Marcella Prado

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Você me perturba o pensamento como uma mosca que perturba o sono zunindo nos ouvido durante as noites de verão. Tua imagem parece uma praga colada no fundo dos meus olhos - Me tira o sono, a paz e a tranqüilidade. Sinto os músculos tensos, a boca amarga, os dedos frios e coração enforcado.

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Ela se apaixona cada dia mais pelo sorriso fácil dele. Ele gosta das covinhas no rosto moreno jambo dela. Ela está conquistando o meu mundo inteiro, o meu amado. Ele já me deixou faz tanto tempo, e agora deve se atirar nos braços dela, apertar as bochechas amarelas, e alisar o cabelo escuro que tão diferente e oposto do meu castanho-enferrujado.

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E eu? Eu fico aqui. Surtando, conjecturando, amargurando, me matando e remoendo minhas paredes do estômago enquanto me ocupo com a vida dos outros, com a vida daquele que um dia foi parcialmente meu, mas que agora voa, está longe. Nem quem mais saber de mim. Triste? Muito.

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Se eu ainda procuro compatibilidade entre nós dois e os casais felizes de filme, músicas românticas e personagens de livro é porque eu não agüento mais me sentir por fora. Não suporto mais pensar que o que vivemos foi uma loucura e que eu sou a surtada da história. Sou eu a maluca, a desnaturada que fica te caçando nos buracos, nos furos de reportagem, no rosto dos outros, nas características em comum. Isso é ser psicopata. É ser self serial-killer. É a perseguição do inatingível. É não querer enterrar o morto. É loucura. Comparo a rasgar dinheiro. É tornar-se um cadáver enquanto se ainda está vivo, já que, enquanto me preocupo em resgatar o passado a todo custo eu me esqueço de me tirar do fundo do poço e limpar a sujeira que está impregnada por debaixo no tapete.

Durante esse tempo, tudo que fiz foi jogar minhas perspectivas no lixo e tentar reciclar o nosso sentimento. O que é impossível. Ele já está podre, deteriorado, mofado. Já é perdido. Creio que não consigo te esquecer porque eu não assumi a postura de separação. Não te apaguei como deveria ter feito e – como quase todas as mulheres – ouvi alguns conselhos errôneos e otimistas de algumas amigas que não sabem o que é perder o amor e insistem em me dizer que um dia você vai voltar pra me resgatar, cuidar e amar como eu mereço - já que sou uma moça inteligente, legal, dá-pro-gasto e toda aquela baboseira pra tentar me motivar enquanto eu encho a cara no bar pra te esquecer, e hora ou outra grito teu nome pra algum amigo.

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Eu pareço cachorro, que mija no poste pra marcar território. Eu escrevo um texto aqui, outro ali, tento chamar tua atenção, só pra ficar um resquício de lembrança minha – seja ela boa ou ruim. Só pra que você nutra ainda algum sentimento – que é de pena, eu sei, mas prefiro achar que é um daqueles amores-adormecidos-impossíveis e que um dia alguma luz vai entrar na tua cabeça oca e você vai querer voltar pra mim quando perceber o quanto era bom estarmos juntos.

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O tempo está passando, o mundo está girando, as horas estão arrastadas, eu continuo cada vez mais angustiada esperando um milagre. Todo o mundo passa, e eu fico – presa e estancada em uma história linda, mas que não é real. Não vai mais voltar. Minha vida está passando, e enquanto eu devia aproveitar minha juventude, perco meu tempo roendo as unhas e ganhando rugas precoces de angústias e tristezas, sem esquecer que estou dando adeus ao meu fígado – que é cada vez mais corroído pelo álcool.

Enquanto ele me acompanhava de longe eu tinha tudo sob-controle. Eu sorria tensa e tranquilamente. Não saí choro, não saí riso. Só escuto o ranger dos dentes em busca de alívio. Agora, ele perdeu o fio da meada. Não sabe mais nada. Não se importa. Me jogou pro céu na espera de Deus me pegar, do capeta de colocar de volta no inferno. Tá tudo virado, sem controle, sem salvação. Eu não levo a vida, ela é que me leva, que me direciona. Que me enfia em uns becos meio sombrios. Não estou achando a saída, não encontro mais solução.

