Mommentum ad Infinitum

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Ao sopé de uma gigantesca montanha, confabulando amistosamente, estavam a Águia e a Tartaruga. Falavam sobre superar limites, e atingir objetivos.
A Águia, poderosa rainha dos ares, dizia não haver lugares inatingíveis, e nem metas que não pudesse alcançar. A envergadura de suas asas permitia que fosse a qualquer lugar. Era soberana e tinha a segurança que apenas tem, quem sabe do seu real potencial.
A meiga Tartaruga, a quem a Paciência já havia ensinado grandes lições, falava sem pressa. Contava sobre pequenos detalhes, que, ao longo de sua caminhada, haviam entrado pelos seus olhos, e marcado seu coração.
A Águia, sempre sedenta por aventuras, propôs um desafio á Tartaruga. Subiriam a montanha, para lá do alto, ver o mar. Queria mostrar para sua amiga, o tamanho real do mundo. O horizonte visto do alto, era de uma beleza impar. Empolgada, descreveu o aprendizado que sua alma faminta, já assimilara. A Tartaruga, conhecendo a velocidade de seus passos, soube que este desafio muito lhe custaria. Talvez a metade de sua existência. Mas, queria ver o que havia lá no alto.
Olharam-se, sorridentes, e começaram sua aventura. O farfalhar das asas da Águia, ergueu poeira, e em instantes, sumiu das vistas da Tartaruga.
E esta, movendo-se no ritmo que lhe fora conferido pela Vida, foi subindo lentamente. Seu corpanzil pesado tinha muita dificuldade para se mover naquele terreno irregular. Durante o trajeto, muitas vezes tropeçava na falta de experiência, e rolava morro abaixo. Mas, depois de se refazer, recomeçava a caminhada. A trilha era estreita, e muitas vezes, ela parava para dar passagem a outros animais, que subiam ou desciam, e sempre gentil, oferecia-lhes seu sorriso.
Alimentava-se da vasta vegetação, e seu paladar provou novos sabores. Alguns amargos, mas outros absurdamente tenros e macios. Olhando ao redor, para não perder nenhum detalhe, deu-se conta de que havia flores, ornamentando o caminho, e estas, com seu perfume, derramavam alento, dentro de seu coração.
Enquanto a Tartaruga se empenhava em subir, tomando muito cuidado com as quedas, a Águia, há muito já alcançara o topo. Aliás, não demorara quase nada, e agora, no alto de uma frondosa árvore, se perguntava quanto tempo levaria a Tartaruga, para vir a ter com ela.
Esperou dias e noites. E aquela paisagem, sempre encantadora, foi tornando-se cansativa, e ela ansiou por sair dali. Precisava alçar vôo, traçar novas metas. Tinha sido tão fácil chegar, e agora se perguntava porque incentivara a pobre Tartaruga a subir. Não seria possível esperar por ela. A Vida se agitava dentro das suas veias, e estagnar significava matar seu espírito. Morreria, se ficasse. Precisava estar em constante movimento, para que suas asas não atrofiassem. Olhou para baixo, e nem sinal da Tartaruga. Então, seu piado forte, cortou o silêncio, enquanto ela cortava o céu, e voou dali.
Anos mais tarde, completamente exaurida, chegou a Tartaruga ao topo. Durante este tempo todo, enquanto caminhava, e quando o cansaço minava as suas forças, era nas palavras da Águia que ela pensava. Veria algo novo. Veria um novo mundo. E este pensamento foi seu alimento. A cada vez que quase sucumbia, tentava visualizar aquele horizonte, descrito pela Águia, e então, cantarolante, começava tudo outra vez.
Seus passos eram constantes. A subida não lhe conferira uma nova velocidade. Muitas vezes, havia sido muito duro, olhar para o alto, e ver o quanto ainda faltava. Então, ela olhava para os lados. E olhava atrás de si. E, orgulhosa constatava que, mesmo que morresse ali, que jamais atingisse seu objetivo, jamais em sua vida, havia feito algo igual.
Faltava pouco agora, para que conhecesse um mundo novo. Mais alguns arbustos e estaria no topo da montanha. Seu coração batia apressado, seu corpo tremia de ansiedade e excitação. Então, a cortina se abriu. Tudo o que vivera até então, não se comparava ao que estava sentindo. Lá estava o horizonte se encontrando com o mar gigante. Ambos se tocavam, numa suave carícia, e o sol, nascia da união dos dois. Vinha saindo, todo matreiro, de dentro do mar, e erguia-se sobre a Terra.
Nesta hora, duas lágrimas suaves, brotaram nos olhos da Tartaruga. Mentalmente agradeceu á Águia, pelo incentivo que lhe dera. Sabia que não a encontraria ali. Sempre soubera. A Águia plantara dentro dela, um par de asas gigantes. Apostara em sua persistência, e graças a ela, a Tartaruga se tornara única, entre todas as Tartarugas.
Com um suspiro emocionado, recolheu-se dentro de seu casco, e dormiu serenamente.

