Rimbaud

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Vamos apreciar sem vertigem o tamanho de minha inocência.

Por delicadeza, perdi a minha vida.

Expliquei então meus sofismas mágicos pela alucinação das palavras!...
Acabei por considerar sagrada a desordem da minha inteligência.

Sensação

Pelas tardes azuis do Verão, irei pelas
sendas,

Guarnecidas pelo trigal,
pisando a erva miúda:

Sonhador, sentirei a
frescura em meus pés.

Deixarei o vento banhar
minha cabeça nua.



Não falarei mais, não
pensarei mais:

Mas um amor infinito me
invadirá a alma.

E irei longe, bem longe,
como um boêmio,

Pela natureza, - feliz
como com uma mulher.

Se arrume, dance, ria, - Nunca pude mesmo jogar o amor pela janela.

A mão que segura a pena vale tanto quanto, a que empurra o arado.

Eu é um outro.

Sentei a beleza ao meu colo
Achei-a amarga
E injuriei-a

Estendi cordas de campanário a campanário; guirlandas de janela a janela; correntes de ouro de estrela a estrela, e danço.

Sua bondade e sua caridade, sozinhas, lhe darão o direito de ser, no mundo, real?

Contra a justiça
Armei-me

Que venha a hora da paixão!

No Cabaré-Verde
às cinco horas da tarde

Oito dias a pé, as botinas rasgadas
Nas pedras do caminho: em Charleroi arrio.
- No Cabaré-Verde: pedi umas torradas
Na manteiga e presunto, embora meio frio.

Reconfortado, estendo as pernas sob a mesa
Verde e me ponho a olhar os ingênuos motivos
De uma tapeçaria. - E, adorável surpresa,
Quando a moça de peito enorme e de olhos vivos

- Essa, não há de ser um beijo que a amedronte! -
Sorridente me trás as torradas e um monte
De presunto bem morno, em prato colorido;

Um presunto rosado e branco, a que perfuma
Um dente de alho, e um chope enorme, cuja espuma
Um raio vem doirar do sol amortecido.

A vida é uma comedia em que todos tomamos parte.

O poeta se faz vidente por um longo, imenso e pensado desregramento de todos os sentidos. todas as formas de amor, de sofrimento, de loucura; ele busca a si mesmo, ele exaure em si mesmo todos os venenos, para então guardar apenas as quintessências. inefável tortura na qual necessita de toda a fé, toda a força sobre-humana, onde ele se torna entre todos o grande doente, o grande criminoso, o grande maldito, – e o supremo sábio! – pois ele chega ao desconhecido! uma vez que ele cultivou sua alma, já rico, mais que todos! ele chega ao desconhecido, e quando, enlouquecido, ele acabaria por perder a inteligência de suas visões, ele as viu! que ele estoure em seu sobressalto pelas coisas inaudíveis e inomináveis: virão outros horríveis trabalhadores; eles começarão pelos horizontes onde o outro se abateu!

REALEZA
Numa bela manhã, em meio a gente doce, um homem e uma mulher soberbos gritavam pela praça pública:"Amigos, quero que ela seja minha Rainha!", "Quero ser Rainha!".
Ela ria e tremia.Ele falava aos amigos de revelação, de uma provação terminada.Eles desmaiavam um no outro.
De fato, eles foram reis por uma manhã inteira, em que tapeçarias carminadas se estenderam sobre as casas;
E a tarde inteira, em que eles avançaram do lado do jardim de palmeiras.

Inserida por edditavares