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Que pensem que sou maluca que aumento dor. Mas se querem saber meus caros, eu nunca perdi perna, mãe, passei fome, rachei a cara. E perdê-lo, foi sem dúvida, umas das maiores dores de já sofri. Foi a rejeição mais dura que passei. Portanto, sem mais julgamentos nem soluções miraculosas pra minha dor. Mas um dia ‘o tempo passa e as coisas mudam’, não é essa a frase amado?

Chego em casa sempre vazia, mas tão murcha que você não é capaz de imaginar, e me jogo embaixo do chuveiro pra abafar meu choro, meu vômito, meu porre. Deixo a água tentar lavar minha alma, fecho os olhos, tampo os ouvidos e adivinha o que vejo na minha mente-perturbada? Essa tua expressão de eterno contente, rindo da minha cara de tola. Choro mais um pouco, sinto frio, raiva, remorso e enfio um pijama qualquer. Lacro as janelas na esperança de perder o ar. Fecho as cortinas na cara do Sol. Entrego-me nos braços de Morfeu e durmo feito um anjo enlouquecido.No outro dia levanto e penso logo que poderia continuar dormindo, com quinhentos quilos na minha cabeça. 250 quilos são de ressaca moral e os outros 250 são meu do meu fígado que rouba água do meu cérebro pra não definhar e morrer de cirrose. Saio da cama zonza, não olho pro espelho - evito minha cara de panda-borrada-pós-balada. Encontro minha mãe no corredor, lá pelas cindo da tarde, que me olha com misericórdia e pergunta: ‘Está bem minha filha? Como foi a noite?’. Eu simplesmente respondo: ‘Hm…Foi legal. To enjoada, só.

Eu costumava ser doce. Não muito delicada, mas ainda restava um pouco de felicidade no meu olhar. Eu era mais gentil e mais bem humorada. De-vez-em-sempre tinha uns perrengues, umas chatices, uns choros, uns sofrimentos, umas paixões mal-curadas, mas era tudo tão pequeno e sem importância. Eu acreditava no amor como em um conto de fadas e vivia bem sem ele. Eu convivia em perfeita harmonia com os amigos bem-resolvidos e não me importava muito em manter um relacionamento sério apenas com a minha cerveja e as minhas noitadas. Eu andava despreocupada e distraída, com a esperança de ser resgatada ou descoberta por um cara bem foda que fosse capaz de me amar como eu mereço. Eu tinha jogado minha sorte no vento e no destino, que acredito pouco, mas eu estava feliz, evoluindo, cuidando da minha vida, dos meus fins de semana com as amigas e cara! Estava tudo bem mesmo. Eu ainda via adiante. Você me pegou na minha fase mais feliz da vida.

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Eu sinto medo de todos esses resquícios de relacionamento. Apavoram-me todas essas possíveis provas do crime. As fotos, os lugares, os cheiros, as roupas, os paladares. É melhor deletar os vestígios assim que o amor terminar.

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É cruel a forma que a memória martiriza aqueles que foram abandonados. Deus do céu, como dói. Tudo fica marcado a ferro e fogo. Tudo ganha um significado incrível, uma dimensão absurda. É duro. É desumano o peso de tudo aquilo que fica sendo sobra de relacionamento.

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Tudo passa a ser saudades e um martírio sem fim. Cada coisa toma um significado gigantesco. Ás vezes é melhor não colecionar esses restos. No fim, que fazer com as fotos? Queima-se? Joga-se no lixo em meio ás sobras de comida? Rasgam-se as camisas? Que se há de fazer? Nunca mais visitar aquele restaurante japonês que ele tanto gostava, ou quem sabe evitar aquele filme que a fazia rir feito uma louca esganada? Que se pode lutar contra esse monte de coisa que se torna quase palpável quando o coração é dilacerado em alguns momentos de desespero, em que se procura o outro loucamente, em momentos de saudades absurdas, que a gente invade qualquer buraco, escuta qualquer música que faça lembrar o ser incondicionalmente amado. Como frear as lágrimas diante de um CD que o parceiro tanto apreciava e que dançava desengonçadamente para provocar o riso desenfreado?

