Rodrigo R. Silveira
Havia uma completude incompleta nos dias, era uma sensação de afago constante misturada com o buraco de viver. Propósitos e grandes acoes, são metáforas que na verdade representam um único instante de vida.
A realidade é fato usual, como se uma peça de roupa intima, cada um tem a sua, e cada um, no seu tamanho cor e tipo. As vezes, só precisamos encarar um novo inverno, ou quem sabe, a realidade de uma nova estação.
[...] era uma letargia singular, me fazia parar no tempo, na vida, travava as pernas, reduzia ate os batimentos do coração....quase o parava. - É engraçado como reagimos às questões da vida e também do coração. Você se solta na montanha russa mas não sente o frio na barriga, e sim, um medo singelo, que te trava e faz com que nada mais aconteça.
[...] talvez não me conheça, talvez não se reconheça, ou quem sabe ainda não poderemos então nos conhecer nunca, mas parte de mim existe dentro de ti, e parte de ti existe e tem lugar dentro de mim. Estamos sutilmente conectados, não por sentimentos abraçados ou quem sabe destinos traçados, mas pelo desejo de amar, não eu e você, mas o outro, aquele ou aquela quem nem mesmo tivemos o prazer de ainda conhecer.
Saudade cria espaço dentro da gente, aperta lembranças, sufoca memórias, vai tomando cômodos e aos poucos, se aconchegando em meio aos móveis da nossa vida. Vez ou outra ainda, ascende um abajur no meio da noite como a quem vai fazer uma leitura, ou anotar uma idéia incrível para dominar o mundo, quando na verdade, só domina mesmo é a gente.
[...] confesso que naquele momento eu fui incrivelmente pego de surpresa, o momento era singelo, talvez pequeno demais pra me fazer parar no tempo. Ao caminhar em minha direção, ela soltou um sorriso pouco convencional nos meus dias, e mesmo sendo no inicio da noite, estranhamente um sol raiou. Pensei rapidamente eu comigo, "- que surpresa boa!"
Dias ensolarados não são suficientes pra fazer verão. É necessário o grão de areia nos pés, a agua salgada e as vezes até uma leve brisa no rosto para nos lembrar da estação. - E não estou falando de clima.
O ambiente era lindo, mesmo com a ausência de musica as palavras soavam sem barreiras pelo ar, a conversa fluía, tudo estava perfeito exceto por uma única ausência, que somente se despertou no final daquele jantar. A companhia estava errada. Faltava um sorriso que ali não estava. Faltava um silencio de contemplação que tinha dona. - Eu estava cheio da noite, e ausente do suspiro. da companhia. Passei uma ou duas vezes digerindo, não o jantar, mas a ausência que me surgia naquela noite. Era uma mistura de ausência com sentimento de perda. Eu sabia que tinha que seguir em frente, e que possivelmente ela também ja teria o feito, mas eu queria voltar, eu queria buscar o passado incessantemente e trazer-lo para perto de mim, e abraça-lo como a quem jamais se despediria de algo ou de alguém.
A maior despedida é sem sombra de duvidas, aquela que a gente não quer dar. Aquela que a vida simplesmente chega e nos impõe. Nos oferece sem opções. Nos faz dizer sim sem expressar uma única letra.
A gente sabe, sabe o sorriso que nos faz sorrir, o beijo que nos faz suspirar, e as vezes ate mesmo o endereço que nos faz amar. A gente sabe o gosto da paixão, da ilusão do sabor que o amor nos deixa na boca. A gente sabe, o que a lembrança reacende, o que a memória de jeito nenhum quer deixar apagar.
Àquela que sorri no limiar do meu dia
Não sei teu nome completo, tampouco o peso dos teus sonhos,
mas sei que, ao entrar naquele lugar, és a primeira alvorada que me alcança.
Teu gesto, singelo, tocou-me como um sopro no meio da pressa –
um simples “parabéns”, e minha alma ficou em suspenso.
Não te escrevo por desejo de algo, nem por ânsia de resposta.
Escrevo porque há sentimentos que, quando calados, fazem barulho por dentro,
e quando ditos, precisam ser leves, como pétalas ao vento.
Se este encanto que em mim repousa for ilusão,
que ao menos me ensine a ver a beleza em cada pequeno gesto.
Se for algo mais — que o tempo, senhor de todas as verdades, o diga.
E se jamais houver tempo para isso,
que saibas: teu sorriso foi parte de um verso feliz da minha semana.
Até lá, me contento em ser um silêncio gentil à tua presença,
como quem guarda uma flor num livro, sem arrancá-la do jardim.
Há amores que duram décadas e não dizem nada. E há amores que, em um único outono, mudam toda a paisagem da alma.
[...] teu anseio é poesia viva, é o grito do humano que pressente sua finitude e deseja, antes de partir, tocar a eternidade através do amor.