempos, mas deixa ao alcance dos que se dispuserem a buscar, o conforto da experiência, da sabedoria, da cautela, do auto conhecimento. Pacientemente
ele tenta nos mostrar que os momentos são únicos, que a vida é passagem, que nada nos pertence. Que ninguém é tão insignificante ou tão importante quanto supomos. De uma maneira ou de outra, o tempo acaba sendo o nosso (severo) mestre.
Por vezes, duramente, ele nos retira coisas valiosas para nos fazer simplesmente enxergá-las. Impõe limites, forçando-nos a viver no presente. Noutras, generosamente, nos compensa com oportunidades inúmeras de superação, crescimento e reciclagem, dando-nos espaço e condições para reavaliar (pré) conceitos e valores, de alterar rotas, fazer novas escolhas e até de compensar a leviana juventude. Para os que percebem (e aceitam) a impermanência, surge o desafio, a mudança, novos (e talvez maravilhosos) momentos e finalmente a adaptação, o aprimoramento, a renovação. Um tempo para viver de forma seletiva, em outra velocidade. Um tempo de se vestir de si mesmo. De se ver singular. Um tempo em que o instante vivido basta. Para aqueles que rejeitam a passagem resta a estagnação, o desconforto de um corpo que muda, de uma cortina que se fecha, de uma história que virou antiga.