"Se as águas do Mar da Vida, quiserem te afogar, segura na mão de Deus e vai". Gosto muito desse hino de louvor. Sempre quando estou numa grande encarrascada, ou numa dificuldade sem tamanho, a letra dela surge na minha mente. E simbolicamente, estendo a minha mão e a ofereço, para que o Pai de Todas as Coisas a segure e me conduza, até o outro lado da margem.
Tem uma passagem na Bíblia que conta que, logo após o milagre da multiplicação dos pães, Jesus pediu aos Apóstolos, para que entrasse no barco que possuíam, e atravessam até o outro lado, e lá esperassem por Ele. Ainda havia muita gente, no alto da montanha e Jesus queria se despedir deles, antes de ter com seus Apóstolos.
Enquanto Ele fazia isso, a noite foi chegando e armou-se uma grande tempestade. Seus amigos Apóstolos estavam no meio daquelas águas, e esta começaram a se agitar, e juntamente com a ventania, castigaram o frágil barquinho.
Eles gritavam e chamavam por Jesus. Então, eis que um homem veio caminhando sobre as águas, na direção deles. Ora, neste instante, os gritos deles se tornaram ainda mais intensos, e eles pensaram tratar-se de um fantasma. Mas, Jesus os acalmou, dizendo ser Ele. Ergueu a mão e a tempestade se acalmou.
Mas, Pedro, duvidando, disse:
-"Se és Jesus, ordene que eu vá até aí, que eu caminhe sobre as águas!"
-"Pois venha!" - Disse Jesus.
E Pedro foi. E ANDOU SOBRE AS ÁGUAS.
Mas, começou a DUVIDAR, e em instantes submergiu e começou a se afogar.
-"Salve-me! - Gritou á plenos pulmões. E Jesus LHE ESTENDEU A MÃO E O SALVOU. E ainda lhe deu uma bronca:
-"Homem de pouca fé, por que duvidaste??"
A FÉ VERDADEIRA NÃO ADMITE NENHUMA DÚVIDA. A Fé é a ponte que construímos sobre as águas turbulentas da nossa vida. Ela nos dá poder de andar sobre as tempestades que açoitam a nossa coragem, e nos ergue sobre todas as instabilidades que nos fustigam a alma.
A dúvida é corrosiva. Ela arranca as pernas da nossa Persistência, e nos arremessa nas profundidades da TRISTEZA, e o MEDO toma conta do nosso espírito.
Você pode andar sobre as águas. Você pode superar seus problemas. Segure a mão que está sempre estendida, querendo segurar a sua. Sinta este poder maravilhoso, que se opera, quando você passa a crer novamente. Não importa qual sejam as suas crenças. Não importa como você conceba seu Deus. Ele é o farol que você carrega dentro do coração. Ele é a sua luz e lhe confere um poder sem limites. Afinal, você carrega dentro de si, um pedacinho da essência Dele.
Este mesmo Pai, jamais descuida de suas criaturas. Alguma vez você já se perguntou, como vivem os passarinhos do deserto? Lá, onde apenas se vê o nada, eles sobrevivem, e não padecem por falta de alimentos. O Pai cuida de suas criaturas. Como Ele cuidará de você, que é filho amado, nascido do puro amor?
Nunca lhe faltará alimento. Não importa qual seja a sua fome. Renove o seu espírito, viaje para dentro do pequeno baú, que você guarda em sua alma, onde está guardada a sua FÉ. Acenda esta luz novamente. CREIA EM SI MESMO! VOCÊ PODE TUDO, ASSIM ESTÁ ESCRITO.
Não se permita ficar prostrado por muito tempo. Levanta-te e ande sobre as águas. Verá que a magia da vida existe, e sentirá coisas novas acontecer.
Não importa qual seja seu problema. Para cada um deles, existe uma solução. Se Vista de ESPERANÇA, e vá á luta. Erga seus ombros, coloque a CERTEZA dentro do seu olhar e prossiga a sua jornada. Está sentindo? Seus passos já estão mais firmes e suas pernas passaram a andar mais rápido. Isso mesmo! Este é você de verdade! É um grande guerreiro, nascido da essência Daquele que tudo pode. ELIMINE A DÚVIDA, A INCERTEZA E O DESALENTO.
Mas, você deve treinar muito. Ficar no meio da tempestade, é dolorido, sente-se um medo danado, e momentaneamente, perdemos a clareza da nossa visão.
VOCÊ JAMAIS ESTÁ SOZINHO. Mesmo quando se sente a última das criaturas, abandonada por tudo e por todos. Recomeçar e reagir depende unicamente de você. Que tal agora? Que tal respirar bem fundo, deixando entrar nos pulmões a FORÇA VITAL, e deixar sair todas as mágoas, tristezas e desesperanças! Respire mais uma vez!
Desejo que jamais deixe de crer, que milagres existem. Desejo que possa começar no dia de hoje, uma nova fase, renascendo e apostando em si mesmo. Você é muito maior do que supõe. Pode muito mais do que pensa. Creia nisso piamente e vá vencer seus desafios.

