Richard Pipes

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A palavra comunismo foi cunhada em Paris na década de 1840, e refere-se a três fenômenos que, embora distintos, têm relação entre si: um ideal, um programa e um regime instituído para realizar o ideal.

O IDEAL do comunismo é o da igualdade social que, em sua forma mais extrema (como em alguns escritos de Platão), implica a dissolução do indivíduo na comunidade. Na medida em que as desigualdades sociais e econômicas derivam primordialmente das desigualdades de bens, sua consecução requer a não existência de "meu"e "seu" - em outras palavras, da propriedade privada. O ideal teve a sua primeira formulação nos escritos de Platão. Na República, falado por Sócrates, Platão viu nos bens a raiz da discórdia e das guerras:

"Tais diferenças originam-se geralmente na divergência a respeito do uso dos termos "meu" e "não meu", "seu" e "não seu". (...) E o Estado mais bem organizado não é aquele em que o maior número de pessoas aplica os termos "meu" e "não meu" da mesma maneira à mesma coisas?"

Em As Leis, Platão divisou uma sociedade em que as pessoas compartilhavam não somente todas as posses mundanas, assim como suas esposas e filhos, mas uma em que

"o privado e individual é totalmente banido da vida, e as coisas que são privadas por natureza, tais como os olhos, ouvidos e mãos, se tornam comuns e, de certa maneira, ver, ouvir e agir em comum, e todos os homens expressam orgulho e culpa e sentem alegria e tristeza nas mesmas ocasiões."

Aristóteles, brilhante discípulo de Platão, questionou se tal utopia comunista traria a paz social, com base em que as pessoas que têm coisas em comum são mais propensas a brigar do que as que as mantêm privadas. Além do mais, argumentou ele, o pomo da discórdia social não reside nos bens materiais, mas no anseio deles: "não é o bem, mas os desejos da humanidade que precisam ser equiparados".

O PROGRAMA remonta a meados do século XIX e está mais intimamente associado com os nomes de Karl Marx e Friederich Engels. Em seu Manifesto Comunista, de 1848, Marx e Engels escreveram que "a teoria dos comunistas pode ser resumida em uma única frase: "abolição da propriedade privada". Acreditavam que as socidades baseadas na distinção de classes entrariam em colapso.

O primeiro esforço para tentar efetivar o comunismo usando o poder do Estado ocorreu na Rússia entre 1917 e 1991. Vladimir Lenin foi o fundador deste regime. Lenin visualizava uma sociedade igualitária, sem propriedades, emergindo da ditadura do proletariado, que eliminaria a propriedade privada e prepararia o terreno para o comunismo.

Desta forma, o comunismo desenvolveu-se na seguinte sequência histórica: primeiro surgiu a idéia, depois o plano de realização e, finalmente, a implementação.

O ideal e o programa são relativamente inócuos. Todas as tentativas de os colocarem em prática, especialmente as sustentadas pelo poder do Estado, tiveram graves consequências, entre elas, a morte de milhões de pessoas.

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