Pascal

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O silêncio eterno desses espaços infinitos me assusta.

O homem não passa de um caniço, o mais fraco da natureza, mas é um caniço pensante. Não é preciso que o universo inteiro se arme para esmagá-lo: um vapor, uma gota de água, bastam para matá-lo. Mas, mesmo que o universo o esmagasse, o homem seria mais nobre do porque quem o mata, porque sabe que morre e a vantagem que o universo tem sobre ele; o universo desconhece tudo isso.

Fora de Jesus Cristo não sabemos o que é nossa vida, nem nossa morte, nem Deus, nem nós mesmos.

O melhor livro de moral é a nossa consciência. Temos que consultá-lo muito frequentemente.

O homem é apenas um caniço, o mais fraco da natureza; mas é um caniço pensante. Não é preciso que o universo inteiro se arme para esmagá-lo: um vapor, uma gota de água, são suficientes para matá-lo. Mas, mesmo que o universo o esmagasse, o homem seria ainda mais nobre do que o que o mata, porque ele sabe que morre, e conhece a vantagem que o universo tem sobre ele; e disso o universo nada sabe. Toda a nossa dignidade consiste, pois, no pensamento. É a partir dele que nos devemos elevar e não do espaço e da duração, que não saberíamos ocupar.

O pensamento faz a grandeza do homem

O egoísta odeia a solidão.

Aquele que duvida e não investiga torna-se não só infeliz mas também injusto.

Se você acredita em Deus e nas Escrituras e estiver certo, será beneficiado com a ida ao paraíso.
Se você acredita em Deus e nas Escrituras e estiver errado, não terá perdido nada.
Se você não acredita em Deus e nas Escrituras e estiver certo, não terá perdido nada.
Se você não acredita em Deus e nas Escrituras e estiver errado, você irá para o fogo eterno.

Nós somos tão necessariamente loucos que seria estar louco por uma outra espécie de loucura, não estar louco.

O homem não é o único animal que pensa. Entretanto é o único que pensa que não é animal.

Mais vale saber alguma coisa de tudo, que saber tudo de uma só coisa.

O homem não é anjo, nem besta, mas quem quer ser anjo, acaba sendo besta.

Quando penso na pequena duração da minha vida, absorvida na eternidade anterior, no pequeno espaço que ocupa, fundido na imensidade dos espaços que ignora e que me ignoram, aterro-me e me assombro de ver-me aqui e não alhures, pois não há razão alguma para que esteja aqui e não alhures, agora e não em outro qualquer momento. Quem me colocou nessas condições? Por ordem e obra e necessidade de quem me foram designados esse lugar e esse momento? Memoria hospitis unius diei praetereuntis. (A lembrança de hóspede de um dia que passa. Sabedoria, V, 15.)

Ante a cegueira e a miséria do homem, diante do universo mudo, do homem sem luz, abandonado a si mesmo e como que perdido nesse rincão do universo, sem consciência de quem o colocou aí, nem do que veio fazer, nem do que lhe acontecerá depois da morte, ante o homem incapaz de qualquer conhecimento, invade-me o terror e sinto-me como alguém que levassem, durante o sono, para uma ilha deserta, e espantosa, e aí despertasse ignorante de seu paradeiro e impossibilitado de evadir-se. E maravilho-me de que não se desespere alguém ante tão miserável estado. Vejo outras pessoas ao meu lado, aparentemente iguais; pergunto-lhes se se acham mais instruídas que eu, e me respondem pela negativa; no entanto, esses miseráveis extraviados se apegam aos prazeres que encontram em torno de si. Quanto a mim, não consigo afeiçoar-me a tais objetos e, considerando que no que vejo há mais aparência do que outra coisa, procuro descobrir se Deus não deixou algum sinal próprio.

O silêncio eterno desses espaços infinitos me apavora. Quantos reinos nos ignoram!

Por que são limitados meu conhecimento, minha estatura, a duração de minha vida a cem anos e não a mil? Que motivos levaram a natureza a fazer-me assim, a escolher esse número em lugar de outro qualquer, desde que na infinidade dos números não há razões para tal preferência, nem nada que seja preferível a nada?

Blaise Pascal

Nota: Fragmento 72 do livro póstumo “Pensamentos”. Extraído do volume “Pensadores Franceses” da coleção Clássicos Jackson, volume XII. Tradução de J. Brito Broca e Wilson Lousada.

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A infelicidade de um homem começa com a incapacidade de estar a sós, consigo mesmo, num quarto.

Quando estamos de boa saúde, admiramo-nos de como seria possível estarmos doentes; quando isso acontece, medicamo-nos alegremente.

Todas as ocupações dos homens tendem à posse de alguma coisa; e eles não têm nem título para a possuir justamente nem força para a possuir com segurança.

Quando se vê o estilo natural (do escritor), é-se assombrado e arrebatado, pois esperava-se ver um autor e encontra-se um homem.

O último ato é sangrento, por mais suave que seja a peça.

Palavras amáveis não custam nada e conseguem muito.

A diversão é uma fuga de nós mesmos.

Ninguém sabe tanto que não tenha o que aprender e
ninguém sabe tão pouco que não tenha o que ensinar...

Há dois tipos de pessoas: as que têm medo de perder Deus e as que têm medo de encontrá-Lo.

Se examinarmos nossos pensamentos, iremos encontrá-los sempre ocupados com o passado e o futuro.

Somos apenas mentira, duplicidade, contradição, e a nós próprios nos disfarçamos e ocultamos.