Rômulo Bourbon
No Dia de Santo Antônio,
o santo casamenteiro,
a fiel pede um marido
respeitoso e parceiro.
Ela faz sua oração
com tamanha devoção
para ter um companheiro.
Não dá pra andar de carro
com o preço do combustível.
Pobre tem que andar a pé
nesse país tão sofrível.
Com o povo a padecer,
riem os donos do poder,
andando de conversível.
Rastapé, forme quadrilha
Aproveite o São João
Brinque de traque de massa
E não solte o balão
Ele é lindo ao voar
Mas pode incendiar
Quando atingir o chão
Pra dançar uma quadrilha
Tem que escolher seu par
Vestir roupa caipira
Saber coreografar
Cumprimentos, balancê
Se o noivo for você
No final tem que casar
O humilde nada sabe
O arrogante sabe tudo
O humilde é calado
Não esnoba, fica mudo
Na verdade, o arrogante
É o maior ignorante
Que existe nesse mundo
Quero seduzir o tempo
Para ir mais devagar
Subornar o meu relógio
Para deixar de girar
Achar a infinitude
A fonte da juventude
E a vida eternizar
Eu preciso tirar férias
Dar descanso ao coração
Encerrar o velho ciclo
Depois da decepção
Parar só por um momento
Dar a folga ao sentimento
Aguardar renovação
Inventei uma receita
Prato de prosperidade
Vinte gramas de suor
Refogado na vontade
No tempero, bote alho
Misturado com trabalho
Fé e oportunidade
A inveja é uma cobra
Que mata devagarinho
É criada por colega
Por parente ou vizinho
Se você está com sorte
O veneno é mais forte
Pra lascar você todinho
Vou pra universidade,
Faculdade do amor.
Fazer bem a quem se ama,
Ensina o professor.
Ser gentil é o mestrado.
Ser fiel e apaixonado
É tornar-se um doutor.
No tempo de lá de trás
Toca-fitas se usava
Ou então era a vitrola
E vinil se escutava
Hoje basta colocar
A canção no celular
O que antes só ligava
Dia de supermercado
Todo mundo quer comprar
O filé, o camarão
E também o caviar
Mas com preço nas alturas
É somente a rapadura
O que vai dar pra comprar
Em um mundo bem melhor
Toda guerra é de amor
A bala de artilharia
É a pétala de flor
Os soldados são amigos
Não há mortos e feridos
O planeta é o vencedor
Eu carrego a saudade
Da vida de antigamente
Do abraço, do beijinho
Do calor da nossa gente
Parece que a epidemia
Congelou a alegria
Tornou o mundo doente
Eu sempre ouvi dizer
Que a gente nasce só
Além disso, escutei
Que a gente morre só
Mas o que ninguém falou
E a vida ensinou
É que a gente vive só
Ser um pai é ser amigo
É também participar
É oferecer abrigo
O conforto de um lar
Mas além de provedor
Tem que ser acolhedor
Para o filho o amar
Um sorriso custa nada
Mas parece que tem preço
Gentileza não se vê
Era só ter mais apreço
O mundo está tão frio
Que até dá calafrio
Precisa de um recomeço
Paciência é virtude
Sinal de serenidade
Ela chega com o tempo
Vem com a maturidade
Requisito necessário
Justamente o contrário
Do mal da ansiedade
No domingo você pensa
Que a vida é vagarosa
A manhã é sonolenta
E a tarde é ociosa
Não tem nada pra fazer
Mais parece que você
É pessoa preguiçosa
Chuva forte é "toró"
Rir dos outros é "mangar"
Pão bisnaga é "tabica"
Matar aula é "gazear"
Um estouro é "pipoco"
Um botão é um "pitoco"
Afrouxar é "afolosar"
Paciência é semente
Começando a germinar
Só o tempo pra fazer
Uma flor desabrochar
Nessa vida com certeza
Tal como a natureza
Nossa hora vai chegar
É difícil se achar
Nas areias do deserto
O milagre é viver
Achar o caminho certo
Quando vejo sua imagem
É reflexo, miragem
Você não está por perto
Renovar a esperança
Outro álbum pra fazer
Começar tudo de novo
Tempo para acontecer
Hora de recomeçar
Criar asa e voar
Novamente renascer
Estado vegetativo
É ver o tempo passar
Ter um coma induzido
Mergulhar no celular
Fugir do mundo real
Pra viver no virtual
É querer paralisar
Amizade é um bom vinho
Só melhora com o tempo
Não é filme passageiro
Nem romance de momento
Como um rio navegável
É perene e estável
Por todo seu comprimento