Mark Fisher
Precisa-se ter em mente que o capitalismo é tanto uma estrutura impessoal hiperabstrata quanto algo que não poderia existir sem a nossa colaboração.
O controle só funciona se você for cúmplice.
Enquanto anteriormente os trabalhadores podiam aprender um único conjunto de habilidades com a expectativa de assim galgar posições em uma rígida hierarquia organizacional, agora se espera que periodicamente adquiram novas habilidades enquanto pulam de posto em posto, vagando de empresa em empresa.
É óbvio que toda doença mental tem uma instância neurológica, mas isso não diz nada sobre a sua causa. Se é verdade que a depressão é constituída por baixos níveis de serotonina, o que ainda resta a ser explicado são as razões pelas quais indivíduos em específico apresentam tais níveis, o que requereria uma explicação político-social.
Esta experiência de um sistema que não responde, que é impessoal, sem centro, abstrato e fragmentário, é a experiência mais próxima de um encontro com a estupidez artificial do capital em si mesmo.
A ilusão de muitos que entram nas funções de gerência, com grandes esperanças, é precisamente de que eles, os indivíduos, podem mudar as coisas, que não vão repetir o que seus gerentes fizeram, que as coisas serão diferentes desta vez.
A razão pela qual as pesquisas de avaliação e os sistemas capitalistas de feedback falham, mesmo quando geram mercadorias imensamente populares, é que as pessoas não sabem o que querem.
Talvez o sentimento mais característico de nosso momento atual seja uma mistura de tédio e compulsão.
Na era da memória digital, a própria perda está perdida.
É lamentável para qualquer um ter que ser si mesmo (e ainda mais, ser forçado a se vender). A cultura e a análise da cultura sãovaliosas na medida em que permitem uma fuga de nós mesmos.
A depressão é, afinal e acima de tudo, uma teoria sobre o mundo, sobre a vida.
O depressivo experiencia um isolamento do mundo da vida, de modo que o congelamento de sua própria vida interior – ou morte interior – oprime tudo; ao mesmo tempo, ele se sente evacuado, totalmente desnudado, uma concha: não há nada exceto o interior, mas o interior está vazio.
A saciedade é o ponto em que você deve enfrentar a revelação existencial de que você realmente não queria o que parecia tão desesperado para ter, que seus desejos mais urgentes são apenas um truque vitalista imundo para manter o show na estrada.