Meu pequeno barco, acostumado a enfrentar os mares bravios e a superar distâncias pelo simples prazer da Aventura, um belo dia
sofreu uma avaria. Chocou-se com o Desânimo e eu o ancorei no Cais da Rotina.
E ele ficou lá, suportando a Inércia, e as águas rasas convidaram-no
a bailar no suave ondular da Apatia. Sem pressa e sem esperança. Depois de algum tempo, eu o emprestei para seres que se diziam portadores da Segurança e sabedores das grandes Verdades da Vida.
Prometeram levar o meu barquinho para novas águas onde, diziam eles, estava a Felicidade, de mãos dadas com a Realização. Mesmo temendo muito entregar o comando do meu barco, que apenas a mim pertencia, eu o fiz, mesmo assim.
E percebi que, em pouco tempo, estes provedores de Esperança nada mais eram que Aventureiros e, ao me devolver o barco, o casco dele sofrera os impactos da Desilusão.
As águas sempre mornas que acalentavam a Persistência foram se tornando turvas e antes que meu barco afundasse na Descrença, ou ficasse à deriva da Sorte, eu o amarrei com as grossas cordas do
Medo.
Estagnado e coberto pelo manto da Covardia, ele permaneceu assim, por muito tempo.
Já não importava se era noite ou se era dia. As horas se arrastavam
e eu pensei que o melhor seria carregá-lo até à margem, para que
nunca mais fosse machucado pelos Riscos.
Um belo dia uma gaivota, voando baixinho, viu o meu barco. Senti em seu olhar que o Fascínio lhe despertou um sorriso.
Nesta hora, um misto de vergonha tomou conta de mim. Afinal ele estava mal-cuidado e em toda sua extensão havia manchas escuras, causadas pela ausência total da Motivação.
Mas a Gaivota não olhou detalhes. Onde havia ausência de Beleza,
ela via Capacidade. Em meio aos escombros e às folhas secas que cobriam o fundo do barco, ela via Espaço para o Novo.
No sobrevôo dela, eu li as mensagens. Estavam claras e nítidas.
Um piado forte foi o que acendeu a Propulsão da Motivação, e eu percebi que dentro do Barco havia um par de remos. Esta constatação acordou a Ansiedade e eu soube que jamais seria a mesma pessoa, depois de saber que possuía a ferramenta necessária chamada Livre Arbítrio.
A Paz saiu de mim e uma fome gigante tomou conta do meu ser.
Entrei no meu Barco e fiz uma grande faxina.
Renovei as cores e, em instantes, ele parecia um grande Arco-Íris. Nesta hora as amarras se romperam e meu barco deslizou suavemente para dentro daquelas águas que, embora tão conhecidas, agora eram diferentes.
Muito rapidamente, com toda força da minha vontade, segurei os
remos. Eram pesados, e minhas mãos, há muito desacostumadas ao esforço, logo adquiriram calos. Senti dor.
Mas um piado bem forte me fez olhar para o alto, e lá estava o
Convite, nas asas da Gaivota, incentivando e estimulando. Sabia ela
que eu poderia fazer mais e melhor.
E fiz.
Superei o cansaço e venci as ondas, e, em pouco tempo, estava envolta
na Calmaria.
Meu barco, renovado pela grande Alegria de navegar, deu seu
máximo. Estava finalmente cumprindo seu destino.
Já não importava em qual porto chegaria.

