Natani Risorim

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Amor de Mãe:
Com as coisas correndo dessa forma, eu consigo imaginar que irá ser difícil para você também. Eu tive tanta alegria, mas também tanto medo ao colocar algo tão delicado na imensidão que é esse mundo. Quero que tenha em mente que você se permitindo sentir, permite machucar-se também. Com o tempo verá que é um pacote, e que não é tão ruim assim. Que você passe por todas essas coisas que qualquer pessoa passa, mas que saiba exatamente o que fazer com aquilo que lhe fizeram, e que não suspeite o mal só porque o suspeitaram. Muito menos se trair ao desbotar seu caráter somente porque alguém não o teve. Eu não lhe desejo sorte, eu lhe desejo Deus.

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Não menospreze quem chegou a esse mundo depois. Todos nós estamos aqui por algum motivo, para alguma coisa. Você dança, fulano canta, enquanto sicrano toca, e beltrano faz poema. Aquele que não sabe conversar o que você entende, certamente terá bastante assunto ao que você desconhece.

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Não me venha com perguntas. Se é só isso mesmo, se é isso que a canção quis dizer. E eu que sei, rapaz? Eu que sei! Me venha com sentimentos prontos. Goste-me, e eu o gostarei. Não me odeie. Eu não tenho odiado ninguém nessa vida; e nem pretendo. Não me cobre. Eu mesma sei fazer isso comigo. Não me arranque os sonhos quando meus pés não estiverem mais ao chão. A tua estrada é aquela lá! Não queira bifurcar a minha.

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O silêncio dele incomodou meus ouvidos como o zumbido que surge por haver silêncio exagerado. O silêncio dele, que outrora já teve assunto inacabável com o meu, agora, não só fez mal aos meus ouvidos como também ao peito. Peito esse que grita os ecos questionando o próprio oco: Cadê você? Você volta? Por que as malas? Você volta?

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Eu aceito suas crises existenciais se você aceitar vez em quando minha ausência sem querer preenchê-la com outro par de pés. Eu sei que suas crises não são de culpa minha, mesmo que a ausência seja. Se compreendermos isso, teremos grande chance de olhar um para o outro com atenção e delicadeza. E ninguém terá que se perguntar quem sorriu, gostou, amou, ou se entregou primeiro. Descobriremos que amor não é sobre quem faz mais, e sim, quem faz. Que, quando entre dois corações existe sintonia, os atos destes só podem terminar em proporção.

Estava cansado de perguntas que me rodeavam há mais de um mês. Nada perdura tanto em minha mente, já que me conhecem por meu aparecido esquecimento. Afinal, quem sou eu? Ora alguém que desperta. Menino, poeta, outras vezes, ninguém. Se contar com a mesma mente, sou gente. Momentâneo, mas sou. Olho à porta alta, penso ser astronauta, mas findo como o Zé que cansou do codinome. Cansado do farto de escrever como poeta. Miro a janela incerta. Corro e me jogo como um pássaro deve ser. Não me restou tempo nem para gritar. Caí na grama, não fraturei uma perna! Me atirei do primeiro andar.

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No meio daqueles riscos de pessoas que passam apressadas para lá e para cá, num olhar ao mundo mais rebaixado, com a mão estendida e uma caixa ao lado, estava o homem pedindo algo. O primeiro finge não ver, O idoso resmunga algo, a criança para por alguns segundos, em seguida corre para a mãe que logo diz ser o “homem do saco”. E aquele homem, lá, no meio daqueles riscos de pessoas que passam apressadas para lá e para cá, do outro lado da calçada, agora com as duas mãos estendidas, olha para cima, em seguida aperta os olhos fundos pelo incômodo do sol intenso que fitou-os e queimou-lhe a face. A mulher que passara segurou a bolsa, o jovem saudável deu de ombros, e uma criança estendeu-lhe o sorvete que levava lambendo, mas logo foi puxada pelo braço pelo pai que pareceu não ter notado o ato. O homem então abaixou a cabeça e sussurrou algo. Sussurrou algo que só o cão magricelo que ali estava sentado ao seu lado como sua única companhia, com a boca espichada nos cantos, se coçando, pôde ouvir. Não pediu uma esmola, meu Deus, nem pão. Pediu pra vir a chuva, regar sua pobre solidão.

