Marcel Proust

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Em amor é um erro falar-se de uma má escolha, uma vez que, havendo escolha, ela tem de ser sempre má.

Só nos curamos de um sofrimento depois de o haver suportado até ao fim.

Nós só conhecemos as paixões dos outros, e o que chegamos a saber das nossas, é deles que podemos aprender.

A realidade apenas se forma na memória; as flores que hoje me mostram pela primeira vez não me parecem verdadeiras flores.

O amor é o espaço e o tempo tornados sensíveis ao coração.

O amor mais obcecante para alguém é sempre o amor de outra coisa.

Acreditar na medicina seria a suprema loucura se não acreditar nela não fosse uma maior ainda, pois desse acumular de erros, com o tempo, resultaram algumas verdades.

A natureza parece quase incapaz de produzir doenças que não sejam curtas. Mas a medicina encarrega-se da arte de prolongá-las.

A felicidade é no amor um estado anormal.

Se um tanto de sonho é perigoso, não é menos sonho que há de curá-lo, e sim mais sonho, todo o sonho. É preciso conhecer totalmente os nossos sonhos, para não sofrermos mais com eles.

O que censuro aos jornais é fazer-nos prestar atenção todos os dias a coisas insignificantes, ao passo que nós lemos três ou quatro vezes na vida os livros em que há coisas essenciais.

O desejo floresce, a posse faz murchar todas as coisas.

cada leitor, quando lê, é um leitor de si mesmo.

A verdadeira viagem de descobrimento não consiste em procurar novas paisagens e sim em ter novos olhos.

Marcel Proust
A prisioneira (1923).

Preenchemos a aparência física do ser que vemos com todas as noções que temos a seu respeito, e, para o aspecto global que nos representamos, tais noções certamente entram com a maior parte.

A sabedoria não nos é dada. É preciso descobri-la por nós mesmos, depois de uma viagem que ninguém nos pode poupar ou fazer por nós.

A música pode ser o exemplo único do que poderia ter sido - se não tivesse havido a invenção da linguagem, a formação das palavras, a análise das ideias - a comunicação das almas.

Os paraísos perdidos estão somente em nós mesmos.

É anestésica a dor do tempo.

O que reúne e atrai as pessoas não é a semelhança ou identidade de opiniões, senão a identidade de espírito, a mesma espiritualidade ou maneira de ser e entender a vida.

O fim da dor nos faz duvidar que tenhamos realmente amado.

Não chegamos a mudar as coisas conforme nosso desejo,mas aos poucos o nosso desejo muda.

Sonhamos demais com o paraíso, ou ao menos com uma série de paraísos sucessivos, mas cada um deles é, muito antes de morremos, um paraíso perdido, no qual devemos nos sentir perdidos também.

Como o perigo de desagradar provém principalmente da dificuldade em avaliar quais as coisas que se notam e quais as que não são notadas, pelo menos por prudência nunca deveria a gente falar de si mesmo, pois esse é um tema em que seguramente a nossa visão e a alheia não coincidem nunca.
Ao mau costume de falar de si mesmo e dos próprios defeitos, cumpre acrescentar, como formando bloco com o mesmo, esse outro hábito de denunciar nos carácteres alheios defeitos análogos aos nossos. E constantemente estamos a falar nos referidos defeitos, como se fora uma espécie de rodeio para falar de nós mesmos, em que se juntam o prazer de confessar e o de absolvermo-nos.

E a doença que era o amor de Swann se havia multiplicado tanto, estava tão estreitamente emaranhada a todos os seus hábitos, a todos os seus atos, a seu pensamento, sua saúde, seu sono, sua vida, até mesmo àquilo que desejava para depois de sua morte, formava com ele tão praticamente um todo, que não se poderia arrancá-la dele sem destruí-lo quase por inteiro: como se diz em cirurgia, seu amor não era mais operável.(Um amor de Swann).