O TOQUE DE UM ANJO!


Quando viste que minha Fé fraquejava; quando percebeste que minhas crenças eram tomadas pelas dúvidas, Tu ó Grandioso Pai Celeste, enviaste-me um Anjo.
Quando lágrimas mornas escorriam de minha alma, ante o sofrimento causado pela incompreensão de meus irmãos, Tu, ó Grandioso Pai, sopraste em meu ouvido.
Quando as mágoas se tornam feridas, e estas corroeram minha Esperança, Tu, ó Grandioso Pai, Te fizeste alento.
Um Anjo puro veio me visitar. Para que eu não me assustasse, vestiu-o á minha semelhança. Este Anjo tem se feito presente. Todos os dias da minha vida, nos momentos de angústia e de desânimo, também nos momentos de riso, e felicidade, o Anjo aparece.
Dei-lhe o nome de AMIGO. Ele me olha e sabe ler-me por dentro. Nem sempre fala comigo. Quando fica em silêncio, segurando a minha mão, sendo solidário com meus momentos, ainda assim posso ouvir o que ele diz.
Ouço-o dentro do meu coração:
-Levanta-te e anda!
-Chega de preguiça e queixumes, pois nem tudo está perdido!
-Recomece outra vez!
-Você é gigante!
Este Anjo injeta-me paciência e compreensão. Ensina-me a olhar para dentro do meu próximo, ver, na essência dele, a Luz Divina.
O Anjo ensina-me que, mesmo quando pensamos que está tudo perdido, uma nova porta se abre, uma nova Esperança nasce.
Hoje, vim aqui, agradecer a todos vocês, Anjos que o Grande Pai colocou em minha vida. Obrigada por todo crescimento que trazem, por toda sabedoria que dividem, e por todo bem que me fazem.
Suas asas são invisíveis, mas embaixo delas, eu descanso das minhas batalhas.

TRAVESSIA


O Caminho fluía sereno, sem jamais fazer perguntas. Não porque temesse as respostas, mas simplesmente porque se bastava. Servia aos viajantes famintos, doando a sabedoria de quem é instrumento.
Alimentava-se da persistência dos passos ritmados e constantes. Aprendera desde cedo a identificar a certeza e a esperança, assim como também o medo e a covardia.
Muitos pereciam em seu leito, mas ninguém parava para compadecer-se. Então o Caminho se encarregava de absorvê-los e sepultá-los dentro de si.
Como todas as coisas necessitam morrer para nascer novamente, o Caminho também terminava a sua jornada. Sua morte, dava-se no encontro com um profundo charco, onde o Medo exalava soberania. Não havia vestígios da antiga beleza do lago, que fora invadido por plantas aquáticas, reproduzidas com tal voracidade, que haviam há muito, coberto o seu espelho.
Neste encontro fatídico previsto pela Vida, o Caminho entregava as criaturas á própria sorte. Algumas se sentavam, supondo que, tal qual acontecera com o Caminho, também haviam chegado ao seu destino. Mas a sensação de fome gritava que havia ainda um vazio por alimentar. Então, desesperançadas e aflitas, se lançavam no meio do lodo, sabendo não serem grandes o bastante para vencê-lo ou domá-lo.
A morte certa não entristecia, e, enquanto sentiam o corpo sendo corroído pela Impotência, nascia nelas o alívio. Era ali, neste instante, onde de famintos, transmutavam-se em alimento. Um ultimo olhar, lançado ao Caminho, era de gratidão.
Mas a conformidade não habitava o íntimo de todos, e, uma Criatura ergueu-se sobre sua rebeldia diante do destino há muito acertado e o renegou. Era o mesmo ser que, ao longo do Caminho, deixara atrás de si, doces cânticos de alegria.
O caos instalado pelo descompasso de seu grito agudo, enfureceu as forças regentes e com um urro escondido dentro de um sopro indignado, a tal Criatura foi lançada para dentro do lago morto.
Deveria, como acontecera com todas as outras, submergir e se entregar ao ocaso. Mas eis que a esperança contida no clamor dos que esperavam, fez a Criatura dobrar o seu tamanho. Com as pernas fortalecidas pela determinação, pôs-se a perscrutar e a medir o fundo do lago.
Estava pronta para prosseguir. Sabia que chegaria ao outro lado, onde vislumbrava o nascer de um novo caminho.
Quando ia começar sua nova jornada, ouviu o choro sentido dos que, fracos e perdidos, pela constatação da própria incapacidade, pediam ajuda.
Neste instante, uma cálida lágrima, sangrou na alma da Criatura e ela compreendeu a cilada que caíra: Não prosseguiria. Havia chegado ao seu lugar. E com passos mansos, aproximou-se da margem e doou seus ombros. De imediato a fragilidade neles se agarrou, e lentamente ela a carregou até o outro lado.


