Luana Carneiro

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O velho desafeto de uma mulher.

O velho desafeto de uma mulher é aquele cara sabe, aquele homem cobertura de caramelo, bom de doer. Quando ele surge na sua vida faz você acreditar que tudo o que há no mundo é amor e forma. Lindão, peludão, pintudão. Deixa a sua razão resumida a instinto e cheiro, e de repente você ama como uma chimpanzé fêmea ama.
O velho desafeto te estraga, te deixa frágil e podre como um pedaço de seda estragado. Ele vem como o frio, quando um raio de sol escapa de atrás de uma nuvem e te esquenta, ele é o calorzinho que faz você encolher os dedinhos do pé de prazer. Depois dele o resto da sua vida vai ser apenas o resto da sua vida.
O desafeto é a última fase do amor, e somente depois de envelhecido com o passar dos anos é que ele se tornará o velho desafeto. Ele é magico, é cigano, conhece os segredos da alquimia, só assim para conseguir explicar como ele transformou todo seu ouro em nhaca de bode pisada.
O velho desafeto não vai embora simplesmente. Ele tem que ser expulso por você, fugir dos seus gritos, como se fossem pitbuls negros latindo e correndo atrás dele sem parar. Ele te deixará lá, pedindo sangue, e tudo que você terá será uma panela de brigadeiro no colo.
Só o velho desafeto pra conseguir furar o veio maligno que existe dentro de cada mulher, você não roga pragas, você vira a própria maldição da tumba invadida, vela preta, os outros ficam até com medo de te olhar e virar pedra.
Mas com o tempo você vai saindo do quinto ciclo do inferno e vai deixando de acordar socando o travesseiro, e como todo o estrume deste mundo o que ficou da sua vida acabará virando adubo e terra.
Um dia, do nada você acordará deste coma, branca como um sapo e sairá a procura de outro raiozinho de sol fujão pra te esquentar.
Então, quando tudo estiver na poeira, em alguma virada dos anos que virão, as muitas taças de champanhe irão escancarar as suas janelas e o vento vai varrer o pó de tudo que estava guardado.
O nome dele ainda estará na agenda do seu celular, porque será sempre do velho desafeto o primeiro abraço de ano novo de uma mulher.
A saudade faz brotar flores em coisas podres...

Inserida por LuanaCarneiro