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Como adestrar a memória teimosa que insiste em associar o cheiro do perfume com o dele? Não é possível. As peculiaridades de cada um são únicas, são eternas. Não se pode esquecer. Não se pode lutar contra a vontade de resgatar o amor perdido, a ilusão da felicidade sem fim. Não se pode brecar o riso que invade os olhos úmidos quando falamos daquele que um dia prometeu felicidade e lealdade utopicamente eternas. É preciso aprender a conviver com as mãos soltas, com o olhar ausente, com a cadeira vazia, com o unitário. O amor não é eterno, só as saudades, só a assombração das lembranças. Isso permanece, até o fim, até o último dia, até o último suspiro. Convenhamos – vai-se o amado, fica-se o coração partido.

Meio sorriso, noite meio dormida, coração meio partido. Nada me faz contente, por vezes me deixo esquecer que ainda sou gente. E se sou gente por que não consigo viver e entender que o que passa comigo passa com todo mundo? Qual é a razão oculta entre as minhas perturbações que me atrapalham a rotina e me fazem ver apenas a mediocridade da vida? Está tudo cortado, dilacerado. Vou largando os restos pelo caminho. Deixo os meios, quero o fim. Quero logo a solução e a calmaria de Agosto. Julho mal começou e já me cansam esses dias longos, essas noites lentas e as horas emperradas. Que agosto venha mais alegre, menos frio e não tão quente. Pra combinar com tudo que é partido na minha vida, parto também o texto, que hoje fica com meio corpo. Sem começo nem fim. Acho que me acostumei com a falta de ordem, pois que seja assim. Que seja meio. Completa não posso ser.

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Não quero palavras de consolo, não quero tapa nas costas, não quero chá quente, não quero telefonemas de socorro. Não quero nada. Quero solidão. O silêncio no meu interior é dominador, e não me deixa pronunciar uma palavra se quer, não me movo e não reclamo. Calo-me para o mundo. O oco é meu conforto e minha cama é o meu abraço. Deixa-me quieta, deitada nos braços de Morfeu, sonhando com o dia que te conheci e tentando resgatar a sensação de felicidade que eu tive ao teu lado.

Deixem-me rebobinar a memória já suja e gasta pelo tempo, que me trai e que luta contra todo meu amor, que agora tem uns pontinhos brancos de mofo. Vou colocá-lo na geladeira – quem sabe não dura mais um pouco? Se eu ficar em silêncio posso tentar ressuscitar as lembranças quase apagadas e te ver assim, um pouquinho, desde o dia que te conheci até o dia que você me mandou embora. É você me mandou ser feliz, se lembra? Pois eu me recordo. Recordo quase que diariamente o dia do fim.

Enfaixei meu coração para o mundo.

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Tenho essa mania infeliz da cultura católica de sempre achar o mandante da atrocidade, o ser perverso capaz de cometer o crime.

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Recordo que quase perdi a voz, e murmurava baixinho que eu ainda o amava de todo o coração e pedia pra que alguém me acalentasse os cabelos, enquanto eu tremia e espumava de tanto nervoso.

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Penso que, se acabou, era porque tinha que terminar. Se não durou foi porque não era pra durar. Se eu fui a escolhida para amar sem limites, era porque tinha que ser assim.

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Se agora sofro, choro e tenho saudades é porque aprendo dia a pós dia que o tempo não cura, não ameniza, não ajuda. O tempo só esmaga minhas lembranças e faz minha memória trair aquela imagem antiga que guardo aconchegada no fundo dos meus olhos.

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Pois se tinha que ser assim, foi. Aceitei. Nunca gritei, esperneei e tampouco me joguei na tua frente pedindo socorro.

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Sempre sofri quase em silêncio. Escrevo, mas a leitura do que deixo para sempre marcado é baixinha ou silenciosa. Fica na mente, quem sabe na tua. Na minha está tudo tão marcado.

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