O ELO

A voz sempre tão vívida que nascia todos os dias na alma da Criatura, com o passar do tempo, emudeceu. A solidão profunda e cruel, com um golpe certeiro, desferido em seu coração, partiu a esperança e despedaçou seus sonhos.
A pobre criatura clamou por misericórdia. E foi ali, no limite da vida e a morte, que a resignação por fim, a encontrou. Embalada pelas vagas lembranças do que fora um dia, deixou-se ficar e parou de lutar. Cumpria as ordens das forças que tudo regem. Não mais vivia. Apenas existia.
As horas passavam lentamente e ela desejou morrer. Mas a grande legião de viajantes, que chegava todo dia, mantinham-na absorta e concentrada na tarefa de levá-los até o outro lado. Os seus ombros, antes altivos e imponentes, começaram a vergar ante o peso que carregavam. Alguns seres, ao chegar na outra margem, não desciam. Ficavam agarrados na Criatura, alimentando-se da força dela, e ela; absorvia as suas dores.
Deu-se conta então, de que não era necessário chamar pela morte. Esta já acontecera e se instalara.
Olhando para o alto, de seus olhos brotou uma prece. Queria renascer.


RESGATE



Movendo lentamente suas pernas dentro do lodo, aproximou-se da margem para buscar novos seres. Havia apenas um a espera. Convidou-o para seguir. O Ser recusou, e adentrou o lago morto.
O descompasso do coração da Criatura, deixou alertas os seus braços, para intervir caso aquele ser rebelde fosse afundar na lama.
Mas, para a sua surpresa, ele seguiu firme e altivo, cantarolando baixinho, e, olhando de soslaio para a Criatura, brindou-a com um sorriso. Que espanto! Aquele Ser era a cópia perfeita do que já fora um dia. E a saudade de um tempo distante assolou seu coração.
Ao chegarem no meio do lago, na exata linha que dividia o antes e o depois, onde ainda era possível a escolha entre retroceder ou prosseguir, o tal Ser parou. Segurando as mãos da Criatura, começou a cantar e a cantar suavemente. Cálidas notas de harmonia impar, fluíram da alma do Ser, bailando sobre o tempo mórbido e rígido, que respeitoso pela intensidade, calou-se e as doou ao Cosmos.
Uma tempestade se formou na alma da Criatura, e o céu, compreensivo também se coloriu de negro. E enquanto a chuva torrencial caia sobre a Terra, lágrimas mornas limpavam o coração dela. E então o milagre se fez. A Criatura começou a cantar. A princípio, com voz banhada pela insegurança, que foi vencida pela alegria e esperança.
O canto se tornou movimento, e a chuva encharcou de vida, o lago morto, que, libertado de seu leito, pôs-se a andar ligeiro, transmutando-se em rio. Num repente de benevolência, a Vida desobrigou a Criatura de sua tarefa, e os seres nela ainda instalados, seguiram a vida que fluía generosa.
O Ser e a Criatura,de mãos dadas, namorando o Caminho novo que lhes acenava, se deixaram levar, sem pressa e sem dor