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Já tentei, mas não entendo a ideia de ser livre para beijar outras bocas, sentir outros perfumes, e trocar dia após dia o entrelaçar de muitas mãos. A pessoa se confunde com tamanha informação e não sabe mais de quem é que cheiro, quem é a dona de tal toque, ou qual a boca que só usa vermelho. Não aprende de ninguém tais manias. Não sabe que Carmem ama piano, e Joana faz balé. E que Anita se remexe, embora não saiba dançar. Não sabe! Não sabe que Amanda é a que encaixa perfeitamente em seu peito. E que Clarisse chora fácil quando acaba um livro. Estufa o peito e branda: “Desapego é prática, é prático, uma brincadeira!” Uma brincadeira que logo perderá a graça quando tudo estiver vago e com tempo de sobra para pensar e se lembrar de Carmem, Joana, Anita, Amanda, e muitas outras que por suas mãos passaram. E então descobrir por que findaste só.

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Coisa de novela:
Teus lábios bem desenhados despertou-me o interesse
Espere!
Ainda não falei do céu
E de como quero ser seu

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Amor Ímpar:
Eu choro por ti
E você sorri por fulano
Que bebe no bar da esquina às vinte e três
Enquanto lembra de beltrana
Que não prega os olhos pensando em mim

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A saudade nunca é par, se fosse não teria ninguém a sentindo. Se par é presença, saudade é ausência, e ausência nunca é dois. Saudade jamais será par. Pode ser até sentida por dois, mas cada um em seu tempo. A de Rosa vem quando acorda, do Zé um pouco antes de dormir. Saudade não é par. Par é ser feliz.

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Sou uma dispersa, mas vi teus olhos escapando, risonhos, dos meus. Ah! Que foi que me deu para rir junto? Minha cabeça perambula pela lua, mas quando o vejo descubro Marte. Sou uma tremenda dispersa; até você se aproximar.

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Você faz com meu coração igual faço com minha mãe quando ela está limpando o chão da sala: esquece e sai pisando.

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O Ato De Confiança
Que nos leva a ter a esperança firme em um ser de constante mutação? Mudam-se ideias, sentidos, fatores, voz, pensamento, sentimentos, caminho. Pior: o que leva a gente a ter esperança firme em outros… Em nós? Mesmo que frágeis, pecadores, ofensores, ofendidos, magoados, maluvidos em nossos próprios conselhos. Se me estendes a mão, ela apertarei, e certamente estenderei de volta assim que a pedires. Tem quem nomeie isso a troca de favores, mas nem sempre é. A via é de mão dupla, por vezes, bifurcada. Faze-lhe a gentileza, que a ti ela retorna. Só não direi que ela parte de quem de ti a recebeu. Seria precipitado garantir que todos gozam de uma boa memória. Pois sabemos que uma mão lava a outra, mas nem sempre as enxugam. É o ponto onde o ser e o não ser suportam uma mesma questão. E vai você atrever-se a recusar não confiar em nada daquilo que lhe cerca: é morte na certa, meu rapaz! É expirar subitamente como dente-de-leão no qual o vento bate e o carrega no sentido que lhe agrada.

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Saber da sua existência me dá o sentimento de felicidade. Sim, felicidade; e a cidade também fica feliz ao saber do meu amor por ti. Eu conto a eles como quem lê um livro ilustrado por crianças que em tudo vê bonito, em que tudo se alegram. E quando conto, eles perguntam: “Quando é que ela vem?” “Amanhã… Talvez.” Respondo. “Cedo?” Alguém que está sentado ao fundo quer saber. “Assim espero”, suspiro… Pois o tarde não tem lá sua boa reputação.

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Ah! O meu amor por você. O que posso dizer? É bonito; é! E como é. É brisa, vento mansinho, que chega devagarinho e acaricia a face virgem que dispensa qualquer lágrima que não seja cúmplice do teu sorriso. Pois tudo é leve! Céu azul, alaranjado, tudo encanta. Acha-se criança numa cantiga de ninar. Encosta-se no peito, suspira, ri manso, fechando os olhinhos gradualmente pra sonhar. Pra quê? Se a realidade já é doce que desmancha na boca ainda mais doce pelo gloss de melancia. Que tu, somente tu, sejas meu amor, minha flor, meu afago em que me afogo e ainda vivo, respiro, fundo, o mundo de coisas belas, singelas, amadas, queridas por toda estação. Que nós, quase que sós, sussurremos carinhos como que canções em dias de verão precipitado, e fixemos esse amor por tempo indefinido.

