Ricardo Louzada
Acordei. Mas desta vez foi diferente.
Acordei. Onde está o mundo que costumava conhecer?
Acordei. Que sol é esse que queima a minha face?
Acordei. O vento canta aos meus ouvidos.
Acordei. Em meio a incertezas, me pus à prova.
Acordei, pisando e caminhando em uma nova vida.
Acordei. O medo não me acompanha mais.
Acordei. E, dessa vez, para nunca mais dormir.
Quem é esse que faz do espelho sua morada e insiste em me encarar toda vez que o olho?
Seu olhar é tão profundo... Como se, ao me observar, ele visse quem eu realmente sou.
Por que insiste em me encarar? Será que quer me dizer algo?
Ele parece mais confiante do que eu. Mais forte. Mais bonito.
Mas ele não sai de lá. Está preso, e eu estou livre. Algo meu é dele, e algo dele é meu.
Por isso, sempre que eu me esquecer de quem eu sou, voltarei aqui em busca de conselhos.
Espelho, espelho meu, diga-me: em que momentoeunãofuieu?
Incontáveis são os reinos que existem no coração do homem. Milhares de mundos e vidas já vivemos.
O que vemos, o que criamos, o que sonhamos... Mundos diversos, repletos de magia e encantos a cada dia.
Talvez façamos parte do Criador quando acordamos a cada manhã e, em nosso pensamento, dizemos: Que haja luz!
E vemos que houve luz — e que ela era, e ainda é, muito boa.
Descobrindo o mundo.
A chuva caia na rua silenciosa. Faróis brilhantes. São quase 18h, o dia interminável chega ao fim. Mais um dia, mais uma semana passava e o sentimento de que a vida se esvaia me acompanhava por todos os lugares.
_Roger, onde você está?
_Ainda no trabalho, e você?
_Indo para casa nesse momento. A fim de fazer alguma coisa à noite?
_Preciso! Veja as opções e me fala o que decidir.
A roda da vida sempre girando. Um dia em cima, outro dia embaixo. As mesmas cenas repetidas me fazem crer que não somente os ratinhos estão presos em suas gaiolas, correndo para girar sua roda de felicidade, sem sair do mesmo lugar.
Quando o mundo se tornou tão chato? Será somente isso? O que não daria para, um dia, embarcar em uma nova Vera Cruz em busca de uma nova terra. Embora, o mais importante é saber, caso este dia chegue, se teria a coragem suficiente para embarcar.
"Ao regressar-me para as terras insalubres do Rio do mês de Janeiro, a miséria, o sofrimento e a dor se revela na face de suas paisagens. Em minha memória, então, ressoa o farfalhar dos áureos arbóreos paulistas deixados em retentor e o vento confidenciando-me suas furtuitas vidas simples e belas que passara já."
"Amor em Camada de Valência"
No silêncio atômico do ser,
há um núcleo que só quer entender
por que falta algo no fim do dia,
como se a alma pedisse alquimia.
Sou ametal, um ser de atração,
não busco ouro, nem combustão.
O que me falta é só conexão,
um elétron que acalme meu coração.
Tua carga vem de longe, flutua,
como próton que à noite recua.
E eu, com fome de completar,
atraio o que tens pra doar.
Mas não é roubo, nem imposição —
é enlace, é química, é comunhão.
Compartilhamos elétrons com calma,
como quem entrelaça corpo e alma.
E se a vida é feita de ligações,
de forças fracas e paixões,
então que sejamos moléculas unidas,
pelo amor que dá sentido às vidas.