METAMORFOSE


Lá vai a feia lagarta deslizando com seu jeito desengonçado por entre folhas e flores. Ela está sempre apressada, em busca de alimento. Não percebe o sol que a aquece, a brisa que a toca, nem as belezas que a cercam. De algum modo ela sabe que tem de ser rápida. Acumular energia, seu instinto a avisa que seu tempo é limitado, finito. Então sua forma flácida desloca-se sem parar.
Eu fico olhando-a, tomada de certa repulsa, controlando a vontade de jogá-la para longe de mim, ou, com a primitiva crueldade inerente a todo ser humano diante do feio, esmaga-la sob meus pés.
Mas algo em mim se contém. Ela é tão persistente! Repentinamente sinto-me tão parecida com ela. Penso na minha fase lagarta. É quando embrenho uma corrida desenfreada na selva do meu cotidiano, em busca de alimento que abastecerá meu EU. Fase egoísta onde se me é difícil olhar para o lado. Onde meus sentidos conduzem-me como autômato, em busca de acúmulo de energia estagnada, que torna meu espírito obeso. Mas definha minha capacidade de doar e torna anoréxica minha compreensão.
Tenho fome e tenho pressa! Mas não tenho uma meta, um objetivo ou um rumo. Nem consciência. Apenas existo.
Então, das entranhas da minha alma, sinto nascer uma nova necessidade. Eu não a compreendo a princípio. É também uma espécie de fome: falta-me um complemento. A pressa sai de mim e achegam-se às divagações, começam os questionamentos. E o mundo que antes era meu limite, torna-se cansativo.
Lá vou eu, feia lagarta, construir um casulo, onde, na escuridão permanecerei inerte.





Difícil decisão! Admitir que meu espírito é flácido, gelatinoso. Não gosto da forma que tenho, não suporto mais ser lagarta. No aconchegante escuro do casulo onde me encontro, readapto minha visão. Fecho os olhos, abro a percepção e olho para dentro.
Espio nas gôndolas da despensa de minha alma, avalio os alimentos ali estocados.
Quanta coisa que nunca consumirei! E quanta fonte de energia sadia!
Ei! Eu não preciso de tudo isso que guardei. Posso repartir, alimentar.
Olhando com mais atenção, vejo que na ânsia de abastecer-me, tornar robustas minhas certezas, muitas coisas perderam o prazo de validade:
Tornaram-se dúvidas.
Repentinamente o breu torna-se luz e posso ver com exatidão. Ela, a esperança, vem fazer-me companhia. Mas ainda sinto o frio da solidão.
Não posso mover meu corpo inferior, as pernas da minha força de vontade ainda estão atrofiadas. Começo uma longa sessão de exercícios, reeducarei meu instinto, alongarei minha bondade e estirarei ao máximo os músculos do amor incondicional. Então, depois de muito tempo sinto uma nova sensação. Ela sai de mim em forma de uma morna lágrima, deslizando silenciosa pela face resignada da honestidade para com minha condição.
Quero sair daqui, quero nascer de novo. Adquirirei uma nova forma.



O suor escorre de minha face enquanto rasgo o útero da minha segurança. Os soluços do choro que não pode ser contido umedecem as finas membranas que me farão adentrar num mundo novo e desconhecido.
E nasço de novo! Sinto dor. A dor de nascer e saber se impossível retroceder.
Movo os longos apêndices que saem de mim. São asas! Posso voar. No afã de recomeçar, recolho todos os meus pertences, quero subir, redescobrir.
Muito rapidamente percebo que não posso levar nenhum peso sobressalente. Então dou um emocionado abraço de despedida na parte de mim mesma que ficará para trás e o vento brando me leva sem rumo.
Provo o néctar doce da emoção, sinto o perfume da minha nova capacidade. Sou a persistência de levar a beleza. Sou a candura de ver um mundo encantado. Sou a poesia da renovação. Infinitamente mais frágil, mas serenamente mais sábia.
Meu íntimo avisa-me que este é meu último estágio, devo desviar-me dos ventos fortes das dificuldades, do peso sufocante do medo da altura. Embrenhar-me neste fascinante mundo do querer. Eu não tenho nenhum medo de errar.