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Ele tem cheirinho de giz de cera. É só olhar para ele que me surge um enxame de boas lembranças. Nem foi preciso convite. Ele veio porque quis, e eu fico porque o quero.

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Aquilo era apenas vontade. E vontade, nós sabemos, não é uma coisa que se ache raiz.

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As alegrias, espalho. Não por alarde, mas por querer dizer aos desencantados que ainda há felicidade por aí. A tristeza também confesso, mas essa conto a poucos. Só para quem garante que a alegria está escondida bem debaixo do meu nariz.

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Me escreva uma carta. Uma qualquer. Poder dispensar envelope se assim quiser. Não necessita laço nem barbante dado nó. Nem palavras rimadas ou difíceis. Não se preocupe com algumas pontuações, assim eu veria que (embora esses longos meses longe) não temos divisão alguma. Nem mesmo em palavras. Só peço para que não deixe de espirrar na carta um pouquinho do teu perfume do qual confesso que não sei ao certo se é doce ou cítrico - você sabe que sempre tive essa confusão -, mas sei que é seu. Certo que isso agravaria a saudade, e para não acontecer de senti-la ainda mais eu teria que andar com a carta pendurada no nariz o dia inteiro. Na cafeteria, na fila do banco, no restaurante. Peguei-me rindo agora que disse isso. Imagina quão inusitado e engraçado seria ver a reação de algumas pessoas que, porventura, me olhassem… Mas, pensando bem, até que não seria má ideia. Talvez, se, os que rissem, soubessem de perto a nossa história, clamariam feito italiano quando vê massa: “Mas que bela história! E que bela ideia!” E a cidade, quem sabe, adotaria esse ato. E as pessoas se acostumariam com a ideia de que cartas de amor podem ser cheiradas em público, já que por anos foram cautelosamente fungadas no canto da sala. O assunto se alastraria pelas ruas, bairros, e assim por diante. Preencheria as colunas dos jornais e seria assunto em reuniões de negócios, onde todos concordariam que o próximo passo seria ir à procura do remetente. E como justificativa diríamos, mesmo que com dentes cerrados, mesmo que balbuciando: 'Eu vim, porque o teu perfume foi embora.'

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Não vou dizer que não fui contra; eu fui. Disse “não, não e não!”. Tirei água com o balde que tirava bem menos que a rapidez com que entrava. Escondi a chave, dei as costas, fingi não ver, não sentir. Tentei. Eu nadei feito náufrago em desespero temendo sucumbir-se. Eu subi na árvore, eu me escondi sem nem a brincadeira ser essa. Eu entrei no porão, eu subi para o sótão, pus as mãos ora nos ouvidos, ora no rosto. Cantei mais alto que meus pensamentos, meus sentimentos. Não funcionou. Corri, acredite, e nem sequer olhei para trás. Tentei lembrar de esquecer, fingi esquecer de lembrar. Mas não deu. Nunca dá.

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Não estou fazendo pouco caso, nem desprezando o que quer me oferecer. Só estou feliz demais para querer ser quebrada ao meio.

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Arranha-céu,
O céu arranha. Quem me dera ser criança, olhar para cima e sorrir. Se ainda rio já não sei. E se sei esqueço. E se esqueço já não lembro como fui ao ser criança. Quem pudera a infância visitasse sequer uma única vez o meu ser: esse pobre calejado, avançado
e ainda assim paralisado em primícias das quais não sabia e confesso que ainda não sei o que aconteceu que fui olhar para aquele arranha-céu e não sorri.

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No prédio ao lado de onde eu moro há um moço que ao invés de pedir para abrirem o portão ele grita: “Joga a trança Rapunzel!” Eu me rio. E imagino o quão feliz seria se o mundo inteiro risse comigo, pelo menos nesse instante.

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Os infinitos de Carla

Carla fotografava o céu com os olhos; vai ver por isso o brilho intenso contido neles. Suas palavras tinham a lisura do tempo que, sem cerimônia, apenas é: ensolarado, nublado, chuvoso, por que não? Se as fases de lua ela também tem… Ah! Pudera eu saber voar só para ter lugar na cor dos seus olhos noturnos. Quem me dera se o amanhecer tivesse a delicadeza de não levar embora as estrelas daquele olhar amigo.

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